Como na seleção brasileira de futebol, qualquer lista de convocados desperta a pergunta: quem ficou de fora? Houve injustiças? Acertos? Acontece o mesmo com a relação dos selecionados como os 30 Mestres da Pintura no Brasil entre 1835 e 1945, mostra que tem seu vernissage na noite de hoje no Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Os craques óbvios estão na exposição: Almeida Jr., Pedro Américo, Vitor Meireles, Castagneto, Belmiro de Almeida, Parreiras, Visconti, entre os cobras do século 19. Os modernos De Fiori, Tarsila, Vicente do Rego Monteiro, Segall, Guignard, Anita, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Ismael Nery, Portinari, Pancetti e Cícero Dias também são obrigatórios. Foram escolhidos ao todo 30 artistas pois 30 são os anos de atividade do patrocinador da mostra no País, o cartão Credicard. Mas não houve lugar, nem na reserva, para as paisagens e naturezas-mortas de Pedro Alexandrino, com seus tímidos toques impressionistas, e para os painéis paulistanos e cartesianos de Benedito Calixto entre os artistas do Oitocentos? No século 20, o time parece mais homogêneo, mas talvez o técnico, perdão, o curador Luís Marques, da Unicamp, pudesse sacrificar um dos esforçados mas pouco brilhantes pintores do século 19 e escalar Antônio Gomide entre os selecionados, com sua pintura que usa brilhantemente o art déco como expressão de época. No conjunto, 30 Mestres da Pintura no Brasil tem o mérito evidente de mostrar um acervo de 130 telas provenientes de vários museus e coleções particulares. A reunião das obras, muitas delas pouco vistas pelo público, já valoriza a iniciativa. Com poucos locais de exibição, e tendo de disputar lugar com a produção contemporânea e mostras internacionais, a pintura brasileira exemplar não tem muita chance de encontrar seu público primeiro, muito menos o estudantil, um dos alvos da exposição. Ícones da pintura - A mostra começa com Félix-Émile Taunay que, em 1835, assume a Academia Imperial de Belas-Artes, e vai até 1945, quando os primeiros quadros abstratos de Cícero Dias, feitos em Paris, revelam novos rumos na história da pintura, que pouco depois veria as revoluções do pop e do questionamento da tela como suporte. O que ver mais atentamente? Primeiro, os ícones da pintura brasileira. Quadros clássicos como Moema, de Vitor Meireles, os cinco trabalhos de Almeida Jr., que tanto falam do Brasil de seu tempo, as paisagens de Castagneto, a Iracema, de Parreiras, os cinco quadros que exemplificam Eliseu Visconti como o grande mestre da passagem do século 19 para o 20. Já neste, a arte modernista e tropical de Tarsila, em seis bons exemplos, três obras do melhor e mais trágico Segall, o sutil Guignard em paisagens e retratos, quatro telas importantes de Anita Malfatti. A Série Trágica de Flávio de Carvalho é outro must da visitação, assim como as três telas de Di Cavalcanti e as três de Ismael Nery. O grande painel social Retirantes, de Portinari, apesar de sua, digamos, inspiração picassiana, não pode ser esquecido, bem como os Pancetti e os Cícero Dias. A arma secreta da exposição é uma sala especial de Rodolfo Amoedo (1857-1941), que, além de ter sido professor de pintores como Latour, Portinari e Visconti, foi um pintor à frente da sua época. A exposição traz trabalhos pouco conhecidos desse artista, com obras sobre papel, pequenos óleos, pastéis e aquarelas que não são vistos desde 1957, e pertencem ao Museu Nacional de Belas Artes. Você poderá confirmar isso e descobrir que Amoedo batia um bolão com os pincéis e as tintas de sua paleta. 30 Mestres da Pintura no Brasil (1835-1945) - Masp - Museu de Arte Assis Chateaubriand (Av. Paulista, 1.578, tel. 251-5644). Vernissage: hoje. De 3.ª a dom., 11 h às 18 h. R$ 10. Até 29/7.