Se você, assim como eu, passou a primeira década dos anos 2000 assistindo à série nacional A Grande Família, deve ser fã de Andrea Beltrão, que na época brindava o público atuando como a alegre cabeleireira Marilda, durante 14 anos de absoluto sucesso, e depois como Sueli, de Entre Tapas e Beijos.
Anos depois, Andrea conquista mais uma vez um espaço único no coração das brasileiras, agora na pele de Rebeca, a ex-modelo que luta para entender seu lugar no mundo ao se deparar com os desafios da mulher de 50 anos.
Minha conversa com Andrea ao telefone começou mais distante do que eu particularmente gostaria. Como mulher de sua geração e cheia de expectativa para o encontro, queria me conectar rapidamente, como em um papo entre amigas que não se viam havia tempos.
Andrea começou reticente, sem talvez ter a dimensão da força com que seu personagem atingiu uma geração inteira de mulheres brasileiras, carentes de representatividade no horário nobre. Rebeca escancara padrões preestabelecidos como uma protagonista, mulher, com mais de 50 anos, que vive um intenso romance com um homem mais jovem e enfrenta os desafios de uma fase da vida ainda pouco discutida publicamente, a menopausa.
Andrea defende em nossa conversa uma postura de aceitação das limitações. No caso, as falhas e inseguranças da própria Rebeca: “Essa imagem de mulher idealizada, que faz tudo, se posiciona, tem atitude e decide, em um mundo chapado, é ilusória”, diz. “Acredito que por isso as tramas da Lícia (a roteirista de Um Lugar ao Sol, Lícia Manzo), quetrazem personagens complexos que convivem com suas limitações, fazem tanto sucesso”, completa.
À medida que a conversa avança, entendo a popularidade das mulheres vividas por Andrea. O talento para construir personagens cheios de empatia e densidade vem de uma vida em contato próximo à realidade.
Moradora de Copacabana, no Rio de Janeiro, Andrea vai todos os dias à praia nadar no mar, tomar sol e convivercom as pessoas do bairro, mulheres e homens reais, imperfeitos como todos nós, mas que na maior parte das vezes levam a vida com leveza, a leveza de Marilda, Sueli e agora Rebeca. Andrea fala da vida com a graça de quem está mais interessada nos caminhos que percorre do que no objetivo final.
Sobre a menopausa, tema que tem levado Rebeca a ser assunto preferido de grupos e canais nas mídias sociais digitais voltados ao debate de conteúdos para as mulheres de 50, ela lembra: “A vida não acaba aí, é uma passagem para um próximo capítulo cheio de novas possibilidades e não uma subvida”, completa.
Entramos afinal no tema juventude e de que forma Andrea lida com a mudança na aparência. “Não sou contra a plástica nem tratamentos estéticos. Tem quem faz e fica ótima. Mas lamento ver mulheres que deixam de ser quem eram, que não se reconhecem. Mulheres lindas que ficaram com uma cara que não muda. A mesma cara de quem vai tomar um copo d’água ser a cara de quem está brava, sabe?”
Andrea é afiada e divertida falando coisas sérias, é articulada, bem resolvida mesmo mostrando vulnerabilidade. Daquelas mulheres que entendem outras mulheres e por isso falam de um lugar de acolhimento.
A Andrea de hoje é uma mulher potente e muito melhor do que a aquela que muitas de nós conheceram em Armação Ilimitada, na década de 1980, justamente por estar ciente de suas conquistas e limitações.
Casada há 28 anos, Andrea diz que teve sorte. Pergunto: sorte? Descubro que é virginiana, então pressuponho que tenha sido sorte com foco, paciência, resiliência e, claro, muito amor.