Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Na guerra e entre bombas e brincadeiras: As memórias de Marina Colasanti da vida na Itália


‘Minha Guerra Alheia’ narra a infância de uma das maiores escritoras brasileiras - africana de nascimento, europeia de origem - que testemunhou a Segunda Guerra Mundial

Por Maria Fernanda Rodrigues

O livro tem 13 anos. Há pelos menos cinco ele está numa lista mental do que eu gostaria de ler, reler ou terminar de ler com calma. O Prêmio Machado de Assis, dado a Marina Colasanti na semana passada pelo conjunto da obra, me levou de volta à Minha Guerra Alheia. Que bom. E que livro bonito.

A história de Marina Colasanti é tão rica que tudo parece ficção. E a classificação da obra confunde: romance, na ficha catalográfica; memórias, na capa. Leio como memórias mesmo.

Uma das maiores escritoras brasileiras, ela nasceu em 1937 em Asmara, cidade do “império italiano”, que Mussolini queria transformar em sua “pequena Roma”. Naquela época, a cidade ficava na Etiópia. A independência, em 1993, mudou a biografia de Marina. Filha de pais italianos, ela nasceu, então, na Eritreia – dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Viveu o início da infância na África e o resto do conflito na Itália. Tinha 10 anos quando desembarcou no Rio.

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São esses primeiros anos, até o embarque rumo a um país tão distante, mas presente na história dos Colasantis desde os anos 1920, que Marina conta em Minha Guerra Alheia. Ela menina, brincando com o irmão Arduino, sabendo e não sabendo o que se passava ao redor.

A escritora Marina Colasanti em 2017 Foto: Fabio Motta/Estadão

Acompanhando suas lembranças, conhecemos outros lados da guerra: a vida que seguia, pelo olhar de uma criança, pelo olhar de uma criança numa família privilegiada, uma filha de um pai fascista. Uma criança que viu coisas demais.

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“As bombas caem devagar. Não sei como é possível, com aquele peso. Mas caem lentas ou eu as vi caindo lentas, bem lentas. E sobre a minha cabeça. (...)”, ela escreve. Em outro momento, conta da viagem de mudança para Como, no Norte. Porto San Giorgio, na costa do Mar Adriático, onde viviam, já não era seguro. O carro enguiça sobre uma ponte longa e alta. “Bombardeiros”, grita o pai. Todos descem, ele empurra, saem correndo, deitam na grama alta. Ficou tudo bem. Marina veria muitos outros depois, e as bombas caindo, e colunas de fumaça – golfinhos no mar?, sugeriram. E haveria outros ataques, escuridão, escassez.

É triste, mas nem tudo é destruição. Afinal, essa é a história de uma infância. Havia a guerra, e havia o sol e o mar. Havia escombros, que a fantasia transformava em outra coisa. Um irmão querido. Amigos imaginários. Livros. O encanto pela Cinecittà e pela ópera. E uma vida que se abria – e que recomeçaria, sem nunca esquecer aqueles anos fundadores, na mansão do Parque Lage, de sua tia-avó, a grande cantora lírica Gabrielle Besanzoni, e do marido Henrique Lage. Mas essa é outra história. Outros livros.

Minha Guerra Alheia

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Autora: Marina Colasanti

Editora: Record (288 págs., R$ 59,90 R$ 20,95 o e-book)

O livro tem 13 anos. Há pelos menos cinco ele está numa lista mental do que eu gostaria de ler, reler ou terminar de ler com calma. O Prêmio Machado de Assis, dado a Marina Colasanti na semana passada pelo conjunto da obra, me levou de volta à Minha Guerra Alheia. Que bom. E que livro bonito.

A história de Marina Colasanti é tão rica que tudo parece ficção. E a classificação da obra confunde: romance, na ficha catalográfica; memórias, na capa. Leio como memórias mesmo.

Uma das maiores escritoras brasileiras, ela nasceu em 1937 em Asmara, cidade do “império italiano”, que Mussolini queria transformar em sua “pequena Roma”. Naquela época, a cidade ficava na Etiópia. A independência, em 1993, mudou a biografia de Marina. Filha de pais italianos, ela nasceu, então, na Eritreia – dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Viveu o início da infância na África e o resto do conflito na Itália. Tinha 10 anos quando desembarcou no Rio.

São esses primeiros anos, até o embarque rumo a um país tão distante, mas presente na história dos Colasantis desde os anos 1920, que Marina conta em Minha Guerra Alheia. Ela menina, brincando com o irmão Arduino, sabendo e não sabendo o que se passava ao redor.

A escritora Marina Colasanti em 2017 Foto: Fabio Motta/Estadão

Acompanhando suas lembranças, conhecemos outros lados da guerra: a vida que seguia, pelo olhar de uma criança, pelo olhar de uma criança numa família privilegiada, uma filha de um pai fascista. Uma criança que viu coisas demais.

“As bombas caem devagar. Não sei como é possível, com aquele peso. Mas caem lentas ou eu as vi caindo lentas, bem lentas. E sobre a minha cabeça. (...)”, ela escreve. Em outro momento, conta da viagem de mudança para Como, no Norte. Porto San Giorgio, na costa do Mar Adriático, onde viviam, já não era seguro. O carro enguiça sobre uma ponte longa e alta. “Bombardeiros”, grita o pai. Todos descem, ele empurra, saem correndo, deitam na grama alta. Ficou tudo bem. Marina veria muitos outros depois, e as bombas caindo, e colunas de fumaça – golfinhos no mar?, sugeriram. E haveria outros ataques, escuridão, escassez.

É triste, mas nem tudo é destruição. Afinal, essa é a história de uma infância. Havia a guerra, e havia o sol e o mar. Havia escombros, que a fantasia transformava em outra coisa. Um irmão querido. Amigos imaginários. Livros. O encanto pela Cinecittà e pela ópera. E uma vida que se abria – e que recomeçaria, sem nunca esquecer aqueles anos fundadores, na mansão do Parque Lage, de sua tia-avó, a grande cantora lírica Gabrielle Besanzoni, e do marido Henrique Lage. Mas essa é outra história. Outros livros.

Minha Guerra Alheia

Autora: Marina Colasanti

Editora: Record (288 págs., R$ 59,90 R$ 20,95 o e-book)

O livro tem 13 anos. Há pelos menos cinco ele está numa lista mental do que eu gostaria de ler, reler ou terminar de ler com calma. O Prêmio Machado de Assis, dado a Marina Colasanti na semana passada pelo conjunto da obra, me levou de volta à Minha Guerra Alheia. Que bom. E que livro bonito.

A história de Marina Colasanti é tão rica que tudo parece ficção. E a classificação da obra confunde: romance, na ficha catalográfica; memórias, na capa. Leio como memórias mesmo.

Uma das maiores escritoras brasileiras, ela nasceu em 1937 em Asmara, cidade do “império italiano”, que Mussolini queria transformar em sua “pequena Roma”. Naquela época, a cidade ficava na Etiópia. A independência, em 1993, mudou a biografia de Marina. Filha de pais italianos, ela nasceu, então, na Eritreia – dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Viveu o início da infância na África e o resto do conflito na Itália. Tinha 10 anos quando desembarcou no Rio.

São esses primeiros anos, até o embarque rumo a um país tão distante, mas presente na história dos Colasantis desde os anos 1920, que Marina conta em Minha Guerra Alheia. Ela menina, brincando com o irmão Arduino, sabendo e não sabendo o que se passava ao redor.

A escritora Marina Colasanti em 2017 Foto: Fabio Motta/Estadão

Acompanhando suas lembranças, conhecemos outros lados da guerra: a vida que seguia, pelo olhar de uma criança, pelo olhar de uma criança numa família privilegiada, uma filha de um pai fascista. Uma criança que viu coisas demais.

“As bombas caem devagar. Não sei como é possível, com aquele peso. Mas caem lentas ou eu as vi caindo lentas, bem lentas. E sobre a minha cabeça. (...)”, ela escreve. Em outro momento, conta da viagem de mudança para Como, no Norte. Porto San Giorgio, na costa do Mar Adriático, onde viviam, já não era seguro. O carro enguiça sobre uma ponte longa e alta. “Bombardeiros”, grita o pai. Todos descem, ele empurra, saem correndo, deitam na grama alta. Ficou tudo bem. Marina veria muitos outros depois, e as bombas caindo, e colunas de fumaça – golfinhos no mar?, sugeriram. E haveria outros ataques, escuridão, escassez.

É triste, mas nem tudo é destruição. Afinal, essa é a história de uma infância. Havia a guerra, e havia o sol e o mar. Havia escombros, que a fantasia transformava em outra coisa. Um irmão querido. Amigos imaginários. Livros. O encanto pela Cinecittà e pela ópera. E uma vida que se abria – e que recomeçaria, sem nunca esquecer aqueles anos fundadores, na mansão do Parque Lage, de sua tia-avó, a grande cantora lírica Gabrielle Besanzoni, e do marido Henrique Lage. Mas essa é outra história. Outros livros.

Minha Guerra Alheia

Autora: Marina Colasanti

Editora: Record (288 págs., R$ 59,90 R$ 20,95 o e-book)

O livro tem 13 anos. Há pelos menos cinco ele está numa lista mental do que eu gostaria de ler, reler ou terminar de ler com calma. O Prêmio Machado de Assis, dado a Marina Colasanti na semana passada pelo conjunto da obra, me levou de volta à Minha Guerra Alheia. Que bom. E que livro bonito.

A história de Marina Colasanti é tão rica que tudo parece ficção. E a classificação da obra confunde: romance, na ficha catalográfica; memórias, na capa. Leio como memórias mesmo.

Uma das maiores escritoras brasileiras, ela nasceu em 1937 em Asmara, cidade do “império italiano”, que Mussolini queria transformar em sua “pequena Roma”. Naquela época, a cidade ficava na Etiópia. A independência, em 1993, mudou a biografia de Marina. Filha de pais italianos, ela nasceu, então, na Eritreia – dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Viveu o início da infância na África e o resto do conflito na Itália. Tinha 10 anos quando desembarcou no Rio.

São esses primeiros anos, até o embarque rumo a um país tão distante, mas presente na história dos Colasantis desde os anos 1920, que Marina conta em Minha Guerra Alheia. Ela menina, brincando com o irmão Arduino, sabendo e não sabendo o que se passava ao redor.

A escritora Marina Colasanti em 2017 Foto: Fabio Motta/Estadão

Acompanhando suas lembranças, conhecemos outros lados da guerra: a vida que seguia, pelo olhar de uma criança, pelo olhar de uma criança numa família privilegiada, uma filha de um pai fascista. Uma criança que viu coisas demais.

“As bombas caem devagar. Não sei como é possível, com aquele peso. Mas caem lentas ou eu as vi caindo lentas, bem lentas. E sobre a minha cabeça. (...)”, ela escreve. Em outro momento, conta da viagem de mudança para Como, no Norte. Porto San Giorgio, na costa do Mar Adriático, onde viviam, já não era seguro. O carro enguiça sobre uma ponte longa e alta. “Bombardeiros”, grita o pai. Todos descem, ele empurra, saem correndo, deitam na grama alta. Ficou tudo bem. Marina veria muitos outros depois, e as bombas caindo, e colunas de fumaça – golfinhos no mar?, sugeriram. E haveria outros ataques, escuridão, escassez.

É triste, mas nem tudo é destruição. Afinal, essa é a história de uma infância. Havia a guerra, e havia o sol e o mar. Havia escombros, que a fantasia transformava em outra coisa. Um irmão querido. Amigos imaginários. Livros. O encanto pela Cinecittà e pela ópera. E uma vida que se abria – e que recomeçaria, sem nunca esquecer aqueles anos fundadores, na mansão do Parque Lage, de sua tia-avó, a grande cantora lírica Gabrielle Besanzoni, e do marido Henrique Lage. Mas essa é outra história. Outros livros.

Minha Guerra Alheia

Autora: Marina Colasanti

Editora: Record (288 págs., R$ 59,90 R$ 20,95 o e-book)

O livro tem 13 anos. Há pelos menos cinco ele está numa lista mental do que eu gostaria de ler, reler ou terminar de ler com calma. O Prêmio Machado de Assis, dado a Marina Colasanti na semana passada pelo conjunto da obra, me levou de volta à Minha Guerra Alheia. Que bom. E que livro bonito.

A história de Marina Colasanti é tão rica que tudo parece ficção. E a classificação da obra confunde: romance, na ficha catalográfica; memórias, na capa. Leio como memórias mesmo.

Uma das maiores escritoras brasileiras, ela nasceu em 1937 em Asmara, cidade do “império italiano”, que Mussolini queria transformar em sua “pequena Roma”. Naquela época, a cidade ficava na Etiópia. A independência, em 1993, mudou a biografia de Marina. Filha de pais italianos, ela nasceu, então, na Eritreia – dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Viveu o início da infância na África e o resto do conflito na Itália. Tinha 10 anos quando desembarcou no Rio.

São esses primeiros anos, até o embarque rumo a um país tão distante, mas presente na história dos Colasantis desde os anos 1920, que Marina conta em Minha Guerra Alheia. Ela menina, brincando com o irmão Arduino, sabendo e não sabendo o que se passava ao redor.

A escritora Marina Colasanti em 2017 Foto: Fabio Motta/Estadão

Acompanhando suas lembranças, conhecemos outros lados da guerra: a vida que seguia, pelo olhar de uma criança, pelo olhar de uma criança numa família privilegiada, uma filha de um pai fascista. Uma criança que viu coisas demais.

“As bombas caem devagar. Não sei como é possível, com aquele peso. Mas caem lentas ou eu as vi caindo lentas, bem lentas. E sobre a minha cabeça. (...)”, ela escreve. Em outro momento, conta da viagem de mudança para Como, no Norte. Porto San Giorgio, na costa do Mar Adriático, onde viviam, já não era seguro. O carro enguiça sobre uma ponte longa e alta. “Bombardeiros”, grita o pai. Todos descem, ele empurra, saem correndo, deitam na grama alta. Ficou tudo bem. Marina veria muitos outros depois, e as bombas caindo, e colunas de fumaça – golfinhos no mar?, sugeriram. E haveria outros ataques, escuridão, escassez.

É triste, mas nem tudo é destruição. Afinal, essa é a história de uma infância. Havia a guerra, e havia o sol e o mar. Havia escombros, que a fantasia transformava em outra coisa. Um irmão querido. Amigos imaginários. Livros. O encanto pela Cinecittà e pela ópera. E uma vida que se abria – e que recomeçaria, sem nunca esquecer aqueles anos fundadores, na mansão do Parque Lage, de sua tia-avó, a grande cantora lírica Gabrielle Besanzoni, e do marido Henrique Lage. Mas essa é outra história. Outros livros.

Minha Guerra Alheia

Autora: Marina Colasanti

Editora: Record (288 págs., R$ 59,90 R$ 20,95 o e-book)

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Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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