Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Um livro por semana: Você não precisa passar por isso ('Eva')


Nara Vidal, escritora mineira que vive na Inglaterra, lança 'Eva', seu segundo romance; o primeiro, 'Sorte', ficou em 3.º lugar no Prêmio Oceanos

Por Maria Fernanda Rodrigues

Quando Eva, o novo romance de Nara Vidal, começa, a mãe da protagonista está morta e ela está de volta à casa da infância, diante de uma cama por fazer – algo impensável se a mãe estivesse ali. É seu contato com a ausência, a certeza de sua morte. Há tristeza nisso, e poderia haver alguma libertação. Mas não há. As duas sempre viveram uma relação sufocante de amor e controle, de dependência, desprezo, desgosto e proteção. E Eva guardará essas marcas até o fim, e as reconhecerá em outras relações abusivas e violentas disfarçadas de amor. 

'Eva' é o segundo romance de Nara Vidal; a autora ficou em 3º lugar do Oceanos com o primeiro, 'Sorte' Foto: tanyapligina/Pixabay

Eva se chama Eva porque o pai quis e, pela única vez na vida, falou mais alto. A mãe teve que aceitar, e fez novena para pedir perdão a Deus. Eva sempre foi uma mulher livre. “O diabo se apossou do meu corpo antes mesmo de eu nascer. Ao chamar meu nome, minha mãe se lembrava de pecado e maldição”, diz a narradora.

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Nesta primeira parte, Superfície, ela nos conta um pouco da infância e das primeiras noções de violência doméstica, machismo e racismo. A mãe, que começa a ser apresentada aqui, ressurgirá nos outros dois capítulos em lembranças e cartas. É uma presença constante, ou, como diz, “um encosto que não deixava de ser um apoio”.

Na segunda parte, Profundo, a mais longa, Eva diz que tem 50 anos e vive num pequeno apartamento em cima de uma floricultura – caridade do ex-marido traído à mãe de seu filho, o filho que ela insiste em tentar esquecer.

Cheiro de flor e morte. A loucura batendo à porta. Vozes, visitas estranhas. As cartas da mãe espalhadas, vivas: “Você merece toda essa violência da qual quis sair. (...) Filha, eu te amo tanto, volte para casa, você não é uma indecente qualquer” ou “Filha, você não precisa passar por isso. A vó sonhou com um homem te batendo com uma cadeira. Volta pra casa, filha. Mamãe te ama tanto. Não seja fácil”.

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O peso de um passado que não se pode esquecer. A dureza de um luto difícil de elaborar. Uma “doença terrível e terminal”, que não se vê no corpo, mas que “vem mascarada por sorrisos e festinhas (...) devora o juízo até uma cartela de remédio inteira ou uma janela bem alta ilustrar para que, agora sim, todos vejam que era terminal”.

Na última parte, Fundo, encontramos a personagem antes dos 30, com desejo de vida e gozo, começando uma vida nova num outro país e com um novo amor. Mas as coisas não são como parecem e ela se vê vulnerável, vítima desse homem violento e precisando (querer) fugir desse amor que a sufoca em todos os sentidos. Eva aprende que o roxo some e que o que fica não dá para ver – mas nos endurece por dentro e nos mata lentamente.

Eva Autora: Nara Vidal Editora: Todavia (112 págs., R$ 54,90 R$ 36,90 o e-book)

Quando Eva, o novo romance de Nara Vidal, começa, a mãe da protagonista está morta e ela está de volta à casa da infância, diante de uma cama por fazer – algo impensável se a mãe estivesse ali. É seu contato com a ausência, a certeza de sua morte. Há tristeza nisso, e poderia haver alguma libertação. Mas não há. As duas sempre viveram uma relação sufocante de amor e controle, de dependência, desprezo, desgosto e proteção. E Eva guardará essas marcas até o fim, e as reconhecerá em outras relações abusivas e violentas disfarçadas de amor. 

'Eva' é o segundo romance de Nara Vidal; a autora ficou em 3º lugar do Oceanos com o primeiro, 'Sorte' Foto: tanyapligina/Pixabay

Eva se chama Eva porque o pai quis e, pela única vez na vida, falou mais alto. A mãe teve que aceitar, e fez novena para pedir perdão a Deus. Eva sempre foi uma mulher livre. “O diabo se apossou do meu corpo antes mesmo de eu nascer. Ao chamar meu nome, minha mãe se lembrava de pecado e maldição”, diz a narradora.

Nesta primeira parte, Superfície, ela nos conta um pouco da infância e das primeiras noções de violência doméstica, machismo e racismo. A mãe, que começa a ser apresentada aqui, ressurgirá nos outros dois capítulos em lembranças e cartas. É uma presença constante, ou, como diz, “um encosto que não deixava de ser um apoio”.

Na segunda parte, Profundo, a mais longa, Eva diz que tem 50 anos e vive num pequeno apartamento em cima de uma floricultura – caridade do ex-marido traído à mãe de seu filho, o filho que ela insiste em tentar esquecer.

Cheiro de flor e morte. A loucura batendo à porta. Vozes, visitas estranhas. As cartas da mãe espalhadas, vivas: “Você merece toda essa violência da qual quis sair. (...) Filha, eu te amo tanto, volte para casa, você não é uma indecente qualquer” ou “Filha, você não precisa passar por isso. A vó sonhou com um homem te batendo com uma cadeira. Volta pra casa, filha. Mamãe te ama tanto. Não seja fácil”.

O peso de um passado que não se pode esquecer. A dureza de um luto difícil de elaborar. Uma “doença terrível e terminal”, que não se vê no corpo, mas que “vem mascarada por sorrisos e festinhas (...) devora o juízo até uma cartela de remédio inteira ou uma janela bem alta ilustrar para que, agora sim, todos vejam que era terminal”.

Na última parte, Fundo, encontramos a personagem antes dos 30, com desejo de vida e gozo, começando uma vida nova num outro país e com um novo amor. Mas as coisas não são como parecem e ela se vê vulnerável, vítima desse homem violento e precisando (querer) fugir desse amor que a sufoca em todos os sentidos. Eva aprende que o roxo some e que o que fica não dá para ver – mas nos endurece por dentro e nos mata lentamente.

Eva Autora: Nara Vidal Editora: Todavia (112 págs., R$ 54,90 R$ 36,90 o e-book)

Quando Eva, o novo romance de Nara Vidal, começa, a mãe da protagonista está morta e ela está de volta à casa da infância, diante de uma cama por fazer – algo impensável se a mãe estivesse ali. É seu contato com a ausência, a certeza de sua morte. Há tristeza nisso, e poderia haver alguma libertação. Mas não há. As duas sempre viveram uma relação sufocante de amor e controle, de dependência, desprezo, desgosto e proteção. E Eva guardará essas marcas até o fim, e as reconhecerá em outras relações abusivas e violentas disfarçadas de amor. 

'Eva' é o segundo romance de Nara Vidal; a autora ficou em 3º lugar do Oceanos com o primeiro, 'Sorte' Foto: tanyapligina/Pixabay

Eva se chama Eva porque o pai quis e, pela única vez na vida, falou mais alto. A mãe teve que aceitar, e fez novena para pedir perdão a Deus. Eva sempre foi uma mulher livre. “O diabo se apossou do meu corpo antes mesmo de eu nascer. Ao chamar meu nome, minha mãe se lembrava de pecado e maldição”, diz a narradora.

Nesta primeira parte, Superfície, ela nos conta um pouco da infância e das primeiras noções de violência doméstica, machismo e racismo. A mãe, que começa a ser apresentada aqui, ressurgirá nos outros dois capítulos em lembranças e cartas. É uma presença constante, ou, como diz, “um encosto que não deixava de ser um apoio”.

Na segunda parte, Profundo, a mais longa, Eva diz que tem 50 anos e vive num pequeno apartamento em cima de uma floricultura – caridade do ex-marido traído à mãe de seu filho, o filho que ela insiste em tentar esquecer.

Cheiro de flor e morte. A loucura batendo à porta. Vozes, visitas estranhas. As cartas da mãe espalhadas, vivas: “Você merece toda essa violência da qual quis sair. (...) Filha, eu te amo tanto, volte para casa, você não é uma indecente qualquer” ou “Filha, você não precisa passar por isso. A vó sonhou com um homem te batendo com uma cadeira. Volta pra casa, filha. Mamãe te ama tanto. Não seja fácil”.

O peso de um passado que não se pode esquecer. A dureza de um luto difícil de elaborar. Uma “doença terrível e terminal”, que não se vê no corpo, mas que “vem mascarada por sorrisos e festinhas (...) devora o juízo até uma cartela de remédio inteira ou uma janela bem alta ilustrar para que, agora sim, todos vejam que era terminal”.

Na última parte, Fundo, encontramos a personagem antes dos 30, com desejo de vida e gozo, começando uma vida nova num outro país e com um novo amor. Mas as coisas não são como parecem e ela se vê vulnerável, vítima desse homem violento e precisando (querer) fugir desse amor que a sufoca em todos os sentidos. Eva aprende que o roxo some e que o que fica não dá para ver – mas nos endurece por dentro e nos mata lentamente.

Eva Autora: Nara Vidal Editora: Todavia (112 págs., R$ 54,90 R$ 36,90 o e-book)

Quando Eva, o novo romance de Nara Vidal, começa, a mãe da protagonista está morta e ela está de volta à casa da infância, diante de uma cama por fazer – algo impensável se a mãe estivesse ali. É seu contato com a ausência, a certeza de sua morte. Há tristeza nisso, e poderia haver alguma libertação. Mas não há. As duas sempre viveram uma relação sufocante de amor e controle, de dependência, desprezo, desgosto e proteção. E Eva guardará essas marcas até o fim, e as reconhecerá em outras relações abusivas e violentas disfarçadas de amor. 

'Eva' é o segundo romance de Nara Vidal; a autora ficou em 3º lugar do Oceanos com o primeiro, 'Sorte' Foto: tanyapligina/Pixabay

Eva se chama Eva porque o pai quis e, pela única vez na vida, falou mais alto. A mãe teve que aceitar, e fez novena para pedir perdão a Deus. Eva sempre foi uma mulher livre. “O diabo se apossou do meu corpo antes mesmo de eu nascer. Ao chamar meu nome, minha mãe se lembrava de pecado e maldição”, diz a narradora.

Nesta primeira parte, Superfície, ela nos conta um pouco da infância e das primeiras noções de violência doméstica, machismo e racismo. A mãe, que começa a ser apresentada aqui, ressurgirá nos outros dois capítulos em lembranças e cartas. É uma presença constante, ou, como diz, “um encosto que não deixava de ser um apoio”.

Na segunda parte, Profundo, a mais longa, Eva diz que tem 50 anos e vive num pequeno apartamento em cima de uma floricultura – caridade do ex-marido traído à mãe de seu filho, o filho que ela insiste em tentar esquecer.

Cheiro de flor e morte. A loucura batendo à porta. Vozes, visitas estranhas. As cartas da mãe espalhadas, vivas: “Você merece toda essa violência da qual quis sair. (...) Filha, eu te amo tanto, volte para casa, você não é uma indecente qualquer” ou “Filha, você não precisa passar por isso. A vó sonhou com um homem te batendo com uma cadeira. Volta pra casa, filha. Mamãe te ama tanto. Não seja fácil”.

O peso de um passado que não se pode esquecer. A dureza de um luto difícil de elaborar. Uma “doença terrível e terminal”, que não se vê no corpo, mas que “vem mascarada por sorrisos e festinhas (...) devora o juízo até uma cartela de remédio inteira ou uma janela bem alta ilustrar para que, agora sim, todos vejam que era terminal”.

Na última parte, Fundo, encontramos a personagem antes dos 30, com desejo de vida e gozo, começando uma vida nova num outro país e com um novo amor. Mas as coisas não são como parecem e ela se vê vulnerável, vítima desse homem violento e precisando (querer) fugir desse amor que a sufoca em todos os sentidos. Eva aprende que o roxo some e que o que fica não dá para ver – mas nos endurece por dentro e nos mata lentamente.

Eva Autora: Nara Vidal Editora: Todavia (112 págs., R$ 54,90 R$ 36,90 o e-book)

Quando Eva, o novo romance de Nara Vidal, começa, a mãe da protagonista está morta e ela está de volta à casa da infância, diante de uma cama por fazer – algo impensável se a mãe estivesse ali. É seu contato com a ausência, a certeza de sua morte. Há tristeza nisso, e poderia haver alguma libertação. Mas não há. As duas sempre viveram uma relação sufocante de amor e controle, de dependência, desprezo, desgosto e proteção. E Eva guardará essas marcas até o fim, e as reconhecerá em outras relações abusivas e violentas disfarçadas de amor. 

'Eva' é o segundo romance de Nara Vidal; a autora ficou em 3º lugar do Oceanos com o primeiro, 'Sorte' Foto: tanyapligina/Pixabay

Eva se chama Eva porque o pai quis e, pela única vez na vida, falou mais alto. A mãe teve que aceitar, e fez novena para pedir perdão a Deus. Eva sempre foi uma mulher livre. “O diabo se apossou do meu corpo antes mesmo de eu nascer. Ao chamar meu nome, minha mãe se lembrava de pecado e maldição”, diz a narradora.

Nesta primeira parte, Superfície, ela nos conta um pouco da infância e das primeiras noções de violência doméstica, machismo e racismo. A mãe, que começa a ser apresentada aqui, ressurgirá nos outros dois capítulos em lembranças e cartas. É uma presença constante, ou, como diz, “um encosto que não deixava de ser um apoio”.

Na segunda parte, Profundo, a mais longa, Eva diz que tem 50 anos e vive num pequeno apartamento em cima de uma floricultura – caridade do ex-marido traído à mãe de seu filho, o filho que ela insiste em tentar esquecer.

Cheiro de flor e morte. A loucura batendo à porta. Vozes, visitas estranhas. As cartas da mãe espalhadas, vivas: “Você merece toda essa violência da qual quis sair. (...) Filha, eu te amo tanto, volte para casa, você não é uma indecente qualquer” ou “Filha, você não precisa passar por isso. A vó sonhou com um homem te batendo com uma cadeira. Volta pra casa, filha. Mamãe te ama tanto. Não seja fácil”.

O peso de um passado que não se pode esquecer. A dureza de um luto difícil de elaborar. Uma “doença terrível e terminal”, que não se vê no corpo, mas que “vem mascarada por sorrisos e festinhas (...) devora o juízo até uma cartela de remédio inteira ou uma janela bem alta ilustrar para que, agora sim, todos vejam que era terminal”.

Na última parte, Fundo, encontramos a personagem antes dos 30, com desejo de vida e gozo, começando uma vida nova num outro país e com um novo amor. Mas as coisas não são como parecem e ela se vê vulnerável, vítima desse homem violento e precisando (querer) fugir desse amor que a sufoca em todos os sentidos. Eva aprende que o roxo some e que o que fica não dá para ver – mas nos endurece por dentro e nos mata lentamente.

Eva Autora: Nara Vidal Editora: Todavia (112 págs., R$ 54,90 R$ 36,90 o e-book)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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