Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Um Livro Por Semana: Memórias, sombras e verdades ('As Pequenas Virtudes')


Em seu livro de ensaios, a italiana Natalia Ginzburg reflete sobre vida, exílio, guerra, educação, relações humanas e seu ofício

Por Maria Fernanda Rodrigues

Você não precisa ter lido Léxico Familiar ou Caro Michele nem saber profundamente quem foi Natalia Ginzburg (1916-1991) para se entregar aos 11 ensaios de As Pequenas Virtudes, livro editado pela Cosac Naify em 2015 e reeditado pela Companhia das Letras em 2020. Também não precisa demorar o tempo que demorei para tirá-lo da estante: vale cada linha. De 1962, a obra traz textos escritos entre 1944 e 1962. Na abertura, a autora italiana indica onde e quando eles foram escritos – isso é importante, ela explica, por causa da mudança de estilo. E é importante também se quisermos entender o contexto em que foram criados.

Livro da italiana Natalia Ginzburg reúne ensaios escritos entre 1944 e 1962 Foto: Valter Cirillo/Pixabay

No ensaio que abre o livro, Inverno em Abuzzo, ela conta sobre o tempo em que a família viveu num pequeno vilarejo no sul como “internos civis de guerra”. O exílio, a saudade, pequenas lembranças do lugar, dos passeios na neve com o marido e as três crianças naqueles três anos que foram difíceis – mas nada tão brutal quanto o que se seguiu. “Na época eu tinha fé num futuro fácil e feliz, rico de desejos satisfeitos, de experiências e de conquistas em comum. Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei”, Natalia escreveu no outono de 1944, poucos meses depois de deixarem o vilarejo e de Leone Ginzburg, seu marido, um intelectual antifascista, ser torturado e morto numa prisão em Roma. Ele tinha 34. Ela, 27. Carlo (o historiador e autor de O Queijo e Os Vermes e O Fio e Os Rastros) tinha 4. Em seus textos, há muita reflexão sobre esse estar no mundo, sobre maternidade e formação, sobre as relações humanas, seu ofício, o medo, a guerra, o mal e a perda irreparável da sensação de segurança. Em Ele e Eu (1962), por exemplo, ao escrever sobre o segundo marido, diz: “Eu tenho medo de autoridade constituída; ele, não. (...) Se vejo um policial se aproximando para nos multar, logo penso que vai nos levar para a cadeia”. Em O Filho Homem (1946), ela escreve que não é possível sair curado de tempos como aqueles. “Se observo meus meninos dormindo, penso com alívio que não precisarei acordá-los no meio da noite para fugir. Mas não é um alívio pleno e profundo. Sempre acho que mais cedo ou mais tarde precisaremos nos levantar de novo na noite e escapar e deixar tudo para trás, quartos quietos e cartas e lembranças e roupas. Uma vez sofrida, jamais se esquece a experiência do mal.” E segue, mais adiante: “Há alguns que se queixam de que os escritores se servem de uma linguagem amarga e violenta, que contam coisas duras e tristes, que apresentam a realidade em seus termos mais desolados. Nós não podemos mentir nos livros”.

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As Pequenas Virtudes

Autora: Natalia Ginzburg Trad.: Mauricio Santana Dias Editora: Companhia das Letras (128 págs.; R$ 44,90; R$ 29,90)

Você não precisa ter lido Léxico Familiar ou Caro Michele nem saber profundamente quem foi Natalia Ginzburg (1916-1991) para se entregar aos 11 ensaios de As Pequenas Virtudes, livro editado pela Cosac Naify em 2015 e reeditado pela Companhia das Letras em 2020. Também não precisa demorar o tempo que demorei para tirá-lo da estante: vale cada linha. De 1962, a obra traz textos escritos entre 1944 e 1962. Na abertura, a autora italiana indica onde e quando eles foram escritos – isso é importante, ela explica, por causa da mudança de estilo. E é importante também se quisermos entender o contexto em que foram criados.

Livro da italiana Natalia Ginzburg reúne ensaios escritos entre 1944 e 1962 Foto: Valter Cirillo/Pixabay

No ensaio que abre o livro, Inverno em Abuzzo, ela conta sobre o tempo em que a família viveu num pequeno vilarejo no sul como “internos civis de guerra”. O exílio, a saudade, pequenas lembranças do lugar, dos passeios na neve com o marido e as três crianças naqueles três anos que foram difíceis – mas nada tão brutal quanto o que se seguiu. “Na época eu tinha fé num futuro fácil e feliz, rico de desejos satisfeitos, de experiências e de conquistas em comum. Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei”, Natalia escreveu no outono de 1944, poucos meses depois de deixarem o vilarejo e de Leone Ginzburg, seu marido, um intelectual antifascista, ser torturado e morto numa prisão em Roma. Ele tinha 34. Ela, 27. Carlo (o historiador e autor de O Queijo e Os Vermes e O Fio e Os Rastros) tinha 4. Em seus textos, há muita reflexão sobre esse estar no mundo, sobre maternidade e formação, sobre as relações humanas, seu ofício, o medo, a guerra, o mal e a perda irreparável da sensação de segurança. Em Ele e Eu (1962), por exemplo, ao escrever sobre o segundo marido, diz: “Eu tenho medo de autoridade constituída; ele, não. (...) Se vejo um policial se aproximando para nos multar, logo penso que vai nos levar para a cadeia”. Em O Filho Homem (1946), ela escreve que não é possível sair curado de tempos como aqueles. “Se observo meus meninos dormindo, penso com alívio que não precisarei acordá-los no meio da noite para fugir. Mas não é um alívio pleno e profundo. Sempre acho que mais cedo ou mais tarde precisaremos nos levantar de novo na noite e escapar e deixar tudo para trás, quartos quietos e cartas e lembranças e roupas. Uma vez sofrida, jamais se esquece a experiência do mal.” E segue, mais adiante: “Há alguns que se queixam de que os escritores se servem de uma linguagem amarga e violenta, que contam coisas duras e tristes, que apresentam a realidade em seus termos mais desolados. Nós não podemos mentir nos livros”.

As Pequenas Virtudes

Autora: Natalia Ginzburg Trad.: Mauricio Santana Dias Editora: Companhia das Letras (128 págs.; R$ 44,90; R$ 29,90)

Você não precisa ter lido Léxico Familiar ou Caro Michele nem saber profundamente quem foi Natalia Ginzburg (1916-1991) para se entregar aos 11 ensaios de As Pequenas Virtudes, livro editado pela Cosac Naify em 2015 e reeditado pela Companhia das Letras em 2020. Também não precisa demorar o tempo que demorei para tirá-lo da estante: vale cada linha. De 1962, a obra traz textos escritos entre 1944 e 1962. Na abertura, a autora italiana indica onde e quando eles foram escritos – isso é importante, ela explica, por causa da mudança de estilo. E é importante também se quisermos entender o contexto em que foram criados.

Livro da italiana Natalia Ginzburg reúne ensaios escritos entre 1944 e 1962 Foto: Valter Cirillo/Pixabay

No ensaio que abre o livro, Inverno em Abuzzo, ela conta sobre o tempo em que a família viveu num pequeno vilarejo no sul como “internos civis de guerra”. O exílio, a saudade, pequenas lembranças do lugar, dos passeios na neve com o marido e as três crianças naqueles três anos que foram difíceis – mas nada tão brutal quanto o que se seguiu. “Na época eu tinha fé num futuro fácil e feliz, rico de desejos satisfeitos, de experiências e de conquistas em comum. Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei”, Natalia escreveu no outono de 1944, poucos meses depois de deixarem o vilarejo e de Leone Ginzburg, seu marido, um intelectual antifascista, ser torturado e morto numa prisão em Roma. Ele tinha 34. Ela, 27. Carlo (o historiador e autor de O Queijo e Os Vermes e O Fio e Os Rastros) tinha 4. Em seus textos, há muita reflexão sobre esse estar no mundo, sobre maternidade e formação, sobre as relações humanas, seu ofício, o medo, a guerra, o mal e a perda irreparável da sensação de segurança. Em Ele e Eu (1962), por exemplo, ao escrever sobre o segundo marido, diz: “Eu tenho medo de autoridade constituída; ele, não. (...) Se vejo um policial se aproximando para nos multar, logo penso que vai nos levar para a cadeia”. Em O Filho Homem (1946), ela escreve que não é possível sair curado de tempos como aqueles. “Se observo meus meninos dormindo, penso com alívio que não precisarei acordá-los no meio da noite para fugir. Mas não é um alívio pleno e profundo. Sempre acho que mais cedo ou mais tarde precisaremos nos levantar de novo na noite e escapar e deixar tudo para trás, quartos quietos e cartas e lembranças e roupas. Uma vez sofrida, jamais se esquece a experiência do mal.” E segue, mais adiante: “Há alguns que se queixam de que os escritores se servem de uma linguagem amarga e violenta, que contam coisas duras e tristes, que apresentam a realidade em seus termos mais desolados. Nós não podemos mentir nos livros”.

As Pequenas Virtudes

Autora: Natalia Ginzburg Trad.: Mauricio Santana Dias Editora: Companhia das Letras (128 págs.; R$ 44,90; R$ 29,90)

Você não precisa ter lido Léxico Familiar ou Caro Michele nem saber profundamente quem foi Natalia Ginzburg (1916-1991) para se entregar aos 11 ensaios de As Pequenas Virtudes, livro editado pela Cosac Naify em 2015 e reeditado pela Companhia das Letras em 2020. Também não precisa demorar o tempo que demorei para tirá-lo da estante: vale cada linha. De 1962, a obra traz textos escritos entre 1944 e 1962. Na abertura, a autora italiana indica onde e quando eles foram escritos – isso é importante, ela explica, por causa da mudança de estilo. E é importante também se quisermos entender o contexto em que foram criados.

Livro da italiana Natalia Ginzburg reúne ensaios escritos entre 1944 e 1962 Foto: Valter Cirillo/Pixabay

No ensaio que abre o livro, Inverno em Abuzzo, ela conta sobre o tempo em que a família viveu num pequeno vilarejo no sul como “internos civis de guerra”. O exílio, a saudade, pequenas lembranças do lugar, dos passeios na neve com o marido e as três crianças naqueles três anos que foram difíceis – mas nada tão brutal quanto o que se seguiu. “Na época eu tinha fé num futuro fácil e feliz, rico de desejos satisfeitos, de experiências e de conquistas em comum. Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei”, Natalia escreveu no outono de 1944, poucos meses depois de deixarem o vilarejo e de Leone Ginzburg, seu marido, um intelectual antifascista, ser torturado e morto numa prisão em Roma. Ele tinha 34. Ela, 27. Carlo (o historiador e autor de O Queijo e Os Vermes e O Fio e Os Rastros) tinha 4. Em seus textos, há muita reflexão sobre esse estar no mundo, sobre maternidade e formação, sobre as relações humanas, seu ofício, o medo, a guerra, o mal e a perda irreparável da sensação de segurança. Em Ele e Eu (1962), por exemplo, ao escrever sobre o segundo marido, diz: “Eu tenho medo de autoridade constituída; ele, não. (...) Se vejo um policial se aproximando para nos multar, logo penso que vai nos levar para a cadeia”. Em O Filho Homem (1946), ela escreve que não é possível sair curado de tempos como aqueles. “Se observo meus meninos dormindo, penso com alívio que não precisarei acordá-los no meio da noite para fugir. Mas não é um alívio pleno e profundo. Sempre acho que mais cedo ou mais tarde precisaremos nos levantar de novo na noite e escapar e deixar tudo para trás, quartos quietos e cartas e lembranças e roupas. Uma vez sofrida, jamais se esquece a experiência do mal.” E segue, mais adiante: “Há alguns que se queixam de que os escritores se servem de uma linguagem amarga e violenta, que contam coisas duras e tristes, que apresentam a realidade em seus termos mais desolados. Nós não podemos mentir nos livros”.

As Pequenas Virtudes

Autora: Natalia Ginzburg Trad.: Mauricio Santana Dias Editora: Companhia das Letras (128 págs.; R$ 44,90; R$ 29,90)

Você não precisa ter lido Léxico Familiar ou Caro Michele nem saber profundamente quem foi Natalia Ginzburg (1916-1991) para se entregar aos 11 ensaios de As Pequenas Virtudes, livro editado pela Cosac Naify em 2015 e reeditado pela Companhia das Letras em 2020. Também não precisa demorar o tempo que demorei para tirá-lo da estante: vale cada linha. De 1962, a obra traz textos escritos entre 1944 e 1962. Na abertura, a autora italiana indica onde e quando eles foram escritos – isso é importante, ela explica, por causa da mudança de estilo. E é importante também se quisermos entender o contexto em que foram criados.

Livro da italiana Natalia Ginzburg reúne ensaios escritos entre 1944 e 1962 Foto: Valter Cirillo/Pixabay

No ensaio que abre o livro, Inverno em Abuzzo, ela conta sobre o tempo em que a família viveu num pequeno vilarejo no sul como “internos civis de guerra”. O exílio, a saudade, pequenas lembranças do lugar, dos passeios na neve com o marido e as três crianças naqueles três anos que foram difíceis – mas nada tão brutal quanto o que se seguiu. “Na época eu tinha fé num futuro fácil e feliz, rico de desejos satisfeitos, de experiências e de conquistas em comum. Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei”, Natalia escreveu no outono de 1944, poucos meses depois de deixarem o vilarejo e de Leone Ginzburg, seu marido, um intelectual antifascista, ser torturado e morto numa prisão em Roma. Ele tinha 34. Ela, 27. Carlo (o historiador e autor de O Queijo e Os Vermes e O Fio e Os Rastros) tinha 4. Em seus textos, há muita reflexão sobre esse estar no mundo, sobre maternidade e formação, sobre as relações humanas, seu ofício, o medo, a guerra, o mal e a perda irreparável da sensação de segurança. Em Ele e Eu (1962), por exemplo, ao escrever sobre o segundo marido, diz: “Eu tenho medo de autoridade constituída; ele, não. (...) Se vejo um policial se aproximando para nos multar, logo penso que vai nos levar para a cadeia”. Em O Filho Homem (1946), ela escreve que não é possível sair curado de tempos como aqueles. “Se observo meus meninos dormindo, penso com alívio que não precisarei acordá-los no meio da noite para fugir. Mas não é um alívio pleno e profundo. Sempre acho que mais cedo ou mais tarde precisaremos nos levantar de novo na noite e escapar e deixar tudo para trás, quartos quietos e cartas e lembranças e roupas. Uma vez sofrida, jamais se esquece a experiência do mal.” E segue, mais adiante: “Há alguns que se queixam de que os escritores se servem de uma linguagem amarga e violenta, que contam coisas duras e tristes, que apresentam a realidade em seus termos mais desolados. Nós não podemos mentir nos livros”.

As Pequenas Virtudes

Autora: Natalia Ginzburg Trad.: Mauricio Santana Dias Editora: Companhia das Letras (128 págs.; R$ 44,90; R$ 29,90)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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