'A live é uma coisa não terminada', diz Maria Bethânia, que fará sua primeira live


'Não será um show, não mandei fazer roupa. O público não estará ali, é mentira, é falso eu fingir que está', afirma a cantora ao 'Estadão'

Por Danilo Casaletti
Atualização:

Em texto escrito em 1968, o cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981) diz que Maria Bethânia, a quem ele chamava de Senhorita Maria da Purificação Bethânia Bahia, não “gosta de baixar duas vezes no mesmo terreiro”. Ou seja, de previsível, não tem nada. 

A cantora Maria Bethânia se prepara para sua primeira live Foto: Marcos Hermes

A definição de Glauber ajuda a explicar a mudança de atitude da cantora em relação às lives. Sim, ela aceitou. Neste sábado, 13, às 22h, Bethânia faz sua primeira apresentação online com transmissão exclusiva na plataforma GloboPlay, que terá sinal aberto para não assinantes. Em dezembro, em entrevista ao Estadão, Bethânia disse que, para ela, o formato era “difícil”. “Sou uma artista que precisa de uma resposta, sou mais de palco, mais de resposta imediata, ouvir, sentir o calor da plateia.”  “Teresa Cristina fez um trabalho inestimável, espontâneo. As lives do meu irmão foram lindas demais. Assisti à Gal. Muito Chico César. Ele gosta de fazer, acho lindo. Assisti a todas de Fafá. E aprendi, apesar do receio, pois meu trabalho em cena é muito vigoroso, tem cenografia, teatralidade, espaço... Eu corro, falo, ando. Isso não cabe em uma tela. Mas farei de outro jeito, que eu amo também, que é um ensaio. Adoro a preparação, seja para show ou para um disco. Na minha visão, a live é um pouco isso. É uma coisa não terminada, se compondo naquele instante. Por isso, neste momento, aceitei”, diz, agora, por telefone. Apesar de ter encontrado um meio de fazer, confessa, sentirá a ausência da plateia. “Não será um show, não mandei fazer roupa. O público não estará ali, é mentira, é falso eu fingir que está. Estará longe. Faltará o calor, o olhar. Farei quente, estou animada, mas dentro dessa realidade.” Bethânia estará acompanhada, no palco da Cidade das Artes, no Rio, pelos músicos Jorge Helder (baixo acústico), João Camarero e Paulo Dafilin (violões) e Marcelo Costa (percussão). A direção anunciada é de LP Simonetti, mas a cantora revela que não será conduzida. “Não haverá direção. O que tem é um roteiro meu que passa pelas minhas memórias. Será uma conversa com música, o que sou hoje, o que é a minha voz aos 74 anos.” Sucessos como Negue e Olhos nos Olhos estão garantidos. “Chico (Buarque) e Caetano brincam que show meu tem sempre uma dessas duas”, ri. A data escolhida para a live, 13 de fevereiro, é repleta de significados para Bethânia. Foi nesse dia (embora a data gere controvérsias), em 1965, que ela estreou no show Opinião, dirigida por Augusto Boal, em substituição à cantora Nara Leão. Também foi em um 13 de fevereiro, mas de 2016, que a Mangueira fez o apoteótico e campeão desfile com o enredo Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá.  Outra comemoração será em torno dos 50 anos de Rosa dos Ventos – O Show Encantado, um dos mais simbólicos de sua carreira. Nele, Bethânia consolidou sua relação com o diretor Fauzi Arap (1938-2013), que se iniciou no espetáculo Comigo Me Desavim, de 1967, e a persona cênica que assumiu no palco. No roteiro desse espetáculo, Bethânia declamou pela primeira vez Fernando Pessoa e cantou músicas de Chico Buarque (a que dava nome ao show e Noite dos Mascarados), Caetano Veloso (Janelas Abertas n.º 2 e Não Identificado), Dorival Caymmi (O Mar e Suíte de Pescadores), Toquinho e Vinicius de Moraes (Como Dizia o Poeta), entre outras. Todas são candidatas ao roteiro da live.

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Inéditas

Em setembro do ano passado, cercada de todos os cuidados, Bethânia decidiu entrar em estúdio para gravar Noturno, disco que trará canções inéditas e regravações. O ponto de partida para o álbum, foi a turnê Claros Breus, que estreou em junho de 2019 e apresentou até a pandemia impor o isolamento social. “Eu estava em casa desde 13 de março, quando meu médico recomendou que eu não viajasse a São Paulo onde teria uma apresentação. No meio dessa temporada de isolamento, tive o impulso, um desejo incontrolável. Venci o medo e as dificuldades e fiz esse disco novo. Era uma necessidade orgânica, eu precisava cantar, exercer o meu ofício”, conta. Noturno, com produção musical de Jorge Helder e Letieres Leite, está previsto para ser lançado entre março e abril. Dele, na apresentação deste sábado, Bethânia cantará Lapa Santa, de Paulo Dafilin e Roque Ferreira; De Onde Eu Vim, de Paulo Dafilin; Luminosidade, de Chico César; e 2 de Junho, de Adriana Calcanhoto. Nesta última, a compositora gaúcha aborda a triste história do menino Miguel, de 5 anos, que morreu ao cair de um prédio no Recife, em junho do ano passado, caso que gerou comoção nacional. Bethânia também gravou uma inédita de Tim Bernardes, vocalista da banda O Terno, chamada Prudência. Porém, essa, os fãs terão que esperar mais um pouco para ouvir. “Ela é uma canção que gosta de palcão, de vestidão, de saião, de povão. De tudo grande! Não cabe na live. É daquelas para rodar a baiana. É um baladão”, diverte-se. Se a previsão se mantiver, a música deve ser o primeiro single do disco. Avessa a badalações, Bethânia diz que se mantém em casa à espera de quando puder ocupar o palco sem as limitações de uma live. “Eu estou cansada, como você também deve estar. O medo permanente, a falta de naturalidade nos encontros, no convívio. Apliques obrigatórios em nosso corpo, máscara, álcool...Mas há uma esperança”, acrescenta.

Em texto escrito em 1968, o cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981) diz que Maria Bethânia, a quem ele chamava de Senhorita Maria da Purificação Bethânia Bahia, não “gosta de baixar duas vezes no mesmo terreiro”. Ou seja, de previsível, não tem nada. 

A cantora Maria Bethânia se prepara para sua primeira live Foto: Marcos Hermes

A definição de Glauber ajuda a explicar a mudança de atitude da cantora em relação às lives. Sim, ela aceitou. Neste sábado, 13, às 22h, Bethânia faz sua primeira apresentação online com transmissão exclusiva na plataforma GloboPlay, que terá sinal aberto para não assinantes. Em dezembro, em entrevista ao Estadão, Bethânia disse que, para ela, o formato era “difícil”. “Sou uma artista que precisa de uma resposta, sou mais de palco, mais de resposta imediata, ouvir, sentir o calor da plateia.”  “Teresa Cristina fez um trabalho inestimável, espontâneo. As lives do meu irmão foram lindas demais. Assisti à Gal. Muito Chico César. Ele gosta de fazer, acho lindo. Assisti a todas de Fafá. E aprendi, apesar do receio, pois meu trabalho em cena é muito vigoroso, tem cenografia, teatralidade, espaço... Eu corro, falo, ando. Isso não cabe em uma tela. Mas farei de outro jeito, que eu amo também, que é um ensaio. Adoro a preparação, seja para show ou para um disco. Na minha visão, a live é um pouco isso. É uma coisa não terminada, se compondo naquele instante. Por isso, neste momento, aceitei”, diz, agora, por telefone. Apesar de ter encontrado um meio de fazer, confessa, sentirá a ausência da plateia. “Não será um show, não mandei fazer roupa. O público não estará ali, é mentira, é falso eu fingir que está. Estará longe. Faltará o calor, o olhar. Farei quente, estou animada, mas dentro dessa realidade.” Bethânia estará acompanhada, no palco da Cidade das Artes, no Rio, pelos músicos Jorge Helder (baixo acústico), João Camarero e Paulo Dafilin (violões) e Marcelo Costa (percussão). A direção anunciada é de LP Simonetti, mas a cantora revela que não será conduzida. “Não haverá direção. O que tem é um roteiro meu que passa pelas minhas memórias. Será uma conversa com música, o que sou hoje, o que é a minha voz aos 74 anos.” Sucessos como Negue e Olhos nos Olhos estão garantidos. “Chico (Buarque) e Caetano brincam que show meu tem sempre uma dessas duas”, ri. A data escolhida para a live, 13 de fevereiro, é repleta de significados para Bethânia. Foi nesse dia (embora a data gere controvérsias), em 1965, que ela estreou no show Opinião, dirigida por Augusto Boal, em substituição à cantora Nara Leão. Também foi em um 13 de fevereiro, mas de 2016, que a Mangueira fez o apoteótico e campeão desfile com o enredo Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá.  Outra comemoração será em torno dos 50 anos de Rosa dos Ventos – O Show Encantado, um dos mais simbólicos de sua carreira. Nele, Bethânia consolidou sua relação com o diretor Fauzi Arap (1938-2013), que se iniciou no espetáculo Comigo Me Desavim, de 1967, e a persona cênica que assumiu no palco. No roteiro desse espetáculo, Bethânia declamou pela primeira vez Fernando Pessoa e cantou músicas de Chico Buarque (a que dava nome ao show e Noite dos Mascarados), Caetano Veloso (Janelas Abertas n.º 2 e Não Identificado), Dorival Caymmi (O Mar e Suíte de Pescadores), Toquinho e Vinicius de Moraes (Como Dizia o Poeta), entre outras. Todas são candidatas ao roteiro da live.

Inéditas

Em setembro do ano passado, cercada de todos os cuidados, Bethânia decidiu entrar em estúdio para gravar Noturno, disco que trará canções inéditas e regravações. O ponto de partida para o álbum, foi a turnê Claros Breus, que estreou em junho de 2019 e apresentou até a pandemia impor o isolamento social. “Eu estava em casa desde 13 de março, quando meu médico recomendou que eu não viajasse a São Paulo onde teria uma apresentação. No meio dessa temporada de isolamento, tive o impulso, um desejo incontrolável. Venci o medo e as dificuldades e fiz esse disco novo. Era uma necessidade orgânica, eu precisava cantar, exercer o meu ofício”, conta. Noturno, com produção musical de Jorge Helder e Letieres Leite, está previsto para ser lançado entre março e abril. Dele, na apresentação deste sábado, Bethânia cantará Lapa Santa, de Paulo Dafilin e Roque Ferreira; De Onde Eu Vim, de Paulo Dafilin; Luminosidade, de Chico César; e 2 de Junho, de Adriana Calcanhoto. Nesta última, a compositora gaúcha aborda a triste história do menino Miguel, de 5 anos, que morreu ao cair de um prédio no Recife, em junho do ano passado, caso que gerou comoção nacional. Bethânia também gravou uma inédita de Tim Bernardes, vocalista da banda O Terno, chamada Prudência. Porém, essa, os fãs terão que esperar mais um pouco para ouvir. “Ela é uma canção que gosta de palcão, de vestidão, de saião, de povão. De tudo grande! Não cabe na live. É daquelas para rodar a baiana. É um baladão”, diverte-se. Se a previsão se mantiver, a música deve ser o primeiro single do disco. Avessa a badalações, Bethânia diz que se mantém em casa à espera de quando puder ocupar o palco sem as limitações de uma live. “Eu estou cansada, como você também deve estar. O medo permanente, a falta de naturalidade nos encontros, no convívio. Apliques obrigatórios em nosso corpo, máscara, álcool...Mas há uma esperança”, acrescenta.

Em texto escrito em 1968, o cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981) diz que Maria Bethânia, a quem ele chamava de Senhorita Maria da Purificação Bethânia Bahia, não “gosta de baixar duas vezes no mesmo terreiro”. Ou seja, de previsível, não tem nada. 

A cantora Maria Bethânia se prepara para sua primeira live Foto: Marcos Hermes

A definição de Glauber ajuda a explicar a mudança de atitude da cantora em relação às lives. Sim, ela aceitou. Neste sábado, 13, às 22h, Bethânia faz sua primeira apresentação online com transmissão exclusiva na plataforma GloboPlay, que terá sinal aberto para não assinantes. Em dezembro, em entrevista ao Estadão, Bethânia disse que, para ela, o formato era “difícil”. “Sou uma artista que precisa de uma resposta, sou mais de palco, mais de resposta imediata, ouvir, sentir o calor da plateia.”  “Teresa Cristina fez um trabalho inestimável, espontâneo. As lives do meu irmão foram lindas demais. Assisti à Gal. Muito Chico César. Ele gosta de fazer, acho lindo. Assisti a todas de Fafá. E aprendi, apesar do receio, pois meu trabalho em cena é muito vigoroso, tem cenografia, teatralidade, espaço... Eu corro, falo, ando. Isso não cabe em uma tela. Mas farei de outro jeito, que eu amo também, que é um ensaio. Adoro a preparação, seja para show ou para um disco. Na minha visão, a live é um pouco isso. É uma coisa não terminada, se compondo naquele instante. Por isso, neste momento, aceitei”, diz, agora, por telefone. Apesar de ter encontrado um meio de fazer, confessa, sentirá a ausência da plateia. “Não será um show, não mandei fazer roupa. O público não estará ali, é mentira, é falso eu fingir que está. Estará longe. Faltará o calor, o olhar. Farei quente, estou animada, mas dentro dessa realidade.” Bethânia estará acompanhada, no palco da Cidade das Artes, no Rio, pelos músicos Jorge Helder (baixo acústico), João Camarero e Paulo Dafilin (violões) e Marcelo Costa (percussão). A direção anunciada é de LP Simonetti, mas a cantora revela que não será conduzida. “Não haverá direção. O que tem é um roteiro meu que passa pelas minhas memórias. Será uma conversa com música, o que sou hoje, o que é a minha voz aos 74 anos.” Sucessos como Negue e Olhos nos Olhos estão garantidos. “Chico (Buarque) e Caetano brincam que show meu tem sempre uma dessas duas”, ri. A data escolhida para a live, 13 de fevereiro, é repleta de significados para Bethânia. Foi nesse dia (embora a data gere controvérsias), em 1965, que ela estreou no show Opinião, dirigida por Augusto Boal, em substituição à cantora Nara Leão. Também foi em um 13 de fevereiro, mas de 2016, que a Mangueira fez o apoteótico e campeão desfile com o enredo Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá.  Outra comemoração será em torno dos 50 anos de Rosa dos Ventos – O Show Encantado, um dos mais simbólicos de sua carreira. Nele, Bethânia consolidou sua relação com o diretor Fauzi Arap (1938-2013), que se iniciou no espetáculo Comigo Me Desavim, de 1967, e a persona cênica que assumiu no palco. No roteiro desse espetáculo, Bethânia declamou pela primeira vez Fernando Pessoa e cantou músicas de Chico Buarque (a que dava nome ao show e Noite dos Mascarados), Caetano Veloso (Janelas Abertas n.º 2 e Não Identificado), Dorival Caymmi (O Mar e Suíte de Pescadores), Toquinho e Vinicius de Moraes (Como Dizia o Poeta), entre outras. Todas são candidatas ao roteiro da live.

Inéditas

Em setembro do ano passado, cercada de todos os cuidados, Bethânia decidiu entrar em estúdio para gravar Noturno, disco que trará canções inéditas e regravações. O ponto de partida para o álbum, foi a turnê Claros Breus, que estreou em junho de 2019 e apresentou até a pandemia impor o isolamento social. “Eu estava em casa desde 13 de março, quando meu médico recomendou que eu não viajasse a São Paulo onde teria uma apresentação. No meio dessa temporada de isolamento, tive o impulso, um desejo incontrolável. Venci o medo e as dificuldades e fiz esse disco novo. Era uma necessidade orgânica, eu precisava cantar, exercer o meu ofício”, conta. Noturno, com produção musical de Jorge Helder e Letieres Leite, está previsto para ser lançado entre março e abril. Dele, na apresentação deste sábado, Bethânia cantará Lapa Santa, de Paulo Dafilin e Roque Ferreira; De Onde Eu Vim, de Paulo Dafilin; Luminosidade, de Chico César; e 2 de Junho, de Adriana Calcanhoto. Nesta última, a compositora gaúcha aborda a triste história do menino Miguel, de 5 anos, que morreu ao cair de um prédio no Recife, em junho do ano passado, caso que gerou comoção nacional. Bethânia também gravou uma inédita de Tim Bernardes, vocalista da banda O Terno, chamada Prudência. Porém, essa, os fãs terão que esperar mais um pouco para ouvir. “Ela é uma canção que gosta de palcão, de vestidão, de saião, de povão. De tudo grande! Não cabe na live. É daquelas para rodar a baiana. É um baladão”, diverte-se. Se a previsão se mantiver, a música deve ser o primeiro single do disco. Avessa a badalações, Bethânia diz que se mantém em casa à espera de quando puder ocupar o palco sem as limitações de uma live. “Eu estou cansada, como você também deve estar. O medo permanente, a falta de naturalidade nos encontros, no convívio. Apliques obrigatórios em nosso corpo, máscara, álcool...Mas há uma esperança”, acrescenta.

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