No comando da grife italiana Ferragamo desde 2021, o jovem diretor criativo Maximilian Davis vem trabalhando, com seu olhar contemporâneo e afiado, na criação de uma nova imagem de moda para a tradicional marca, que nasceu em Florença a partir da expertise de seu fundador na produção de sapatos de luxo italianos.
Nessas quatro temporadas, as coleções criadas sob sua batuta reforçam um movimento que tem ganho força no mercado da moda: o de marcas pensarem seus lançamentos não como uma forma de tornar obsoletos os anteriores, mas com a intenção de que se complementem, de modo a formar uma narrativa maior, capaz de agregar algo novo ao mesmo tempo que mantém linhas que são atemporais.
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O último desfile de Davis na temporada de moda italiana aconteceu em um sofisticado cenário em tons sóbrios, com piso de madeira – e o ambiente já antecipava a narrativa. Uma estação pautada por sua já conhecida alfaiataria afiada, com ângulos pronunciados e silhuetas verticalizadas, além dos looks monocromáticos, com uma aura de androginia.
A novidade que desviou a trajetória ficou por conta da injeção de uma sensualidade marcante, que transportou a mulher Ferragamo para um lugar de leveza e frescor. Para isso, Davis olhou para um recorte de tempo específico e emblemático da história da moda, a década de 1920, como forma de celebrar essa liberdade. E fez questão de destacar que “essa expressão de liberdade é algo que ressoa em mim, na minha herança e em Ferragamo”.
Vimos cruzar a passarela roupas que dançam entre força e liberdade, com contrastes marcantes, que criaram um resultado singular e sedutor. Pense em casacos estruturados usados em um styling que deixou muita pele à mostra; e em uma geometria que emoldura e exalta o corpo em vez de criar armaduras sobre ele. Um dos pontos altos da coleção, que ressalta também a habilidade italiana na criação de moda, foi o trabalho com couro. Sob as luzes da passarela, um curtíssimo vestido vermelho reluziu com centenas de pequenas peças de um couro finíssimo e metalizado, cortado em formatos circulares e organizado em uma construção que lembrava escamas. Um trabalho minucioso e inovador que coroou a história contada pela Ferragamo para a temporada, ao lado de peças como o supersensual vestido bordô formado por franjas drapeadas sobre o corpo.
Franjas
Além disso, tecidos leves, vaporosos e transparentes, como o finíssimo organdi, se moviam com o caminhar, agregando novos pontos de interesse, com silhuetas que se desprendiam do corpo e decotes profundos. Da década de 1920 também vieram as franjas, em uma versão extralonga e dramática, e o brilho, que surgiu em bordados e materiais de acabamento laqueado. As plumas, que acentuavam pontualmente algumas das peças e acessórios mais especiais, vieram principalmente no busto e em bolsas e sapatos. Os acessórios foram também pontos centrais na coleção, seguindo o DNA da marca. Foco especial nas novas versões das já consagradas bolsas, Fiamma Bag e The Hug Bag, que surgiram feitas nos materiais e cores da coleção – como as plumas e “escamas” de couro.
Tudo veio acompanhado por golas esculturais, ombros bem demarcados e peças feitas em tecidos de uma lã mais pesada. Já a cartela de cores priorizou os verdes, os tons terrosos ultrassofisticados e mais fechados. Encerrando a história, chegou o já conhecido vermelho-ultravibrante, código que une a herança da história Ferragamo ao futuro em construção por Maximilian Davis.