Análise: Com disco ignorado no Grammy, Beyoncé está sendo punida por ser boa demais


Artista bateu recorde alcançando 32 gramofones no último domingo, 5, mas seu ‘Renaissance’ perdeu o prêmio de Melhor Álbum para Harry Styles

Por Helena Andrews-Dyer

THE WASHINGTON POST - Beyoncé está sendo esmagada sob o peso de sua excelência.

Não adianta fazer cara feia aqui. Porque, embora seja evidentemente difícil ver esse fato com clareza quando olhamos de lado para a superestrela sobre o topo da montanha de seus 32 prêmios Grammy que acabaram quebrando um recorde, é isso que ainda está acontecendo.

Que outra explicação poderia haver para o golpe que foi a 65ª premiação anual do Grammy? Onde a cantora de Renaissance fez história ao ganhar mais estátuas do que qualquer artista morto ou vivo - e então perdeu o cobiçado prêmio de álbum do ano para Harry Styles?

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Beyoncé e Harry Styles no Grammy: maior prêmio da noite foi para o ex-One Direction enquanto a cantora batia o recorde de artista mais premiada da história. Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Infelizmente, o absurdo de ser celebrada em um momento e desprezada no próximo é um território familiar para a cantora de 41 anos.

Na história do Grammy, apenas três mulheres negras ganharam o álbum do ano - Natalie Cole, Whitney Houston e Lauryn Hill. Beyoncé ainda não se juntou a elas.

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Foi em 1999 que Hill ganhou por sua obra-prima, The Miseducation of Lauryn Hill. O primeiro trabalho solo de Beyoncé, Dangerously in Love, foi lançado no ano seguinte. Desde então, ela apostou alto e foi indicada para álbum do ano quatro vezes - e perdeu todas. Isso é algo que não condiz com seu talento e impacto.

Um resumo.

Sua primeira derrota foi para Taylor Swift em 2010. Aquele álbum, I am... Sasha Fierce, recebeu críticas variadas, mas foi um vislumbre do tipo de artista conceitual que Beyoncé, a ex-líder de um conjunto feminino, estava se tornando. Nele, ela brincou com seu alter ego, Sasha, a rainha da confiança de collant, em sucessos da música dance como Diva e Single Ladies. A perda para Swift não foi um golpe duro, mas deixou um hematoma a ser estudado.

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Em seguida veio Beyoncé de 2013, que chegou sem aviso ou uma campanha de marketing tradicional da indústria da música. Nele, a cantora parecia estar se desfazendo da própria ideia de um intermediário artístico. Ela simplesmente foi em frente, descascando as camadas da armadura de princesa pop em favor do original, do aleatório, do confessional e do feminista.

Esta era a Beyoncé da mulher que pensava. Aquela que Michelle Obama queria ser. E ainda assim aquele álbum perdeu para Beck no 57º Grammy. Foi outra falha clara, mas não necessariamente uma injustiça (dependendo do seu nível de fanatismo). Foi apenas a sua segunda vez. Ela teria que oferecer mais. Grandes artistas sempre oferecem.

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Ah, mas Lemonade.

A obra-prima de Beyoncé foi lançada em 2016 e se anunciou imediatamente como seu melhor trabalho. Nele, ela mistura conflitos conjugais, o zydeco da Louisiana, um fantasma chamado Becky e muito mais em um gumbo sônico e visual que os fãs não perceberam que estavam desejando.

A Beyoncé pop deu lugar a uma Beyoncé incrível. Isso era arte em um nível que parecia vertiginoso e íntimo. Ela falou diretamente com as mulheres negras, todas as mulheres, todas as pessoas. A terceira vez tinha que ser a melhor, certo?

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Mas, claro, não foi.

“Sinto-me muito honrada e muito grata, mas a artista da minha vida é Beyoncé e este álbum para mim, o álbum Lemonade, foi tão monumental”, disse Adele enquanto segurava seu prêmio de álbum do ano no palco da 59ª premiação anual do Grammy. Ela continuou elogiando Beyoncé por revelar sua alma. “Todos nós, artistas aqui, adoramos você. Você é nossa luz.”

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De seu assento na plateia, Beyoncé murmurou as palavras “eu te amo” para Adele, que segurava o prêmio que nem ela achava que lhe pertencia.

Naquele momento, Beyoncé, que por anos foi reservada sobre sua vida pessoal mantendo-a fora da música, tinha lágrimas nos olhos. Quem não tinha?

A perda parecia pessoal. A música era pessoal. E a Recording Academy a rejeitou, recusou-se a reconhecer o gênio implacável de Lemonade fora dos limites do gênero urbano contemporâneo.

A mensagem parecia clara: Beyoncé era boa o suficiente, mas não a melhor. Ou, para os menos cínicos e talvez para a própria cantora, a lição foi mais esperançosa (mas de alguma forma mais exaustiva) - Beyoncé sempre seria ótima, então por que reclamar?

Capa do disco 'Renaissance'. Foto: Columbia Records Group

Mas, de sua parte, a cantora não internalizou o preconceito flagrante da indústria. Em uma rara entrevista para a Harper’s Bazaar em 2021, antes do lançamento de Renaissance, ela estava focada no futuro.

“Um dia decidi que queria ser como Sade e Prince. Queria que o foco fosse minha música, porque se minha arte não é forte o suficiente ou significativa o suficiente para manter as pessoas interessadas e inspiradas, então estou no meio errado. Minha música, meus filmes, minha arte, minha mensagem - isso deve ser suficiente”, disse Beyoncé.

O que nos leva à última afronta. Sem querer ofender Harry Styles, mas Renaissance, uma festa dançante de house music que celebrava culturas à margem, deveria ter sido incontestável. Deveria ter sido o suficiente. Sim, ela quebrou um recorde antigo. Mas, embora bem merecido, até mesmo esse enorme feito parecia uma gota em um balde para uma artista que sempre se supera.

“Estou tentando não ser muito emotiva. Estou tentando apenas aproveitar esta noite”, disse Beyoncé ao quebrar um recorde e receber seu 32º Grammy de melhor álbum de música dance/eletrônica.

Cerca de uma hora depois, ela perdeu o prêmio principal. Lá estava ela mais uma vez no meio da multidão batendo palmas junto com todos os outros. Você quase deseja que ela grite, saia furiosa. Mas Beyoncé nunca faria isso. Como ela recebe esta quarta derrota é uma incógnita. Não sei se ela chorou na limusine voltando para casa ou nem se importou enquanto festejava até altas horas. O que sabemos é que ela tem uma grande turnê mundial no horizonte e os fãs esperam o melhor.

E Beyoncé sempre traz o melhor. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

THE WASHINGTON POST - Beyoncé está sendo esmagada sob o peso de sua excelência.

Não adianta fazer cara feia aqui. Porque, embora seja evidentemente difícil ver esse fato com clareza quando olhamos de lado para a superestrela sobre o topo da montanha de seus 32 prêmios Grammy que acabaram quebrando um recorde, é isso que ainda está acontecendo.

Que outra explicação poderia haver para o golpe que foi a 65ª premiação anual do Grammy? Onde a cantora de Renaissance fez história ao ganhar mais estátuas do que qualquer artista morto ou vivo - e então perdeu o cobiçado prêmio de álbum do ano para Harry Styles?

Beyoncé e Harry Styles no Grammy: maior prêmio da noite foi para o ex-One Direction enquanto a cantora batia o recorde de artista mais premiada da história. Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Infelizmente, o absurdo de ser celebrada em um momento e desprezada no próximo é um território familiar para a cantora de 41 anos.

Na história do Grammy, apenas três mulheres negras ganharam o álbum do ano - Natalie Cole, Whitney Houston e Lauryn Hill. Beyoncé ainda não se juntou a elas.

Foi em 1999 que Hill ganhou por sua obra-prima, The Miseducation of Lauryn Hill. O primeiro trabalho solo de Beyoncé, Dangerously in Love, foi lançado no ano seguinte. Desde então, ela apostou alto e foi indicada para álbum do ano quatro vezes - e perdeu todas. Isso é algo que não condiz com seu talento e impacto.

Um resumo.

Sua primeira derrota foi para Taylor Swift em 2010. Aquele álbum, I am... Sasha Fierce, recebeu críticas variadas, mas foi um vislumbre do tipo de artista conceitual que Beyoncé, a ex-líder de um conjunto feminino, estava se tornando. Nele, ela brincou com seu alter ego, Sasha, a rainha da confiança de collant, em sucessos da música dance como Diva e Single Ladies. A perda para Swift não foi um golpe duro, mas deixou um hematoma a ser estudado.

Em seguida veio Beyoncé de 2013, que chegou sem aviso ou uma campanha de marketing tradicional da indústria da música. Nele, a cantora parecia estar se desfazendo da própria ideia de um intermediário artístico. Ela simplesmente foi em frente, descascando as camadas da armadura de princesa pop em favor do original, do aleatório, do confessional e do feminista.

Esta era a Beyoncé da mulher que pensava. Aquela que Michelle Obama queria ser. E ainda assim aquele álbum perdeu para Beck no 57º Grammy. Foi outra falha clara, mas não necessariamente uma injustiça (dependendo do seu nível de fanatismo). Foi apenas a sua segunda vez. Ela teria que oferecer mais. Grandes artistas sempre oferecem.

Ah, mas Lemonade.

A obra-prima de Beyoncé foi lançada em 2016 e se anunciou imediatamente como seu melhor trabalho. Nele, ela mistura conflitos conjugais, o zydeco da Louisiana, um fantasma chamado Becky e muito mais em um gumbo sônico e visual que os fãs não perceberam que estavam desejando.

A Beyoncé pop deu lugar a uma Beyoncé incrível. Isso era arte em um nível que parecia vertiginoso e íntimo. Ela falou diretamente com as mulheres negras, todas as mulheres, todas as pessoas. A terceira vez tinha que ser a melhor, certo?

Mas, claro, não foi.

“Sinto-me muito honrada e muito grata, mas a artista da minha vida é Beyoncé e este álbum para mim, o álbum Lemonade, foi tão monumental”, disse Adele enquanto segurava seu prêmio de álbum do ano no palco da 59ª premiação anual do Grammy. Ela continuou elogiando Beyoncé por revelar sua alma. “Todos nós, artistas aqui, adoramos você. Você é nossa luz.”

De seu assento na plateia, Beyoncé murmurou as palavras “eu te amo” para Adele, que segurava o prêmio que nem ela achava que lhe pertencia.

Naquele momento, Beyoncé, que por anos foi reservada sobre sua vida pessoal mantendo-a fora da música, tinha lágrimas nos olhos. Quem não tinha?

A perda parecia pessoal. A música era pessoal. E a Recording Academy a rejeitou, recusou-se a reconhecer o gênio implacável de Lemonade fora dos limites do gênero urbano contemporâneo.

A mensagem parecia clara: Beyoncé era boa o suficiente, mas não a melhor. Ou, para os menos cínicos e talvez para a própria cantora, a lição foi mais esperançosa (mas de alguma forma mais exaustiva) - Beyoncé sempre seria ótima, então por que reclamar?

Capa do disco 'Renaissance'. Foto: Columbia Records Group

Mas, de sua parte, a cantora não internalizou o preconceito flagrante da indústria. Em uma rara entrevista para a Harper’s Bazaar em 2021, antes do lançamento de Renaissance, ela estava focada no futuro.

“Um dia decidi que queria ser como Sade e Prince. Queria que o foco fosse minha música, porque se minha arte não é forte o suficiente ou significativa o suficiente para manter as pessoas interessadas e inspiradas, então estou no meio errado. Minha música, meus filmes, minha arte, minha mensagem - isso deve ser suficiente”, disse Beyoncé.

O que nos leva à última afronta. Sem querer ofender Harry Styles, mas Renaissance, uma festa dançante de house music que celebrava culturas à margem, deveria ter sido incontestável. Deveria ter sido o suficiente. Sim, ela quebrou um recorde antigo. Mas, embora bem merecido, até mesmo esse enorme feito parecia uma gota em um balde para uma artista que sempre se supera.

“Estou tentando não ser muito emotiva. Estou tentando apenas aproveitar esta noite”, disse Beyoncé ao quebrar um recorde e receber seu 32º Grammy de melhor álbum de música dance/eletrônica.

Cerca de uma hora depois, ela perdeu o prêmio principal. Lá estava ela mais uma vez no meio da multidão batendo palmas junto com todos os outros. Você quase deseja que ela grite, saia furiosa. Mas Beyoncé nunca faria isso. Como ela recebe esta quarta derrota é uma incógnita. Não sei se ela chorou na limusine voltando para casa ou nem se importou enquanto festejava até altas horas. O que sabemos é que ela tem uma grande turnê mundial no horizonte e os fãs esperam o melhor.

E Beyoncé sempre traz o melhor. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

THE WASHINGTON POST - Beyoncé está sendo esmagada sob o peso de sua excelência.

Não adianta fazer cara feia aqui. Porque, embora seja evidentemente difícil ver esse fato com clareza quando olhamos de lado para a superestrela sobre o topo da montanha de seus 32 prêmios Grammy que acabaram quebrando um recorde, é isso que ainda está acontecendo.

Que outra explicação poderia haver para o golpe que foi a 65ª premiação anual do Grammy? Onde a cantora de Renaissance fez história ao ganhar mais estátuas do que qualquer artista morto ou vivo - e então perdeu o cobiçado prêmio de álbum do ano para Harry Styles?

Beyoncé e Harry Styles no Grammy: maior prêmio da noite foi para o ex-One Direction enquanto a cantora batia o recorde de artista mais premiada da história. Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Infelizmente, o absurdo de ser celebrada em um momento e desprezada no próximo é um território familiar para a cantora de 41 anos.

Na história do Grammy, apenas três mulheres negras ganharam o álbum do ano - Natalie Cole, Whitney Houston e Lauryn Hill. Beyoncé ainda não se juntou a elas.

Foi em 1999 que Hill ganhou por sua obra-prima, The Miseducation of Lauryn Hill. O primeiro trabalho solo de Beyoncé, Dangerously in Love, foi lançado no ano seguinte. Desde então, ela apostou alto e foi indicada para álbum do ano quatro vezes - e perdeu todas. Isso é algo que não condiz com seu talento e impacto.

Um resumo.

Sua primeira derrota foi para Taylor Swift em 2010. Aquele álbum, I am... Sasha Fierce, recebeu críticas variadas, mas foi um vislumbre do tipo de artista conceitual que Beyoncé, a ex-líder de um conjunto feminino, estava se tornando. Nele, ela brincou com seu alter ego, Sasha, a rainha da confiança de collant, em sucessos da música dance como Diva e Single Ladies. A perda para Swift não foi um golpe duro, mas deixou um hematoma a ser estudado.

Em seguida veio Beyoncé de 2013, que chegou sem aviso ou uma campanha de marketing tradicional da indústria da música. Nele, a cantora parecia estar se desfazendo da própria ideia de um intermediário artístico. Ela simplesmente foi em frente, descascando as camadas da armadura de princesa pop em favor do original, do aleatório, do confessional e do feminista.

Esta era a Beyoncé da mulher que pensava. Aquela que Michelle Obama queria ser. E ainda assim aquele álbum perdeu para Beck no 57º Grammy. Foi outra falha clara, mas não necessariamente uma injustiça (dependendo do seu nível de fanatismo). Foi apenas a sua segunda vez. Ela teria que oferecer mais. Grandes artistas sempre oferecem.

Ah, mas Lemonade.

A obra-prima de Beyoncé foi lançada em 2016 e se anunciou imediatamente como seu melhor trabalho. Nele, ela mistura conflitos conjugais, o zydeco da Louisiana, um fantasma chamado Becky e muito mais em um gumbo sônico e visual que os fãs não perceberam que estavam desejando.

A Beyoncé pop deu lugar a uma Beyoncé incrível. Isso era arte em um nível que parecia vertiginoso e íntimo. Ela falou diretamente com as mulheres negras, todas as mulheres, todas as pessoas. A terceira vez tinha que ser a melhor, certo?

Mas, claro, não foi.

“Sinto-me muito honrada e muito grata, mas a artista da minha vida é Beyoncé e este álbum para mim, o álbum Lemonade, foi tão monumental”, disse Adele enquanto segurava seu prêmio de álbum do ano no palco da 59ª premiação anual do Grammy. Ela continuou elogiando Beyoncé por revelar sua alma. “Todos nós, artistas aqui, adoramos você. Você é nossa luz.”

De seu assento na plateia, Beyoncé murmurou as palavras “eu te amo” para Adele, que segurava o prêmio que nem ela achava que lhe pertencia.

Naquele momento, Beyoncé, que por anos foi reservada sobre sua vida pessoal mantendo-a fora da música, tinha lágrimas nos olhos. Quem não tinha?

A perda parecia pessoal. A música era pessoal. E a Recording Academy a rejeitou, recusou-se a reconhecer o gênio implacável de Lemonade fora dos limites do gênero urbano contemporâneo.

A mensagem parecia clara: Beyoncé era boa o suficiente, mas não a melhor. Ou, para os menos cínicos e talvez para a própria cantora, a lição foi mais esperançosa (mas de alguma forma mais exaustiva) - Beyoncé sempre seria ótima, então por que reclamar?

Capa do disco 'Renaissance'. Foto: Columbia Records Group

Mas, de sua parte, a cantora não internalizou o preconceito flagrante da indústria. Em uma rara entrevista para a Harper’s Bazaar em 2021, antes do lançamento de Renaissance, ela estava focada no futuro.

“Um dia decidi que queria ser como Sade e Prince. Queria que o foco fosse minha música, porque se minha arte não é forte o suficiente ou significativa o suficiente para manter as pessoas interessadas e inspiradas, então estou no meio errado. Minha música, meus filmes, minha arte, minha mensagem - isso deve ser suficiente”, disse Beyoncé.

O que nos leva à última afronta. Sem querer ofender Harry Styles, mas Renaissance, uma festa dançante de house music que celebrava culturas à margem, deveria ter sido incontestável. Deveria ter sido o suficiente. Sim, ela quebrou um recorde antigo. Mas, embora bem merecido, até mesmo esse enorme feito parecia uma gota em um balde para uma artista que sempre se supera.

“Estou tentando não ser muito emotiva. Estou tentando apenas aproveitar esta noite”, disse Beyoncé ao quebrar um recorde e receber seu 32º Grammy de melhor álbum de música dance/eletrônica.

Cerca de uma hora depois, ela perdeu o prêmio principal. Lá estava ela mais uma vez no meio da multidão batendo palmas junto com todos os outros. Você quase deseja que ela grite, saia furiosa. Mas Beyoncé nunca faria isso. Como ela recebe esta quarta derrota é uma incógnita. Não sei se ela chorou na limusine voltando para casa ou nem se importou enquanto festejava até altas horas. O que sabemos é que ela tem uma grande turnê mundial no horizonte e os fãs esperam o melhor.

E Beyoncé sempre traz o melhor. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

THE WASHINGTON POST - Beyoncé está sendo esmagada sob o peso de sua excelência.

Não adianta fazer cara feia aqui. Porque, embora seja evidentemente difícil ver esse fato com clareza quando olhamos de lado para a superestrela sobre o topo da montanha de seus 32 prêmios Grammy que acabaram quebrando um recorde, é isso que ainda está acontecendo.

Que outra explicação poderia haver para o golpe que foi a 65ª premiação anual do Grammy? Onde a cantora de Renaissance fez história ao ganhar mais estátuas do que qualquer artista morto ou vivo - e então perdeu o cobiçado prêmio de álbum do ano para Harry Styles?

Beyoncé e Harry Styles no Grammy: maior prêmio da noite foi para o ex-One Direction enquanto a cantora batia o recorde de artista mais premiada da história. Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Infelizmente, o absurdo de ser celebrada em um momento e desprezada no próximo é um território familiar para a cantora de 41 anos.

Na história do Grammy, apenas três mulheres negras ganharam o álbum do ano - Natalie Cole, Whitney Houston e Lauryn Hill. Beyoncé ainda não se juntou a elas.

Foi em 1999 que Hill ganhou por sua obra-prima, The Miseducation of Lauryn Hill. O primeiro trabalho solo de Beyoncé, Dangerously in Love, foi lançado no ano seguinte. Desde então, ela apostou alto e foi indicada para álbum do ano quatro vezes - e perdeu todas. Isso é algo que não condiz com seu talento e impacto.

Um resumo.

Sua primeira derrota foi para Taylor Swift em 2010. Aquele álbum, I am... Sasha Fierce, recebeu críticas variadas, mas foi um vislumbre do tipo de artista conceitual que Beyoncé, a ex-líder de um conjunto feminino, estava se tornando. Nele, ela brincou com seu alter ego, Sasha, a rainha da confiança de collant, em sucessos da música dance como Diva e Single Ladies. A perda para Swift não foi um golpe duro, mas deixou um hematoma a ser estudado.

Em seguida veio Beyoncé de 2013, que chegou sem aviso ou uma campanha de marketing tradicional da indústria da música. Nele, a cantora parecia estar se desfazendo da própria ideia de um intermediário artístico. Ela simplesmente foi em frente, descascando as camadas da armadura de princesa pop em favor do original, do aleatório, do confessional e do feminista.

Esta era a Beyoncé da mulher que pensava. Aquela que Michelle Obama queria ser. E ainda assim aquele álbum perdeu para Beck no 57º Grammy. Foi outra falha clara, mas não necessariamente uma injustiça (dependendo do seu nível de fanatismo). Foi apenas a sua segunda vez. Ela teria que oferecer mais. Grandes artistas sempre oferecem.

Ah, mas Lemonade.

A obra-prima de Beyoncé foi lançada em 2016 e se anunciou imediatamente como seu melhor trabalho. Nele, ela mistura conflitos conjugais, o zydeco da Louisiana, um fantasma chamado Becky e muito mais em um gumbo sônico e visual que os fãs não perceberam que estavam desejando.

A Beyoncé pop deu lugar a uma Beyoncé incrível. Isso era arte em um nível que parecia vertiginoso e íntimo. Ela falou diretamente com as mulheres negras, todas as mulheres, todas as pessoas. A terceira vez tinha que ser a melhor, certo?

Mas, claro, não foi.

“Sinto-me muito honrada e muito grata, mas a artista da minha vida é Beyoncé e este álbum para mim, o álbum Lemonade, foi tão monumental”, disse Adele enquanto segurava seu prêmio de álbum do ano no palco da 59ª premiação anual do Grammy. Ela continuou elogiando Beyoncé por revelar sua alma. “Todos nós, artistas aqui, adoramos você. Você é nossa luz.”

De seu assento na plateia, Beyoncé murmurou as palavras “eu te amo” para Adele, que segurava o prêmio que nem ela achava que lhe pertencia.

Naquele momento, Beyoncé, que por anos foi reservada sobre sua vida pessoal mantendo-a fora da música, tinha lágrimas nos olhos. Quem não tinha?

A perda parecia pessoal. A música era pessoal. E a Recording Academy a rejeitou, recusou-se a reconhecer o gênio implacável de Lemonade fora dos limites do gênero urbano contemporâneo.

A mensagem parecia clara: Beyoncé era boa o suficiente, mas não a melhor. Ou, para os menos cínicos e talvez para a própria cantora, a lição foi mais esperançosa (mas de alguma forma mais exaustiva) - Beyoncé sempre seria ótima, então por que reclamar?

Capa do disco 'Renaissance'. Foto: Columbia Records Group

Mas, de sua parte, a cantora não internalizou o preconceito flagrante da indústria. Em uma rara entrevista para a Harper’s Bazaar em 2021, antes do lançamento de Renaissance, ela estava focada no futuro.

“Um dia decidi que queria ser como Sade e Prince. Queria que o foco fosse minha música, porque se minha arte não é forte o suficiente ou significativa o suficiente para manter as pessoas interessadas e inspiradas, então estou no meio errado. Minha música, meus filmes, minha arte, minha mensagem - isso deve ser suficiente”, disse Beyoncé.

O que nos leva à última afronta. Sem querer ofender Harry Styles, mas Renaissance, uma festa dançante de house music que celebrava culturas à margem, deveria ter sido incontestável. Deveria ter sido o suficiente. Sim, ela quebrou um recorde antigo. Mas, embora bem merecido, até mesmo esse enorme feito parecia uma gota em um balde para uma artista que sempre se supera.

“Estou tentando não ser muito emotiva. Estou tentando apenas aproveitar esta noite”, disse Beyoncé ao quebrar um recorde e receber seu 32º Grammy de melhor álbum de música dance/eletrônica.

Cerca de uma hora depois, ela perdeu o prêmio principal. Lá estava ela mais uma vez no meio da multidão batendo palmas junto com todos os outros. Você quase deseja que ela grite, saia furiosa. Mas Beyoncé nunca faria isso. Como ela recebe esta quarta derrota é uma incógnita. Não sei se ela chorou na limusine voltando para casa ou nem se importou enquanto festejava até altas horas. O que sabemos é que ela tem uma grande turnê mundial no horizonte e os fãs esperam o melhor.

E Beyoncé sempre traz o melhor. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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