Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|‘Dias de se Fazer Silêncio’ conta uma delicada história pelo olhar de menina que vai perder o irmão


Romance de estreia de Camila Maccari acompanha uma família às voltas com os últimos dias de vida de Rui

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Se você começar Dias de se Fazer Silêncio pela orelha, vai ler que este não é um relato triste, mas, sim, humano. É muito humano, sim, e muito triste também. Não tinha como não ser. Tem criança, tem doença, tem morte e tem luto.

Delicado romance de estreia da gaúcha Camila Maccari, o livro saiu pela Bestiário, venceu, em 2022, o Prêmio Açorianos de Literatura e chega agora ao catálogo de uma grande editora, a Autêntica Contemporânea.

É a história de uma família pelo olhar de Maria, uma menina de 11 anos que se sente muito só enquanto os pais se dedicam ao filho caçula que definha, sereno, diante de todos. Uma menina desamparada, perdida no silêncio de uma casa onde ninguém dá nome às coisas. Que se sente excluída, culpada e triste, e só começa a entender o que se passa ao seu redor ao entreouvir o pai dizer a palavra ‘terminal’.

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E o que se passa ao seu redor é: Rui, seu irmão um ano mais novo, e melhor amigo, vai morrer. Anos antes, apareceram algumas manchas escuras em seu corpo, e ele vinha lutando bravamente contra um destino – mas isso eles só vão descobrir depois –, traçado já no nascimento.

Camila Maccari é gaúcha e estreia na literatura com 'Dias de se Fazer Silêncio' Foto: Carolina Ferronato

Maria nunca tinha pensado que crianças também morriam. Compreendia, como podia, a morte – já tinha ido a velórios, perdido a avó. Mas, não, nunca tinha visto uma criança morta – portanto, elas não morriam.

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Quando conseguiu verbalizar a dúvida ao pai, primeiro ela ouviu o silêncio, depois sentiu o peito dele acelerar. Quando olhou, ficou “apavorada e constrangida”. “O pai chorava e homens adultos não choram”, lemos.

A história começa com Maria e a mãe desinfetando freneticamente tudo, porque o menino estava voltando para casa, depois de um longo período no hospital, pela última vez. Aos poucos, a rigidez dos outros reencontros, como o uso de máscara para proteger o menino, vai sendo deixada de lado. Os irmãos passam noites em claro conversando e fazendo brincadeiras que ajudavam o tempo a avançar mais terno. Ou mais lento.

O cenário é rural. Há visitas no quintal e uma festa de aniversário, e a presença misteriosa de uma parteira. O terror no olhar de cada um. A dor expressa em cada centímetro da mãe. Os dias, afinal, sendo preenchidos com memórias para depois. Os longos períodos da autora indicando a dificuldade de se chegar ao ponto final.

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“Quando se gira em torno da morte iminente, ainda se gira em torno da vida, mas depois tudo meio que deixa de fazer sentido”, escreve a narradora. Mas é tudo uma questão de tempo até que ausências e sentimentos encontrem o seu lugar.

'Dias de se Fazer Silêncio', de Camila Maccari, ganhou uma nova edição pela Autêntica Contemporânea Foto: Editora Autêntica

Dias de se Fazer Silêncio

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  • Autora: Camila Maccari
  • Editora: Autêntica Contemporânea (176 págs.; R$ 54,90; R$ 38,90 o e-book)

Se você começar Dias de se Fazer Silêncio pela orelha, vai ler que este não é um relato triste, mas, sim, humano. É muito humano, sim, e muito triste também. Não tinha como não ser. Tem criança, tem doença, tem morte e tem luto.

Delicado romance de estreia da gaúcha Camila Maccari, o livro saiu pela Bestiário, venceu, em 2022, o Prêmio Açorianos de Literatura e chega agora ao catálogo de uma grande editora, a Autêntica Contemporânea.

É a história de uma família pelo olhar de Maria, uma menina de 11 anos que se sente muito só enquanto os pais se dedicam ao filho caçula que definha, sereno, diante de todos. Uma menina desamparada, perdida no silêncio de uma casa onde ninguém dá nome às coisas. Que se sente excluída, culpada e triste, e só começa a entender o que se passa ao seu redor ao entreouvir o pai dizer a palavra ‘terminal’.

E o que se passa ao seu redor é: Rui, seu irmão um ano mais novo, e melhor amigo, vai morrer. Anos antes, apareceram algumas manchas escuras em seu corpo, e ele vinha lutando bravamente contra um destino – mas isso eles só vão descobrir depois –, traçado já no nascimento.

Camila Maccari é gaúcha e estreia na literatura com 'Dias de se Fazer Silêncio' Foto: Carolina Ferronato

Maria nunca tinha pensado que crianças também morriam. Compreendia, como podia, a morte – já tinha ido a velórios, perdido a avó. Mas, não, nunca tinha visto uma criança morta – portanto, elas não morriam.

Quando conseguiu verbalizar a dúvida ao pai, primeiro ela ouviu o silêncio, depois sentiu o peito dele acelerar. Quando olhou, ficou “apavorada e constrangida”. “O pai chorava e homens adultos não choram”, lemos.

A história começa com Maria e a mãe desinfetando freneticamente tudo, porque o menino estava voltando para casa, depois de um longo período no hospital, pela última vez. Aos poucos, a rigidez dos outros reencontros, como o uso de máscara para proteger o menino, vai sendo deixada de lado. Os irmãos passam noites em claro conversando e fazendo brincadeiras que ajudavam o tempo a avançar mais terno. Ou mais lento.

O cenário é rural. Há visitas no quintal e uma festa de aniversário, e a presença misteriosa de uma parteira. O terror no olhar de cada um. A dor expressa em cada centímetro da mãe. Os dias, afinal, sendo preenchidos com memórias para depois. Os longos períodos da autora indicando a dificuldade de se chegar ao ponto final.

“Quando se gira em torno da morte iminente, ainda se gira em torno da vida, mas depois tudo meio que deixa de fazer sentido”, escreve a narradora. Mas é tudo uma questão de tempo até que ausências e sentimentos encontrem o seu lugar.

'Dias de se Fazer Silêncio', de Camila Maccari, ganhou uma nova edição pela Autêntica Contemporânea Foto: Editora Autêntica

Dias de se Fazer Silêncio

  • Autora: Camila Maccari
  • Editora: Autêntica Contemporânea (176 págs.; R$ 54,90; R$ 38,90 o e-book)

Se você começar Dias de se Fazer Silêncio pela orelha, vai ler que este não é um relato triste, mas, sim, humano. É muito humano, sim, e muito triste também. Não tinha como não ser. Tem criança, tem doença, tem morte e tem luto.

Delicado romance de estreia da gaúcha Camila Maccari, o livro saiu pela Bestiário, venceu, em 2022, o Prêmio Açorianos de Literatura e chega agora ao catálogo de uma grande editora, a Autêntica Contemporânea.

É a história de uma família pelo olhar de Maria, uma menina de 11 anos que se sente muito só enquanto os pais se dedicam ao filho caçula que definha, sereno, diante de todos. Uma menina desamparada, perdida no silêncio de uma casa onde ninguém dá nome às coisas. Que se sente excluída, culpada e triste, e só começa a entender o que se passa ao seu redor ao entreouvir o pai dizer a palavra ‘terminal’.

E o que se passa ao seu redor é: Rui, seu irmão um ano mais novo, e melhor amigo, vai morrer. Anos antes, apareceram algumas manchas escuras em seu corpo, e ele vinha lutando bravamente contra um destino – mas isso eles só vão descobrir depois –, traçado já no nascimento.

Camila Maccari é gaúcha e estreia na literatura com 'Dias de se Fazer Silêncio' Foto: Carolina Ferronato

Maria nunca tinha pensado que crianças também morriam. Compreendia, como podia, a morte – já tinha ido a velórios, perdido a avó. Mas, não, nunca tinha visto uma criança morta – portanto, elas não morriam.

Quando conseguiu verbalizar a dúvida ao pai, primeiro ela ouviu o silêncio, depois sentiu o peito dele acelerar. Quando olhou, ficou “apavorada e constrangida”. “O pai chorava e homens adultos não choram”, lemos.

A história começa com Maria e a mãe desinfetando freneticamente tudo, porque o menino estava voltando para casa, depois de um longo período no hospital, pela última vez. Aos poucos, a rigidez dos outros reencontros, como o uso de máscara para proteger o menino, vai sendo deixada de lado. Os irmãos passam noites em claro conversando e fazendo brincadeiras que ajudavam o tempo a avançar mais terno. Ou mais lento.

O cenário é rural. Há visitas no quintal e uma festa de aniversário, e a presença misteriosa de uma parteira. O terror no olhar de cada um. A dor expressa em cada centímetro da mãe. Os dias, afinal, sendo preenchidos com memórias para depois. Os longos períodos da autora indicando a dificuldade de se chegar ao ponto final.

“Quando se gira em torno da morte iminente, ainda se gira em torno da vida, mas depois tudo meio que deixa de fazer sentido”, escreve a narradora. Mas é tudo uma questão de tempo até que ausências e sentimentos encontrem o seu lugar.

'Dias de se Fazer Silêncio', de Camila Maccari, ganhou uma nova edição pela Autêntica Contemporânea Foto: Editora Autêntica

Dias de se Fazer Silêncio

  • Autora: Camila Maccari
  • Editora: Autêntica Contemporânea (176 págs.; R$ 54,90; R$ 38,90 o e-book)

Se você começar Dias de se Fazer Silêncio pela orelha, vai ler que este não é um relato triste, mas, sim, humano. É muito humano, sim, e muito triste também. Não tinha como não ser. Tem criança, tem doença, tem morte e tem luto.

Delicado romance de estreia da gaúcha Camila Maccari, o livro saiu pela Bestiário, venceu, em 2022, o Prêmio Açorianos de Literatura e chega agora ao catálogo de uma grande editora, a Autêntica Contemporânea.

É a história de uma família pelo olhar de Maria, uma menina de 11 anos que se sente muito só enquanto os pais se dedicam ao filho caçula que definha, sereno, diante de todos. Uma menina desamparada, perdida no silêncio de uma casa onde ninguém dá nome às coisas. Que se sente excluída, culpada e triste, e só começa a entender o que se passa ao seu redor ao entreouvir o pai dizer a palavra ‘terminal’.

E o que se passa ao seu redor é: Rui, seu irmão um ano mais novo, e melhor amigo, vai morrer. Anos antes, apareceram algumas manchas escuras em seu corpo, e ele vinha lutando bravamente contra um destino – mas isso eles só vão descobrir depois –, traçado já no nascimento.

Camila Maccari é gaúcha e estreia na literatura com 'Dias de se Fazer Silêncio' Foto: Carolina Ferronato

Maria nunca tinha pensado que crianças também morriam. Compreendia, como podia, a morte – já tinha ido a velórios, perdido a avó. Mas, não, nunca tinha visto uma criança morta – portanto, elas não morriam.

Quando conseguiu verbalizar a dúvida ao pai, primeiro ela ouviu o silêncio, depois sentiu o peito dele acelerar. Quando olhou, ficou “apavorada e constrangida”. “O pai chorava e homens adultos não choram”, lemos.

A história começa com Maria e a mãe desinfetando freneticamente tudo, porque o menino estava voltando para casa, depois de um longo período no hospital, pela última vez. Aos poucos, a rigidez dos outros reencontros, como o uso de máscara para proteger o menino, vai sendo deixada de lado. Os irmãos passam noites em claro conversando e fazendo brincadeiras que ajudavam o tempo a avançar mais terno. Ou mais lento.

O cenário é rural. Há visitas no quintal e uma festa de aniversário, e a presença misteriosa de uma parteira. O terror no olhar de cada um. A dor expressa em cada centímetro da mãe. Os dias, afinal, sendo preenchidos com memórias para depois. Os longos períodos da autora indicando a dificuldade de se chegar ao ponto final.

“Quando se gira em torno da morte iminente, ainda se gira em torno da vida, mas depois tudo meio que deixa de fazer sentido”, escreve a narradora. Mas é tudo uma questão de tempo até que ausências e sentimentos encontrem o seu lugar.

'Dias de se Fazer Silêncio', de Camila Maccari, ganhou uma nova edição pela Autêntica Contemporânea Foto: Editora Autêntica

Dias de se Fazer Silêncio

  • Autora: Camila Maccari
  • Editora: Autêntica Contemporânea (176 págs.; R$ 54,90; R$ 38,90 o e-book)
Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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