Geração Z impulsiona vozes femininas; veja ranking de músicas e artistas mais ouvidas no Spotify


De acordo com dados do Spotify, um terço dos usuários que mais escutaram artistas mulheres brasileiras no País têm entre 18 e 24 anos. Entenda por que isso ocorre

Por Danilo Casaletti
Atualização:
As cantoras Ana Castela, Marília Mendonça e Simone Mendes Foto: Stephanie Rodrigues/TV Globo; Reprodução Instagram @mariliamendonça; Reprodução Instagram @simoneme

De acordo com uma lista divulgada pelo Spotify, as três músicas mais escutadas em 2023 no Brasil são cantadas por mulheres: Nosso Quadro, por Ana Castela; Leão, por Marília Mendonça, e Erro Gostoso - Ao Vivo, por Simone Mendes.

Há, no entanto, algo mais interessante sobre essa informação aparentemente banal em um País que sempre foi conhecido como ‘o das cantoras’: os dados da plataforma revelam que é a geração Z – os jovens entre 18 e 24 anos - que impulsiona os players em artistas femininas.

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Além de Ana, Marília e Simone, nos últimos quatro anos (2020 -2023), essa geração também escutou nomes como Anitta, Ludmilla, Mari Fernandez e Luísa Sonza - as quatro últimas reinaram nas listas das mais ouvidas (veja os dados completos mais abaixo).

O comportamento observado entre os ouvintes nacionais reflete o que ocorre em outros países. O consumo de faixas cantadas por mulheres cresceu 231% nos últimos cinco anos (2019-2023). Entre as músicas mais ouvidas no exterior, ainda de acordo com o Spotify, Flowers, por Miley Cyrus; Kill Bill, por SZA., e Cruel Summer, por Taylor Swift, ocupam respectivamente as três primeiras posições.

Para Rodrigo Azevedo, editor de música no Spotify Brasil, a geração Z, conhecida por seu engajamento digital e social e pela mentalidade mais inclusiva, reconhece que a prevalência masculina na indústria da música é algo que precisa ser reparado. E, mais que isso, se sente representada por essas cantoras.

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“Nos últimos anos, artistas mulheres entraram em gêneros predominantemente masculinos, como o trap, o rap e o sertanejo. Elas estão falando sobre amor, relacionamento, curtição e sexo. É uma perspectiva feminina sobre o que essa geração vive”, diz Azevedo.

Essa mensagem atinge, sobretudo, as mulheres. Entre o público que está em busca dessas cantoras, 60% são mulheres.

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Para exemplificar o que acontece, Azevedo recorre a uma cantora que se destacou nos últimos anos, a rapper fluminense Ebony. Na faixa Espero Que Entendam, entre críticas ao machismo dentro do gênero, ela diz: “A sua irmã me ama, a sua mina me escuta”. Os dados mostram que Ebony tem razão.

O Spotify acompanha e incentiva esse movimento de forma editorial. Ou seja, oferece as faixas cantadas por mulheres em playlists. Dá resultado. Segundo Azevedo, desde que esse monitoramento começou a ser feito, em 2020, o dobro de mulheres apareceu na playlist Brasil, a principal da plataforma no País.

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Outras listas de músicas são focadas integralmente em artistas femininas. Além disso, o programa Equal, programa global para promover a equidade para as mulheres na música em nível regional e internacional, destaca mês a mês uma cantora. Já receberam apoio da plataforma - ou foram escolhidas como ‘embaixadoras’, como a plataforma chama - nomes como Gal Costa, Alcione, Pitty, Majur, Lauana Prado e Carol Biazin.

Marília Mendonça e Ana Castela: dois símbolos desse movimento

O grande desafio da geração Z, no que se refere à música, é não ser levada pelo o que naturalmente está nas paradas musicais, ou nos charts, como elas são chamadas atualmente no mundo digital.

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Rodrigo Azevedo, do Spotify Brasil, admite que, de fato, os jovens também são propensos a se voltarem ao que já está sendo tocado. Um movimento natural; afinal, são essas músicas que estão presentes em aplicativos, festas e baladas pelo Brasil afora.

No entanto, foi justamente essa geração que ajudou a chancelar cantoras como Marília Mendonça e Ana Castela, duas novidades que surgiram dentro do sertanejo nos últimos anos. Antes delas, outras mulheres já haviam se aventurado pelo gênero, mas foram elas que conseguiram se comunicar de maneira mais efetiva com essa juventude.

Marília traduziu em músicas escritas por ela mesmo amores desfeitos, viradas de mesa e a independência feminina - bem diferente, por exemplo, de As Marcianas, sucesso nos anos 1980 e 1990, que cantavam “só junto de você a minha vida faz sentido”.

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Ana Castela, a Boiadeira, se vestiu de cor-de-rosa e botou o chapéu na cabeça. “Eu começando odonto e você na vet’/A sua camisa jeans na minha caminhonete”, diz a letra de Nosso Quadro. No passado, Sula Miranda, que ganhou o título de Rainha dos Caminhoneiros, também vestida de cor-de-rosa, parecia bem mais submissa ao cantar “Na alegria da sua chegada/Eu sou mais uma estrada pra ele trafegar”, em uma letra escrita por um homem.

“Mesmo que muitos não vivam propriamente nesse universo, a boiadeira se tornou uma estética, não somente de mulheres, mas de jovens de maneira geral, sobretudo pelo fato de Ana Castela ter misturado sertanejo com funk”, avalia Azevedo.

Marília, que morreu em 2021, aos 26 anos, e Ana, 20 anos, abriram a porta para que outras mulheres alcançassem o topo das listas de músicas mais ouvidas em diferentes gêneros musicais. Nessa janela, vieram nomes como Maiara & Maraísa, Simone & Simaria (atualmente, separadas), Anitta, Marvila, Ludmilla, Drika, Lauana Prado, Gabby Moura, Julia Costa, Ebony, entre outras.

Geração Z também resgata músicas

Diante da hegemonia do sertanejo, do funk e do trap no País, a chamada MPB virou um nicho dentro da música brasileira. No entanto, os shows de medalhões como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Djavan - e de Gal Costa em seus últimos anos de carreira -, atraem um público bastante jovem. E esses e outros artistas estão cada vez mais presentes em festivais de música

Azevedo diz que a geração Z busca pela chamada música de catálogo, embora com uma intensidade menor. O público dessa faixa, todavia, se interessa por nomes como AnaVitoria e Marina Sena, que fazem uma MPB com uma cara mais pop.

Essa música de catálogo também volta vez ou outra, ainda pelas mãos da antena geração Z. Um exemplo recente é o rock Escrito nas Estrelas, música com a qual a cantora Tetê Espíndola venceu o Festival dos Festivais, em 1985.

Cantada pela ex-jogadora de vôlei Márcia Fu no reality show A Fazenda, da TV Record, em dezembro de 2023, a música viralizou nas redes sociais. Geração Z, Tetê Espíndola. Tetê Espíndola, Geração Z. Devidamente apresentadas.

Quem se deu bem foi Lauana Prado que, pouco antes, havia regravado a canção em um medley do seu álbum Raiz Goiânia. Pouco depois, a gravação ficou em terceiro lugar no Top 50 Brasil e na quinta posição no Viral 50 do Spotify.

“Essa foi a nossa música mais ouvida no dia 31 de dezembro. Ou seja, em pleno réveillon as pessoas estavam escutando Escrito nas Estrelas”, diz Azevedo.

No final de 2022, ocorreu algo parecido com uma releitura da música Olha a Onda, do grupo de pagode baiano Tchakabum, sucesso no ano de 2001. A faixa de Tubarão Te Amo, de DJ LK da Escócia com MC Ryan SP, MC Daniel, MC Jhenny e MC RF. LK, tomou conta do TikTok e alcançou as primeiras posições nas paradas virais do Spotify nos Estados Unidos.

As artistas brasileiras mais escutadas no Brasil em 2023

  1. Ana Castela
  2. Marília Mendonça
  3. Mari Fernandez
  4. Luísa Sonza
  5. Maiara & Maraísa
  6. Anitta
  7. Ludmilla
  8. Lauana Prado
  9. Gabriela Rocha
  10. Anavitória

Artistas brasileiras mais escutadas no exterior em 2023

  1. Anitta
  2. Ludmilla
  3. Ana Castela
  4. Marília Mendonça
  5. Luísa Sonza
  6. Astrud Gilberto
  7. Ivete Sangalo
  8. Maria Fernandez
  9. Maiara & Maraísa
  10. Elis Regina
As cantoras Ana Castela, Marília Mendonça e Simone Mendes Foto: Stephanie Rodrigues/TV Globo; Reprodução Instagram @mariliamendonça; Reprodução Instagram @simoneme

De acordo com uma lista divulgada pelo Spotify, as três músicas mais escutadas em 2023 no Brasil são cantadas por mulheres: Nosso Quadro, por Ana Castela; Leão, por Marília Mendonça, e Erro Gostoso - Ao Vivo, por Simone Mendes.

Há, no entanto, algo mais interessante sobre essa informação aparentemente banal em um País que sempre foi conhecido como ‘o das cantoras’: os dados da plataforma revelam que é a geração Z – os jovens entre 18 e 24 anos - que impulsiona os players em artistas femininas.

Além de Ana, Marília e Simone, nos últimos quatro anos (2020 -2023), essa geração também escutou nomes como Anitta, Ludmilla, Mari Fernandez e Luísa Sonza - as quatro últimas reinaram nas listas das mais ouvidas (veja os dados completos mais abaixo).

O comportamento observado entre os ouvintes nacionais reflete o que ocorre em outros países. O consumo de faixas cantadas por mulheres cresceu 231% nos últimos cinco anos (2019-2023). Entre as músicas mais ouvidas no exterior, ainda de acordo com o Spotify, Flowers, por Miley Cyrus; Kill Bill, por SZA., e Cruel Summer, por Taylor Swift, ocupam respectivamente as três primeiras posições.

Para Rodrigo Azevedo, editor de música no Spotify Brasil, a geração Z, conhecida por seu engajamento digital e social e pela mentalidade mais inclusiva, reconhece que a prevalência masculina na indústria da música é algo que precisa ser reparado. E, mais que isso, se sente representada por essas cantoras.

“Nos últimos anos, artistas mulheres entraram em gêneros predominantemente masculinos, como o trap, o rap e o sertanejo. Elas estão falando sobre amor, relacionamento, curtição e sexo. É uma perspectiva feminina sobre o que essa geração vive”, diz Azevedo.

Essa mensagem atinge, sobretudo, as mulheres. Entre o público que está em busca dessas cantoras, 60% são mulheres.

Para exemplificar o que acontece, Azevedo recorre a uma cantora que se destacou nos últimos anos, a rapper fluminense Ebony. Na faixa Espero Que Entendam, entre críticas ao machismo dentro do gênero, ela diz: “A sua irmã me ama, a sua mina me escuta”. Os dados mostram que Ebony tem razão.

O Spotify acompanha e incentiva esse movimento de forma editorial. Ou seja, oferece as faixas cantadas por mulheres em playlists. Dá resultado. Segundo Azevedo, desde que esse monitoramento começou a ser feito, em 2020, o dobro de mulheres apareceu na playlist Brasil, a principal da plataforma no País.

Outras listas de músicas são focadas integralmente em artistas femininas. Além disso, o programa Equal, programa global para promover a equidade para as mulheres na música em nível regional e internacional, destaca mês a mês uma cantora. Já receberam apoio da plataforma - ou foram escolhidas como ‘embaixadoras’, como a plataforma chama - nomes como Gal Costa, Alcione, Pitty, Majur, Lauana Prado e Carol Biazin.

Marília Mendonça e Ana Castela: dois símbolos desse movimento

O grande desafio da geração Z, no que se refere à música, é não ser levada pelo o que naturalmente está nas paradas musicais, ou nos charts, como elas são chamadas atualmente no mundo digital.

Rodrigo Azevedo, do Spotify Brasil, admite que, de fato, os jovens também são propensos a se voltarem ao que já está sendo tocado. Um movimento natural; afinal, são essas músicas que estão presentes em aplicativos, festas e baladas pelo Brasil afora.

No entanto, foi justamente essa geração que ajudou a chancelar cantoras como Marília Mendonça e Ana Castela, duas novidades que surgiram dentro do sertanejo nos últimos anos. Antes delas, outras mulheres já haviam se aventurado pelo gênero, mas foram elas que conseguiram se comunicar de maneira mais efetiva com essa juventude.

Marília traduziu em músicas escritas por ela mesmo amores desfeitos, viradas de mesa e a independência feminina - bem diferente, por exemplo, de As Marcianas, sucesso nos anos 1980 e 1990, que cantavam “só junto de você a minha vida faz sentido”.

Ana Castela, a Boiadeira, se vestiu de cor-de-rosa e botou o chapéu na cabeça. “Eu começando odonto e você na vet’/A sua camisa jeans na minha caminhonete”, diz a letra de Nosso Quadro. No passado, Sula Miranda, que ganhou o título de Rainha dos Caminhoneiros, também vestida de cor-de-rosa, parecia bem mais submissa ao cantar “Na alegria da sua chegada/Eu sou mais uma estrada pra ele trafegar”, em uma letra escrita por um homem.

“Mesmo que muitos não vivam propriamente nesse universo, a boiadeira se tornou uma estética, não somente de mulheres, mas de jovens de maneira geral, sobretudo pelo fato de Ana Castela ter misturado sertanejo com funk”, avalia Azevedo.

Marília, que morreu em 2021, aos 26 anos, e Ana, 20 anos, abriram a porta para que outras mulheres alcançassem o topo das listas de músicas mais ouvidas em diferentes gêneros musicais. Nessa janela, vieram nomes como Maiara & Maraísa, Simone & Simaria (atualmente, separadas), Anitta, Marvila, Ludmilla, Drika, Lauana Prado, Gabby Moura, Julia Costa, Ebony, entre outras.

Geração Z também resgata músicas

Diante da hegemonia do sertanejo, do funk e do trap no País, a chamada MPB virou um nicho dentro da música brasileira. No entanto, os shows de medalhões como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Djavan - e de Gal Costa em seus últimos anos de carreira -, atraem um público bastante jovem. E esses e outros artistas estão cada vez mais presentes em festivais de música

Azevedo diz que a geração Z busca pela chamada música de catálogo, embora com uma intensidade menor. O público dessa faixa, todavia, se interessa por nomes como AnaVitoria e Marina Sena, que fazem uma MPB com uma cara mais pop.

Essa música de catálogo também volta vez ou outra, ainda pelas mãos da antena geração Z. Um exemplo recente é o rock Escrito nas Estrelas, música com a qual a cantora Tetê Espíndola venceu o Festival dos Festivais, em 1985.

Cantada pela ex-jogadora de vôlei Márcia Fu no reality show A Fazenda, da TV Record, em dezembro de 2023, a música viralizou nas redes sociais. Geração Z, Tetê Espíndola. Tetê Espíndola, Geração Z. Devidamente apresentadas.

Quem se deu bem foi Lauana Prado que, pouco antes, havia regravado a canção em um medley do seu álbum Raiz Goiânia. Pouco depois, a gravação ficou em terceiro lugar no Top 50 Brasil e na quinta posição no Viral 50 do Spotify.

“Essa foi a nossa música mais ouvida no dia 31 de dezembro. Ou seja, em pleno réveillon as pessoas estavam escutando Escrito nas Estrelas”, diz Azevedo.

No final de 2022, ocorreu algo parecido com uma releitura da música Olha a Onda, do grupo de pagode baiano Tchakabum, sucesso no ano de 2001. A faixa de Tubarão Te Amo, de DJ LK da Escócia com MC Ryan SP, MC Daniel, MC Jhenny e MC RF. LK, tomou conta do TikTok e alcançou as primeiras posições nas paradas virais do Spotify nos Estados Unidos.

As artistas brasileiras mais escutadas no Brasil em 2023

  1. Ana Castela
  2. Marília Mendonça
  3. Mari Fernandez
  4. Luísa Sonza
  5. Maiara & Maraísa
  6. Anitta
  7. Ludmilla
  8. Lauana Prado
  9. Gabriela Rocha
  10. Anavitória

Artistas brasileiras mais escutadas no exterior em 2023

  1. Anitta
  2. Ludmilla
  3. Ana Castela
  4. Marília Mendonça
  5. Luísa Sonza
  6. Astrud Gilberto
  7. Ivete Sangalo
  8. Maria Fernandez
  9. Maiara & Maraísa
  10. Elis Regina
As cantoras Ana Castela, Marília Mendonça e Simone Mendes Foto: Stephanie Rodrigues/TV Globo; Reprodução Instagram @mariliamendonça; Reprodução Instagram @simoneme

De acordo com uma lista divulgada pelo Spotify, as três músicas mais escutadas em 2023 no Brasil são cantadas por mulheres: Nosso Quadro, por Ana Castela; Leão, por Marília Mendonça, e Erro Gostoso - Ao Vivo, por Simone Mendes.

Há, no entanto, algo mais interessante sobre essa informação aparentemente banal em um País que sempre foi conhecido como ‘o das cantoras’: os dados da plataforma revelam que é a geração Z – os jovens entre 18 e 24 anos - que impulsiona os players em artistas femininas.

Além de Ana, Marília e Simone, nos últimos quatro anos (2020 -2023), essa geração também escutou nomes como Anitta, Ludmilla, Mari Fernandez e Luísa Sonza - as quatro últimas reinaram nas listas das mais ouvidas (veja os dados completos mais abaixo).

O comportamento observado entre os ouvintes nacionais reflete o que ocorre em outros países. O consumo de faixas cantadas por mulheres cresceu 231% nos últimos cinco anos (2019-2023). Entre as músicas mais ouvidas no exterior, ainda de acordo com o Spotify, Flowers, por Miley Cyrus; Kill Bill, por SZA., e Cruel Summer, por Taylor Swift, ocupam respectivamente as três primeiras posições.

Para Rodrigo Azevedo, editor de música no Spotify Brasil, a geração Z, conhecida por seu engajamento digital e social e pela mentalidade mais inclusiva, reconhece que a prevalência masculina na indústria da música é algo que precisa ser reparado. E, mais que isso, se sente representada por essas cantoras.

“Nos últimos anos, artistas mulheres entraram em gêneros predominantemente masculinos, como o trap, o rap e o sertanejo. Elas estão falando sobre amor, relacionamento, curtição e sexo. É uma perspectiva feminina sobre o que essa geração vive”, diz Azevedo.

Essa mensagem atinge, sobretudo, as mulheres. Entre o público que está em busca dessas cantoras, 60% são mulheres.

Para exemplificar o que acontece, Azevedo recorre a uma cantora que se destacou nos últimos anos, a rapper fluminense Ebony. Na faixa Espero Que Entendam, entre críticas ao machismo dentro do gênero, ela diz: “A sua irmã me ama, a sua mina me escuta”. Os dados mostram que Ebony tem razão.

O Spotify acompanha e incentiva esse movimento de forma editorial. Ou seja, oferece as faixas cantadas por mulheres em playlists. Dá resultado. Segundo Azevedo, desde que esse monitoramento começou a ser feito, em 2020, o dobro de mulheres apareceu na playlist Brasil, a principal da plataforma no País.

Outras listas de músicas são focadas integralmente em artistas femininas. Além disso, o programa Equal, programa global para promover a equidade para as mulheres na música em nível regional e internacional, destaca mês a mês uma cantora. Já receberam apoio da plataforma - ou foram escolhidas como ‘embaixadoras’, como a plataforma chama - nomes como Gal Costa, Alcione, Pitty, Majur, Lauana Prado e Carol Biazin.

Marília Mendonça e Ana Castela: dois símbolos desse movimento

O grande desafio da geração Z, no que se refere à música, é não ser levada pelo o que naturalmente está nas paradas musicais, ou nos charts, como elas são chamadas atualmente no mundo digital.

Rodrigo Azevedo, do Spotify Brasil, admite que, de fato, os jovens também são propensos a se voltarem ao que já está sendo tocado. Um movimento natural; afinal, são essas músicas que estão presentes em aplicativos, festas e baladas pelo Brasil afora.

No entanto, foi justamente essa geração que ajudou a chancelar cantoras como Marília Mendonça e Ana Castela, duas novidades que surgiram dentro do sertanejo nos últimos anos. Antes delas, outras mulheres já haviam se aventurado pelo gênero, mas foram elas que conseguiram se comunicar de maneira mais efetiva com essa juventude.

Marília traduziu em músicas escritas por ela mesmo amores desfeitos, viradas de mesa e a independência feminina - bem diferente, por exemplo, de As Marcianas, sucesso nos anos 1980 e 1990, que cantavam “só junto de você a minha vida faz sentido”.

Ana Castela, a Boiadeira, se vestiu de cor-de-rosa e botou o chapéu na cabeça. “Eu começando odonto e você na vet’/A sua camisa jeans na minha caminhonete”, diz a letra de Nosso Quadro. No passado, Sula Miranda, que ganhou o título de Rainha dos Caminhoneiros, também vestida de cor-de-rosa, parecia bem mais submissa ao cantar “Na alegria da sua chegada/Eu sou mais uma estrada pra ele trafegar”, em uma letra escrita por um homem.

“Mesmo que muitos não vivam propriamente nesse universo, a boiadeira se tornou uma estética, não somente de mulheres, mas de jovens de maneira geral, sobretudo pelo fato de Ana Castela ter misturado sertanejo com funk”, avalia Azevedo.

Marília, que morreu em 2021, aos 26 anos, e Ana, 20 anos, abriram a porta para que outras mulheres alcançassem o topo das listas de músicas mais ouvidas em diferentes gêneros musicais. Nessa janela, vieram nomes como Maiara & Maraísa, Simone & Simaria (atualmente, separadas), Anitta, Marvila, Ludmilla, Drika, Lauana Prado, Gabby Moura, Julia Costa, Ebony, entre outras.

Geração Z também resgata músicas

Diante da hegemonia do sertanejo, do funk e do trap no País, a chamada MPB virou um nicho dentro da música brasileira. No entanto, os shows de medalhões como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Djavan - e de Gal Costa em seus últimos anos de carreira -, atraem um público bastante jovem. E esses e outros artistas estão cada vez mais presentes em festivais de música

Azevedo diz que a geração Z busca pela chamada música de catálogo, embora com uma intensidade menor. O público dessa faixa, todavia, se interessa por nomes como AnaVitoria e Marina Sena, que fazem uma MPB com uma cara mais pop.

Essa música de catálogo também volta vez ou outra, ainda pelas mãos da antena geração Z. Um exemplo recente é o rock Escrito nas Estrelas, música com a qual a cantora Tetê Espíndola venceu o Festival dos Festivais, em 1985.

Cantada pela ex-jogadora de vôlei Márcia Fu no reality show A Fazenda, da TV Record, em dezembro de 2023, a música viralizou nas redes sociais. Geração Z, Tetê Espíndola. Tetê Espíndola, Geração Z. Devidamente apresentadas.

Quem se deu bem foi Lauana Prado que, pouco antes, havia regravado a canção em um medley do seu álbum Raiz Goiânia. Pouco depois, a gravação ficou em terceiro lugar no Top 50 Brasil e na quinta posição no Viral 50 do Spotify.

“Essa foi a nossa música mais ouvida no dia 31 de dezembro. Ou seja, em pleno réveillon as pessoas estavam escutando Escrito nas Estrelas”, diz Azevedo.

No final de 2022, ocorreu algo parecido com uma releitura da música Olha a Onda, do grupo de pagode baiano Tchakabum, sucesso no ano de 2001. A faixa de Tubarão Te Amo, de DJ LK da Escócia com MC Ryan SP, MC Daniel, MC Jhenny e MC RF. LK, tomou conta do TikTok e alcançou as primeiras posições nas paradas virais do Spotify nos Estados Unidos.

As artistas brasileiras mais escutadas no Brasil em 2023

  1. Ana Castela
  2. Marília Mendonça
  3. Mari Fernandez
  4. Luísa Sonza
  5. Maiara & Maraísa
  6. Anitta
  7. Ludmilla
  8. Lauana Prado
  9. Gabriela Rocha
  10. Anavitória

Artistas brasileiras mais escutadas no exterior em 2023

  1. Anitta
  2. Ludmilla
  3. Ana Castela
  4. Marília Mendonça
  5. Luísa Sonza
  6. Astrud Gilberto
  7. Ivete Sangalo
  8. Maria Fernandez
  9. Maiara & Maraísa
  10. Elis Regina
As cantoras Ana Castela, Marília Mendonça e Simone Mendes Foto: Stephanie Rodrigues/TV Globo; Reprodução Instagram @mariliamendonça; Reprodução Instagram @simoneme

De acordo com uma lista divulgada pelo Spotify, as três músicas mais escutadas em 2023 no Brasil são cantadas por mulheres: Nosso Quadro, por Ana Castela; Leão, por Marília Mendonça, e Erro Gostoso - Ao Vivo, por Simone Mendes.

Há, no entanto, algo mais interessante sobre essa informação aparentemente banal em um País que sempre foi conhecido como ‘o das cantoras’: os dados da plataforma revelam que é a geração Z – os jovens entre 18 e 24 anos - que impulsiona os players em artistas femininas.

Além de Ana, Marília e Simone, nos últimos quatro anos (2020 -2023), essa geração também escutou nomes como Anitta, Ludmilla, Mari Fernandez e Luísa Sonza - as quatro últimas reinaram nas listas das mais ouvidas (veja os dados completos mais abaixo).

O comportamento observado entre os ouvintes nacionais reflete o que ocorre em outros países. O consumo de faixas cantadas por mulheres cresceu 231% nos últimos cinco anos (2019-2023). Entre as músicas mais ouvidas no exterior, ainda de acordo com o Spotify, Flowers, por Miley Cyrus; Kill Bill, por SZA., e Cruel Summer, por Taylor Swift, ocupam respectivamente as três primeiras posições.

Para Rodrigo Azevedo, editor de música no Spotify Brasil, a geração Z, conhecida por seu engajamento digital e social e pela mentalidade mais inclusiva, reconhece que a prevalência masculina na indústria da música é algo que precisa ser reparado. E, mais que isso, se sente representada por essas cantoras.

“Nos últimos anos, artistas mulheres entraram em gêneros predominantemente masculinos, como o trap, o rap e o sertanejo. Elas estão falando sobre amor, relacionamento, curtição e sexo. É uma perspectiva feminina sobre o que essa geração vive”, diz Azevedo.

Essa mensagem atinge, sobretudo, as mulheres. Entre o público que está em busca dessas cantoras, 60% são mulheres.

Para exemplificar o que acontece, Azevedo recorre a uma cantora que se destacou nos últimos anos, a rapper fluminense Ebony. Na faixa Espero Que Entendam, entre críticas ao machismo dentro do gênero, ela diz: “A sua irmã me ama, a sua mina me escuta”. Os dados mostram que Ebony tem razão.

O Spotify acompanha e incentiva esse movimento de forma editorial. Ou seja, oferece as faixas cantadas por mulheres em playlists. Dá resultado. Segundo Azevedo, desde que esse monitoramento começou a ser feito, em 2020, o dobro de mulheres apareceu na playlist Brasil, a principal da plataforma no País.

Outras listas de músicas são focadas integralmente em artistas femininas. Além disso, o programa Equal, programa global para promover a equidade para as mulheres na música em nível regional e internacional, destaca mês a mês uma cantora. Já receberam apoio da plataforma - ou foram escolhidas como ‘embaixadoras’, como a plataforma chama - nomes como Gal Costa, Alcione, Pitty, Majur, Lauana Prado e Carol Biazin.

Marília Mendonça e Ana Castela: dois símbolos desse movimento

O grande desafio da geração Z, no que se refere à música, é não ser levada pelo o que naturalmente está nas paradas musicais, ou nos charts, como elas são chamadas atualmente no mundo digital.

Rodrigo Azevedo, do Spotify Brasil, admite que, de fato, os jovens também são propensos a se voltarem ao que já está sendo tocado. Um movimento natural; afinal, são essas músicas que estão presentes em aplicativos, festas e baladas pelo Brasil afora.

No entanto, foi justamente essa geração que ajudou a chancelar cantoras como Marília Mendonça e Ana Castela, duas novidades que surgiram dentro do sertanejo nos últimos anos. Antes delas, outras mulheres já haviam se aventurado pelo gênero, mas foram elas que conseguiram se comunicar de maneira mais efetiva com essa juventude.

Marília traduziu em músicas escritas por ela mesmo amores desfeitos, viradas de mesa e a independência feminina - bem diferente, por exemplo, de As Marcianas, sucesso nos anos 1980 e 1990, que cantavam “só junto de você a minha vida faz sentido”.

Ana Castela, a Boiadeira, se vestiu de cor-de-rosa e botou o chapéu na cabeça. “Eu começando odonto e você na vet’/A sua camisa jeans na minha caminhonete”, diz a letra de Nosso Quadro. No passado, Sula Miranda, que ganhou o título de Rainha dos Caminhoneiros, também vestida de cor-de-rosa, parecia bem mais submissa ao cantar “Na alegria da sua chegada/Eu sou mais uma estrada pra ele trafegar”, em uma letra escrita por um homem.

“Mesmo que muitos não vivam propriamente nesse universo, a boiadeira se tornou uma estética, não somente de mulheres, mas de jovens de maneira geral, sobretudo pelo fato de Ana Castela ter misturado sertanejo com funk”, avalia Azevedo.

Marília, que morreu em 2021, aos 26 anos, e Ana, 20 anos, abriram a porta para que outras mulheres alcançassem o topo das listas de músicas mais ouvidas em diferentes gêneros musicais. Nessa janela, vieram nomes como Maiara & Maraísa, Simone & Simaria (atualmente, separadas), Anitta, Marvila, Ludmilla, Drika, Lauana Prado, Gabby Moura, Julia Costa, Ebony, entre outras.

Geração Z também resgata músicas

Diante da hegemonia do sertanejo, do funk e do trap no País, a chamada MPB virou um nicho dentro da música brasileira. No entanto, os shows de medalhões como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Djavan - e de Gal Costa em seus últimos anos de carreira -, atraem um público bastante jovem. E esses e outros artistas estão cada vez mais presentes em festivais de música

Azevedo diz que a geração Z busca pela chamada música de catálogo, embora com uma intensidade menor. O público dessa faixa, todavia, se interessa por nomes como AnaVitoria e Marina Sena, que fazem uma MPB com uma cara mais pop.

Essa música de catálogo também volta vez ou outra, ainda pelas mãos da antena geração Z. Um exemplo recente é o rock Escrito nas Estrelas, música com a qual a cantora Tetê Espíndola venceu o Festival dos Festivais, em 1985.

Cantada pela ex-jogadora de vôlei Márcia Fu no reality show A Fazenda, da TV Record, em dezembro de 2023, a música viralizou nas redes sociais. Geração Z, Tetê Espíndola. Tetê Espíndola, Geração Z. Devidamente apresentadas.

Quem se deu bem foi Lauana Prado que, pouco antes, havia regravado a canção em um medley do seu álbum Raiz Goiânia. Pouco depois, a gravação ficou em terceiro lugar no Top 50 Brasil e na quinta posição no Viral 50 do Spotify.

“Essa foi a nossa música mais ouvida no dia 31 de dezembro. Ou seja, em pleno réveillon as pessoas estavam escutando Escrito nas Estrelas”, diz Azevedo.

No final de 2022, ocorreu algo parecido com uma releitura da música Olha a Onda, do grupo de pagode baiano Tchakabum, sucesso no ano de 2001. A faixa de Tubarão Te Amo, de DJ LK da Escócia com MC Ryan SP, MC Daniel, MC Jhenny e MC RF. LK, tomou conta do TikTok e alcançou as primeiras posições nas paradas virais do Spotify nos Estados Unidos.

As artistas brasileiras mais escutadas no Brasil em 2023

  1. Ana Castela
  2. Marília Mendonça
  3. Mari Fernandez
  4. Luísa Sonza
  5. Maiara & Maraísa
  6. Anitta
  7. Ludmilla
  8. Lauana Prado
  9. Gabriela Rocha
  10. Anavitória

Artistas brasileiras mais escutadas no exterior em 2023

  1. Anitta
  2. Ludmilla
  3. Ana Castela
  4. Marília Mendonça
  5. Luísa Sonza
  6. Astrud Gilberto
  7. Ivete Sangalo
  8. Maria Fernandez
  9. Maiara & Maraísa
  10. Elis Regina

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