O advogado da família do piloto Geraldo Martins de Medeiros Junior, Sérgio Alonso, criticou a conclusão do inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais que tratou da queda do avião que matou a cantora Marília Mendonça e mais quatro pessoas nesta quinta-feira, 5, ao Estadão. Na quarta, 4, a polícia atribuiu o acidente a um erro de Geraldo e do copiloto, Tarcísio Pessoa Viana.
Sérgio, que representa a defesa da filha do comandante do voo, definiu a conclusão como “injuriosa” e alegou que ela não possui base em “provas técnicas produzidas”. Segundo ele, o acidente teria sido causado por uma falta de sinalização da rede elétrica onde o avião se chocou, além de uma ausência de uma carta de aproximação visual.
O advogado descreveu que o aeroporto de Caratinga é localizado em um vale e a rede de distribuição estaria na reta do aeródromo e sem sinalização. Ele ainda apontou mudanças que teriam sido feitas logo após o acidente, incluindo a sinalização da rede pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Outras alterações, segundo Sérgio, foram feitas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), como uma carta de aproximação visual e uma elevação na altura do tráfego de 1.000 para 1.350 pés. “Se tudo isso tivesse sido feito antes, o acidente não teria acontecido”, argumentou.
Ele ainda criticou a atribuição do crime de homídio culposo à tripulação pela Polícia Civil – o órgão pediu o arquivamento do caso em razão da morte de todos os que estavam a bordo da aeronave. Para o advogado, os delegados, tecnicamente, não poderiam realizar a sentença logo após a conclusão do inquérito e sem possibilidade de defesa.
Em nota enviada ao Estadão, a Polícia Civil de Minas Gerais disse que a investigação tramitou no prazo necessário e os autos sempre estiveram à disposição dos procuradores legais. O órgão também afirmou que não comenta “eventuais teses jurídicas das partes envolvidas”. Leia a nota completa:
“A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) apresentou à imprensa, ontem (4/10), a conclusão do inquérito policial que apurou as circunstâncias e causas do acidente aéreo que vitimou fatalmente a cantora e outras quatro pessoas, em Piedade de Caratinga. A Polícia Civil esclarece que o procedimento investigatório tramitou no prazo necessário para a completa apuração dos fatos. Os autos do inquérito sempre estiveram à disposição dos procuradores legais, tendo em vista a decretação do sigilo judicial. A PCMG não comenta eventuais teses jurídicas das partes envolvidas.”
Conclusão do inquérito que responsabilizou os pilotos
Durante uma entrevista coletiva transmitida nesta quarta-feira, a Polícia Civil de Minas atribuiu a queda da aeronave que matou a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas a um erro dos pilotos. “A tripulação, por circunstâncias até então não justificáveis, atuaram com negligência e com imprudência”, afirmou um dos delegados responsável pelo caso.
O laudo concluiu que a aeronave não tinha problemas técnicos e a polícia descartou um possível mal súbito dos tripulantes. A aeronave se chocou contra uma torre de transmissão em Caratinga, no interior de Minas Gerais, em 2021.
Segundo os delegados, a tripulação não respeitou os procedimentos de segurança na condução do avião e saiu da zona de proteção da rota. A polícia descartou a possibilidade de crime ambiental pelo vazamento de combustível da aeronave.
Marília morreu aos 26 anos após a queda de um avião de pequeno porte em uma cachoeira. Além dela e dos pilotos, o produtor Henrique Ribeiro e o tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho também morreram no acidente. O avião decolou de Goiânia com destino a Caratinga, onde Marília teria uma apresentação à noite.
Relatório anterior do Cenipa
Em maio, um relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica, também descartou falha mecânica como uma das causas do acidente. Ao discorrer sobre “fatores contribuintes” para o acidente, o relatório registrou que o “julgamento de pilotagem” contribuiu para a queda da aeronave.
“No que diz respeito ao perfil de aproximação para pouso (em Minas Gerais), houve uma avaliação inadequada acerca de parâmetros da operação da aeronave, uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B’ em procedimentos de pouso”, disse o Cenipa.
Conforme o relatório, o avião estava mais baixo do que deveria para realizar o pouso. O órgão cogitou a hipótese de que a tripulação estivesse “com a atenção (visão focada) direcionada para a pista de pouso em detrimento de manter uma separação adequada com o terreno em aproximação visual”.
Segundo o relatório, o cabo para-raios com que o avião se chocou inicialmente não precisava de sinalização, porque estava fora da área considerada zona de proteção do aeroporto.
A investigação do Cenipa contou com uma equipe multidisciplinar composta por 30 militares e civis do órgão, entre eles especialistas em Fator Operacional (pilotos e mecânicos de aeronaves), Fator Humano (médicos e psicólogos), Fator Material (engenheiros), bem como Assessores Técnicos Consultivos compostos pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Em entrevista coletiva concedida à época da divulgação do relatório, o advogado da família de Marília isentou o piloto de culpa e cobrou a instalação de identificadores nos fios das linhas de transmissão. “A intenção da dona Ruth (mãe de Marília) e dos familiares não é apontar culpados. A gente não está aqui na caça às bruxas. [...] O objetivo de todos, na verdade, é que situações que aconteceram com a filha dela sejam evitadas, para que nenhuma família mais passe pela dor e pela perda que eles passaram”, disse.
*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais