Os Paralamas do Sucesso serão sempre um trio. O som sem o naipe de metais, sobretudo o sax de Monteiro e o trombone de Bidu, e sem os teclados de João Fera, será mais garagem, mais agressivo, mais pesado. Mais tudo o que for preciso para a dieta de engorda (e não o contrário), típica dos quinteto ou quartetos que retomam o conceito trio. João Barone vai soltar o pé no bumbo, o que faz com frequência, chegando a acelerar o andamento com doses de adrenalina. E Bi Ribeiro vai regular os graves de seu baixo jamaicano de forma a criar a confortável rede de segurança para os solos de Herbert. A temperatura vai esquentar, ao contrário da leva de artistas que têm colocado no palco seus formatos mais enxutos, acústicos, econômicos, como se estivéssemos na década de 1990, no auge dos projetos ‘unplugged’. A lista de quem fez recentemente, está fazendo ou vai fazer assim é grande: Ana Carolina, Frejat, Marina Lima, Branco Mello, Nando Reis, Milton Nascimento, Gil e Caetano, Daniela Mercury e segue em frente. Não pode ser coincidência. E não é. Nos corredores de uma economia em crise, os músicos também choram. Suas produções são geralmente caras para sustentar o padrão justo conseguido, em geral, com talento e suor. É preciso pagar bons músicos, hotéis no mínimo razoáveis, transporte de equipamento, iluminação, assessoria de imprensa, cenografia. Até que a crise deixa tudo mais caro e a corda aperta. O artista precisa continuar na estrada (shows são o seu sustento desde o fim da era das gravadoras) e, então, é a hora de evocar a força da canção.
Canção que é canção sobrevive ao teste, dizem os bons compositores. Ela pode ter sido gravada com arranjos para orquestra sinfônica escritos por George Martin e ter experimentações tropicalistas de Rogério Duprat que será sempre bela quando alguém evocar sua alma com apenas um violão. As grandes serão cantadas pelos garçons da casa de shows, os engodos soarão como brincadeira. A música brasileira da era Lava-Jato vive assim sua folkização, expondo virtudes e fraquezas. Nando Reis é folk por natureza, criando com a cumplicidade das cordas de aço de seu violão. Frejat, com a essência dos guitarristas, não. Marina Lima caminha com a voz frágil pela corda bamba, tornando-se assim, mesmo sem voz, mais sensível e sedutora. Ana Carolina, com uma voz que raramente desce às delicadezas, não. Gil e Caetano sentam-se com seus violões para contar 50 anos de história. Branco Mello só quer se divertir.