BaianaSystem volta com seu híbrido indefinível em 'O Futuro Não Demora'


Grupo de Salvador completa 10 anos de carreira e lança agora seu terceiro disco; Russo Passapusso e Roberto Barreto comentam o processo de composição do álbum, mergulhado na Ilha de Itaparica

Por Guilherme Sobota

Sábado, 17 de fevereiro de 2018. O BaianaSystem traz pela primeira vez seu Navio Pirata para São Paulo, e na junção daquilo que a banda sabe fazer como ninguém (provocar no público uma reação explosiva nunca violenta) com o próprio espírito do carnaval, algo aparece na Avenida 23 de Maio: um hospital. Alguém avisa Russo Passapusso, o timoneiro (também vocalista e um dos compositores da banda), que delibera: vamos passar. A banda baixa uma centena de decibéis e toca em notas suaves Água – a faixa que abre O Futuro Não Demora, terceiro disco do grupo que chega às plataformas nesta sexta, 15.

Se algumas bases já existiam, como essa, o processo de produção do disco foi além. Com Duas Cidades (2016), o BaianaSystem veio para São Paulo encontrar o produtor Daniel Ganjaman, cujo trabalho passou por captar nas gravações o elemento bombástico da banda ao vivo. Com O Futuro... foi o grupo quem levou o produtor para a Ilha de Itaparica, próxima a Salvador, num movimento maduro de autoconhecimento e compromisso com as origens (nunca óbvio para bandas que fazem sucesso nacional).

O Baiana System. Além deRusso (e) e Barreto (d), SekoBass (ao centro) Foto: Cartaxo
continua após a publicidade

O trabalho de pré-produção do novo disco foi extenso, segundo Roberto Barreto, responsável pela recolocação da guitarra baiana em destaque nacional, no Baiana incorporada ao soundsystem jamaicano. Boa parte desse trabalho anterior ocorreu em Itaparica, onde o grupo passou meses, entre idas e vindas.

“Nunca deixamos Salvador. Mesmo que algumas coisas de mercado acabassem tendo que ser construídas de outras formas. Não tem nenhum menino no Baiana. O entendimento das influências e da história é o nosso combustível”, diz Barreto.

Para Russo, o clique do novo trabalho se deu numa ida para um show em Itaparica. “No dia cheguei lá e disse para alguém: ‘trouxemos a antropofagia para cá’. Uma pessoa me olhou e respondeu: ‘não, a antropofagia nasceu aqui’. Aí fiquei estatelado.” Ele explica que o trabalho na ilha mirava um mergulho de convivência, “para não entrar numa situação de colagens, montagens e fusões (no som)”.

continua após a publicidade

Os dois relatam que além do corpo a corpo com os moradores da ilha (facilitado pelo grupo Maré de Março) e a sabedoria popular, houve um contato com o estudo dos sambaquis, com a herança forte de João Ubaldo Ribeiro e seus ancestrais, com Antonio Risério, histórias de reconstruções no local e visões antropológicas.

Todo esse trabalho resultou num álbum conceitual e cheio de participações. O maestro Ubiratan Marques e a Orquestra Afrosinfônica participam da primeira e última faixas (Água e Fogo, além de arranjos em outras canções). O mestre Lorimbau fez com Barreto a Melô do Centro da Terra, um diálogo do berimbau com a guitarra baiana. Manu Chao empresta seu personagem Señor Matanza para Sulamericano. Antonio Carlos e Jocafi, BNegão, Curumin, Edgar, o grupo Samba de Lata de Tijuaçú e o rapper Vandal de Verdade completam a equipe de convidados. 

Sobre gravar com Manu Chao (e com deferência às outras parcerias também), Russo celebra a oportunidade. “Para mim foi um caminho de ir traçando essas ‘veias abertas da América Latina’ dentro da reflexões de territorialismo, política e perseguição cultural de agora. Quando as pessoas veem que existe cuidado, se cria uma confiança artística que desconstrói um pouco a ideia de produto. Esse jeito de fazermos veio da necessidade natural do momento em que as informações cegam e nos deixam sem ar e sem capacidade de decifrar.”

continua após a publicidade

O resultado é uma mistura de ritmos percussivos, beats eletrônicos, riffs de guitarra baiana, e pegadas pelo ritmo do ijexá, pelo samba-reggae, música latina e hip-hop – definições a que a experiência do Baiana é alérgica, dada sua potência criativa. 

“Não existe muito uma ideia de fusão (na hora de compor)”, explica Barreto. “As coisas acontecem assim. Salve tinha uma base de hip hop, virou música brasileira com arranjos orquestrais, com ijexá. Queremos soar grande, sem voltar ao passado. O Baiana de hoje vai ser popular no sentido de comunicar.”

O BaianaSystem tem uma agenda de eventos relacionados ao carnaval – o último deles, no dia 9 de março, com o Navio Pirata na Avenida Tiradentes, em São Paulo. Ainda bem.

Sábado, 17 de fevereiro de 2018. O BaianaSystem traz pela primeira vez seu Navio Pirata para São Paulo, e na junção daquilo que a banda sabe fazer como ninguém (provocar no público uma reação explosiva nunca violenta) com o próprio espírito do carnaval, algo aparece na Avenida 23 de Maio: um hospital. Alguém avisa Russo Passapusso, o timoneiro (também vocalista e um dos compositores da banda), que delibera: vamos passar. A banda baixa uma centena de decibéis e toca em notas suaves Água – a faixa que abre O Futuro Não Demora, terceiro disco do grupo que chega às plataformas nesta sexta, 15.

Se algumas bases já existiam, como essa, o processo de produção do disco foi além. Com Duas Cidades (2016), o BaianaSystem veio para São Paulo encontrar o produtor Daniel Ganjaman, cujo trabalho passou por captar nas gravações o elemento bombástico da banda ao vivo. Com O Futuro... foi o grupo quem levou o produtor para a Ilha de Itaparica, próxima a Salvador, num movimento maduro de autoconhecimento e compromisso com as origens (nunca óbvio para bandas que fazem sucesso nacional).

O Baiana System. Além deRusso (e) e Barreto (d), SekoBass (ao centro) Foto: Cartaxo

O trabalho de pré-produção do novo disco foi extenso, segundo Roberto Barreto, responsável pela recolocação da guitarra baiana em destaque nacional, no Baiana incorporada ao soundsystem jamaicano. Boa parte desse trabalho anterior ocorreu em Itaparica, onde o grupo passou meses, entre idas e vindas.

“Nunca deixamos Salvador. Mesmo que algumas coisas de mercado acabassem tendo que ser construídas de outras formas. Não tem nenhum menino no Baiana. O entendimento das influências e da história é o nosso combustível”, diz Barreto.

Para Russo, o clique do novo trabalho se deu numa ida para um show em Itaparica. “No dia cheguei lá e disse para alguém: ‘trouxemos a antropofagia para cá’. Uma pessoa me olhou e respondeu: ‘não, a antropofagia nasceu aqui’. Aí fiquei estatelado.” Ele explica que o trabalho na ilha mirava um mergulho de convivência, “para não entrar numa situação de colagens, montagens e fusões (no som)”.

Os dois relatam que além do corpo a corpo com os moradores da ilha (facilitado pelo grupo Maré de Março) e a sabedoria popular, houve um contato com o estudo dos sambaquis, com a herança forte de João Ubaldo Ribeiro e seus ancestrais, com Antonio Risério, histórias de reconstruções no local e visões antropológicas.

Todo esse trabalho resultou num álbum conceitual e cheio de participações. O maestro Ubiratan Marques e a Orquestra Afrosinfônica participam da primeira e última faixas (Água e Fogo, além de arranjos em outras canções). O mestre Lorimbau fez com Barreto a Melô do Centro da Terra, um diálogo do berimbau com a guitarra baiana. Manu Chao empresta seu personagem Señor Matanza para Sulamericano. Antonio Carlos e Jocafi, BNegão, Curumin, Edgar, o grupo Samba de Lata de Tijuaçú e o rapper Vandal de Verdade completam a equipe de convidados. 

Sobre gravar com Manu Chao (e com deferência às outras parcerias também), Russo celebra a oportunidade. “Para mim foi um caminho de ir traçando essas ‘veias abertas da América Latina’ dentro da reflexões de territorialismo, política e perseguição cultural de agora. Quando as pessoas veem que existe cuidado, se cria uma confiança artística que desconstrói um pouco a ideia de produto. Esse jeito de fazermos veio da necessidade natural do momento em que as informações cegam e nos deixam sem ar e sem capacidade de decifrar.”

O resultado é uma mistura de ritmos percussivos, beats eletrônicos, riffs de guitarra baiana, e pegadas pelo ritmo do ijexá, pelo samba-reggae, música latina e hip-hop – definições a que a experiência do Baiana é alérgica, dada sua potência criativa. 

“Não existe muito uma ideia de fusão (na hora de compor)”, explica Barreto. “As coisas acontecem assim. Salve tinha uma base de hip hop, virou música brasileira com arranjos orquestrais, com ijexá. Queremos soar grande, sem voltar ao passado. O Baiana de hoje vai ser popular no sentido de comunicar.”

O BaianaSystem tem uma agenda de eventos relacionados ao carnaval – o último deles, no dia 9 de março, com o Navio Pirata na Avenida Tiradentes, em São Paulo. Ainda bem.

Sábado, 17 de fevereiro de 2018. O BaianaSystem traz pela primeira vez seu Navio Pirata para São Paulo, e na junção daquilo que a banda sabe fazer como ninguém (provocar no público uma reação explosiva nunca violenta) com o próprio espírito do carnaval, algo aparece na Avenida 23 de Maio: um hospital. Alguém avisa Russo Passapusso, o timoneiro (também vocalista e um dos compositores da banda), que delibera: vamos passar. A banda baixa uma centena de decibéis e toca em notas suaves Água – a faixa que abre O Futuro Não Demora, terceiro disco do grupo que chega às plataformas nesta sexta, 15.

Se algumas bases já existiam, como essa, o processo de produção do disco foi além. Com Duas Cidades (2016), o BaianaSystem veio para São Paulo encontrar o produtor Daniel Ganjaman, cujo trabalho passou por captar nas gravações o elemento bombástico da banda ao vivo. Com O Futuro... foi o grupo quem levou o produtor para a Ilha de Itaparica, próxima a Salvador, num movimento maduro de autoconhecimento e compromisso com as origens (nunca óbvio para bandas que fazem sucesso nacional).

O Baiana System. Além deRusso (e) e Barreto (d), SekoBass (ao centro) Foto: Cartaxo

O trabalho de pré-produção do novo disco foi extenso, segundo Roberto Barreto, responsável pela recolocação da guitarra baiana em destaque nacional, no Baiana incorporada ao soundsystem jamaicano. Boa parte desse trabalho anterior ocorreu em Itaparica, onde o grupo passou meses, entre idas e vindas.

“Nunca deixamos Salvador. Mesmo que algumas coisas de mercado acabassem tendo que ser construídas de outras formas. Não tem nenhum menino no Baiana. O entendimento das influências e da história é o nosso combustível”, diz Barreto.

Para Russo, o clique do novo trabalho se deu numa ida para um show em Itaparica. “No dia cheguei lá e disse para alguém: ‘trouxemos a antropofagia para cá’. Uma pessoa me olhou e respondeu: ‘não, a antropofagia nasceu aqui’. Aí fiquei estatelado.” Ele explica que o trabalho na ilha mirava um mergulho de convivência, “para não entrar numa situação de colagens, montagens e fusões (no som)”.

Os dois relatam que além do corpo a corpo com os moradores da ilha (facilitado pelo grupo Maré de Março) e a sabedoria popular, houve um contato com o estudo dos sambaquis, com a herança forte de João Ubaldo Ribeiro e seus ancestrais, com Antonio Risério, histórias de reconstruções no local e visões antropológicas.

Todo esse trabalho resultou num álbum conceitual e cheio de participações. O maestro Ubiratan Marques e a Orquestra Afrosinfônica participam da primeira e última faixas (Água e Fogo, além de arranjos em outras canções). O mestre Lorimbau fez com Barreto a Melô do Centro da Terra, um diálogo do berimbau com a guitarra baiana. Manu Chao empresta seu personagem Señor Matanza para Sulamericano. Antonio Carlos e Jocafi, BNegão, Curumin, Edgar, o grupo Samba de Lata de Tijuaçú e o rapper Vandal de Verdade completam a equipe de convidados. 

Sobre gravar com Manu Chao (e com deferência às outras parcerias também), Russo celebra a oportunidade. “Para mim foi um caminho de ir traçando essas ‘veias abertas da América Latina’ dentro da reflexões de territorialismo, política e perseguição cultural de agora. Quando as pessoas veem que existe cuidado, se cria uma confiança artística que desconstrói um pouco a ideia de produto. Esse jeito de fazermos veio da necessidade natural do momento em que as informações cegam e nos deixam sem ar e sem capacidade de decifrar.”

O resultado é uma mistura de ritmos percussivos, beats eletrônicos, riffs de guitarra baiana, e pegadas pelo ritmo do ijexá, pelo samba-reggae, música latina e hip-hop – definições a que a experiência do Baiana é alérgica, dada sua potência criativa. 

“Não existe muito uma ideia de fusão (na hora de compor)”, explica Barreto. “As coisas acontecem assim. Salve tinha uma base de hip hop, virou música brasileira com arranjos orquestrais, com ijexá. Queremos soar grande, sem voltar ao passado. O Baiana de hoje vai ser popular no sentido de comunicar.”

O BaianaSystem tem uma agenda de eventos relacionados ao carnaval – o último deles, no dia 9 de março, com o Navio Pirata na Avenida Tiradentes, em São Paulo. Ainda bem.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.