Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Thriller agro leva o leitor para o labirinto de sonho e morte de Joca Reiners Terron; conheça


‘Onde Pastam os Minotauros’, livro que foi um dos destaques literários de 2023, se passa em um matadouro no centro-oeste num clima de tensão e opressão

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Alguns livros são muito bons enquanto estamos lendo, e perdem a força depois. Ou crescem com o tempo. Outros, mesmo bons, são esquecidos. Onde Pastam os Minotauros, um dos melhores que li em 2023, ficou. Lembro dele de vez em quando – e, agora, enquanto assisto à série Você é o Que Você Come.

A produção, disponível na Netflix, acompanha um experimento feito com gêmeos idênticos. Por um período, um deles segue uma dieta onívora e o outro, vegana. O romance de Joca Reiners Terron não prega nada, não discute alimentação, e no entanto é para lá que volto.

Tudo se passa na região centro-oeste, numa paisagem desértica – que parece distópica, mas é realista. “A poeira do Mato Grosso tem a mesma cor de sangue coagulado”, diz o narrador. Pasto. Ganância. Morte. Miséria. Três amigos, Cão, Crente e Lucy, trabalham num matadouro que está se adaptando ao abate religioso e à crescente demanda por carne halal.

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Joca Reiners Terron é aautor de 'Onde Pastam os Minotauros', 'O Riso dos Ratos' e 'Noite Dentro da Noite', entre outras obras Foto: Hélvio Romero/Estadão

É a última segunda-feira de um ano de pandemia. Dentro, funcionários miseráveis que passam o dia diante de carne e não têm o que comer, e que serão dispensados na virada do ano para dar lugar aos muçulmanos. Fora, moradores do distrito se aglomeram à espera de ossos – cada vez mais escassos porque estão sendo usados para fazer ração de cachorro.

Existe uma tensão no ar. A empresa vai receber a inspeção de autoridades israelenses, já que os donos também querem, em outra área do local, produzir carne kosher. E também porque os três amigos, além de Ahmed, um palestino cuja família havia sido assassinada por forças israelenses, planejam algo. Detalhe: o livro foi lançado dois meses antes do acirramento dos conflitos no Oriente Médio.

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A história vai e volta no tempo, para um passado recente ou remoto, mas é quase toda concentrada em menos de 24 horas. A escalada é alucinante.

'Onde Pastam os Minotauros', de Joca Reiners Terron, se passa num matadouro na região centro-oeste Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Joca usa um verso de Drummond como epígrafe: “E ficam tristes/e no rastro da tristeza chegam à crueldade”. A crueldade vem de todos os lados. É difícil sair deste labirinto de sangue, dor e injustiça. E daquele matadouro-labirinto.

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Onde Pastam os Minotauros é forte, brutal. Ele não conta uma história bonita – e sua beleza está também nisso. Uma obra que faz um contraponto ao culto ao “eu” que invade a literatura contemporânea. Um livro incômodo. Porque, usando uma expressão do narrador, “nisso estamos”. E estamos juntos.

Talvez você passe a olhar de outra forma para os bifes embalados em isopor e plástico no mercado. Talvez perceba seu privilégio. Ou passe a se preocupar com a procedência do que você come. Por você, pelos animais, pelo mundo.

Onde Pastam os Minotauros foi publicado em 2023 Foto: Todavia
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Onde Pastam os Minotauros

  • Autor: Joca Reiners Terron
  • Editora: Todavia (184 págs.; R$ 69,90; R$ 34,90)

Alguns livros são muito bons enquanto estamos lendo, e perdem a força depois. Ou crescem com o tempo. Outros, mesmo bons, são esquecidos. Onde Pastam os Minotauros, um dos melhores que li em 2023, ficou. Lembro dele de vez em quando – e, agora, enquanto assisto à série Você é o Que Você Come.

A produção, disponível na Netflix, acompanha um experimento feito com gêmeos idênticos. Por um período, um deles segue uma dieta onívora e o outro, vegana. O romance de Joca Reiners Terron não prega nada, não discute alimentação, e no entanto é para lá que volto.

Tudo se passa na região centro-oeste, numa paisagem desértica – que parece distópica, mas é realista. “A poeira do Mato Grosso tem a mesma cor de sangue coagulado”, diz o narrador. Pasto. Ganância. Morte. Miséria. Três amigos, Cão, Crente e Lucy, trabalham num matadouro que está se adaptando ao abate religioso e à crescente demanda por carne halal.

Joca Reiners Terron é aautor de 'Onde Pastam os Minotauros', 'O Riso dos Ratos' e 'Noite Dentro da Noite', entre outras obras Foto: Hélvio Romero/Estadão

É a última segunda-feira de um ano de pandemia. Dentro, funcionários miseráveis que passam o dia diante de carne e não têm o que comer, e que serão dispensados na virada do ano para dar lugar aos muçulmanos. Fora, moradores do distrito se aglomeram à espera de ossos – cada vez mais escassos porque estão sendo usados para fazer ração de cachorro.

Existe uma tensão no ar. A empresa vai receber a inspeção de autoridades israelenses, já que os donos também querem, em outra área do local, produzir carne kosher. E também porque os três amigos, além de Ahmed, um palestino cuja família havia sido assassinada por forças israelenses, planejam algo. Detalhe: o livro foi lançado dois meses antes do acirramento dos conflitos no Oriente Médio.

A história vai e volta no tempo, para um passado recente ou remoto, mas é quase toda concentrada em menos de 24 horas. A escalada é alucinante.

'Onde Pastam os Minotauros', de Joca Reiners Terron, se passa num matadouro na região centro-oeste Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Joca usa um verso de Drummond como epígrafe: “E ficam tristes/e no rastro da tristeza chegam à crueldade”. A crueldade vem de todos os lados. É difícil sair deste labirinto de sangue, dor e injustiça. E daquele matadouro-labirinto.

Onde Pastam os Minotauros é forte, brutal. Ele não conta uma história bonita – e sua beleza está também nisso. Uma obra que faz um contraponto ao culto ao “eu” que invade a literatura contemporânea. Um livro incômodo. Porque, usando uma expressão do narrador, “nisso estamos”. E estamos juntos.

Talvez você passe a olhar de outra forma para os bifes embalados em isopor e plástico no mercado. Talvez perceba seu privilégio. Ou passe a se preocupar com a procedência do que você come. Por você, pelos animais, pelo mundo.

Onde Pastam os Minotauros foi publicado em 2023 Foto: Todavia

Onde Pastam os Minotauros

  • Autor: Joca Reiners Terron
  • Editora: Todavia (184 págs.; R$ 69,90; R$ 34,90)

Alguns livros são muito bons enquanto estamos lendo, e perdem a força depois. Ou crescem com o tempo. Outros, mesmo bons, são esquecidos. Onde Pastam os Minotauros, um dos melhores que li em 2023, ficou. Lembro dele de vez em quando – e, agora, enquanto assisto à série Você é o Que Você Come.

A produção, disponível na Netflix, acompanha um experimento feito com gêmeos idênticos. Por um período, um deles segue uma dieta onívora e o outro, vegana. O romance de Joca Reiners Terron não prega nada, não discute alimentação, e no entanto é para lá que volto.

Tudo se passa na região centro-oeste, numa paisagem desértica – que parece distópica, mas é realista. “A poeira do Mato Grosso tem a mesma cor de sangue coagulado”, diz o narrador. Pasto. Ganância. Morte. Miséria. Três amigos, Cão, Crente e Lucy, trabalham num matadouro que está se adaptando ao abate religioso e à crescente demanda por carne halal.

Joca Reiners Terron é aautor de 'Onde Pastam os Minotauros', 'O Riso dos Ratos' e 'Noite Dentro da Noite', entre outras obras Foto: Hélvio Romero/Estadão

É a última segunda-feira de um ano de pandemia. Dentro, funcionários miseráveis que passam o dia diante de carne e não têm o que comer, e que serão dispensados na virada do ano para dar lugar aos muçulmanos. Fora, moradores do distrito se aglomeram à espera de ossos – cada vez mais escassos porque estão sendo usados para fazer ração de cachorro.

Existe uma tensão no ar. A empresa vai receber a inspeção de autoridades israelenses, já que os donos também querem, em outra área do local, produzir carne kosher. E também porque os três amigos, além de Ahmed, um palestino cuja família havia sido assassinada por forças israelenses, planejam algo. Detalhe: o livro foi lançado dois meses antes do acirramento dos conflitos no Oriente Médio.

A história vai e volta no tempo, para um passado recente ou remoto, mas é quase toda concentrada em menos de 24 horas. A escalada é alucinante.

'Onde Pastam os Minotauros', de Joca Reiners Terron, se passa num matadouro na região centro-oeste Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Joca usa um verso de Drummond como epígrafe: “E ficam tristes/e no rastro da tristeza chegam à crueldade”. A crueldade vem de todos os lados. É difícil sair deste labirinto de sangue, dor e injustiça. E daquele matadouro-labirinto.

Onde Pastam os Minotauros é forte, brutal. Ele não conta uma história bonita – e sua beleza está também nisso. Uma obra que faz um contraponto ao culto ao “eu” que invade a literatura contemporânea. Um livro incômodo. Porque, usando uma expressão do narrador, “nisso estamos”. E estamos juntos.

Talvez você passe a olhar de outra forma para os bifes embalados em isopor e plástico no mercado. Talvez perceba seu privilégio. Ou passe a se preocupar com a procedência do que você come. Por você, pelos animais, pelo mundo.

Onde Pastam os Minotauros foi publicado em 2023 Foto: Todavia

Onde Pastam os Minotauros

  • Autor: Joca Reiners Terron
  • Editora: Todavia (184 págs.; R$ 69,90; R$ 34,90)

Alguns livros são muito bons enquanto estamos lendo, e perdem a força depois. Ou crescem com o tempo. Outros, mesmo bons, são esquecidos. Onde Pastam os Minotauros, um dos melhores que li em 2023, ficou. Lembro dele de vez em quando – e, agora, enquanto assisto à série Você é o Que Você Come.

A produção, disponível na Netflix, acompanha um experimento feito com gêmeos idênticos. Por um período, um deles segue uma dieta onívora e o outro, vegana. O romance de Joca Reiners Terron não prega nada, não discute alimentação, e no entanto é para lá que volto.

Tudo se passa na região centro-oeste, numa paisagem desértica – que parece distópica, mas é realista. “A poeira do Mato Grosso tem a mesma cor de sangue coagulado”, diz o narrador. Pasto. Ganância. Morte. Miséria. Três amigos, Cão, Crente e Lucy, trabalham num matadouro que está se adaptando ao abate religioso e à crescente demanda por carne halal.

Joca Reiners Terron é aautor de 'Onde Pastam os Minotauros', 'O Riso dos Ratos' e 'Noite Dentro da Noite', entre outras obras Foto: Hélvio Romero/Estadão

É a última segunda-feira de um ano de pandemia. Dentro, funcionários miseráveis que passam o dia diante de carne e não têm o que comer, e que serão dispensados na virada do ano para dar lugar aos muçulmanos. Fora, moradores do distrito se aglomeram à espera de ossos – cada vez mais escassos porque estão sendo usados para fazer ração de cachorro.

Existe uma tensão no ar. A empresa vai receber a inspeção de autoridades israelenses, já que os donos também querem, em outra área do local, produzir carne kosher. E também porque os três amigos, além de Ahmed, um palestino cuja família havia sido assassinada por forças israelenses, planejam algo. Detalhe: o livro foi lançado dois meses antes do acirramento dos conflitos no Oriente Médio.

A história vai e volta no tempo, para um passado recente ou remoto, mas é quase toda concentrada em menos de 24 horas. A escalada é alucinante.

'Onde Pastam os Minotauros', de Joca Reiners Terron, se passa num matadouro na região centro-oeste Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Joca usa um verso de Drummond como epígrafe: “E ficam tristes/e no rastro da tristeza chegam à crueldade”. A crueldade vem de todos os lados. É difícil sair deste labirinto de sangue, dor e injustiça. E daquele matadouro-labirinto.

Onde Pastam os Minotauros é forte, brutal. Ele não conta uma história bonita – e sua beleza está também nisso. Uma obra que faz um contraponto ao culto ao “eu” que invade a literatura contemporânea. Um livro incômodo. Porque, usando uma expressão do narrador, “nisso estamos”. E estamos juntos.

Talvez você passe a olhar de outra forma para os bifes embalados em isopor e plástico no mercado. Talvez perceba seu privilégio. Ou passe a se preocupar com a procedência do que você come. Por você, pelos animais, pelo mundo.

Onde Pastam os Minotauros foi publicado em 2023 Foto: Todavia

Onde Pastam os Minotauros

  • Autor: Joca Reiners Terron
  • Editora: Todavia (184 págs.; R$ 69,90; R$ 34,90)

Alguns livros são muito bons enquanto estamos lendo, e perdem a força depois. Ou crescem com o tempo. Outros, mesmo bons, são esquecidos. Onde Pastam os Minotauros, um dos melhores que li em 2023, ficou. Lembro dele de vez em quando – e, agora, enquanto assisto à série Você é o Que Você Come.

A produção, disponível na Netflix, acompanha um experimento feito com gêmeos idênticos. Por um período, um deles segue uma dieta onívora e o outro, vegana. O romance de Joca Reiners Terron não prega nada, não discute alimentação, e no entanto é para lá que volto.

Tudo se passa na região centro-oeste, numa paisagem desértica – que parece distópica, mas é realista. “A poeira do Mato Grosso tem a mesma cor de sangue coagulado”, diz o narrador. Pasto. Ganância. Morte. Miséria. Três amigos, Cão, Crente e Lucy, trabalham num matadouro que está se adaptando ao abate religioso e à crescente demanda por carne halal.

Joca Reiners Terron é aautor de 'Onde Pastam os Minotauros', 'O Riso dos Ratos' e 'Noite Dentro da Noite', entre outras obras Foto: Hélvio Romero/Estadão

É a última segunda-feira de um ano de pandemia. Dentro, funcionários miseráveis que passam o dia diante de carne e não têm o que comer, e que serão dispensados na virada do ano para dar lugar aos muçulmanos. Fora, moradores do distrito se aglomeram à espera de ossos – cada vez mais escassos porque estão sendo usados para fazer ração de cachorro.

Existe uma tensão no ar. A empresa vai receber a inspeção de autoridades israelenses, já que os donos também querem, em outra área do local, produzir carne kosher. E também porque os três amigos, além de Ahmed, um palestino cuja família havia sido assassinada por forças israelenses, planejam algo. Detalhe: o livro foi lançado dois meses antes do acirramento dos conflitos no Oriente Médio.

A história vai e volta no tempo, para um passado recente ou remoto, mas é quase toda concentrada em menos de 24 horas. A escalada é alucinante.

'Onde Pastam os Minotauros', de Joca Reiners Terron, se passa num matadouro na região centro-oeste Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Joca usa um verso de Drummond como epígrafe: “E ficam tristes/e no rastro da tristeza chegam à crueldade”. A crueldade vem de todos os lados. É difícil sair deste labirinto de sangue, dor e injustiça. E daquele matadouro-labirinto.

Onde Pastam os Minotauros é forte, brutal. Ele não conta uma história bonita – e sua beleza está também nisso. Uma obra que faz um contraponto ao culto ao “eu” que invade a literatura contemporânea. Um livro incômodo. Porque, usando uma expressão do narrador, “nisso estamos”. E estamos juntos.

Talvez você passe a olhar de outra forma para os bifes embalados em isopor e plástico no mercado. Talvez perceba seu privilégio. Ou passe a se preocupar com a procedência do que você come. Por você, pelos animais, pelo mundo.

Onde Pastam os Minotauros foi publicado em 2023 Foto: Todavia

Onde Pastam os Minotauros

  • Autor: Joca Reiners Terron
  • Editora: Todavia (184 págs.; R$ 69,90; R$ 34,90)
Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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