Análise: Estádio do Morumbi deveria ser fechado para shows


Silêncio dos responsáveis e do poder público sobre o flerte com a tragédia nos shows do Coldplay acendem um sinal: em algumas horas, banda, chuva e multidão voltarão a compartilhar o mesmo espaço regidos apenas pela sorte

Por Julio Maria

Shows no Estádio do Morumbi se tornaram uma aposta na sorte ou na providência divina – o que significa também um flerte com a tragédia. Com relatos e cenas registradas pelos fãs do Coldplay nos últimos dias, revelando pontos de alagamento dentro do espaço, desmaios em aglomerações, suspeitas de venda de ingressos a mais do que a capacidade, fãs instalados em regiões improvisadas e confusão nas arquibancadas, o silêncio dos responsáveis e do poder público a dois dias da volta do Coldplay ao mesmo Morumbi, que faz seus últimos shows em São Paulo, sábado e domingo, começa a ficar desagradável.

Show de Coldplay no Estádio do Morumbi Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reportagem procurou na tarde desta quarta-feira a Live Nation, produtora responsável pelos shows, para saber se havia alguma posição nova além do “nada a declarar” já declarado em uma reportagem anterior. Mas a empresa segue em seu posicionamento. “Não vamos comentar sobre o assunto.” Sem ela e sem a palavra da administração do próprio Morumbi, que diz só ter alugado o espaço e, portanto, nada ter a ver com alagamentos em suas arquibancadas e outros perrengues (um aluguel que rendeu estimados R$ 6 milhões ao São Paulo e uma porcentagem do que se vendeu em bebidas e alimentos no estádio, coisas como uma gim tônica a estratosféricos R$ 50), a reportagem tentou saber se o Ministério Público de São Paulo se movimenta, já que o Coldplay, a chuva e a multidão deverão voltar a coexistir, com ou sem providência divina, em algumas horas. Até o fechamento desta matéria, não havia retorno.

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Menudo em 1985: 150 mil pessoas no Morumbi e uma quase tragédia Foto: CLAUDINE PETROLI / ESTADÃO

O Morumbi, um gigante de concreto rabiscado em 1952 e inaugurado em 1960, já era um barril de pólvora bem antes do Coldplay. Maior estádio particular de País, terceiro maior do Brasil, ele nasceu exclusivamente, até porque o mundo não tinha ainda nada mais que aglomerasse tantas pessoas em um mesmo lugar, para receber partidas de futebol. Mas, em 1983, quando os ginásios e praças começaram a ficaram pequenos para a música pop, o Kiss veio ao Brasil para colocar 125 mil pessoas no Morumbi, abrindo a porteira e a ganância de outros produtores. Dois anos depois, os Menudos fizeram mais: mesmo com chuvas torrenciais, aglutinaram 150 mil no segundo dos dois shows que fizeram na casa. Um público até hoje recorde, que por pouco não protagonizou uma tragédia. Ao final do show, os fãs invadiram a pista, avançaram sobre os porto-riquenhos e só não os estraçalharam porque um helicóptero pousou no palco para resgatá-los.

São Januário foi pior. Ao passarem pelo estádio do Vasco, no Rio, no mesmo ano – e é bom lembrar àqueles que vendem mais ingressos do que o que um espaço físico permite – os próprios Menudos ficaram chocados com a morte de uma menina e de uma mulher que acabaram pisoteadas pelos fãs. A capacidade do lugar era de 60 mil pessoas, mas 130 mil ingressos foram vendidos. Oitenta mil entraram e o resto ficou de fora. Além das mortes, 30 crianças se perderam e 40 ficaram feridas.

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Com o tempo e as mortes em shows e jogos de futebol, as normas de segurança internacionais foram reduzindo a capacidade de público do Morumbi. Hoje, um show do Menudo, com 150 mil fãs cantando Suba em Minha Moto; do Queen, com 100 mil entoando We are the Champions, como foi em 1981; ou de Madonna, que em 1993 foi vista por 88 mil pessoas no auge de Express Yourself, seria impossível. Pela lei, podem entrar ali, em dias de jogos, não mais do que 72.039.

Paul no Allianz Parque: estádio do Palmeiras elevou o padrão de shows em arenas no País Foto: EDUARDO NICOLAU / ESTADAO

De goleada

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A estreia do Allianz Parque como arena de espetáculos colocou o sarrafo dos shows em estádio nas alturas. Desde o primeiro deles, com Paul McCartney em 2014 sendo visto por 50 mil pessoas, ficou evidente sua discrepância em comparação com outros espaços. O Allianz não é perfeito, tem ainda que resolver o dilema dos decibéis fora do estádio para conter a fúria dos vizinhos da Pompeia ao mesmo tempo em que precisa garantir que as pessoas que se sentam nos anéis superiores possam receber o som com a mesma pressão da pista. Mas, por muitas razões, e por exclusão de concorrentes à altura, é o melhor espaço físico para um grande show na cidade. Acessibilidade, acústica, estrutura, informação, escoamento de público, serviço de bar e treinamento de pessoal, por ali, são muito melhores. É onde o Palmeiras vence o Corinthians por W.O., que não conseguiu viabilizar seu estádio para grandes shows, e goleia o São Paulo por 7 a 0.

Shows no Estádio do Morumbi se tornaram uma aposta na sorte ou na providência divina – o que significa também um flerte com a tragédia. Com relatos e cenas registradas pelos fãs do Coldplay nos últimos dias, revelando pontos de alagamento dentro do espaço, desmaios em aglomerações, suspeitas de venda de ingressos a mais do que a capacidade, fãs instalados em regiões improvisadas e confusão nas arquibancadas, o silêncio dos responsáveis e do poder público a dois dias da volta do Coldplay ao mesmo Morumbi, que faz seus últimos shows em São Paulo, sábado e domingo, começa a ficar desagradável.

Show de Coldplay no Estádio do Morumbi Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reportagem procurou na tarde desta quarta-feira a Live Nation, produtora responsável pelos shows, para saber se havia alguma posição nova além do “nada a declarar” já declarado em uma reportagem anterior. Mas a empresa segue em seu posicionamento. “Não vamos comentar sobre o assunto.” Sem ela e sem a palavra da administração do próprio Morumbi, que diz só ter alugado o espaço e, portanto, nada ter a ver com alagamentos em suas arquibancadas e outros perrengues (um aluguel que rendeu estimados R$ 6 milhões ao São Paulo e uma porcentagem do que se vendeu em bebidas e alimentos no estádio, coisas como uma gim tônica a estratosféricos R$ 50), a reportagem tentou saber se o Ministério Público de São Paulo se movimenta, já que o Coldplay, a chuva e a multidão deverão voltar a coexistir, com ou sem providência divina, em algumas horas. Até o fechamento desta matéria, não havia retorno.

Menudo em 1985: 150 mil pessoas no Morumbi e uma quase tragédia Foto: CLAUDINE PETROLI / ESTADÃO

O Morumbi, um gigante de concreto rabiscado em 1952 e inaugurado em 1960, já era um barril de pólvora bem antes do Coldplay. Maior estádio particular de País, terceiro maior do Brasil, ele nasceu exclusivamente, até porque o mundo não tinha ainda nada mais que aglomerasse tantas pessoas em um mesmo lugar, para receber partidas de futebol. Mas, em 1983, quando os ginásios e praças começaram a ficaram pequenos para a música pop, o Kiss veio ao Brasil para colocar 125 mil pessoas no Morumbi, abrindo a porteira e a ganância de outros produtores. Dois anos depois, os Menudos fizeram mais: mesmo com chuvas torrenciais, aglutinaram 150 mil no segundo dos dois shows que fizeram na casa. Um público até hoje recorde, que por pouco não protagonizou uma tragédia. Ao final do show, os fãs invadiram a pista, avançaram sobre os porto-riquenhos e só não os estraçalharam porque um helicóptero pousou no palco para resgatá-los.

São Januário foi pior. Ao passarem pelo estádio do Vasco, no Rio, no mesmo ano – e é bom lembrar àqueles que vendem mais ingressos do que o que um espaço físico permite – os próprios Menudos ficaram chocados com a morte de uma menina e de uma mulher que acabaram pisoteadas pelos fãs. A capacidade do lugar era de 60 mil pessoas, mas 130 mil ingressos foram vendidos. Oitenta mil entraram e o resto ficou de fora. Além das mortes, 30 crianças se perderam e 40 ficaram feridas.

Com o tempo e as mortes em shows e jogos de futebol, as normas de segurança internacionais foram reduzindo a capacidade de público do Morumbi. Hoje, um show do Menudo, com 150 mil fãs cantando Suba em Minha Moto; do Queen, com 100 mil entoando We are the Champions, como foi em 1981; ou de Madonna, que em 1993 foi vista por 88 mil pessoas no auge de Express Yourself, seria impossível. Pela lei, podem entrar ali, em dias de jogos, não mais do que 72.039.

Paul no Allianz Parque: estádio do Palmeiras elevou o padrão de shows em arenas no País Foto: EDUARDO NICOLAU / ESTADAO

De goleada

A estreia do Allianz Parque como arena de espetáculos colocou o sarrafo dos shows em estádio nas alturas. Desde o primeiro deles, com Paul McCartney em 2014 sendo visto por 50 mil pessoas, ficou evidente sua discrepância em comparação com outros espaços. O Allianz não é perfeito, tem ainda que resolver o dilema dos decibéis fora do estádio para conter a fúria dos vizinhos da Pompeia ao mesmo tempo em que precisa garantir que as pessoas que se sentam nos anéis superiores possam receber o som com a mesma pressão da pista. Mas, por muitas razões, e por exclusão de concorrentes à altura, é o melhor espaço físico para um grande show na cidade. Acessibilidade, acústica, estrutura, informação, escoamento de público, serviço de bar e treinamento de pessoal, por ali, são muito melhores. É onde o Palmeiras vence o Corinthians por W.O., que não conseguiu viabilizar seu estádio para grandes shows, e goleia o São Paulo por 7 a 0.

Shows no Estádio do Morumbi se tornaram uma aposta na sorte ou na providência divina – o que significa também um flerte com a tragédia. Com relatos e cenas registradas pelos fãs do Coldplay nos últimos dias, revelando pontos de alagamento dentro do espaço, desmaios em aglomerações, suspeitas de venda de ingressos a mais do que a capacidade, fãs instalados em regiões improvisadas e confusão nas arquibancadas, o silêncio dos responsáveis e do poder público a dois dias da volta do Coldplay ao mesmo Morumbi, que faz seus últimos shows em São Paulo, sábado e domingo, começa a ficar desagradável.

Show de Coldplay no Estádio do Morumbi Foto: Daniel Teixeira / Estadão

A reportagem procurou na tarde desta quarta-feira a Live Nation, produtora responsável pelos shows, para saber se havia alguma posição nova além do “nada a declarar” já declarado em uma reportagem anterior. Mas a empresa segue em seu posicionamento. “Não vamos comentar sobre o assunto.” Sem ela e sem a palavra da administração do próprio Morumbi, que diz só ter alugado o espaço e, portanto, nada ter a ver com alagamentos em suas arquibancadas e outros perrengues (um aluguel que rendeu estimados R$ 6 milhões ao São Paulo e uma porcentagem do que se vendeu em bebidas e alimentos no estádio, coisas como uma gim tônica a estratosféricos R$ 50), a reportagem tentou saber se o Ministério Público de São Paulo se movimenta, já que o Coldplay, a chuva e a multidão deverão voltar a coexistir, com ou sem providência divina, em algumas horas. Até o fechamento desta matéria, não havia retorno.

Menudo em 1985: 150 mil pessoas no Morumbi e uma quase tragédia Foto: CLAUDINE PETROLI / ESTADÃO

O Morumbi, um gigante de concreto rabiscado em 1952 e inaugurado em 1960, já era um barril de pólvora bem antes do Coldplay. Maior estádio particular de País, terceiro maior do Brasil, ele nasceu exclusivamente, até porque o mundo não tinha ainda nada mais que aglomerasse tantas pessoas em um mesmo lugar, para receber partidas de futebol. Mas, em 1983, quando os ginásios e praças começaram a ficaram pequenos para a música pop, o Kiss veio ao Brasil para colocar 125 mil pessoas no Morumbi, abrindo a porteira e a ganância de outros produtores. Dois anos depois, os Menudos fizeram mais: mesmo com chuvas torrenciais, aglutinaram 150 mil no segundo dos dois shows que fizeram na casa. Um público até hoje recorde, que por pouco não protagonizou uma tragédia. Ao final do show, os fãs invadiram a pista, avançaram sobre os porto-riquenhos e só não os estraçalharam porque um helicóptero pousou no palco para resgatá-los.

São Januário foi pior. Ao passarem pelo estádio do Vasco, no Rio, no mesmo ano – e é bom lembrar àqueles que vendem mais ingressos do que o que um espaço físico permite – os próprios Menudos ficaram chocados com a morte de uma menina e de uma mulher que acabaram pisoteadas pelos fãs. A capacidade do lugar era de 60 mil pessoas, mas 130 mil ingressos foram vendidos. Oitenta mil entraram e o resto ficou de fora. Além das mortes, 30 crianças se perderam e 40 ficaram feridas.

Com o tempo e as mortes em shows e jogos de futebol, as normas de segurança internacionais foram reduzindo a capacidade de público do Morumbi. Hoje, um show do Menudo, com 150 mil fãs cantando Suba em Minha Moto; do Queen, com 100 mil entoando We are the Champions, como foi em 1981; ou de Madonna, que em 1993 foi vista por 88 mil pessoas no auge de Express Yourself, seria impossível. Pela lei, podem entrar ali, em dias de jogos, não mais do que 72.039.

Paul no Allianz Parque: estádio do Palmeiras elevou o padrão de shows em arenas no País Foto: EDUARDO NICOLAU / ESTADAO

De goleada

A estreia do Allianz Parque como arena de espetáculos colocou o sarrafo dos shows em estádio nas alturas. Desde o primeiro deles, com Paul McCartney em 2014 sendo visto por 50 mil pessoas, ficou evidente sua discrepância em comparação com outros espaços. O Allianz não é perfeito, tem ainda que resolver o dilema dos decibéis fora do estádio para conter a fúria dos vizinhos da Pompeia ao mesmo tempo em que precisa garantir que as pessoas que se sentam nos anéis superiores possam receber o som com a mesma pressão da pista. Mas, por muitas razões, e por exclusão de concorrentes à altura, é o melhor espaço físico para um grande show na cidade. Acessibilidade, acústica, estrutura, informação, escoamento de público, serviço de bar e treinamento de pessoal, por ali, são muito melhores. É onde o Palmeiras vence o Corinthians por W.O., que não conseguiu viabilizar seu estádio para grandes shows, e goleia o São Paulo por 7 a 0.

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