Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Trocando o pneu com Lygia Fagundes Telles e outros contos com escritores como personagens


Nos contos do livro ‘Gerúndio a Dois’, escritores contemporâneos se encontram com autores que admiram, como Caio Fernando Abreu, Davi Kopenawa e Clarice Lispector

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

A ideia é interessante: escritores contemporâneos se encontrando, numa história, com outros escritores – vivos ou mortos (que aparecem também vivos ou mortos nos contos) – e fazendo alguma coisa juntos.

Esse é o ponto de partida da coletânea Gerúndio a Dois, lançamento da Folhas de Relva. O livro traz 28 contos, de autores de diferentes gêneros, estilos e origens, organizados pelo escritor e editor Alexandre Staut.

O resultado é diverso e leve. Divertido, no caso de Santiago Nazarian Consultando Drauzio Varella. Delicado, como em Mariana Ianelli Olhando a Noite com Anna Maria Martins.

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Lygia Fagundes Telles é uma das personagens do livro 'Gerúndio a Dois' Foto: Paulo Liebert/Estadão

Gosto particularmente de Thais Lancman Trocando Pneu com Lygia Fagundes Telles. Imagine a cena. O carro herdado do avô quebra bem no Largo do Arouche. Um outro carro para ao lado, e uma mulher desce pelo lado do motorista. Caminha. Com sua bengala, cutuca o porta-malas. Depois o pneu furado, e o lugar em que ela deveria colocar o macaco hidráulico. “Conhece o caminho crítico, meu anjo?”, pergunta a senhora à escritora aspirante.

Foi no Arouche, na Academia Paulista de Letras, que vi Lygia pela última vez. Bengala na mão, blazer xadrez, presilhinha no cabelo, batom, sorriso no rosto. “Foi bonita a luta. E foi uma luta muito heroica e desesperada para mostrar que a mulher brasileira pode ter um lugar ao sol. Que ela pode ousar tudo sem perder a sua dignidade”, ela disse naquela noite perdida de 2015.

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Gosto também de Sergio Tavares Adotando Um Menino com Murilo Rubião, de Alex Andrade Tecendo Um Breve Diálogo com Caio Fernando Abreu, de Ana Elisa Ribeiro Rindo de Certos Pesadelos com Clarice Lispector, de Paula Fábrio Tentando Fazer Contato com Hilda Hilst.

São vários os tipos de registro. Há textos mais na linha de homenagem a autores que foram fundamentais na vida desses escritores, como o de Marcelo Maluf dedicado a Fernando Sabino, ou que foram amigos e deixaram saudade, caso de Mariana Ianelli (Anna Maria Martins morreu em 2020). Há textos em que o autor brinca de imitar o estilo de seu homenageado e outros baseados na obra desses escritores. Há diálogos e muito sonho. E diversas camadas de leitura.

No conto que encerra a coletânea, Alexandre Staut Acendendo Uma Fogueira com Davi Kopenawa, o autor se vê sozinho “na mais profunda solidão” da floresta. Davi aparece, começa uma fogueira, manda-o jogar seus medos nela, conta histórias. O narrador não quer saber de história, quer apenas achar a saída daquele lugar. Aos poucos, porém, vai se deixando levar, se acalma, compreende que ela também pode ser o caminho.

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Gerúndio a Dois

Org. Alexandre Staut

Editora: Folhas de Relva (177 págs.; R$ 57,90

A ideia é interessante: escritores contemporâneos se encontrando, numa história, com outros escritores – vivos ou mortos (que aparecem também vivos ou mortos nos contos) – e fazendo alguma coisa juntos.

Esse é o ponto de partida da coletânea Gerúndio a Dois, lançamento da Folhas de Relva. O livro traz 28 contos, de autores de diferentes gêneros, estilos e origens, organizados pelo escritor e editor Alexandre Staut.

O resultado é diverso e leve. Divertido, no caso de Santiago Nazarian Consultando Drauzio Varella. Delicado, como em Mariana Ianelli Olhando a Noite com Anna Maria Martins.

Lygia Fagundes Telles é uma das personagens do livro 'Gerúndio a Dois' Foto: Paulo Liebert/Estadão

Gosto particularmente de Thais Lancman Trocando Pneu com Lygia Fagundes Telles. Imagine a cena. O carro herdado do avô quebra bem no Largo do Arouche. Um outro carro para ao lado, e uma mulher desce pelo lado do motorista. Caminha. Com sua bengala, cutuca o porta-malas. Depois o pneu furado, e o lugar em que ela deveria colocar o macaco hidráulico. “Conhece o caminho crítico, meu anjo?”, pergunta a senhora à escritora aspirante.

Foi no Arouche, na Academia Paulista de Letras, que vi Lygia pela última vez. Bengala na mão, blazer xadrez, presilhinha no cabelo, batom, sorriso no rosto. “Foi bonita a luta. E foi uma luta muito heroica e desesperada para mostrar que a mulher brasileira pode ter um lugar ao sol. Que ela pode ousar tudo sem perder a sua dignidade”, ela disse naquela noite perdida de 2015.

Gosto também de Sergio Tavares Adotando Um Menino com Murilo Rubião, de Alex Andrade Tecendo Um Breve Diálogo com Caio Fernando Abreu, de Ana Elisa Ribeiro Rindo de Certos Pesadelos com Clarice Lispector, de Paula Fábrio Tentando Fazer Contato com Hilda Hilst.

São vários os tipos de registro. Há textos mais na linha de homenagem a autores que foram fundamentais na vida desses escritores, como o de Marcelo Maluf dedicado a Fernando Sabino, ou que foram amigos e deixaram saudade, caso de Mariana Ianelli (Anna Maria Martins morreu em 2020). Há textos em que o autor brinca de imitar o estilo de seu homenageado e outros baseados na obra desses escritores. Há diálogos e muito sonho. E diversas camadas de leitura.

No conto que encerra a coletânea, Alexandre Staut Acendendo Uma Fogueira com Davi Kopenawa, o autor se vê sozinho “na mais profunda solidão” da floresta. Davi aparece, começa uma fogueira, manda-o jogar seus medos nela, conta histórias. O narrador não quer saber de história, quer apenas achar a saída daquele lugar. Aos poucos, porém, vai se deixando levar, se acalma, compreende que ela também pode ser o caminho.

Gerúndio a Dois

Org. Alexandre Staut

Editora: Folhas de Relva (177 págs.; R$ 57,90

A ideia é interessante: escritores contemporâneos se encontrando, numa história, com outros escritores – vivos ou mortos (que aparecem também vivos ou mortos nos contos) – e fazendo alguma coisa juntos.

Esse é o ponto de partida da coletânea Gerúndio a Dois, lançamento da Folhas de Relva. O livro traz 28 contos, de autores de diferentes gêneros, estilos e origens, organizados pelo escritor e editor Alexandre Staut.

O resultado é diverso e leve. Divertido, no caso de Santiago Nazarian Consultando Drauzio Varella. Delicado, como em Mariana Ianelli Olhando a Noite com Anna Maria Martins.

Lygia Fagundes Telles é uma das personagens do livro 'Gerúndio a Dois' Foto: Paulo Liebert/Estadão

Gosto particularmente de Thais Lancman Trocando Pneu com Lygia Fagundes Telles. Imagine a cena. O carro herdado do avô quebra bem no Largo do Arouche. Um outro carro para ao lado, e uma mulher desce pelo lado do motorista. Caminha. Com sua bengala, cutuca o porta-malas. Depois o pneu furado, e o lugar em que ela deveria colocar o macaco hidráulico. “Conhece o caminho crítico, meu anjo?”, pergunta a senhora à escritora aspirante.

Foi no Arouche, na Academia Paulista de Letras, que vi Lygia pela última vez. Bengala na mão, blazer xadrez, presilhinha no cabelo, batom, sorriso no rosto. “Foi bonita a luta. E foi uma luta muito heroica e desesperada para mostrar que a mulher brasileira pode ter um lugar ao sol. Que ela pode ousar tudo sem perder a sua dignidade”, ela disse naquela noite perdida de 2015.

Gosto também de Sergio Tavares Adotando Um Menino com Murilo Rubião, de Alex Andrade Tecendo Um Breve Diálogo com Caio Fernando Abreu, de Ana Elisa Ribeiro Rindo de Certos Pesadelos com Clarice Lispector, de Paula Fábrio Tentando Fazer Contato com Hilda Hilst.

São vários os tipos de registro. Há textos mais na linha de homenagem a autores que foram fundamentais na vida desses escritores, como o de Marcelo Maluf dedicado a Fernando Sabino, ou que foram amigos e deixaram saudade, caso de Mariana Ianelli (Anna Maria Martins morreu em 2020). Há textos em que o autor brinca de imitar o estilo de seu homenageado e outros baseados na obra desses escritores. Há diálogos e muito sonho. E diversas camadas de leitura.

No conto que encerra a coletânea, Alexandre Staut Acendendo Uma Fogueira com Davi Kopenawa, o autor se vê sozinho “na mais profunda solidão” da floresta. Davi aparece, começa uma fogueira, manda-o jogar seus medos nela, conta histórias. O narrador não quer saber de história, quer apenas achar a saída daquele lugar. Aos poucos, porém, vai se deixando levar, se acalma, compreende que ela também pode ser o caminho.

Gerúndio a Dois

Org. Alexandre Staut

Editora: Folhas de Relva (177 págs.; R$ 57,90

A ideia é interessante: escritores contemporâneos se encontrando, numa história, com outros escritores – vivos ou mortos (que aparecem também vivos ou mortos nos contos) – e fazendo alguma coisa juntos.

Esse é o ponto de partida da coletânea Gerúndio a Dois, lançamento da Folhas de Relva. O livro traz 28 contos, de autores de diferentes gêneros, estilos e origens, organizados pelo escritor e editor Alexandre Staut.

O resultado é diverso e leve. Divertido, no caso de Santiago Nazarian Consultando Drauzio Varella. Delicado, como em Mariana Ianelli Olhando a Noite com Anna Maria Martins.

Lygia Fagundes Telles é uma das personagens do livro 'Gerúndio a Dois' Foto: Paulo Liebert/Estadão

Gosto particularmente de Thais Lancman Trocando Pneu com Lygia Fagundes Telles. Imagine a cena. O carro herdado do avô quebra bem no Largo do Arouche. Um outro carro para ao lado, e uma mulher desce pelo lado do motorista. Caminha. Com sua bengala, cutuca o porta-malas. Depois o pneu furado, e o lugar em que ela deveria colocar o macaco hidráulico. “Conhece o caminho crítico, meu anjo?”, pergunta a senhora à escritora aspirante.

Foi no Arouche, na Academia Paulista de Letras, que vi Lygia pela última vez. Bengala na mão, blazer xadrez, presilhinha no cabelo, batom, sorriso no rosto. “Foi bonita a luta. E foi uma luta muito heroica e desesperada para mostrar que a mulher brasileira pode ter um lugar ao sol. Que ela pode ousar tudo sem perder a sua dignidade”, ela disse naquela noite perdida de 2015.

Gosto também de Sergio Tavares Adotando Um Menino com Murilo Rubião, de Alex Andrade Tecendo Um Breve Diálogo com Caio Fernando Abreu, de Ana Elisa Ribeiro Rindo de Certos Pesadelos com Clarice Lispector, de Paula Fábrio Tentando Fazer Contato com Hilda Hilst.

São vários os tipos de registro. Há textos mais na linha de homenagem a autores que foram fundamentais na vida desses escritores, como o de Marcelo Maluf dedicado a Fernando Sabino, ou que foram amigos e deixaram saudade, caso de Mariana Ianelli (Anna Maria Martins morreu em 2020). Há textos em que o autor brinca de imitar o estilo de seu homenageado e outros baseados na obra desses escritores. Há diálogos e muito sonho. E diversas camadas de leitura.

No conto que encerra a coletânea, Alexandre Staut Acendendo Uma Fogueira com Davi Kopenawa, o autor se vê sozinho “na mais profunda solidão” da floresta. Davi aparece, começa uma fogueira, manda-o jogar seus medos nela, conta histórias. O narrador não quer saber de história, quer apenas achar a saída daquele lugar. Aos poucos, porém, vai se deixando levar, se acalma, compreende que ela também pode ser o caminho.

Gerúndio a Dois

Org. Alexandre Staut

Editora: Folhas de Relva (177 págs.; R$ 57,90

A ideia é interessante: escritores contemporâneos se encontrando, numa história, com outros escritores – vivos ou mortos (que aparecem também vivos ou mortos nos contos) – e fazendo alguma coisa juntos.

Esse é o ponto de partida da coletânea Gerúndio a Dois, lançamento da Folhas de Relva. O livro traz 28 contos, de autores de diferentes gêneros, estilos e origens, organizados pelo escritor e editor Alexandre Staut.

O resultado é diverso e leve. Divertido, no caso de Santiago Nazarian Consultando Drauzio Varella. Delicado, como em Mariana Ianelli Olhando a Noite com Anna Maria Martins.

Lygia Fagundes Telles é uma das personagens do livro 'Gerúndio a Dois' Foto: Paulo Liebert/Estadão

Gosto particularmente de Thais Lancman Trocando Pneu com Lygia Fagundes Telles. Imagine a cena. O carro herdado do avô quebra bem no Largo do Arouche. Um outro carro para ao lado, e uma mulher desce pelo lado do motorista. Caminha. Com sua bengala, cutuca o porta-malas. Depois o pneu furado, e o lugar em que ela deveria colocar o macaco hidráulico. “Conhece o caminho crítico, meu anjo?”, pergunta a senhora à escritora aspirante.

Foi no Arouche, na Academia Paulista de Letras, que vi Lygia pela última vez. Bengala na mão, blazer xadrez, presilhinha no cabelo, batom, sorriso no rosto. “Foi bonita a luta. E foi uma luta muito heroica e desesperada para mostrar que a mulher brasileira pode ter um lugar ao sol. Que ela pode ousar tudo sem perder a sua dignidade”, ela disse naquela noite perdida de 2015.

Gosto também de Sergio Tavares Adotando Um Menino com Murilo Rubião, de Alex Andrade Tecendo Um Breve Diálogo com Caio Fernando Abreu, de Ana Elisa Ribeiro Rindo de Certos Pesadelos com Clarice Lispector, de Paula Fábrio Tentando Fazer Contato com Hilda Hilst.

São vários os tipos de registro. Há textos mais na linha de homenagem a autores que foram fundamentais na vida desses escritores, como o de Marcelo Maluf dedicado a Fernando Sabino, ou que foram amigos e deixaram saudade, caso de Mariana Ianelli (Anna Maria Martins morreu em 2020). Há textos em que o autor brinca de imitar o estilo de seu homenageado e outros baseados na obra desses escritores. Há diálogos e muito sonho. E diversas camadas de leitura.

No conto que encerra a coletânea, Alexandre Staut Acendendo Uma Fogueira com Davi Kopenawa, o autor se vê sozinho “na mais profunda solidão” da floresta. Davi aparece, começa uma fogueira, manda-o jogar seus medos nela, conta histórias. O narrador não quer saber de história, quer apenas achar a saída daquele lugar. Aos poucos, porém, vai se deixando levar, se acalma, compreende que ela também pode ser o caminho.

Gerúndio a Dois

Org. Alexandre Staut

Editora: Folhas de Relva (177 págs.; R$ 57,90

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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