Ao ouvir as primeiras estrofes de Where’s the Revolution, single do recém-lançado Spirit, novo disco do Depeche Mode, uma coisa fica clara: nenhuma outra banda consegue contestar politicamente o mundo de forma tão pertinente e, ao mesmo tempo, serena. Em tempos de ódio e obstrução do amor ao próximo, as 17 faixas mostram um grupo coeso e que, com o passar do tempo, não perdeu a verdadeira essência de sua sonoridade eletrônica.
Se em Delta Machine (2013), o vocalista Dave Gahan abusou de um pop preguiçoso e, até certo ponto, repetitivo, quatro anos depois, Spirit acerta em cheio nos corações melancólicos e angustiados do século 21. As músicas do álbum fazem uma verdadeira imersão à reflexão e também à autoanálise. As canções do disco, de Going Backwards a So Much Love, comprovam que uma banda pode, sim, envelhecer com dignidade, mantendo-se fiel a suas características.
O Depeche Mode, portanto, mostra mais uma vez que tem um olhar atento ao mundo. Spirit é um remédio homeopático para a doença da alma. Remédio este, porém, que deve ser consumido em doses fracionárias. À primeira vista, sua intensidade pode assustar, mas, aos poucos, as batidas cadenciadas dos ingleses promovem uma verdadeira revolução interna de intensidade majestosa.
INFOGRÁFICO: Tudo o que você precisa saber sobre o Depeche Mode
Se durante a campanha do agora presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a imagem da banda foi, de alguma forma, injustamente associada à extrema-direita, graças a um comentário infeliz do canastrão Richard Spencer (a banda oficial da direita alternativa), disse ele, Dave Gahan, Martin Gore e Andrew Fletcher deram a resposta com composições maduras, de letras profundas e questionadoras.