O ator Mário Frias, 48 anos, é a nova aposta do presidente Jair Bolsonaro para comandar a Secretaria Especial de Cultura. Ele entra no lugar de Regina Duarte, que ficou por três meses no setor, sendo exonerada no começo de junho. Sua nomeação surgiu em edição extra do Diário Oficial da União, na sexta-feira, 19, com Pedro José Vilar Godoy Horta como secretário-adjunto (que havia sido chefe de gabinete na gestão de Regina Duarte). Ele assume a pasta recebendo muitas críticas da classe artística, que coloca em dúvida sua capacidade para assumir o cargo.
Quinta tentativa do governo Bolsonaro, Frias teve seu nome levantado para a secretaria nos momento finais da atuação de Regina Duarte, mantendo encontro com o presidente, a quem defende com força e vigor em suas falas e em suas redes sociais. Frias chega ao governo apadrinhado pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que levou seu nome ao Planalto. Fã do escritor Olavo de Carvalho, a deputada fez uma declaração em sua conta do Twitter sobre o novo secretário. “Recebemos com entusiasmo a notícia da nomeação do ator @mfriasoficial como secretário de Cultura do Governo Federal. Acredito que a gestão de Mario Frias será muito positiva, considerando sua vasta experiência como produtor, ator e empresário”, afirmou.
Apesar do apoio de sua “madrinha” política, o ator foi bastante criticado por colegas de profissão. O ator José de Abreu, que costuma se posicionar politicamente nas redes sociais, postou 38 segundos da risada de Nilo, seu personagem na novela Avenida Brasil, ironizando a nomeação. E escreveu: “Um secretário de Cultura que conhece tanto Cultura quanto o Weintraub conhece o Português. Perguntem-lhe o último livro que leu (Cartilha Sodré?), a última peça que viu (Galinha Pintadinha?), a última exposição que viu (Romero Brito em Miami?)”, escreveu.
A atriz Patricia Pillar também se pronunciou, comentando a notícia da nomeação dizendo: “É pra rir ou pra chorar?”. O músico Leoni criticou a escolha: “O ‘ator’ Mário Frias foi nomeado para ‘comandar’ a secretaria de ‘cultura’. Sua ‘capacitação’ é ser bolsonarista”.
O dramaturgo Alcides Nogueira, que prepara para a Globo um remake da novela Amor com Amor Se Paga, de Ivani Ribeiro, colocou em dúvida o que o novo secretário poderá fazer pelo setor. “Não conheço pessoalmente o ator Mário Frias, mas acho que vai ser mais um a não fazer nada pela classe artística, como seus antecessores, a exemplo de Regina Duarte”, declarou. “Ele vai ficar pouco tempo no cargo, com certeza, pois não tem respaldo da classe artística nem proposta, o que não é surpresa para quem se aliou a um governo como esse, que quer calar os artistas e intelectuais.”
No Twitter, o ator e diretor Pedro Neschling escreveu: “ Mário Frias ocupando o mais alto cargo da Cultura do país. Nem como piada eu pensaria em algo assim. Se você não compreende o quão desastroso isso é, eu sinto muito por todos nós.” Frias mostra-se um fiel escudeiro do presidente, assinando embaixo de todos as falas do mandatário e pedindo a seus seguidores que não percam a fé no seu eleito. Em entrevista à CNN, no período de “fritura” de Regina, ele afirmou: “Pro Jair, cara, o que ele precisar eu tô aqui”.
Antes de Frias, passaram pela Secretaria Especial de Cultura Henrique Pires, Ricardo Braga, Roberto Alvim e Regina Duarte. José Paulo Martins entrou como interino, entre um e outro. O setor vem sofrendo com essa indefinição, o que atrasou projetos, e não tem sido capaz de elaborar um plano de ajuda aos artistas que estão sofrendo sem trabalho com a pandemia do coronavírus.
Na época em que o nome de Frias estava sendo avaliado, em uma live com a amiga Natália Lage, a atriz Samara Felippo comentou sobre o tema: “Ele foi protagonista junto com a Priscila Fantin (em ‘Malhação’). É uma referência daquela época. A questão é que deveria ser uma pessoa minimamente com discernimento para entender que, para estar num lugar como esse (Secretaria da Cultura), de tanta responsabilidade, de tanta sabedoria, tem que estar muito preparado”.
O carioca Mário Frias ficou conhecido nos anos 1990 como o galã do seriado adolescente Malhação entre 1997 e 1998, da Rede Globo. Atuou ainda em novelas como Meu Bem Querer e O Quinto dos Infernos . Em Senhora do Destino, ele viveu o deputado Thomas Jefferson. Fez ainda Floribella (Band) e Os Mutantes e A Terra Prometida (Record). É casado desde 2011 com Juliana Camatti, com quem tem uma filha. Com a atriz Nívea Stelmann, com quem foi casado de 2003 a 2005, também tem uma filha.