Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Livro mergulha fundo na dor de uma filha para falar sobre luto, raízes, memória e comida coreana


Em ‘Aos Prantos no Mercado’, Michelle Zauner, vocalista do Japanese Breakfast e uma das 100 pessoas mais influentes de 2022 pela Time, escreve sobre a morte da mãe

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

H Mart é uma rede de supermercados de produtos asiáticos presente em diversas cidades dos Estados Unidos. É para lá que “os filhos de imigrantes seguem quando querem encontrar a marca de macarrão coreana que lembra o lar da infância”. É para lá que Michelle Zauner segue à procura de memórias e de evidências de que a metade coreana de sua identidade não morreu quando sua mãe morreu.

“O H Mart é a ponte que me guia para longe das lembranças que me assombram, de cabeças de quimioterapia e corpos esqueléticos”, ela escreve logo no início de Aos Prantos no Mercado (no original, Crying in H Mart).

Começo a ler esse livro no escuro, como um romance, e só lá pelas tantas percebo que é o livro de memórias - de uma cantora de 33 anos, vocalista da banda indie Japanese Breakfast.

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Se você também não a conhece ou não é ligado em música, tudo bem. Não faz diferença. A história que ela conta encontra facilmente eco em quem tem ou já perdeu a mãe, ou uma tia querida, ou já precisou elaborar qualquer outro luto.

Nos Estados Unidos ou em Seul, a comida era um ponto de contato entre mãe e filha Foto: Tragrpx/Pixabay

Esta é, portanto, a história de uma filha às voltas com a perspectiva da morte da mãe e com a morte em si – e que precisa desesperadamente esquecer a última palavra dita por ela e todo o seu sofrimento. De uma garota que busca um norte depois dessa perda avassaladora, quando ela tinha 25 anos e ainda não era uma cantora de sucesso. De uma imigrante que vê o risco de sua história familiar se extinguir e busca conexão.

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Michelle nos apresenta sua mãe, uma mulher coreana que se muda para os Estados Unidos com o novo marido americano e a filhinha de um ano. Uma mulher vaidosa, fanática por cremes cosméticos e, mais importante, por comida. É por meio da comida, da refeição preparada e compartilhada, que o amor se expressa.

Ao longo de todo o livro, nos deparamos com descrições minuciosas de ingredientes, cheiros e sabores – e seguimos a autora pelo caminho da memória que essas comidas despertam. Voltamos à infância – à escola, às viagens ano sim ano não à Coreia do Sul. Acompanhamos a descoberta do câncer, o tratamento, as tentativas de enganar a morte – e aqui tem uma passagem bonita, algo feito às pressas para que a mãe possa compartilhar um momento que só faria sentido com ela. Porque enquanto a morte não chega, é preciso viver a vida.

É um livro bonito. Triste. Uma viagem pela cultura coreana e as tramas de uma família. Uma jornada de despedida e amadurecimento, de descoberta de novos sentidos, apesar da “farpa” que a morte de alguém pode deixar em nossa alma – e de memórias cultivadas.

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'Aos Prantos no Mercado', de Michelle Zauner, foi publicado no Brasil em outubro Foto: Editora Fósforo

Aos Prantos no Mercado

Autora: Michelle Zauner

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Editora: Fósforo (288 págs.; R$ 69,90; R$ 44,90 o e-book)

Ouça o disco de Michelle Zauner dedicado à mãe

H Mart é uma rede de supermercados de produtos asiáticos presente em diversas cidades dos Estados Unidos. É para lá que “os filhos de imigrantes seguem quando querem encontrar a marca de macarrão coreana que lembra o lar da infância”. É para lá que Michelle Zauner segue à procura de memórias e de evidências de que a metade coreana de sua identidade não morreu quando sua mãe morreu.

“O H Mart é a ponte que me guia para longe das lembranças que me assombram, de cabeças de quimioterapia e corpos esqueléticos”, ela escreve logo no início de Aos Prantos no Mercado (no original, Crying in H Mart).

Começo a ler esse livro no escuro, como um romance, e só lá pelas tantas percebo que é o livro de memórias - de uma cantora de 33 anos, vocalista da banda indie Japanese Breakfast.

Se você também não a conhece ou não é ligado em música, tudo bem. Não faz diferença. A história que ela conta encontra facilmente eco em quem tem ou já perdeu a mãe, ou uma tia querida, ou já precisou elaborar qualquer outro luto.

Nos Estados Unidos ou em Seul, a comida era um ponto de contato entre mãe e filha Foto: Tragrpx/Pixabay

Esta é, portanto, a história de uma filha às voltas com a perspectiva da morte da mãe e com a morte em si – e que precisa desesperadamente esquecer a última palavra dita por ela e todo o seu sofrimento. De uma garota que busca um norte depois dessa perda avassaladora, quando ela tinha 25 anos e ainda não era uma cantora de sucesso. De uma imigrante que vê o risco de sua história familiar se extinguir e busca conexão.

Michelle nos apresenta sua mãe, uma mulher coreana que se muda para os Estados Unidos com o novo marido americano e a filhinha de um ano. Uma mulher vaidosa, fanática por cremes cosméticos e, mais importante, por comida. É por meio da comida, da refeição preparada e compartilhada, que o amor se expressa.

Ao longo de todo o livro, nos deparamos com descrições minuciosas de ingredientes, cheiros e sabores – e seguimos a autora pelo caminho da memória que essas comidas despertam. Voltamos à infância – à escola, às viagens ano sim ano não à Coreia do Sul. Acompanhamos a descoberta do câncer, o tratamento, as tentativas de enganar a morte – e aqui tem uma passagem bonita, algo feito às pressas para que a mãe possa compartilhar um momento que só faria sentido com ela. Porque enquanto a morte não chega, é preciso viver a vida.

É um livro bonito. Triste. Uma viagem pela cultura coreana e as tramas de uma família. Uma jornada de despedida e amadurecimento, de descoberta de novos sentidos, apesar da “farpa” que a morte de alguém pode deixar em nossa alma – e de memórias cultivadas.

'Aos Prantos no Mercado', de Michelle Zauner, foi publicado no Brasil em outubro Foto: Editora Fósforo

Aos Prantos no Mercado

Autora: Michelle Zauner

Editora: Fósforo (288 págs.; R$ 69,90; R$ 44,90 o e-book)

Ouça o disco de Michelle Zauner dedicado à mãe

H Mart é uma rede de supermercados de produtos asiáticos presente em diversas cidades dos Estados Unidos. É para lá que “os filhos de imigrantes seguem quando querem encontrar a marca de macarrão coreana que lembra o lar da infância”. É para lá que Michelle Zauner segue à procura de memórias e de evidências de que a metade coreana de sua identidade não morreu quando sua mãe morreu.

“O H Mart é a ponte que me guia para longe das lembranças que me assombram, de cabeças de quimioterapia e corpos esqueléticos”, ela escreve logo no início de Aos Prantos no Mercado (no original, Crying in H Mart).

Começo a ler esse livro no escuro, como um romance, e só lá pelas tantas percebo que é o livro de memórias - de uma cantora de 33 anos, vocalista da banda indie Japanese Breakfast.

Se você também não a conhece ou não é ligado em música, tudo bem. Não faz diferença. A história que ela conta encontra facilmente eco em quem tem ou já perdeu a mãe, ou uma tia querida, ou já precisou elaborar qualquer outro luto.

Nos Estados Unidos ou em Seul, a comida era um ponto de contato entre mãe e filha Foto: Tragrpx/Pixabay

Esta é, portanto, a história de uma filha às voltas com a perspectiva da morte da mãe e com a morte em si – e que precisa desesperadamente esquecer a última palavra dita por ela e todo o seu sofrimento. De uma garota que busca um norte depois dessa perda avassaladora, quando ela tinha 25 anos e ainda não era uma cantora de sucesso. De uma imigrante que vê o risco de sua história familiar se extinguir e busca conexão.

Michelle nos apresenta sua mãe, uma mulher coreana que se muda para os Estados Unidos com o novo marido americano e a filhinha de um ano. Uma mulher vaidosa, fanática por cremes cosméticos e, mais importante, por comida. É por meio da comida, da refeição preparada e compartilhada, que o amor se expressa.

Ao longo de todo o livro, nos deparamos com descrições minuciosas de ingredientes, cheiros e sabores – e seguimos a autora pelo caminho da memória que essas comidas despertam. Voltamos à infância – à escola, às viagens ano sim ano não à Coreia do Sul. Acompanhamos a descoberta do câncer, o tratamento, as tentativas de enganar a morte – e aqui tem uma passagem bonita, algo feito às pressas para que a mãe possa compartilhar um momento que só faria sentido com ela. Porque enquanto a morte não chega, é preciso viver a vida.

É um livro bonito. Triste. Uma viagem pela cultura coreana e as tramas de uma família. Uma jornada de despedida e amadurecimento, de descoberta de novos sentidos, apesar da “farpa” que a morte de alguém pode deixar em nossa alma – e de memórias cultivadas.

'Aos Prantos no Mercado', de Michelle Zauner, foi publicado no Brasil em outubro Foto: Editora Fósforo

Aos Prantos no Mercado

Autora: Michelle Zauner

Editora: Fósforo (288 págs.; R$ 69,90; R$ 44,90 o e-book)

Ouça o disco de Michelle Zauner dedicado à mãe

H Mart é uma rede de supermercados de produtos asiáticos presente em diversas cidades dos Estados Unidos. É para lá que “os filhos de imigrantes seguem quando querem encontrar a marca de macarrão coreana que lembra o lar da infância”. É para lá que Michelle Zauner segue à procura de memórias e de evidências de que a metade coreana de sua identidade não morreu quando sua mãe morreu.

“O H Mart é a ponte que me guia para longe das lembranças que me assombram, de cabeças de quimioterapia e corpos esqueléticos”, ela escreve logo no início de Aos Prantos no Mercado (no original, Crying in H Mart).

Começo a ler esse livro no escuro, como um romance, e só lá pelas tantas percebo que é o livro de memórias - de uma cantora de 33 anos, vocalista da banda indie Japanese Breakfast.

Se você também não a conhece ou não é ligado em música, tudo bem. Não faz diferença. A história que ela conta encontra facilmente eco em quem tem ou já perdeu a mãe, ou uma tia querida, ou já precisou elaborar qualquer outro luto.

Nos Estados Unidos ou em Seul, a comida era um ponto de contato entre mãe e filha Foto: Tragrpx/Pixabay

Esta é, portanto, a história de uma filha às voltas com a perspectiva da morte da mãe e com a morte em si – e que precisa desesperadamente esquecer a última palavra dita por ela e todo o seu sofrimento. De uma garota que busca um norte depois dessa perda avassaladora, quando ela tinha 25 anos e ainda não era uma cantora de sucesso. De uma imigrante que vê o risco de sua história familiar se extinguir e busca conexão.

Michelle nos apresenta sua mãe, uma mulher coreana que se muda para os Estados Unidos com o novo marido americano e a filhinha de um ano. Uma mulher vaidosa, fanática por cremes cosméticos e, mais importante, por comida. É por meio da comida, da refeição preparada e compartilhada, que o amor se expressa.

Ao longo de todo o livro, nos deparamos com descrições minuciosas de ingredientes, cheiros e sabores – e seguimos a autora pelo caminho da memória que essas comidas despertam. Voltamos à infância – à escola, às viagens ano sim ano não à Coreia do Sul. Acompanhamos a descoberta do câncer, o tratamento, as tentativas de enganar a morte – e aqui tem uma passagem bonita, algo feito às pressas para que a mãe possa compartilhar um momento que só faria sentido com ela. Porque enquanto a morte não chega, é preciso viver a vida.

É um livro bonito. Triste. Uma viagem pela cultura coreana e as tramas de uma família. Uma jornada de despedida e amadurecimento, de descoberta de novos sentidos, apesar da “farpa” que a morte de alguém pode deixar em nossa alma – e de memórias cultivadas.

'Aos Prantos no Mercado', de Michelle Zauner, foi publicado no Brasil em outubro Foto: Editora Fósforo

Aos Prantos no Mercado

Autora: Michelle Zauner

Editora: Fósforo (288 págs.; R$ 69,90; R$ 44,90 o e-book)

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Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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