Armandinho Macêdo e Marcel Powell se unem em tributo a Baden Powell


Show traz mistura de repertórios entre canções clássicas e as menos conhecidas

Por Matheus Mans

Foi na saída de um show de Baden Powell, há alguns bons anos, que o instrumentista e compositor Armandinho Macêdo, de 68 anos, descobriu que o autor de Berimbau e Consolação tinha composto uma música só para ele. Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho correu para gravar a canção numa fita cassete, que foi parar em uma gaveta. Tempos depois, a fita se perdeu, da gaveta ninguém mais sabe. Até que um dia, depois de mais alguns anos passados após a morte de Baden, Marcel Powell, de 39 anos – um dos filhos do violonista –, ligou para o baiano. Tinha achado a composição perdida, guardada e catalogada nas coisas pessoais de Baden.

De volta aos palcos, Armandinho Macêdo e Marcel Powell homenageiam o músico Baden Powell Foto: André Muzell

“Fiquei triste com essa perda da melodia de Um Abraço no Trio Elétrico, já que as pessoas não iam saber dessa relação de Baden comigo. Antes de ele me entregar a música naquele show, nem eu sabia que ele tinha essa relação comigo. Foi uma surpresa, ainda que seria algo de se esperar de dois instrumentistas”, conta Armandinho, em entrevista por telefone ao Estadão. “Quando Marcel me ligou falando que tinha encontrado a tal música, foi aquela alegria. Ele me disse que encontrou nas coisas do Baden, que deixou escrito que era uma homenagem a mim e ao meu trabalho como instrumentista.”  Dessa relação do passado com Baden e as novas ligações construídas com Marcel Powell, sempre por intermédio dessa música perdida no tempo, nasceu a ideia de fazer um show e um disco em homenagem ao compositor de Canto de Ossanha. Começaram isso em 2019, com o lançamento do CD ao vivo. Depois, até 2020, fizeram uma breve turnê. Agora, em um momento em que a quarentena começa a permitir shows, fazem a apresentação hoje, dia 29, no Blue Note, em São Paulo. “É muito emocionante esse retorno nosso aos palcos”, diz. “Em algum momento, vêm as lágrimas ao ver as pessoas vibrando.” TRIBUTO. Para essa apresentação, Marcel e Armandinho prepararam uma mescla de repertórios. “Misturamos as mais conhecidas do meu pai, como Consolação, Berimbau, Samba da Bênção e Canto de Ossanha, mas também colocamos algumas mais desconhecidas, mas que são fáceis de cair no gosto do público”, contextualiza Marcel ao Estadão. “Também tocamos uma música do Osmar Macêdo, pai do Armandinho, e alguma coisa de choro. Tem um arranjo de Noites Cariocas.” Além disso, é claro, tocam a marcante Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho conta que retribuiu a gentileza com uma canção-resposta, Um Abraço pro Baden. FILHO DO PAI. Curiosamente, o show Baden Powell – Tribute junta dois instrumentistas que tiveram pais influentes no cenário musical: o próprio Baden pelo lado de Marcel Powell e Osmar Macêdo do lado de Armandinho. Isso, de alguma forma, pode criar um estigma ao redor dos dois músicos, como se suas carreiras pudessem ser condicionadas ao fato de serem filhos de pais famosos. Armandinho e Marcel, a partir dessa perspectiva, veem a questão com óticas diferentes com contextos distintos. “Eu só fui ter conhecimento de que muitas pessoas fazem esse tipo de comparação depois que meu pai morreu. Eu nem tinha conhecimento de que isso pudesse acontecer, pois estava imerso demais em aprender violão”, conta Marcel. “Meu pai está na galeria dos incomparáveis. Comparação não caberia, muito menos comigo e com ninguém. Ele é uma referência. Sempre que o vejo nos vídeos, eu ainda continuo não focando na comparação. Sempre que o vejo, ao contrário de vir o estigma, me vem a vontade de crescer mais.” Já Armandinho conta sua visão. “A minha história é diferente, já que meu pai não se profissionalizou. Eu que fui para o Rio gravar as primeiras músicas do Trio Elétrico. Ele falava para eu colocar o meu nome, enquanto nos 10 anos em que atuaram, não usavam o nome Dodô e Osmar”, diz. “Por isso tenho essa relação com meu nome, orgulho de ser filho de meu pai. Gosto quando falam sobre Armandinho, filho de Osmar ou Osmar, pai de Armandinho. Estou, de alguma forma, levando esse legado e essa história para longe.” 

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Estilo de tocar violão do carioca mostra ares contemporâneos Foto: Marcio RM/Estadão

Após 21 anos de sua morte, Baden Powell permanece atual

Uma coisa que é frequentemente discutida em shows de tributo é: como manter a essência do artista homenageado, mas ainda trazer algo de novo? Como conquistar novas e antigas audiências? Marcel Powell, na entrevista ao Estadão, em momento algum fala de pureza nos arranjos ou que deseja tocar nos palcos como o pai tocava na década de 1960. O estilo percussionista do compositor está presente, assim como a raiz do afro-samba. No entanto, Armandinho Macêdo entra de bandolim e guitarra elétrica, com sua toada de trio, forjada na história que ele teve com seu pai, Osmar, e Dodô – os pais dos trios elétricos. “Música parada é música morta. Música que não evolui, que não anda, é música morta. E o bom de músicas originais assim é esse caráter camaleônico que vai se adaptando”, comenta Marcel. “Como é ter a linguagem dos trios elétricos na música do meu pai? Queria que as pessoas enxergassem a linguagem do Armandinho na música do meu pai.” Armandinho complementa, afirmando que a música de Baden é atual por si só. “Baden implementou uma forma de violão, que é o jeito brasileiro de tocar. Ele se juntou com Vinicius e Tom, a mesma relação que tive com Moraes Moreira. Isso tem toda a coisa musical muito forte. Acaba construindo uma obra mais completa. Essa batida do Baden, essa influência da Bahia na vida dele”, afirma. “E isso, de certa forma, torna tudo muito atual em termos instrumentais. É tudo tão bem tocado, que a música se torna eterna.”

Foi na saída de um show de Baden Powell, há alguns bons anos, que o instrumentista e compositor Armandinho Macêdo, de 68 anos, descobriu que o autor de Berimbau e Consolação tinha composto uma música só para ele. Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho correu para gravar a canção numa fita cassete, que foi parar em uma gaveta. Tempos depois, a fita se perdeu, da gaveta ninguém mais sabe. Até que um dia, depois de mais alguns anos passados após a morte de Baden, Marcel Powell, de 39 anos – um dos filhos do violonista –, ligou para o baiano. Tinha achado a composição perdida, guardada e catalogada nas coisas pessoais de Baden.

De volta aos palcos, Armandinho Macêdo e Marcel Powell homenageiam o músico Baden Powell Foto: André Muzell

“Fiquei triste com essa perda da melodia de Um Abraço no Trio Elétrico, já que as pessoas não iam saber dessa relação de Baden comigo. Antes de ele me entregar a música naquele show, nem eu sabia que ele tinha essa relação comigo. Foi uma surpresa, ainda que seria algo de se esperar de dois instrumentistas”, conta Armandinho, em entrevista por telefone ao Estadão. “Quando Marcel me ligou falando que tinha encontrado a tal música, foi aquela alegria. Ele me disse que encontrou nas coisas do Baden, que deixou escrito que era uma homenagem a mim e ao meu trabalho como instrumentista.”  Dessa relação do passado com Baden e as novas ligações construídas com Marcel Powell, sempre por intermédio dessa música perdida no tempo, nasceu a ideia de fazer um show e um disco em homenagem ao compositor de Canto de Ossanha. Começaram isso em 2019, com o lançamento do CD ao vivo. Depois, até 2020, fizeram uma breve turnê. Agora, em um momento em que a quarentena começa a permitir shows, fazem a apresentação hoje, dia 29, no Blue Note, em São Paulo. “É muito emocionante esse retorno nosso aos palcos”, diz. “Em algum momento, vêm as lágrimas ao ver as pessoas vibrando.” TRIBUTO. Para essa apresentação, Marcel e Armandinho prepararam uma mescla de repertórios. “Misturamos as mais conhecidas do meu pai, como Consolação, Berimbau, Samba da Bênção e Canto de Ossanha, mas também colocamos algumas mais desconhecidas, mas que são fáceis de cair no gosto do público”, contextualiza Marcel ao Estadão. “Também tocamos uma música do Osmar Macêdo, pai do Armandinho, e alguma coisa de choro. Tem um arranjo de Noites Cariocas.” Além disso, é claro, tocam a marcante Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho conta que retribuiu a gentileza com uma canção-resposta, Um Abraço pro Baden. FILHO DO PAI. Curiosamente, o show Baden Powell – Tribute junta dois instrumentistas que tiveram pais influentes no cenário musical: o próprio Baden pelo lado de Marcel Powell e Osmar Macêdo do lado de Armandinho. Isso, de alguma forma, pode criar um estigma ao redor dos dois músicos, como se suas carreiras pudessem ser condicionadas ao fato de serem filhos de pais famosos. Armandinho e Marcel, a partir dessa perspectiva, veem a questão com óticas diferentes com contextos distintos. “Eu só fui ter conhecimento de que muitas pessoas fazem esse tipo de comparação depois que meu pai morreu. Eu nem tinha conhecimento de que isso pudesse acontecer, pois estava imerso demais em aprender violão”, conta Marcel. “Meu pai está na galeria dos incomparáveis. Comparação não caberia, muito menos comigo e com ninguém. Ele é uma referência. Sempre que o vejo nos vídeos, eu ainda continuo não focando na comparação. Sempre que o vejo, ao contrário de vir o estigma, me vem a vontade de crescer mais.” Já Armandinho conta sua visão. “A minha história é diferente, já que meu pai não se profissionalizou. Eu que fui para o Rio gravar as primeiras músicas do Trio Elétrico. Ele falava para eu colocar o meu nome, enquanto nos 10 anos em que atuaram, não usavam o nome Dodô e Osmar”, diz. “Por isso tenho essa relação com meu nome, orgulho de ser filho de meu pai. Gosto quando falam sobre Armandinho, filho de Osmar ou Osmar, pai de Armandinho. Estou, de alguma forma, levando esse legado e essa história para longe.” 

Estilo de tocar violão do carioca mostra ares contemporâneos Foto: Marcio RM/Estadão

Após 21 anos de sua morte, Baden Powell permanece atual

Uma coisa que é frequentemente discutida em shows de tributo é: como manter a essência do artista homenageado, mas ainda trazer algo de novo? Como conquistar novas e antigas audiências? Marcel Powell, na entrevista ao Estadão, em momento algum fala de pureza nos arranjos ou que deseja tocar nos palcos como o pai tocava na década de 1960. O estilo percussionista do compositor está presente, assim como a raiz do afro-samba. No entanto, Armandinho Macêdo entra de bandolim e guitarra elétrica, com sua toada de trio, forjada na história que ele teve com seu pai, Osmar, e Dodô – os pais dos trios elétricos. “Música parada é música morta. Música que não evolui, que não anda, é música morta. E o bom de músicas originais assim é esse caráter camaleônico que vai se adaptando”, comenta Marcel. “Como é ter a linguagem dos trios elétricos na música do meu pai? Queria que as pessoas enxergassem a linguagem do Armandinho na música do meu pai.” Armandinho complementa, afirmando que a música de Baden é atual por si só. “Baden implementou uma forma de violão, que é o jeito brasileiro de tocar. Ele se juntou com Vinicius e Tom, a mesma relação que tive com Moraes Moreira. Isso tem toda a coisa musical muito forte. Acaba construindo uma obra mais completa. Essa batida do Baden, essa influência da Bahia na vida dele”, afirma. “E isso, de certa forma, torna tudo muito atual em termos instrumentais. É tudo tão bem tocado, que a música se torna eterna.”

Foi na saída de um show de Baden Powell, há alguns bons anos, que o instrumentista e compositor Armandinho Macêdo, de 68 anos, descobriu que o autor de Berimbau e Consolação tinha composto uma música só para ele. Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho correu para gravar a canção numa fita cassete, que foi parar em uma gaveta. Tempos depois, a fita se perdeu, da gaveta ninguém mais sabe. Até que um dia, depois de mais alguns anos passados após a morte de Baden, Marcel Powell, de 39 anos – um dos filhos do violonista –, ligou para o baiano. Tinha achado a composição perdida, guardada e catalogada nas coisas pessoais de Baden.

De volta aos palcos, Armandinho Macêdo e Marcel Powell homenageiam o músico Baden Powell Foto: André Muzell

“Fiquei triste com essa perda da melodia de Um Abraço no Trio Elétrico, já que as pessoas não iam saber dessa relação de Baden comigo. Antes de ele me entregar a música naquele show, nem eu sabia que ele tinha essa relação comigo. Foi uma surpresa, ainda que seria algo de se esperar de dois instrumentistas”, conta Armandinho, em entrevista por telefone ao Estadão. “Quando Marcel me ligou falando que tinha encontrado a tal música, foi aquela alegria. Ele me disse que encontrou nas coisas do Baden, que deixou escrito que era uma homenagem a mim e ao meu trabalho como instrumentista.”  Dessa relação do passado com Baden e as novas ligações construídas com Marcel Powell, sempre por intermédio dessa música perdida no tempo, nasceu a ideia de fazer um show e um disco em homenagem ao compositor de Canto de Ossanha. Começaram isso em 2019, com o lançamento do CD ao vivo. Depois, até 2020, fizeram uma breve turnê. Agora, em um momento em que a quarentena começa a permitir shows, fazem a apresentação hoje, dia 29, no Blue Note, em São Paulo. “É muito emocionante esse retorno nosso aos palcos”, diz. “Em algum momento, vêm as lágrimas ao ver as pessoas vibrando.” TRIBUTO. Para essa apresentação, Marcel e Armandinho prepararam uma mescla de repertórios. “Misturamos as mais conhecidas do meu pai, como Consolação, Berimbau, Samba da Bênção e Canto de Ossanha, mas também colocamos algumas mais desconhecidas, mas que são fáceis de cair no gosto do público”, contextualiza Marcel ao Estadão. “Também tocamos uma música do Osmar Macêdo, pai do Armandinho, e alguma coisa de choro. Tem um arranjo de Noites Cariocas.” Além disso, é claro, tocam a marcante Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho conta que retribuiu a gentileza com uma canção-resposta, Um Abraço pro Baden. FILHO DO PAI. Curiosamente, o show Baden Powell – Tribute junta dois instrumentistas que tiveram pais influentes no cenário musical: o próprio Baden pelo lado de Marcel Powell e Osmar Macêdo do lado de Armandinho. Isso, de alguma forma, pode criar um estigma ao redor dos dois músicos, como se suas carreiras pudessem ser condicionadas ao fato de serem filhos de pais famosos. Armandinho e Marcel, a partir dessa perspectiva, veem a questão com óticas diferentes com contextos distintos. “Eu só fui ter conhecimento de que muitas pessoas fazem esse tipo de comparação depois que meu pai morreu. Eu nem tinha conhecimento de que isso pudesse acontecer, pois estava imerso demais em aprender violão”, conta Marcel. “Meu pai está na galeria dos incomparáveis. Comparação não caberia, muito menos comigo e com ninguém. Ele é uma referência. Sempre que o vejo nos vídeos, eu ainda continuo não focando na comparação. Sempre que o vejo, ao contrário de vir o estigma, me vem a vontade de crescer mais.” Já Armandinho conta sua visão. “A minha história é diferente, já que meu pai não se profissionalizou. Eu que fui para o Rio gravar as primeiras músicas do Trio Elétrico. Ele falava para eu colocar o meu nome, enquanto nos 10 anos em que atuaram, não usavam o nome Dodô e Osmar”, diz. “Por isso tenho essa relação com meu nome, orgulho de ser filho de meu pai. Gosto quando falam sobre Armandinho, filho de Osmar ou Osmar, pai de Armandinho. Estou, de alguma forma, levando esse legado e essa história para longe.” 

Estilo de tocar violão do carioca mostra ares contemporâneos Foto: Marcio RM/Estadão

Após 21 anos de sua morte, Baden Powell permanece atual

Uma coisa que é frequentemente discutida em shows de tributo é: como manter a essência do artista homenageado, mas ainda trazer algo de novo? Como conquistar novas e antigas audiências? Marcel Powell, na entrevista ao Estadão, em momento algum fala de pureza nos arranjos ou que deseja tocar nos palcos como o pai tocava na década de 1960. O estilo percussionista do compositor está presente, assim como a raiz do afro-samba. No entanto, Armandinho Macêdo entra de bandolim e guitarra elétrica, com sua toada de trio, forjada na história que ele teve com seu pai, Osmar, e Dodô – os pais dos trios elétricos. “Música parada é música morta. Música que não evolui, que não anda, é música morta. E o bom de músicas originais assim é esse caráter camaleônico que vai se adaptando”, comenta Marcel. “Como é ter a linguagem dos trios elétricos na música do meu pai? Queria que as pessoas enxergassem a linguagem do Armandinho na música do meu pai.” Armandinho complementa, afirmando que a música de Baden é atual por si só. “Baden implementou uma forma de violão, que é o jeito brasileiro de tocar. Ele se juntou com Vinicius e Tom, a mesma relação que tive com Moraes Moreira. Isso tem toda a coisa musical muito forte. Acaba construindo uma obra mais completa. Essa batida do Baden, essa influência da Bahia na vida dele”, afirma. “E isso, de certa forma, torna tudo muito atual em termos instrumentais. É tudo tão bem tocado, que a música se torna eterna.”

Foi na saída de um show de Baden Powell, há alguns bons anos, que o instrumentista e compositor Armandinho Macêdo, de 68 anos, descobriu que o autor de Berimbau e Consolação tinha composto uma música só para ele. Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho correu para gravar a canção numa fita cassete, que foi parar em uma gaveta. Tempos depois, a fita se perdeu, da gaveta ninguém mais sabe. Até que um dia, depois de mais alguns anos passados após a morte de Baden, Marcel Powell, de 39 anos – um dos filhos do violonista –, ligou para o baiano. Tinha achado a composição perdida, guardada e catalogada nas coisas pessoais de Baden.

De volta aos palcos, Armandinho Macêdo e Marcel Powell homenageiam o músico Baden Powell Foto: André Muzell

“Fiquei triste com essa perda da melodia de Um Abraço no Trio Elétrico, já que as pessoas não iam saber dessa relação de Baden comigo. Antes de ele me entregar a música naquele show, nem eu sabia que ele tinha essa relação comigo. Foi uma surpresa, ainda que seria algo de se esperar de dois instrumentistas”, conta Armandinho, em entrevista por telefone ao Estadão. “Quando Marcel me ligou falando que tinha encontrado a tal música, foi aquela alegria. Ele me disse que encontrou nas coisas do Baden, que deixou escrito que era uma homenagem a mim e ao meu trabalho como instrumentista.”  Dessa relação do passado com Baden e as novas ligações construídas com Marcel Powell, sempre por intermédio dessa música perdida no tempo, nasceu a ideia de fazer um show e um disco em homenagem ao compositor de Canto de Ossanha. Começaram isso em 2019, com o lançamento do CD ao vivo. Depois, até 2020, fizeram uma breve turnê. Agora, em um momento em que a quarentena começa a permitir shows, fazem a apresentação hoje, dia 29, no Blue Note, em São Paulo. “É muito emocionante esse retorno nosso aos palcos”, diz. “Em algum momento, vêm as lágrimas ao ver as pessoas vibrando.” TRIBUTO. Para essa apresentação, Marcel e Armandinho prepararam uma mescla de repertórios. “Misturamos as mais conhecidas do meu pai, como Consolação, Berimbau, Samba da Bênção e Canto de Ossanha, mas também colocamos algumas mais desconhecidas, mas que são fáceis de cair no gosto do público”, contextualiza Marcel ao Estadão. “Também tocamos uma música do Osmar Macêdo, pai do Armandinho, e alguma coisa de choro. Tem um arranjo de Noites Cariocas.” Além disso, é claro, tocam a marcante Um Abraço no Trio Elétrico. Armandinho conta que retribuiu a gentileza com uma canção-resposta, Um Abraço pro Baden. FILHO DO PAI. Curiosamente, o show Baden Powell – Tribute junta dois instrumentistas que tiveram pais influentes no cenário musical: o próprio Baden pelo lado de Marcel Powell e Osmar Macêdo do lado de Armandinho. Isso, de alguma forma, pode criar um estigma ao redor dos dois músicos, como se suas carreiras pudessem ser condicionadas ao fato de serem filhos de pais famosos. Armandinho e Marcel, a partir dessa perspectiva, veem a questão com óticas diferentes com contextos distintos. “Eu só fui ter conhecimento de que muitas pessoas fazem esse tipo de comparação depois que meu pai morreu. Eu nem tinha conhecimento de que isso pudesse acontecer, pois estava imerso demais em aprender violão”, conta Marcel. “Meu pai está na galeria dos incomparáveis. Comparação não caberia, muito menos comigo e com ninguém. Ele é uma referência. Sempre que o vejo nos vídeos, eu ainda continuo não focando na comparação. Sempre que o vejo, ao contrário de vir o estigma, me vem a vontade de crescer mais.” Já Armandinho conta sua visão. “A minha história é diferente, já que meu pai não se profissionalizou. Eu que fui para o Rio gravar as primeiras músicas do Trio Elétrico. Ele falava para eu colocar o meu nome, enquanto nos 10 anos em que atuaram, não usavam o nome Dodô e Osmar”, diz. “Por isso tenho essa relação com meu nome, orgulho de ser filho de meu pai. Gosto quando falam sobre Armandinho, filho de Osmar ou Osmar, pai de Armandinho. Estou, de alguma forma, levando esse legado e essa história para longe.” 

Estilo de tocar violão do carioca mostra ares contemporâneos Foto: Marcio RM/Estadão

Após 21 anos de sua morte, Baden Powell permanece atual

Uma coisa que é frequentemente discutida em shows de tributo é: como manter a essência do artista homenageado, mas ainda trazer algo de novo? Como conquistar novas e antigas audiências? Marcel Powell, na entrevista ao Estadão, em momento algum fala de pureza nos arranjos ou que deseja tocar nos palcos como o pai tocava na década de 1960. O estilo percussionista do compositor está presente, assim como a raiz do afro-samba. No entanto, Armandinho Macêdo entra de bandolim e guitarra elétrica, com sua toada de trio, forjada na história que ele teve com seu pai, Osmar, e Dodô – os pais dos trios elétricos. “Música parada é música morta. Música que não evolui, que não anda, é música morta. E o bom de músicas originais assim é esse caráter camaleônico que vai se adaptando”, comenta Marcel. “Como é ter a linguagem dos trios elétricos na música do meu pai? Queria que as pessoas enxergassem a linguagem do Armandinho na música do meu pai.” Armandinho complementa, afirmando que a música de Baden é atual por si só. “Baden implementou uma forma de violão, que é o jeito brasileiro de tocar. Ele se juntou com Vinicius e Tom, a mesma relação que tive com Moraes Moreira. Isso tem toda a coisa musical muito forte. Acaba construindo uma obra mais completa. Essa batida do Baden, essa influência da Bahia na vida dele”, afirma. “E isso, de certa forma, torna tudo muito atual em termos instrumentais. É tudo tão bem tocado, que a música se torna eterna.”

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