Sem urgências desnecessárias: ‘Quero ter um tempo de resposta que seja humano’


Por mais humanidade e menos automatismo, é uma demada redescobrir a arte perdida de escutar e refletir, resistindo à pressão de viver como máquinas em um mundo saturado de tecnologia

Por Alice Ferraz

Existe um texto do psicanalista Rubem Alves que fala sobre a arte de escutar. Um texto escrito há mais de 20 anos, no qual ele discorre sobre a vontade de criar um curso de “escutatória” que seria complementar ao de oratória. “Todos querem aprender a falar”, dizia ele na época, “mas ninguém quer aprender a ouvir”. Bem, o que diria Rubem Alves se estivesse vivo em tempos do barulho que fazemos nas mídias sociais? Como ele lidaria, como seu comportamento seria influenciado por esse ambiente que tem moldado nossas atitudes também fora das telas? Nos tornamos mais impulsivos, mais e mais faladores e claramente menos “escutadores”.

Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo/Divulgação

O tal curso de escutatória de Rubem Alves certamente seria um fracasso nos dias atuais. Sou prova viva dessa falação. Nas últimas duas semanas, estive a trabalho em três cidades brasileiras. Como um post “vivo” que aparece nas redes sociais, desenvolvi narrativas e boas histórias para cada uma dessas cidades. Criei o que chamamos hoje de conteúdos – aliás, ótimos conteúdos –, feitos para entreter meus seguidores. O problema não está lá na minha página @fhits, veja bem; lá não sou uma pessoa, sou um endereço – sou chamada de página e isso deve ter um motivo. O problema está em lidar, falar, reagir e escutar dentro da vida real como se fôssemos essa realidade virtual e não humanos. O problema está em nos tornarmos essa página e mimetizarmos o comportamento de uma IA. Como se, como humanos, tivéssemos de nos comportar como se comportam o Instagram, WhatsApp, LinkedIn, Facebook ou sei lá mais o quê. Essa é a minha revolta. Explico.

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Não quero responder a mensagens automaticamente para satisfazer a minha angústia ou a de quem as enviou. Não dou conta do volume de urgências desnecessárias das nossas interações diárias online e, mais do que isso, não quero responder a mensagens sem pensar no que elas realmente significam. Quero ter um tempo de resposta que seja humano, quero ter um espaço de silêncio para mergulhar nesses diálogos reais. Quero ter a liberdade de ficar com um áudio de 4 minutos de um parente ou um convite online por dias, sem ter de responder. Por quê? Simplesmente porque não sei a resposta. Não sei se quero ou consigo ir ao tal evento e também não sei como responder ao tal áudio enorme na mesma hora que ele chegou. Não sou uma máquina inteligentíssima que, unindo algoritmos, tem as melhores e mais adequadas respostas. Por isso, não respondo e sou muitas vezes tachada de mal-educada. De tempos em tempos, me perco da Alice e começo a me comportar como a máquina que espero/esperam de mim. Respondo a tudo, me sinto parte do movimento ininterrupto, estou no fluxo. Mas, em pouco tempo, me desespero, me apavoro, me entristeço, me sinto incapaz dessa vida demandada ao máximo. Repenso, me revolto e volto a ser eu, humana. "

Existe um texto do psicanalista Rubem Alves que fala sobre a arte de escutar. Um texto escrito há mais de 20 anos, no qual ele discorre sobre a vontade de criar um curso de “escutatória” que seria complementar ao de oratória. “Todos querem aprender a falar”, dizia ele na época, “mas ninguém quer aprender a ouvir”. Bem, o que diria Rubem Alves se estivesse vivo em tempos do barulho que fazemos nas mídias sociais? Como ele lidaria, como seu comportamento seria influenciado por esse ambiente que tem moldado nossas atitudes também fora das telas? Nos tornamos mais impulsivos, mais e mais faladores e claramente menos “escutadores”.

Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo/Divulgação

O tal curso de escutatória de Rubem Alves certamente seria um fracasso nos dias atuais. Sou prova viva dessa falação. Nas últimas duas semanas, estive a trabalho em três cidades brasileiras. Como um post “vivo” que aparece nas redes sociais, desenvolvi narrativas e boas histórias para cada uma dessas cidades. Criei o que chamamos hoje de conteúdos – aliás, ótimos conteúdos –, feitos para entreter meus seguidores. O problema não está lá na minha página @fhits, veja bem; lá não sou uma pessoa, sou um endereço – sou chamada de página e isso deve ter um motivo. O problema está em lidar, falar, reagir e escutar dentro da vida real como se fôssemos essa realidade virtual e não humanos. O problema está em nos tornarmos essa página e mimetizarmos o comportamento de uma IA. Como se, como humanos, tivéssemos de nos comportar como se comportam o Instagram, WhatsApp, LinkedIn, Facebook ou sei lá mais o quê. Essa é a minha revolta. Explico.

Não quero responder a mensagens automaticamente para satisfazer a minha angústia ou a de quem as enviou. Não dou conta do volume de urgências desnecessárias das nossas interações diárias online e, mais do que isso, não quero responder a mensagens sem pensar no que elas realmente significam. Quero ter um tempo de resposta que seja humano, quero ter um espaço de silêncio para mergulhar nesses diálogos reais. Quero ter a liberdade de ficar com um áudio de 4 minutos de um parente ou um convite online por dias, sem ter de responder. Por quê? Simplesmente porque não sei a resposta. Não sei se quero ou consigo ir ao tal evento e também não sei como responder ao tal áudio enorme na mesma hora que ele chegou. Não sou uma máquina inteligentíssima que, unindo algoritmos, tem as melhores e mais adequadas respostas. Por isso, não respondo e sou muitas vezes tachada de mal-educada. De tempos em tempos, me perco da Alice e começo a me comportar como a máquina que espero/esperam de mim. Respondo a tudo, me sinto parte do movimento ininterrupto, estou no fluxo. Mas, em pouco tempo, me desespero, me apavoro, me entristeço, me sinto incapaz dessa vida demandada ao máximo. Repenso, me revolto e volto a ser eu, humana. "

Existe um texto do psicanalista Rubem Alves que fala sobre a arte de escutar. Um texto escrito há mais de 20 anos, no qual ele discorre sobre a vontade de criar um curso de “escutatória” que seria complementar ao de oratória. “Todos querem aprender a falar”, dizia ele na época, “mas ninguém quer aprender a ouvir”. Bem, o que diria Rubem Alves se estivesse vivo em tempos do barulho que fazemos nas mídias sociais? Como ele lidaria, como seu comportamento seria influenciado por esse ambiente que tem moldado nossas atitudes também fora das telas? Nos tornamos mais impulsivos, mais e mais faladores e claramente menos “escutadores”.

Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo/Divulgação

O tal curso de escutatória de Rubem Alves certamente seria um fracasso nos dias atuais. Sou prova viva dessa falação. Nas últimas duas semanas, estive a trabalho em três cidades brasileiras. Como um post “vivo” que aparece nas redes sociais, desenvolvi narrativas e boas histórias para cada uma dessas cidades. Criei o que chamamos hoje de conteúdos – aliás, ótimos conteúdos –, feitos para entreter meus seguidores. O problema não está lá na minha página @fhits, veja bem; lá não sou uma pessoa, sou um endereço – sou chamada de página e isso deve ter um motivo. O problema está em lidar, falar, reagir e escutar dentro da vida real como se fôssemos essa realidade virtual e não humanos. O problema está em nos tornarmos essa página e mimetizarmos o comportamento de uma IA. Como se, como humanos, tivéssemos de nos comportar como se comportam o Instagram, WhatsApp, LinkedIn, Facebook ou sei lá mais o quê. Essa é a minha revolta. Explico.

Não quero responder a mensagens automaticamente para satisfazer a minha angústia ou a de quem as enviou. Não dou conta do volume de urgências desnecessárias das nossas interações diárias online e, mais do que isso, não quero responder a mensagens sem pensar no que elas realmente significam. Quero ter um tempo de resposta que seja humano, quero ter um espaço de silêncio para mergulhar nesses diálogos reais. Quero ter a liberdade de ficar com um áudio de 4 minutos de um parente ou um convite online por dias, sem ter de responder. Por quê? Simplesmente porque não sei a resposta. Não sei se quero ou consigo ir ao tal evento e também não sei como responder ao tal áudio enorme na mesma hora que ele chegou. Não sou uma máquina inteligentíssima que, unindo algoritmos, tem as melhores e mais adequadas respostas. Por isso, não respondo e sou muitas vezes tachada de mal-educada. De tempos em tempos, me perco da Alice e começo a me comportar como a máquina que espero/esperam de mim. Respondo a tudo, me sinto parte do movimento ininterrupto, estou no fluxo. Mas, em pouco tempo, me desespero, me apavoro, me entristeço, me sinto incapaz dessa vida demandada ao máximo. Repenso, me revolto e volto a ser eu, humana. "

Existe um texto do psicanalista Rubem Alves que fala sobre a arte de escutar. Um texto escrito há mais de 20 anos, no qual ele discorre sobre a vontade de criar um curso de “escutatória” que seria complementar ao de oratória. “Todos querem aprender a falar”, dizia ele na época, “mas ninguém quer aprender a ouvir”. Bem, o que diria Rubem Alves se estivesse vivo em tempos do barulho que fazemos nas mídias sociais? Como ele lidaria, como seu comportamento seria influenciado por esse ambiente que tem moldado nossas atitudes também fora das telas? Nos tornamos mais impulsivos, mais e mais faladores e claramente menos “escutadores”.

Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo/Divulgação

O tal curso de escutatória de Rubem Alves certamente seria um fracasso nos dias atuais. Sou prova viva dessa falação. Nas últimas duas semanas, estive a trabalho em três cidades brasileiras. Como um post “vivo” que aparece nas redes sociais, desenvolvi narrativas e boas histórias para cada uma dessas cidades. Criei o que chamamos hoje de conteúdos – aliás, ótimos conteúdos –, feitos para entreter meus seguidores. O problema não está lá na minha página @fhits, veja bem; lá não sou uma pessoa, sou um endereço – sou chamada de página e isso deve ter um motivo. O problema está em lidar, falar, reagir e escutar dentro da vida real como se fôssemos essa realidade virtual e não humanos. O problema está em nos tornarmos essa página e mimetizarmos o comportamento de uma IA. Como se, como humanos, tivéssemos de nos comportar como se comportam o Instagram, WhatsApp, LinkedIn, Facebook ou sei lá mais o quê. Essa é a minha revolta. Explico.

Não quero responder a mensagens automaticamente para satisfazer a minha angústia ou a de quem as enviou. Não dou conta do volume de urgências desnecessárias das nossas interações diárias online e, mais do que isso, não quero responder a mensagens sem pensar no que elas realmente significam. Quero ter um tempo de resposta que seja humano, quero ter um espaço de silêncio para mergulhar nesses diálogos reais. Quero ter a liberdade de ficar com um áudio de 4 minutos de um parente ou um convite online por dias, sem ter de responder. Por quê? Simplesmente porque não sei a resposta. Não sei se quero ou consigo ir ao tal evento e também não sei como responder ao tal áudio enorme na mesma hora que ele chegou. Não sou uma máquina inteligentíssima que, unindo algoritmos, tem as melhores e mais adequadas respostas. Por isso, não respondo e sou muitas vezes tachada de mal-educada. De tempos em tempos, me perco da Alice e começo a me comportar como a máquina que espero/esperam de mim. Respondo a tudo, me sinto parte do movimento ininterrupto, estou no fluxo. Mas, em pouco tempo, me desespero, me apavoro, me entristeço, me sinto incapaz dessa vida demandada ao máximo. Repenso, me revolto e volto a ser eu, humana. "

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