O Metropolitan Museum of Art de Nova York mudou o nome de um de seus pastéis de Edgar Degas na sexta-feira de Dançarinos Russos para Dançarinos em Trajes Ucranianos, o segundo Degas renomeado desde que a Rússia invadiu a Ucrânia.
No ano passado, a National Gallery em Londres renomeou um de seus pastéis Degas como Dançarinos ucranianos, em vez de Dançarinos russos. E o J. Paul Getty Museum em Los Angeles atualizou um item antigo em seu site para observar que os dançarinos de Degas eram ucranianos, não russos.
Os ajustes refletem um movimento que está em curso em museus do mundo todo, estimulado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Muitos estão reexaminando – e, em um número crescente de casos, renomeando – obras de arte e artistas do antigo Império Russo e da ex-União Soviética para refletir melhor suas origens ucranianas. “O pensamento acadêmico está evoluindo rapidamente”, disse Max Hollein, diretor do Met, em comunicado, “devido ao aumento da conscientização e atenção à cultura e à história ucranianas desde o início da invasão russa em 2022″.
Mas o processo nem sempre é direto, principalmente quando os museus tentam refletir a nacionalidade dos artistas, e não apenas onde eles nasceram. O Met revisou recentemente como classifica três pintores do século 19 anteriormente descritos como russos – Illia Repin, Arkhyp Kuindzhi e Ivan Konstantinovich Aivazovsky – para chamar a atenção para suas raízes ucranianas. O museu atualizou dois dos nomes com sua transliteração ucraniana, seguida pelo nome russo: Illia Repin (Ilia Efimovich Repin) e Arkhyp Kuindzhi (Arkhip Ivanovich Kuindzhi).
Mas depois que o Met mudou a descrição de Aivazovsky de “russo” para “ucraniano” em seu site, alguns críticos atacaram, apontando que ele era de fato armênio. (“O Met não deveria ter reclassificado Ivan Aivazovsky como ‘ucraniano’”, argumentou um ensaio da Hyperallergic). Então o Met o reclassificou: Aivazovsky agora é descrito como “armênio, nascido Império Russo “.
Ativistas e historiadores da arte têm pressionado os museus a repensar como rotulam a arte e os artistas, argumentando que, dada a história de subjugação da Ucrânia sob o Império Russo e a União Soviética, sua cultura não deve ser confundida com a de seus governantes. Museus nos Estados Unidos e na Europa são cúmplices de sua colonização, argumentam os críticos, quando não honram as contribuições artísticas dos ucranianos.
“É como roubar patrimônio”, disse Oksana Semenik, historiadora de arte em Kiev que vem pressionando por mudanças. “Como você pode encontrar sua identidade? Como você pode encontrar sua cultura?”
O fracasso em distinguir artistas e obras de arte ucranianas tem sido particularmente doloroso, dizem ativistas, neste momento em que grande parte do patrimônio cultural da Ucrânia está sendo danificado ou destruído no conflito atual, como museus, monumentos, universidades, bibliotecas, igrejas e mosaicos.
“As descrições de nacionalidade podem ser muito complexas, especialmente no caso das atribuições póstumas”, disse Glenn D. Lowry, diretor do museu, em comunicado ao Times. “Fazemos pesquisas rigorosas e abordamos as descrições com sensibilidade para a nacionalidade registrada do artista na morte e no nascimento, a emigração e a dinâmica de imigração e as mudanças nas fronteiras geopolíticas”.
O Met vem avaliando tais atualizações desde o verão passado em consulta com seus curadores e estudiosos externos. “As mudanças se alinham com os esforços do Met de pesquisar e examinar continuamente os objetos de sua coleção”, disse o museu em comunicado, “para determinar a maneira mais apropriada e precisa de catalogá-los e apresentá-los”.
A obra que o Met agora chama de Dançarina em trajes ucranianos foi inicialmente identificada como Mulheres em trajes russos em um diário de 1899, explica o museu em seu site. “No entanto, vários estudiosos demonstraram que os trajes são, de fato, trajes folclóricos ucranianos tradicionais, embora não tenha sido estabelecido se as próprias dançarinas eram da Ucrânia”.
O Met revisou seu texto de parede para obras de arte como a pintura de Kuindzhi, Red Sunset (por volta de 1905-08), que foi exibida na primavera passada após uma declaração de apoio à Ucrânia de Hollein e Daniel H. Weiss, o presidente e diretor executivo.
O departamento de pinturas europeias do Met atualmente descreve Kuindzhi como “ucraniano nascido no Império Russo”, explica o site, “para refletir as nacionalidades duplas e cruzadas identificadas nos estudos sobre o artista”.
“Ele era descendente de gregos que se mudaram para Mariupol da costa sul da Crimeia no século 18″, continua. “Os gregos da Crimeia são classificados entre os gregos pônticos, que se originaram no que hoje é o nordeste da Turquia e migraram pela região”.
Enquanto Red Sunset está seguro na coleção do Met, o Museu Kuindzhi em Mariupol, dedicado à vida e obra do artista, foi seriamente danificado por ataques aéreos russos.
Quanto à identificação de obras na coleção do Museu Judaico, Claudia Gould, a diretora, disse que sua instituição tentou adotar uma abordagem diferenciada para a classificação. “Para artistas nascidos no Império Russo ou na antiga União Soviética, bem como em muitas outras regiões com fronteiras em constante mudança, usamos as regiões históricas da época em que a obra foi feita”, disse ela por e-mail./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.