Entrevistar para ela era o horário nobre de sua profissão, o aspecto mais humano do jornalismo, um ato de cumplicidade e entrega dos dois lados. O entrevistador deveria ter conhecimento profundo sobre a vida e o momento atual do entrevistado para alcançar espaços internos ainda não revelados e captar nuances na voz e nas feições que seriam impossíveis em perguntas e respostas escritas por e-mail, redigidas normalmente por assessores de imprensa.
A tarefa do assessor é controlar a narrativa, reter a liberdade pelo medo genuíno de que algo saia “errado”, é seu ofício não correr riscos. Do lado oposto está o jornalista, que deve abrir portas para o inesperado. Entrevistar requer atenção, não na narrativa que se imaginou para o personagem à sua frente, mas nas possibilidades ainda não imaginadas. É fundamental tentar não ter uma ideia preestabelecida do que irá acontecer.
Ela entrevistava pessoas há anos. Primeiro como relações-públicas, suas entrevistas tinham a função de entender com profundidade a trajetória de clientes para assim construir textos e releases, que pudessem interessar à mídia especializada. Nesse tempo, dominar as palavras, aparar qualquer nota fora do tom estabelecido era fundamental. Entrevistava também para escrever textos curtos, condensados para caberem em mídias sociais, espaço de atenção restrita que precisa de resumos assertivos para que a mensagem seja transmitida.
Nada, no entanto, se comparava a entrevistar com a liberdade de não ter nenhum foco no resultado do que será escrito. A liberdade de perguntar, ouvir com atenção, refletir, mudar a rota e a partir da conversa construir o que se transformará no texto. Nesse exercício o mundo se expande pela linguagem. Como dizia Aristóteles, “As coisas passam a existir quando as nomeamos” e a boa entrevista resgata novas existências que serão nomeadas e assim expostas.
Ser um bom entrevistador é uma profissão que precisa de tempo de maturação e sabedoria para, assim, entender qual avenida fará aflorar o mais improvável resultado do encontro. Entrevista como uma forma de terapia, que desafia o intelecto e contribui emocionalmente, gerando um fruto, o texto.