Gustavo Dudamel surgiu no cenário internacional no início dos anos 2000. Com pouco mais de 20 anos, o maestro venezuelano ganhou concursos importantes e, em 2002, foi escolhido por Simon Rattle para ser seu assistente na Filarmônica de Berlim. E sua fama ajudou a chamar atenção do mundo musical para El Sistema, projeto que havia sido criado em 1975 e espalhado dezenas e dezenas de orquestras por toda a Venezuela.
O Sistema é símbolo da proposta de união entre aprendizado musical e inserção social. Não apenas porque oferece ao jovem o aprendizado de um instrumento, uma profissão. Mas principalmente porque entende a música como ferramenta de descoberta de si próprio – e do outro, condição fundamental para o conceito de cidadania.
Além disso, a metodologia de ensino parte do pressuposto de que aprende quem ensina. Um aluno que estuda violino há um mês já sabe mais do que aquele que nunca pegou no instrumento, e vai complementar seu aprendizado ensinando o que sabe a seus colegas.
De nome proeminente do Sistema, Dudamel logo transformou-se em talento consolidado, assumindo a Orquestra Filarmônica de Los Angeles e sendo cotado para os principais postos do mundo musical, como a direção da Filarmônica de Berlim. Críticos como Zachary Woolfe, do The New York Times, e Alex Ross, da New Yorker, não hesitam em referir-se à orquestra de Los Angeles como o mais importante projeto musical da atualidade nos EUA. Ao mesmo tempo em que se destaca nas leituras do repertório tradicional, tem enorme preocupação com a música nova.
Além disso, organiza festivais que exploram a atividade musical em contato com artes plásticas e dança, por exemplo. Também criou o projeto Power to the People, em que artistas de diversas áreas apresentam-se com a orquestra discutindo temas como os direitos civis, causas humanitárias ou a necessidade de desenvolvimento social. Outra iniciativa é a série The Weimar Republic, que aborda obras criadas na Alemanha no período que antecede a ascensão de Hitler.
Da mesma forma que a ideia do Sistema propõe uma relação com a música a partir do diálogo, dando novas dimensões simbólicas e concretas ao fazer musical, o trabalho de Dudamel e sua equipe à frente da filarmônica também parece ressaltar que a arte é um caminho para que se possa compreender e discutir o mundo à nossa volta e como nos inserimos nele. O maestro pode não ter descoberto a roda. Mas a tem ajudado a girar em um meio musical nem sempre pronto a enfrentar os desafios propostos pelo século 21.