Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Ioga: Livro revela autorretrato cruel de Emmanuel Carrère entre o equilíbrio e a queda livre


Era para ter sido uma obra sobre ioga e meditação, mas virou um livro sobre autodestruição e reconstrução, sobre bipolaridade e crise dos refugiados, e sobre estar vivo

Por Maria Fernanda Rodrigues

Foi durante uma entrevista sobre um assunto qualquer, em que se viu gostando de explicar ao repórter o que era ioga, que o escritor francês Emmanuel Carrère teve a ideia de escrever um “livrinho simpático e perspicaz” sobre o tema. E foi com essa ideia em mente que ele decidiu, em janeiro de 2015, fazer um retiro: 10 dias de meditação em silêncio absoluto. Um desafio. Mas não uma novidade para ele, um praticante há mais de 35 anos.

Começamos a ler Ioga, lançado na França em 2020 e no Brasil há seis meses, como essa tentativa de Carrère de escrever, como ele diz, a versão dele desses livros de desenvolvimento pessoal que vendem bem – a que mostra que adeptos do zen, da ioga, da meditação e de “todas as outras coisas luminosas que fazem bem” nem sempre são pessoas tranquilas e serenas. Ele não é. Mas, como diz Lenin, que ele cita: é preciso “trabalhar com o que se tem”.

Escritor reconhecido, autor de obras como Outras Vidas Que Não a Minha e O Reino, Carrère estava bem quando essa história começou. Tudo certo com a família. A velha conhecida depressão tinha dado uma trégua e por 10 anos ele estava conseguindo se equilibrar. Até que ele não conseguiu mais. E o livro, que caminhava na direção da luz, se transforma num mergulho vertiginoso no abismo.

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Emmanuel Carrère escreve sobre sua descida ao inferno no livro 'Ioga' Foto: Helène Bamberger/P.O.L./Alfaguara

Algo o obriga a deixar o retiro. Coisas urgentes acontecem em seu país. E em sua vida – há lacunas aqui. Tudo desmorona. Se estamos lendo essa história é porque deu tudo certo no final. Ele está vivo.

No meio do turbilhão, com uma profunda depressão melancólica, ele foi submetido a um tratamento pesado durante quatro meses em hospital psiquiátrico. Aos 60, depois de uma vida de diagnóstico errado, descobre que é, na verdade, bipolar – e tudo começa a fazer sentido, e fica melhor com lítio. A vida vai entrando nos eixos e ele se encanta com um novo projeto: oficinas de escrita para jovens refugiados em Lesbos, na Grécia. A literatura como uma forma de lidar com os traumas.

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O autor não perde de vista o projeto de livro sobre ioga, e reflexões e definições perpassam toda a obra, ao lado do retrato comovente e impiedoso que faz de si e de histórias pessoais. De si? Pessoais?

O livro é classificado como ficção. Carrère, autor e personagem, fala em relato biográfico. Você vai querer saber se aquilo tudo é verdade. Talvez já tenha ouvido sobre a reação de sua família. Talvez pegue o celular para pesquisar. Sugiro fazer o que Carrère faz enquanto narra: ficar no presente. Como a meditação defende. A leitura fica melhor assim.

Capa do livro Ioga, de Emmanuel Carrère Foto: Reprodução/Alfaguara
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IOGA

Autor: Emmanuel Carrère

Tradução: Mariana Delfini

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Editora: Alfaguara (272 págs., R$ 79,90 R$ 39,90 o e-book)

Foi durante uma entrevista sobre um assunto qualquer, em que se viu gostando de explicar ao repórter o que era ioga, que o escritor francês Emmanuel Carrère teve a ideia de escrever um “livrinho simpático e perspicaz” sobre o tema. E foi com essa ideia em mente que ele decidiu, em janeiro de 2015, fazer um retiro: 10 dias de meditação em silêncio absoluto. Um desafio. Mas não uma novidade para ele, um praticante há mais de 35 anos.

Começamos a ler Ioga, lançado na França em 2020 e no Brasil há seis meses, como essa tentativa de Carrère de escrever, como ele diz, a versão dele desses livros de desenvolvimento pessoal que vendem bem – a que mostra que adeptos do zen, da ioga, da meditação e de “todas as outras coisas luminosas que fazem bem” nem sempre são pessoas tranquilas e serenas. Ele não é. Mas, como diz Lenin, que ele cita: é preciso “trabalhar com o que se tem”.

Escritor reconhecido, autor de obras como Outras Vidas Que Não a Minha e O Reino, Carrère estava bem quando essa história começou. Tudo certo com a família. A velha conhecida depressão tinha dado uma trégua e por 10 anos ele estava conseguindo se equilibrar. Até que ele não conseguiu mais. E o livro, que caminhava na direção da luz, se transforma num mergulho vertiginoso no abismo.

Emmanuel Carrère escreve sobre sua descida ao inferno no livro 'Ioga' Foto: Helène Bamberger/P.O.L./Alfaguara

Algo o obriga a deixar o retiro. Coisas urgentes acontecem em seu país. E em sua vida – há lacunas aqui. Tudo desmorona. Se estamos lendo essa história é porque deu tudo certo no final. Ele está vivo.

No meio do turbilhão, com uma profunda depressão melancólica, ele foi submetido a um tratamento pesado durante quatro meses em hospital psiquiátrico. Aos 60, depois de uma vida de diagnóstico errado, descobre que é, na verdade, bipolar – e tudo começa a fazer sentido, e fica melhor com lítio. A vida vai entrando nos eixos e ele se encanta com um novo projeto: oficinas de escrita para jovens refugiados em Lesbos, na Grécia. A literatura como uma forma de lidar com os traumas.

O autor não perde de vista o projeto de livro sobre ioga, e reflexões e definições perpassam toda a obra, ao lado do retrato comovente e impiedoso que faz de si e de histórias pessoais. De si? Pessoais?

O livro é classificado como ficção. Carrère, autor e personagem, fala em relato biográfico. Você vai querer saber se aquilo tudo é verdade. Talvez já tenha ouvido sobre a reação de sua família. Talvez pegue o celular para pesquisar. Sugiro fazer o que Carrère faz enquanto narra: ficar no presente. Como a meditação defende. A leitura fica melhor assim.

Capa do livro Ioga, de Emmanuel Carrère Foto: Reprodução/Alfaguara

IOGA

Autor: Emmanuel Carrère

Tradução: Mariana Delfini

Editora: Alfaguara (272 págs., R$ 79,90 R$ 39,90 o e-book)

Foi durante uma entrevista sobre um assunto qualquer, em que se viu gostando de explicar ao repórter o que era ioga, que o escritor francês Emmanuel Carrère teve a ideia de escrever um “livrinho simpático e perspicaz” sobre o tema. E foi com essa ideia em mente que ele decidiu, em janeiro de 2015, fazer um retiro: 10 dias de meditação em silêncio absoluto. Um desafio. Mas não uma novidade para ele, um praticante há mais de 35 anos.

Começamos a ler Ioga, lançado na França em 2020 e no Brasil há seis meses, como essa tentativa de Carrère de escrever, como ele diz, a versão dele desses livros de desenvolvimento pessoal que vendem bem – a que mostra que adeptos do zen, da ioga, da meditação e de “todas as outras coisas luminosas que fazem bem” nem sempre são pessoas tranquilas e serenas. Ele não é. Mas, como diz Lenin, que ele cita: é preciso “trabalhar com o que se tem”.

Escritor reconhecido, autor de obras como Outras Vidas Que Não a Minha e O Reino, Carrère estava bem quando essa história começou. Tudo certo com a família. A velha conhecida depressão tinha dado uma trégua e por 10 anos ele estava conseguindo se equilibrar. Até que ele não conseguiu mais. E o livro, que caminhava na direção da luz, se transforma num mergulho vertiginoso no abismo.

Emmanuel Carrère escreve sobre sua descida ao inferno no livro 'Ioga' Foto: Helène Bamberger/P.O.L./Alfaguara

Algo o obriga a deixar o retiro. Coisas urgentes acontecem em seu país. E em sua vida – há lacunas aqui. Tudo desmorona. Se estamos lendo essa história é porque deu tudo certo no final. Ele está vivo.

No meio do turbilhão, com uma profunda depressão melancólica, ele foi submetido a um tratamento pesado durante quatro meses em hospital psiquiátrico. Aos 60, depois de uma vida de diagnóstico errado, descobre que é, na verdade, bipolar – e tudo começa a fazer sentido, e fica melhor com lítio. A vida vai entrando nos eixos e ele se encanta com um novo projeto: oficinas de escrita para jovens refugiados em Lesbos, na Grécia. A literatura como uma forma de lidar com os traumas.

O autor não perde de vista o projeto de livro sobre ioga, e reflexões e definições perpassam toda a obra, ao lado do retrato comovente e impiedoso que faz de si e de histórias pessoais. De si? Pessoais?

O livro é classificado como ficção. Carrère, autor e personagem, fala em relato biográfico. Você vai querer saber se aquilo tudo é verdade. Talvez já tenha ouvido sobre a reação de sua família. Talvez pegue o celular para pesquisar. Sugiro fazer o que Carrère faz enquanto narra: ficar no presente. Como a meditação defende. A leitura fica melhor assim.

Capa do livro Ioga, de Emmanuel Carrère Foto: Reprodução/Alfaguara

IOGA

Autor: Emmanuel Carrère

Tradução: Mariana Delfini

Editora: Alfaguara (272 págs., R$ 79,90 R$ 39,90 o e-book)

Foi durante uma entrevista sobre um assunto qualquer, em que se viu gostando de explicar ao repórter o que era ioga, que o escritor francês Emmanuel Carrère teve a ideia de escrever um “livrinho simpático e perspicaz” sobre o tema. E foi com essa ideia em mente que ele decidiu, em janeiro de 2015, fazer um retiro: 10 dias de meditação em silêncio absoluto. Um desafio. Mas não uma novidade para ele, um praticante há mais de 35 anos.

Começamos a ler Ioga, lançado na França em 2020 e no Brasil há seis meses, como essa tentativa de Carrère de escrever, como ele diz, a versão dele desses livros de desenvolvimento pessoal que vendem bem – a que mostra que adeptos do zen, da ioga, da meditação e de “todas as outras coisas luminosas que fazem bem” nem sempre são pessoas tranquilas e serenas. Ele não é. Mas, como diz Lenin, que ele cita: é preciso “trabalhar com o que se tem”.

Escritor reconhecido, autor de obras como Outras Vidas Que Não a Minha e O Reino, Carrère estava bem quando essa história começou. Tudo certo com a família. A velha conhecida depressão tinha dado uma trégua e por 10 anos ele estava conseguindo se equilibrar. Até que ele não conseguiu mais. E o livro, que caminhava na direção da luz, se transforma num mergulho vertiginoso no abismo.

Emmanuel Carrère escreve sobre sua descida ao inferno no livro 'Ioga' Foto: Helène Bamberger/P.O.L./Alfaguara

Algo o obriga a deixar o retiro. Coisas urgentes acontecem em seu país. E em sua vida – há lacunas aqui. Tudo desmorona. Se estamos lendo essa história é porque deu tudo certo no final. Ele está vivo.

No meio do turbilhão, com uma profunda depressão melancólica, ele foi submetido a um tratamento pesado durante quatro meses em hospital psiquiátrico. Aos 60, depois de uma vida de diagnóstico errado, descobre que é, na verdade, bipolar – e tudo começa a fazer sentido, e fica melhor com lítio. A vida vai entrando nos eixos e ele se encanta com um novo projeto: oficinas de escrita para jovens refugiados em Lesbos, na Grécia. A literatura como uma forma de lidar com os traumas.

O autor não perde de vista o projeto de livro sobre ioga, e reflexões e definições perpassam toda a obra, ao lado do retrato comovente e impiedoso que faz de si e de histórias pessoais. De si? Pessoais?

O livro é classificado como ficção. Carrère, autor e personagem, fala em relato biográfico. Você vai querer saber se aquilo tudo é verdade. Talvez já tenha ouvido sobre a reação de sua família. Talvez pegue o celular para pesquisar. Sugiro fazer o que Carrère faz enquanto narra: ficar no presente. Como a meditação defende. A leitura fica melhor assim.

Capa do livro Ioga, de Emmanuel Carrère Foto: Reprodução/Alfaguara

IOGA

Autor: Emmanuel Carrère

Tradução: Mariana Delfini

Editora: Alfaguara (272 págs., R$ 79,90 R$ 39,90 o e-book)

Foi durante uma entrevista sobre um assunto qualquer, em que se viu gostando de explicar ao repórter o que era ioga, que o escritor francês Emmanuel Carrère teve a ideia de escrever um “livrinho simpático e perspicaz” sobre o tema. E foi com essa ideia em mente que ele decidiu, em janeiro de 2015, fazer um retiro: 10 dias de meditação em silêncio absoluto. Um desafio. Mas não uma novidade para ele, um praticante há mais de 35 anos.

Começamos a ler Ioga, lançado na França em 2020 e no Brasil há seis meses, como essa tentativa de Carrère de escrever, como ele diz, a versão dele desses livros de desenvolvimento pessoal que vendem bem – a que mostra que adeptos do zen, da ioga, da meditação e de “todas as outras coisas luminosas que fazem bem” nem sempre são pessoas tranquilas e serenas. Ele não é. Mas, como diz Lenin, que ele cita: é preciso “trabalhar com o que se tem”.

Escritor reconhecido, autor de obras como Outras Vidas Que Não a Minha e O Reino, Carrère estava bem quando essa história começou. Tudo certo com a família. A velha conhecida depressão tinha dado uma trégua e por 10 anos ele estava conseguindo se equilibrar. Até que ele não conseguiu mais. E o livro, que caminhava na direção da luz, se transforma num mergulho vertiginoso no abismo.

Emmanuel Carrère escreve sobre sua descida ao inferno no livro 'Ioga' Foto: Helène Bamberger/P.O.L./Alfaguara

Algo o obriga a deixar o retiro. Coisas urgentes acontecem em seu país. E em sua vida – há lacunas aqui. Tudo desmorona. Se estamos lendo essa história é porque deu tudo certo no final. Ele está vivo.

No meio do turbilhão, com uma profunda depressão melancólica, ele foi submetido a um tratamento pesado durante quatro meses em hospital psiquiátrico. Aos 60, depois de uma vida de diagnóstico errado, descobre que é, na verdade, bipolar – e tudo começa a fazer sentido, e fica melhor com lítio. A vida vai entrando nos eixos e ele se encanta com um novo projeto: oficinas de escrita para jovens refugiados em Lesbos, na Grécia. A literatura como uma forma de lidar com os traumas.

O autor não perde de vista o projeto de livro sobre ioga, e reflexões e definições perpassam toda a obra, ao lado do retrato comovente e impiedoso que faz de si e de histórias pessoais. De si? Pessoais?

O livro é classificado como ficção. Carrère, autor e personagem, fala em relato biográfico. Você vai querer saber se aquilo tudo é verdade. Talvez já tenha ouvido sobre a reação de sua família. Talvez pegue o celular para pesquisar. Sugiro fazer o que Carrère faz enquanto narra: ficar no presente. Como a meditação defende. A leitura fica melhor assim.

Capa do livro Ioga, de Emmanuel Carrère Foto: Reprodução/Alfaguara

IOGA

Autor: Emmanuel Carrère

Tradução: Mariana Delfini

Editora: Alfaguara (272 págs., R$ 79,90 R$ 39,90 o e-book)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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