Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Vidas estilhaçadas: Livro mostra que violência sexual é usada como arma de guerra


Em ‘Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha’, a jornalista Christina Lamb relata histórias de mulheres vítimas de violência sexual em diversos momentos da história recente

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Deixo o alerta antes de começar: não tem nada de agradável na leitura de Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e As Mulheres. É pesado, profundamente revoltante, triste. E por isso tudo, a leitura é obrigatória. Urgente.

Christina Lamb, jornalista britânica de 57 anos e correspondente de guerra, já publicou oito livros sobre conflitos – entre eles Eu Sou Malala e Nujeen: A Incrível Jornada de Uma Garota Que Fugiu da Guerra na Síria em uma Cadeira de Rodas (incrível mesmo; entrevistei Nujeen em 2017).

Neste novo livro, ela dá voz a meninas e mulheres que foram vítimas de violência sexual em momentos de grande vulnerabilidade – quando estavam lutando pela sobrevivência, depois de testemunhar o assassinato de seus maridos, seus filhos e seus pais ou o abuso de amigas, mães, irmãs, crianças e bebês, ao sair de uma sessão de tortura ou quando tentavam fugir para um lugar mais seguro (nem que fosse o topo de uma árvore). Estupros cometidos por soldados e milicianos, por vizinhos. Pelos russos hoje na Ucrânia, pelo Estado Islâmico, pelo Boko Haram na Nigéria, pelos hutus em Ruanda, pelos militares na Argentina.

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Uma violência sistemática usada, como ela defende, como uma arma de guerra tão letal quanto as outras, que tortura, escraviza e dizima populações por motivos étnicos, religiosos ou políticos. Que mesmo que não mate a pessoa, mata a sua humanidade. Que “destrói por dentro”, como disse uma das mulheres ouvidas. Que causa “uma destruição biológica e psicológica”, nas palavras de uma argentina sequestrada e escravizada durante a ditadura.

A história da Argentina, que inclui a prisão e o assassinato de mulheres grávidas e o roubo de seus bebês, é um pouco mais antiga do que as demais, embora os casos de estupro só tenham vindo à tona recentemente. A maioria dos relatos remonta a guerras, conflitos e genocídios a que assistimos pela televisão. Para ela, que diz que nos últimos oito anos viu mais violência sexual infligida por soldados e milicianos do que em seus 35 anos de profissão, estamos vivendo “uma epidemia”.

Protesto em Manila pelo sequestro das meninas nigerianas pelo Boko Haram Foto: Erik De Castro/Reuters
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Christina Lamb destaca a coragem e a dignidade dessas mulheres, defende que este é um problema global, que atinge uma menina numa região rural da África ou uma professora de literatura na Ucrânia, de tempos imemoriais e de hoje. Fala dos avanços e retrocessos – e cita Bolsonaro e Trump.

São 15 capítulos. Centenas de vozes de mulheres feridas. Histórias difíceis de contar, de ouvir e de ler. Mas, como disse uma das vítimas, uma menina yazidi, “é ainda mais difícil que as pessoas não saibam (que isso acontece)”.

'Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e as Mulheres', de Christina Lamb, cfoi lançado no Brasil em fevereiro Foto: Companhia das Letras
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Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e as Mulheres

Autora: Christina Lamb

Tradução: Ligia Azevedo

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Editora: Companhia das Letras, 496 págs.; R$ 114,90; R$ 44,90 o e-book)

Deixo o alerta antes de começar: não tem nada de agradável na leitura de Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e As Mulheres. É pesado, profundamente revoltante, triste. E por isso tudo, a leitura é obrigatória. Urgente.

Christina Lamb, jornalista britânica de 57 anos e correspondente de guerra, já publicou oito livros sobre conflitos – entre eles Eu Sou Malala e Nujeen: A Incrível Jornada de Uma Garota Que Fugiu da Guerra na Síria em uma Cadeira de Rodas (incrível mesmo; entrevistei Nujeen em 2017).

Neste novo livro, ela dá voz a meninas e mulheres que foram vítimas de violência sexual em momentos de grande vulnerabilidade – quando estavam lutando pela sobrevivência, depois de testemunhar o assassinato de seus maridos, seus filhos e seus pais ou o abuso de amigas, mães, irmãs, crianças e bebês, ao sair de uma sessão de tortura ou quando tentavam fugir para um lugar mais seguro (nem que fosse o topo de uma árvore). Estupros cometidos por soldados e milicianos, por vizinhos. Pelos russos hoje na Ucrânia, pelo Estado Islâmico, pelo Boko Haram na Nigéria, pelos hutus em Ruanda, pelos militares na Argentina.

Uma violência sistemática usada, como ela defende, como uma arma de guerra tão letal quanto as outras, que tortura, escraviza e dizima populações por motivos étnicos, religiosos ou políticos. Que mesmo que não mate a pessoa, mata a sua humanidade. Que “destrói por dentro”, como disse uma das mulheres ouvidas. Que causa “uma destruição biológica e psicológica”, nas palavras de uma argentina sequestrada e escravizada durante a ditadura.

A história da Argentina, que inclui a prisão e o assassinato de mulheres grávidas e o roubo de seus bebês, é um pouco mais antiga do que as demais, embora os casos de estupro só tenham vindo à tona recentemente. A maioria dos relatos remonta a guerras, conflitos e genocídios a que assistimos pela televisão. Para ela, que diz que nos últimos oito anos viu mais violência sexual infligida por soldados e milicianos do que em seus 35 anos de profissão, estamos vivendo “uma epidemia”.

Protesto em Manila pelo sequestro das meninas nigerianas pelo Boko Haram Foto: Erik De Castro/Reuters

Christina Lamb destaca a coragem e a dignidade dessas mulheres, defende que este é um problema global, que atinge uma menina numa região rural da África ou uma professora de literatura na Ucrânia, de tempos imemoriais e de hoje. Fala dos avanços e retrocessos – e cita Bolsonaro e Trump.

São 15 capítulos. Centenas de vozes de mulheres feridas. Histórias difíceis de contar, de ouvir e de ler. Mas, como disse uma das vítimas, uma menina yazidi, “é ainda mais difícil que as pessoas não saibam (que isso acontece)”.

'Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e as Mulheres', de Christina Lamb, cfoi lançado no Brasil em fevereiro Foto: Companhia das Letras

Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e as Mulheres

Autora: Christina Lamb

Tradução: Ligia Azevedo

Editora: Companhia das Letras, 496 págs.; R$ 114,90; R$ 44,90 o e-book)

Deixo o alerta antes de começar: não tem nada de agradável na leitura de Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e As Mulheres. É pesado, profundamente revoltante, triste. E por isso tudo, a leitura é obrigatória. Urgente.

Christina Lamb, jornalista britânica de 57 anos e correspondente de guerra, já publicou oito livros sobre conflitos – entre eles Eu Sou Malala e Nujeen: A Incrível Jornada de Uma Garota Que Fugiu da Guerra na Síria em uma Cadeira de Rodas (incrível mesmo; entrevistei Nujeen em 2017).

Neste novo livro, ela dá voz a meninas e mulheres que foram vítimas de violência sexual em momentos de grande vulnerabilidade – quando estavam lutando pela sobrevivência, depois de testemunhar o assassinato de seus maridos, seus filhos e seus pais ou o abuso de amigas, mães, irmãs, crianças e bebês, ao sair de uma sessão de tortura ou quando tentavam fugir para um lugar mais seguro (nem que fosse o topo de uma árvore). Estupros cometidos por soldados e milicianos, por vizinhos. Pelos russos hoje na Ucrânia, pelo Estado Islâmico, pelo Boko Haram na Nigéria, pelos hutus em Ruanda, pelos militares na Argentina.

Uma violência sistemática usada, como ela defende, como uma arma de guerra tão letal quanto as outras, que tortura, escraviza e dizima populações por motivos étnicos, religiosos ou políticos. Que mesmo que não mate a pessoa, mata a sua humanidade. Que “destrói por dentro”, como disse uma das mulheres ouvidas. Que causa “uma destruição biológica e psicológica”, nas palavras de uma argentina sequestrada e escravizada durante a ditadura.

A história da Argentina, que inclui a prisão e o assassinato de mulheres grávidas e o roubo de seus bebês, é um pouco mais antiga do que as demais, embora os casos de estupro só tenham vindo à tona recentemente. A maioria dos relatos remonta a guerras, conflitos e genocídios a que assistimos pela televisão. Para ela, que diz que nos últimos oito anos viu mais violência sexual infligida por soldados e milicianos do que em seus 35 anos de profissão, estamos vivendo “uma epidemia”.

Protesto em Manila pelo sequestro das meninas nigerianas pelo Boko Haram Foto: Erik De Castro/Reuters

Christina Lamb destaca a coragem e a dignidade dessas mulheres, defende que este é um problema global, que atinge uma menina numa região rural da África ou uma professora de literatura na Ucrânia, de tempos imemoriais e de hoje. Fala dos avanços e retrocessos – e cita Bolsonaro e Trump.

São 15 capítulos. Centenas de vozes de mulheres feridas. Histórias difíceis de contar, de ouvir e de ler. Mas, como disse uma das vítimas, uma menina yazidi, “é ainda mais difícil que as pessoas não saibam (que isso acontece)”.

'Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e as Mulheres', de Christina Lamb, cfoi lançado no Brasil em fevereiro Foto: Companhia das Letras

Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha: A Guerra e as Mulheres

Autora: Christina Lamb

Tradução: Ligia Azevedo

Editora: Companhia das Letras, 496 págs.; R$ 114,90; R$ 44,90 o e-book)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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