Historiadores queriam ser a mosca vagando pelo quarto de Chuck Berry no momento em que o garoto pelo qual ninguém apostaria um cent, pela primeira vez, esticou a terceira corda com um dos dedos da mão esquerda enquanto seu indicador pressionou as duas primeiras no braço da guitarra Gibson. Um movimento tão simples, tão ingênuo e tão fundamental. Berry brincava com o tempo de seu riff de duas notas deslocando-o do forte para o fraco como um deus que sente ter acabado de abrir os céus decretando o velho passado e um futuro urgente com dois segundos de inspiração. Sem Chuck Berry haveria rock, mas jamais haveria o mesmo rock. Nenhum guitarrista foi absorvido com a mesma intensidade por outros guitarristas, conscientemente ou não. Keith Richards, Eric Clapton, George Harrison, Stevie Ray Vaughan, Jimi Hendrix, Jimmy Page, John Lennon, Johnny Winter. Suas frases curtas, duras, sem virtuosismo, não se tornaram uma das escolas de guitarra mas a linguagem da própria guitarra, independentemente de qualquer escola. Suas notas em repetição, insistentes nas tônicas, e sua introdução voraz de Roll Over Beethoven, que ele mesmo adaptaria para várias outras músicas sem nunca buscar recursos em distorções, disseram aos meninos do mundo que qualquer um deles, pobres, ricos, negros, brancos, talentosos ou desprezados, poderiam ser guitarristas. Era só fazerem o que ele fazia em dois segundos e o mundo jamais seria o mesmo.
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