Biografia 'Outra Vez' mostra detalhes de Roberto Carlos em 928 páginas


Primeiro volume da história escrita por Paulo Cesar de Araújo chega 15 anos depois de Roberto pedir a retirada de 'Roberto Carlos em Detalhes' das lojas; maior bio já lançada sobre o artista traz histórias novas, fatos estendidos e inputs bem argumentados

Por Julio Maria

Quinze anos se passaram desde Roberto Carlos em Detalhes. A biografia lançada em 2006 pela Editora Planeta, do pesquisador Paulo Cesar de Araújo, irritou o cantor, que alegou ser ele o dono e único contador autorizado da própria história, e o caso foi parar nos tribunais. Roberto exigiu que o livro fosse retirado das lojas para não seguir com um pedido de indenização e saiu da sala vitorioso. Mesmo depois do desgaste do grupo de artistas Procure Saber, inicialmente apoiador da sanha censória contra os biógrafos, e do puxão de orelhas do Supremo Tribunal Federal, que entendeu pela liberdade irrestrita de publicações com um “cala boca já morreu!” da então ministra Carmen Lúcia, o livro segue trancado.

Show do cantor Roberto Carlos no Maracanãzinho, em 2021 Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Mas a história, não. Depois de ter exposto a vida de Roberto por uma segunda vez, narrando os bastidores da audiência no livro O Réu e Rei, de 2014, Paulo Cesar volta ao front com a maior munição historiográfica já despendida em qualquer projeto publicado sobre Roberto Carlos. Roberto Carlos Outra Vez, da Editora Record, chega às lojas no dia 6 de dezembro. São 50 capítulos distribuídos em 928 páginas, cada um usando uma música gravada pelo cantor para abordar uma época específica de sua vida. E fala-se aqui apenas do primeiro volume, que toma a vida de Roberto do nascimento a 1970. O próximo, com mais 50 canções que conduzirão o tempo até 2021, quando ele terá 80 anos, será lançado até o fim de 2022.  A reação de Roberto é ainda uma incógnita. Procurada pela reportagem, a assessoria do artista disse que ele estava sem tempo para dar opinião sobre o lançamento por estar ensaiando para o especial de fim de ano da Globo. 

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Apesar dos dias ruins vividos diante de um Roberto Carlos bélico, talvez a única faceta que o biógrafo não conhecia de seu biografado até 2006, o livro que chega agora vai além do que já foi contado, estendendo passagens, revisitando notícias, incluindo histórias e trazendo novos inputs. De mente forjada no pensamento acadêmico que o levou a fazer de uma tese uma publicação histórica sobre os cantores bregas perseguidos pela ditadura no Brasil com Eu Não Sou Cachorro Não, de 2002, Paulo Cesar abre o livro com insights bem expostos e argumentados, mas sobretudo saborosos. Ele revela Roberto como o único dos grandes artistas a ter tripla formação no Brasil. Nenhum outro, segundo Araújo, conciliou os universos incomunicáveis da bossa nova de João Gilberto, do rock and roll de Elvis Presley e da música brega. 

“Chico Buarque foi moldado pelo samba e pela bossa; não pelo rock nem pelo brega. Jorge Ben Jor bebeu na fonte do rock, que misturou com a bossa, porém, não com o brega”, escreve Araújo na abertura. “Raul Seixas se entendia muito bem com o diabo do rock’n’roll, e até com o brega, mas não com a bossa. Odair José também não, mas sim com o rock e principalmente com o brega.”  O texto continua: “De Elis Regina a Waldick Soriano; de Ivan Lins a Sérgio Reis; passando por Gonzaguinha, Rita Lee, Belchior, Tim Maia, Maria Bethânia, Fagner, Carlos Lyra, Gal Costa, Sidney Magal, Marisa Monte, Cazuza, Renato Russo – cada um influenciado pela bossa ou pelo rock ou pelo brega ou, no máximo, por dois desses estilos musicais”. 

Capa dabiografia 'Roberto Carlos Outra Vez' Foto:
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Existe um inescapável tom reverencial quando se analisa a dimensão social de Roberto, e ela fica inegável com o habilidoso jogo de ideias e apuração mostrando a presença de músicas do cantor em nascimentos, casamentos, cirurgias, enterros, assaltos e memórias de toda sorte, mas o novo Outra Vez se revela, além de mais profundo, mais distante do que Em Detalhes. Se havia lá atrás um biógrafo por vezes declaradamente fã, agora, 15 anos e um processo depois, ele está mais implacável com o contar. “O tempo ajuda. Além de reouvir as 141 fitas cassete com as entrevistas, percebendo falas que não havia percebido antes, pude consultar muito mais material, como as entrevistas e os livros publicados depois de 2006”, diz Paulo Cesar. 

Impossível não pensar sobre o efeito contrário que Roberto provocou às próprias intenções ao brigar com a história em 2006. Agora, além do que virá no segundo calhamaço em 2022, tudo o que o incomodou, como o episódio da perda da perna em um acidente férreo, aos seis anos, as humilhações impostas a Tim Maia e a noite tórrida ao lado da cantora Maysa, volta com mais detalhes e mais depuração. Outra Vez prova que Roberto Carlos mexeu com o biógrafo errado.

Quinze anos se passaram desde Roberto Carlos em Detalhes. A biografia lançada em 2006 pela Editora Planeta, do pesquisador Paulo Cesar de Araújo, irritou o cantor, que alegou ser ele o dono e único contador autorizado da própria história, e o caso foi parar nos tribunais. Roberto exigiu que o livro fosse retirado das lojas para não seguir com um pedido de indenização e saiu da sala vitorioso. Mesmo depois do desgaste do grupo de artistas Procure Saber, inicialmente apoiador da sanha censória contra os biógrafos, e do puxão de orelhas do Supremo Tribunal Federal, que entendeu pela liberdade irrestrita de publicações com um “cala boca já morreu!” da então ministra Carmen Lúcia, o livro segue trancado.

Show do cantor Roberto Carlos no Maracanãzinho, em 2021 Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Mas a história, não. Depois de ter exposto a vida de Roberto por uma segunda vez, narrando os bastidores da audiência no livro O Réu e Rei, de 2014, Paulo Cesar volta ao front com a maior munição historiográfica já despendida em qualquer projeto publicado sobre Roberto Carlos. Roberto Carlos Outra Vez, da Editora Record, chega às lojas no dia 6 de dezembro. São 50 capítulos distribuídos em 928 páginas, cada um usando uma música gravada pelo cantor para abordar uma época específica de sua vida. E fala-se aqui apenas do primeiro volume, que toma a vida de Roberto do nascimento a 1970. O próximo, com mais 50 canções que conduzirão o tempo até 2021, quando ele terá 80 anos, será lançado até o fim de 2022.  A reação de Roberto é ainda uma incógnita. Procurada pela reportagem, a assessoria do artista disse que ele estava sem tempo para dar opinião sobre o lançamento por estar ensaiando para o especial de fim de ano da Globo. 

Apesar dos dias ruins vividos diante de um Roberto Carlos bélico, talvez a única faceta que o biógrafo não conhecia de seu biografado até 2006, o livro que chega agora vai além do que já foi contado, estendendo passagens, revisitando notícias, incluindo histórias e trazendo novos inputs. De mente forjada no pensamento acadêmico que o levou a fazer de uma tese uma publicação histórica sobre os cantores bregas perseguidos pela ditadura no Brasil com Eu Não Sou Cachorro Não, de 2002, Paulo Cesar abre o livro com insights bem expostos e argumentados, mas sobretudo saborosos. Ele revela Roberto como o único dos grandes artistas a ter tripla formação no Brasil. Nenhum outro, segundo Araújo, conciliou os universos incomunicáveis da bossa nova de João Gilberto, do rock and roll de Elvis Presley e da música brega. 

“Chico Buarque foi moldado pelo samba e pela bossa; não pelo rock nem pelo brega. Jorge Ben Jor bebeu na fonte do rock, que misturou com a bossa, porém, não com o brega”, escreve Araújo na abertura. “Raul Seixas se entendia muito bem com o diabo do rock’n’roll, e até com o brega, mas não com a bossa. Odair José também não, mas sim com o rock e principalmente com o brega.”  O texto continua: “De Elis Regina a Waldick Soriano; de Ivan Lins a Sérgio Reis; passando por Gonzaguinha, Rita Lee, Belchior, Tim Maia, Maria Bethânia, Fagner, Carlos Lyra, Gal Costa, Sidney Magal, Marisa Monte, Cazuza, Renato Russo – cada um influenciado pela bossa ou pelo rock ou pelo brega ou, no máximo, por dois desses estilos musicais”. 

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Existe um inescapável tom reverencial quando se analisa a dimensão social de Roberto, e ela fica inegável com o habilidoso jogo de ideias e apuração mostrando a presença de músicas do cantor em nascimentos, casamentos, cirurgias, enterros, assaltos e memórias de toda sorte, mas o novo Outra Vez se revela, além de mais profundo, mais distante do que Em Detalhes. Se havia lá atrás um biógrafo por vezes declaradamente fã, agora, 15 anos e um processo depois, ele está mais implacável com o contar. “O tempo ajuda. Além de reouvir as 141 fitas cassete com as entrevistas, percebendo falas que não havia percebido antes, pude consultar muito mais material, como as entrevistas e os livros publicados depois de 2006”, diz Paulo Cesar. 

Impossível não pensar sobre o efeito contrário que Roberto provocou às próprias intenções ao brigar com a história em 2006. Agora, além do que virá no segundo calhamaço em 2022, tudo o que o incomodou, como o episódio da perda da perna em um acidente férreo, aos seis anos, as humilhações impostas a Tim Maia e a noite tórrida ao lado da cantora Maysa, volta com mais detalhes e mais depuração. Outra Vez prova que Roberto Carlos mexeu com o biógrafo errado.

Quinze anos se passaram desde Roberto Carlos em Detalhes. A biografia lançada em 2006 pela Editora Planeta, do pesquisador Paulo Cesar de Araújo, irritou o cantor, que alegou ser ele o dono e único contador autorizado da própria história, e o caso foi parar nos tribunais. Roberto exigiu que o livro fosse retirado das lojas para não seguir com um pedido de indenização e saiu da sala vitorioso. Mesmo depois do desgaste do grupo de artistas Procure Saber, inicialmente apoiador da sanha censória contra os biógrafos, e do puxão de orelhas do Supremo Tribunal Federal, que entendeu pela liberdade irrestrita de publicações com um “cala boca já morreu!” da então ministra Carmen Lúcia, o livro segue trancado.

Show do cantor Roberto Carlos no Maracanãzinho, em 2021 Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Mas a história, não. Depois de ter exposto a vida de Roberto por uma segunda vez, narrando os bastidores da audiência no livro O Réu e Rei, de 2014, Paulo Cesar volta ao front com a maior munição historiográfica já despendida em qualquer projeto publicado sobre Roberto Carlos. Roberto Carlos Outra Vez, da Editora Record, chega às lojas no dia 6 de dezembro. São 50 capítulos distribuídos em 928 páginas, cada um usando uma música gravada pelo cantor para abordar uma época específica de sua vida. E fala-se aqui apenas do primeiro volume, que toma a vida de Roberto do nascimento a 1970. O próximo, com mais 50 canções que conduzirão o tempo até 2021, quando ele terá 80 anos, será lançado até o fim de 2022.  A reação de Roberto é ainda uma incógnita. Procurada pela reportagem, a assessoria do artista disse que ele estava sem tempo para dar opinião sobre o lançamento por estar ensaiando para o especial de fim de ano da Globo. 

Apesar dos dias ruins vividos diante de um Roberto Carlos bélico, talvez a única faceta que o biógrafo não conhecia de seu biografado até 2006, o livro que chega agora vai além do que já foi contado, estendendo passagens, revisitando notícias, incluindo histórias e trazendo novos inputs. De mente forjada no pensamento acadêmico que o levou a fazer de uma tese uma publicação histórica sobre os cantores bregas perseguidos pela ditadura no Brasil com Eu Não Sou Cachorro Não, de 2002, Paulo Cesar abre o livro com insights bem expostos e argumentados, mas sobretudo saborosos. Ele revela Roberto como o único dos grandes artistas a ter tripla formação no Brasil. Nenhum outro, segundo Araújo, conciliou os universos incomunicáveis da bossa nova de João Gilberto, do rock and roll de Elvis Presley e da música brega. 

“Chico Buarque foi moldado pelo samba e pela bossa; não pelo rock nem pelo brega. Jorge Ben Jor bebeu na fonte do rock, que misturou com a bossa, porém, não com o brega”, escreve Araújo na abertura. “Raul Seixas se entendia muito bem com o diabo do rock’n’roll, e até com o brega, mas não com a bossa. Odair José também não, mas sim com o rock e principalmente com o brega.”  O texto continua: “De Elis Regina a Waldick Soriano; de Ivan Lins a Sérgio Reis; passando por Gonzaguinha, Rita Lee, Belchior, Tim Maia, Maria Bethânia, Fagner, Carlos Lyra, Gal Costa, Sidney Magal, Marisa Monte, Cazuza, Renato Russo – cada um influenciado pela bossa ou pelo rock ou pelo brega ou, no máximo, por dois desses estilos musicais”. 

Capa dabiografia 'Roberto Carlos Outra Vez' Foto:

Existe um inescapável tom reverencial quando se analisa a dimensão social de Roberto, e ela fica inegável com o habilidoso jogo de ideias e apuração mostrando a presença de músicas do cantor em nascimentos, casamentos, cirurgias, enterros, assaltos e memórias de toda sorte, mas o novo Outra Vez se revela, além de mais profundo, mais distante do que Em Detalhes. Se havia lá atrás um biógrafo por vezes declaradamente fã, agora, 15 anos e um processo depois, ele está mais implacável com o contar. “O tempo ajuda. Além de reouvir as 141 fitas cassete com as entrevistas, percebendo falas que não havia percebido antes, pude consultar muito mais material, como as entrevistas e os livros publicados depois de 2006”, diz Paulo Cesar. 

Impossível não pensar sobre o efeito contrário que Roberto provocou às próprias intenções ao brigar com a história em 2006. Agora, além do que virá no segundo calhamaço em 2022, tudo o que o incomodou, como o episódio da perda da perna em um acidente férreo, aos seis anos, as humilhações impostas a Tim Maia e a noite tórrida ao lado da cantora Maysa, volta com mais detalhes e mais depuração. Outra Vez prova que Roberto Carlos mexeu com o biógrafo errado.

Quinze anos se passaram desde Roberto Carlos em Detalhes. A biografia lançada em 2006 pela Editora Planeta, do pesquisador Paulo Cesar de Araújo, irritou o cantor, que alegou ser ele o dono e único contador autorizado da própria história, e o caso foi parar nos tribunais. Roberto exigiu que o livro fosse retirado das lojas para não seguir com um pedido de indenização e saiu da sala vitorioso. Mesmo depois do desgaste do grupo de artistas Procure Saber, inicialmente apoiador da sanha censória contra os biógrafos, e do puxão de orelhas do Supremo Tribunal Federal, que entendeu pela liberdade irrestrita de publicações com um “cala boca já morreu!” da então ministra Carmen Lúcia, o livro segue trancado.

Show do cantor Roberto Carlos no Maracanãzinho, em 2021 Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Mas a história, não. Depois de ter exposto a vida de Roberto por uma segunda vez, narrando os bastidores da audiência no livro O Réu e Rei, de 2014, Paulo Cesar volta ao front com a maior munição historiográfica já despendida em qualquer projeto publicado sobre Roberto Carlos. Roberto Carlos Outra Vez, da Editora Record, chega às lojas no dia 6 de dezembro. São 50 capítulos distribuídos em 928 páginas, cada um usando uma música gravada pelo cantor para abordar uma época específica de sua vida. E fala-se aqui apenas do primeiro volume, que toma a vida de Roberto do nascimento a 1970. O próximo, com mais 50 canções que conduzirão o tempo até 2021, quando ele terá 80 anos, será lançado até o fim de 2022.  A reação de Roberto é ainda uma incógnita. Procurada pela reportagem, a assessoria do artista disse que ele estava sem tempo para dar opinião sobre o lançamento por estar ensaiando para o especial de fim de ano da Globo. 

Apesar dos dias ruins vividos diante de um Roberto Carlos bélico, talvez a única faceta que o biógrafo não conhecia de seu biografado até 2006, o livro que chega agora vai além do que já foi contado, estendendo passagens, revisitando notícias, incluindo histórias e trazendo novos inputs. De mente forjada no pensamento acadêmico que o levou a fazer de uma tese uma publicação histórica sobre os cantores bregas perseguidos pela ditadura no Brasil com Eu Não Sou Cachorro Não, de 2002, Paulo Cesar abre o livro com insights bem expostos e argumentados, mas sobretudo saborosos. Ele revela Roberto como o único dos grandes artistas a ter tripla formação no Brasil. Nenhum outro, segundo Araújo, conciliou os universos incomunicáveis da bossa nova de João Gilberto, do rock and roll de Elvis Presley e da música brega. 

“Chico Buarque foi moldado pelo samba e pela bossa; não pelo rock nem pelo brega. Jorge Ben Jor bebeu na fonte do rock, que misturou com a bossa, porém, não com o brega”, escreve Araújo na abertura. “Raul Seixas se entendia muito bem com o diabo do rock’n’roll, e até com o brega, mas não com a bossa. Odair José também não, mas sim com o rock e principalmente com o brega.”  O texto continua: “De Elis Regina a Waldick Soriano; de Ivan Lins a Sérgio Reis; passando por Gonzaguinha, Rita Lee, Belchior, Tim Maia, Maria Bethânia, Fagner, Carlos Lyra, Gal Costa, Sidney Magal, Marisa Monte, Cazuza, Renato Russo – cada um influenciado pela bossa ou pelo rock ou pelo brega ou, no máximo, por dois desses estilos musicais”. 

Capa dabiografia 'Roberto Carlos Outra Vez' Foto:

Existe um inescapável tom reverencial quando se analisa a dimensão social de Roberto, e ela fica inegável com o habilidoso jogo de ideias e apuração mostrando a presença de músicas do cantor em nascimentos, casamentos, cirurgias, enterros, assaltos e memórias de toda sorte, mas o novo Outra Vez se revela, além de mais profundo, mais distante do que Em Detalhes. Se havia lá atrás um biógrafo por vezes declaradamente fã, agora, 15 anos e um processo depois, ele está mais implacável com o contar. “O tempo ajuda. Além de reouvir as 141 fitas cassete com as entrevistas, percebendo falas que não havia percebido antes, pude consultar muito mais material, como as entrevistas e os livros publicados depois de 2006”, diz Paulo Cesar. 

Impossível não pensar sobre o efeito contrário que Roberto provocou às próprias intenções ao brigar com a história em 2006. Agora, além do que virá no segundo calhamaço em 2022, tudo o que o incomodou, como o episódio da perda da perna em um acidente férreo, aos seis anos, as humilhações impostas a Tim Maia e a noite tórrida ao lado da cantora Maysa, volta com mais detalhes e mais depuração. Outra Vez prova que Roberto Carlos mexeu com o biógrafo errado.

Quinze anos se passaram desde Roberto Carlos em Detalhes. A biografia lançada em 2006 pela Editora Planeta, do pesquisador Paulo Cesar de Araújo, irritou o cantor, que alegou ser ele o dono e único contador autorizado da própria história, e o caso foi parar nos tribunais. Roberto exigiu que o livro fosse retirado das lojas para não seguir com um pedido de indenização e saiu da sala vitorioso. Mesmo depois do desgaste do grupo de artistas Procure Saber, inicialmente apoiador da sanha censória contra os biógrafos, e do puxão de orelhas do Supremo Tribunal Federal, que entendeu pela liberdade irrestrita de publicações com um “cala boca já morreu!” da então ministra Carmen Lúcia, o livro segue trancado.

Show do cantor Roberto Carlos no Maracanãzinho, em 2021 Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Mas a história, não. Depois de ter exposto a vida de Roberto por uma segunda vez, narrando os bastidores da audiência no livro O Réu e Rei, de 2014, Paulo Cesar volta ao front com a maior munição historiográfica já despendida em qualquer projeto publicado sobre Roberto Carlos. Roberto Carlos Outra Vez, da Editora Record, chega às lojas no dia 6 de dezembro. São 50 capítulos distribuídos em 928 páginas, cada um usando uma música gravada pelo cantor para abordar uma época específica de sua vida. E fala-se aqui apenas do primeiro volume, que toma a vida de Roberto do nascimento a 1970. O próximo, com mais 50 canções que conduzirão o tempo até 2021, quando ele terá 80 anos, será lançado até o fim de 2022.  A reação de Roberto é ainda uma incógnita. Procurada pela reportagem, a assessoria do artista disse que ele estava sem tempo para dar opinião sobre o lançamento por estar ensaiando para o especial de fim de ano da Globo. 

Apesar dos dias ruins vividos diante de um Roberto Carlos bélico, talvez a única faceta que o biógrafo não conhecia de seu biografado até 2006, o livro que chega agora vai além do que já foi contado, estendendo passagens, revisitando notícias, incluindo histórias e trazendo novos inputs. De mente forjada no pensamento acadêmico que o levou a fazer de uma tese uma publicação histórica sobre os cantores bregas perseguidos pela ditadura no Brasil com Eu Não Sou Cachorro Não, de 2002, Paulo Cesar abre o livro com insights bem expostos e argumentados, mas sobretudo saborosos. Ele revela Roberto como o único dos grandes artistas a ter tripla formação no Brasil. Nenhum outro, segundo Araújo, conciliou os universos incomunicáveis da bossa nova de João Gilberto, do rock and roll de Elvis Presley e da música brega. 

“Chico Buarque foi moldado pelo samba e pela bossa; não pelo rock nem pelo brega. Jorge Ben Jor bebeu na fonte do rock, que misturou com a bossa, porém, não com o brega”, escreve Araújo na abertura. “Raul Seixas se entendia muito bem com o diabo do rock’n’roll, e até com o brega, mas não com a bossa. Odair José também não, mas sim com o rock e principalmente com o brega.”  O texto continua: “De Elis Regina a Waldick Soriano; de Ivan Lins a Sérgio Reis; passando por Gonzaguinha, Rita Lee, Belchior, Tim Maia, Maria Bethânia, Fagner, Carlos Lyra, Gal Costa, Sidney Magal, Marisa Monte, Cazuza, Renato Russo – cada um influenciado pela bossa ou pelo rock ou pelo brega ou, no máximo, por dois desses estilos musicais”. 

Capa dabiografia 'Roberto Carlos Outra Vez' Foto:

Existe um inescapável tom reverencial quando se analisa a dimensão social de Roberto, e ela fica inegável com o habilidoso jogo de ideias e apuração mostrando a presença de músicas do cantor em nascimentos, casamentos, cirurgias, enterros, assaltos e memórias de toda sorte, mas o novo Outra Vez se revela, além de mais profundo, mais distante do que Em Detalhes. Se havia lá atrás um biógrafo por vezes declaradamente fã, agora, 15 anos e um processo depois, ele está mais implacável com o contar. “O tempo ajuda. Além de reouvir as 141 fitas cassete com as entrevistas, percebendo falas que não havia percebido antes, pude consultar muito mais material, como as entrevistas e os livros publicados depois de 2006”, diz Paulo Cesar. 

Impossível não pensar sobre o efeito contrário que Roberto provocou às próprias intenções ao brigar com a história em 2006. Agora, além do que virá no segundo calhamaço em 2022, tudo o que o incomodou, como o episódio da perda da perna em um acidente férreo, aos seis anos, as humilhações impostas a Tim Maia e a noite tórrida ao lado da cantora Maysa, volta com mais detalhes e mais depuração. Outra Vez prova que Roberto Carlos mexeu com o biógrafo errado.

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