Bossa nova volta após seis décadas, ainda viva e vibrante, ao palco dos EUA onde arrebatou o mundo


Apresentação reunirá artistas como Roberto Menescal, Daniel Jobim Seu Jorge, Carlinhos Brown e Carol Biazin na lendária casa de show de Nova York onde a bossa começou a dominar o planeta em 1962

Por Danilo Casaletti

Em 1962, quando o empresário americano Sidney Frey, dono da gravadora Audio Fidelity Records, organizou, com ajuda do Itamaraty, o lendário Concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele disse uma frase que compreendeu de uma só vez o habitual tino comercial estadunidense e o insistente complexo de vira-lata dos brasileiros: “Ainda vamos vender a bossa nova para o Brasil”.

A bossa nova continua a ser vendida (e adorada) mundo afora – certamente mais do que em solo nacional, e muitas vezes produzida por não brasileiros. Por isso, o concerto comemorativo A Grande Noite – Bossa Nova que ocorrerá no dia 8 de outubro, no mesmo palco do Carnegie Hall, tem um objetivo para além da efeméride: apontar um futuro para a bossa nova. Ou mostrar como ela está no DNA da música feita até a atualidade - fato comprovado por popstars novinhos lá de fora, como Billie Elish e Alessia Cara, e daqui, como Anitta e Luísa Sonza, donos de sucessos recentes no gênero.

A apresentação será conduzida pelo pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e pelo cantor Seu Jorge – os dois têm apresentado um show dedicado ao maestro. Como convidados, o compositor e violonista Roberto Menescal – que esteve na noite de 1962 -, o músico Carlinhos Brown, a cantora brasileira Carol Biazin e a cantora britânica Celeste. A direção artística será do músico Max Viana. O apresentador Serginho Groisman será o mestre de cerimônia.

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O pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e o músico e compositor Roberto Menescal estarão juntos em Nova York Foto: Alex Silva/Estadão

“A bossa nova já deveria ter voltado ao palco do Carnegie Hall muitas outras vezes. O show é a abertura de um novo portal para a música brasileira, sua harmonia, melodia e ritmo, ser exportada, mesmo que por outros gêneros”, diz Viana.

A base do repertório será Tom Jobim – e seus respectivos parceiros. São músicas que se tornaram trunfos da bossa nova, a partir do concerto de 1962, como Chega de Saudade, Samba de Uma Nota Só, Desafinado, A Felicidade, Só Danço Samba, Dindi, além da canção que se tornou uma embaixadora do movimento: Garota de Ipanema.

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“Tom é o cara. Tem que ser ele”, diz Menescal. Daniel aproveita para falar sobre o documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, que acaba de estrear e mostra como o entendimento entre Elis, Tom e o músico Cesar Camargo Mariano foi difícil. “Não teve essa briga toda. Ele fez com o Cesar a mesma coisa que ele fazia com o Claus (Ogerman, arranjador do álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim). O resultado do disco é maravilhoso”, afirma Daniel.

Menescal vai reviver na casa novaiorquina o número que fez em 1962, O Barquinho, sua parceria com Ronaldo Bôscoli. No passado, ele errou a letra de sua própria canção. “Naquela época, ninguém conhecia a música. Passou batido”, diz. De lá para cá, O Barquinho já teve mais de três mil gravações no Brasil e no exterior. “Agora vou decorar a letra”, brinca Menescal, de 85 anos.

Para o público, certamente fica difícil a associação de Seu Jorge e Carlinhos Brown com a bossa nova. “Eu canto mais suave. Seu Jorge, mais forte. Mas ele canta tudo, não tem uma vírgula fora de lugar”, defende Daniel. Menescal diz que conheceu Seu Jorge há três semanas. “Não importa se ele veio da bossa. É importante que ele está aqui, com a gente. Não podemos querer que todo mundo seja um João Gilberto ou ficar presos ao passado”, diz Menescal.

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Menescal, Daniel Jobim e Max Vianna : um papo cheio de bossa Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Sobre Brown, Max Viana diz que, assim como Seu Jorge, ele representa a universalidade da bossa nova. “Ele não toca propriamente bossa nova, mas foi formado por ela. Luísa Sonza e Anitta não são cantoras de bossa, mas a reconheceram e a usaram em suas músicas”, explica.

“Tudo é bossa. Não sei se nova. Até a música da Luísa Sonza (Chico) é bossa. Todo mundo esperava que eu falasse mal, mas é uma boa música, bonitinha”, diz Menescal, sobre o alcance do gênero.

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Fly Way, que o Michael Jackson gravou, com a participação do (violonista) Oscar Castro Neves, é uma bossa nova. Bossa é a mistura toda”, complementa Jobim, para exemplificar como ela é pode ser muito mais do que a imagem e o som de um banquinho e um violão.

A paranaense Carol Biazin, de 26 anos, vai cantar Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, canção bastante conhecida no exterior como So Nice. A reportagem do Estadão acompanhou o ensaio de Carol com Menescal e Daniel em um estúdio em São Paulo. Para Viana, Carol e Menescal se complementam. Ele, no ritmo. Ela, na melodia.

Carol Biazin e Menescal ensaiam 'Samba de Verão' Foto: Alex Silva/Estadão
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“Quando eu fazia aula de violão, aos oito anos, pedi para o meu professor me mostrar algo diferente. Ele me ensinou O Barquinho. Quando vi aqueles acordes todos invertidos, percebi que o mundo era mais do que ré, dó e sol”, diz a cantora.

Sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda?

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Quando o primeiro concerto de bossa nova ocorreu no Carnegie Hall, em 1962, a imprensa brasileira recebeu com desconfiança a apresentação. Não faltaram textos falando sobre o suposto ‘fracasso’ da noite que reuniu nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, entre outros.

A reação mais radical veio do jornalista e compositor David Nasser, um dos nomes do samba canção, movimento que a bossa nova, de certa maneira, sepultou. “Ele era contrário a nós. Fazia letras com versos do tipo ‘ninguém me ama’. Ninguém te ama por causa disso, cara”, reage Menescal.

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Para Menescal, a apresentação de 1962 foi, sim, um sucesso – dizem que o trompetista Miles Davis e outros importantes nomes do jazz estariam na plateia. “Eles queriam aprender como se tocava bossa, sobretudo os bateristas. No jazz, não se pode fazer nada. No ritmo da bossa, se pode fazer tudo, o tempo todo”, diz.

Tudo foi registrado em áudio e vídeo. Um disco foi lançado com parte da apresentação e está disponível nas plataformas digitais. Já as imagens se perderam. Segundo Menescal, o empresário Ricardo Amaral está em busca delas.

Roberto Menescal (na guitarra) e Alaíde Costa, ao fundo, nos anos 1960 Foto: Acervo de Roberto Menescal/Divulgação

A lista de convidados também gerou polêmica. Menescal diz que isso ficou a cargo do Itamaraty. “Eu fiquei com fama de não chamar esse ou aquele, mas não era minha responsabilidade”, diz Menescal, que afirma não lembrar se recebeu cachê.

Muita gente ligada à bossa ficou de fora. Foi o caso de Johnny Alf. “Acho que o Itamaraty nem sabia quem era ele. Era muito tímido, não gostava de ir às reuniões na casa de Nara (Leão)”, diz Menescal. Das cantoras, outras tantas foram esquecidas: Alaíde Costa, Silvinha Telles e Sônia Delfino, por exemplo.

A produção do concerto do dia 8 de outubro trabalha agora para confirmar mais um nome para a apresentação. Se der certo, vai redimir a lista fria elaborada pelo Itamaraty. Depois de seis décadas, a bossa nova – também acusada de ser o embranquecimento do samba - pisará no Carnegie Hall novamente não com cara de missão oficial, e sim com a pluralidade que construiu seu balanço.

Em 1962, quando o empresário americano Sidney Frey, dono da gravadora Audio Fidelity Records, organizou, com ajuda do Itamaraty, o lendário Concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele disse uma frase que compreendeu de uma só vez o habitual tino comercial estadunidense e o insistente complexo de vira-lata dos brasileiros: “Ainda vamos vender a bossa nova para o Brasil”.

A bossa nova continua a ser vendida (e adorada) mundo afora – certamente mais do que em solo nacional, e muitas vezes produzida por não brasileiros. Por isso, o concerto comemorativo A Grande Noite – Bossa Nova que ocorrerá no dia 8 de outubro, no mesmo palco do Carnegie Hall, tem um objetivo para além da efeméride: apontar um futuro para a bossa nova. Ou mostrar como ela está no DNA da música feita até a atualidade - fato comprovado por popstars novinhos lá de fora, como Billie Elish e Alessia Cara, e daqui, como Anitta e Luísa Sonza, donos de sucessos recentes no gênero.

A apresentação será conduzida pelo pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e pelo cantor Seu Jorge – os dois têm apresentado um show dedicado ao maestro. Como convidados, o compositor e violonista Roberto Menescal – que esteve na noite de 1962 -, o músico Carlinhos Brown, a cantora brasileira Carol Biazin e a cantora britânica Celeste. A direção artística será do músico Max Viana. O apresentador Serginho Groisman será o mestre de cerimônia.

O pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e o músico e compositor Roberto Menescal estarão juntos em Nova York Foto: Alex Silva/Estadão

“A bossa nova já deveria ter voltado ao palco do Carnegie Hall muitas outras vezes. O show é a abertura de um novo portal para a música brasileira, sua harmonia, melodia e ritmo, ser exportada, mesmo que por outros gêneros”, diz Viana.

A base do repertório será Tom Jobim – e seus respectivos parceiros. São músicas que se tornaram trunfos da bossa nova, a partir do concerto de 1962, como Chega de Saudade, Samba de Uma Nota Só, Desafinado, A Felicidade, Só Danço Samba, Dindi, além da canção que se tornou uma embaixadora do movimento: Garota de Ipanema.

“Tom é o cara. Tem que ser ele”, diz Menescal. Daniel aproveita para falar sobre o documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, que acaba de estrear e mostra como o entendimento entre Elis, Tom e o músico Cesar Camargo Mariano foi difícil. “Não teve essa briga toda. Ele fez com o Cesar a mesma coisa que ele fazia com o Claus (Ogerman, arranjador do álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim). O resultado do disco é maravilhoso”, afirma Daniel.

Menescal vai reviver na casa novaiorquina o número que fez em 1962, O Barquinho, sua parceria com Ronaldo Bôscoli. No passado, ele errou a letra de sua própria canção. “Naquela época, ninguém conhecia a música. Passou batido”, diz. De lá para cá, O Barquinho já teve mais de três mil gravações no Brasil e no exterior. “Agora vou decorar a letra”, brinca Menescal, de 85 anos.

Para o público, certamente fica difícil a associação de Seu Jorge e Carlinhos Brown com a bossa nova. “Eu canto mais suave. Seu Jorge, mais forte. Mas ele canta tudo, não tem uma vírgula fora de lugar”, defende Daniel. Menescal diz que conheceu Seu Jorge há três semanas. “Não importa se ele veio da bossa. É importante que ele está aqui, com a gente. Não podemos querer que todo mundo seja um João Gilberto ou ficar presos ao passado”, diz Menescal.

Menescal, Daniel Jobim e Max Vianna : um papo cheio de bossa Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Sobre Brown, Max Viana diz que, assim como Seu Jorge, ele representa a universalidade da bossa nova. “Ele não toca propriamente bossa nova, mas foi formado por ela. Luísa Sonza e Anitta não são cantoras de bossa, mas a reconheceram e a usaram em suas músicas”, explica.

“Tudo é bossa. Não sei se nova. Até a música da Luísa Sonza (Chico) é bossa. Todo mundo esperava que eu falasse mal, mas é uma boa música, bonitinha”, diz Menescal, sobre o alcance do gênero.

Fly Way, que o Michael Jackson gravou, com a participação do (violonista) Oscar Castro Neves, é uma bossa nova. Bossa é a mistura toda”, complementa Jobim, para exemplificar como ela é pode ser muito mais do que a imagem e o som de um banquinho e um violão.

A paranaense Carol Biazin, de 26 anos, vai cantar Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, canção bastante conhecida no exterior como So Nice. A reportagem do Estadão acompanhou o ensaio de Carol com Menescal e Daniel em um estúdio em São Paulo. Para Viana, Carol e Menescal se complementam. Ele, no ritmo. Ela, na melodia.

Carol Biazin e Menescal ensaiam 'Samba de Verão' Foto: Alex Silva/Estadão

“Quando eu fazia aula de violão, aos oito anos, pedi para o meu professor me mostrar algo diferente. Ele me ensinou O Barquinho. Quando vi aqueles acordes todos invertidos, percebi que o mundo era mais do que ré, dó e sol”, diz a cantora.

Sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda?

Quando o primeiro concerto de bossa nova ocorreu no Carnegie Hall, em 1962, a imprensa brasileira recebeu com desconfiança a apresentação. Não faltaram textos falando sobre o suposto ‘fracasso’ da noite que reuniu nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, entre outros.

A reação mais radical veio do jornalista e compositor David Nasser, um dos nomes do samba canção, movimento que a bossa nova, de certa maneira, sepultou. “Ele era contrário a nós. Fazia letras com versos do tipo ‘ninguém me ama’. Ninguém te ama por causa disso, cara”, reage Menescal.

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Para Menescal, a apresentação de 1962 foi, sim, um sucesso – dizem que o trompetista Miles Davis e outros importantes nomes do jazz estariam na plateia. “Eles queriam aprender como se tocava bossa, sobretudo os bateristas. No jazz, não se pode fazer nada. No ritmo da bossa, se pode fazer tudo, o tempo todo”, diz.

Tudo foi registrado em áudio e vídeo. Um disco foi lançado com parte da apresentação e está disponível nas plataformas digitais. Já as imagens se perderam. Segundo Menescal, o empresário Ricardo Amaral está em busca delas.

Roberto Menescal (na guitarra) e Alaíde Costa, ao fundo, nos anos 1960 Foto: Acervo de Roberto Menescal/Divulgação

A lista de convidados também gerou polêmica. Menescal diz que isso ficou a cargo do Itamaraty. “Eu fiquei com fama de não chamar esse ou aquele, mas não era minha responsabilidade”, diz Menescal, que afirma não lembrar se recebeu cachê.

Muita gente ligada à bossa ficou de fora. Foi o caso de Johnny Alf. “Acho que o Itamaraty nem sabia quem era ele. Era muito tímido, não gostava de ir às reuniões na casa de Nara (Leão)”, diz Menescal. Das cantoras, outras tantas foram esquecidas: Alaíde Costa, Silvinha Telles e Sônia Delfino, por exemplo.

A produção do concerto do dia 8 de outubro trabalha agora para confirmar mais um nome para a apresentação. Se der certo, vai redimir a lista fria elaborada pelo Itamaraty. Depois de seis décadas, a bossa nova – também acusada de ser o embranquecimento do samba - pisará no Carnegie Hall novamente não com cara de missão oficial, e sim com a pluralidade que construiu seu balanço.

Em 1962, quando o empresário americano Sidney Frey, dono da gravadora Audio Fidelity Records, organizou, com ajuda do Itamaraty, o lendário Concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele disse uma frase que compreendeu de uma só vez o habitual tino comercial estadunidense e o insistente complexo de vira-lata dos brasileiros: “Ainda vamos vender a bossa nova para o Brasil”.

A bossa nova continua a ser vendida (e adorada) mundo afora – certamente mais do que em solo nacional, e muitas vezes produzida por não brasileiros. Por isso, o concerto comemorativo A Grande Noite – Bossa Nova que ocorrerá no dia 8 de outubro, no mesmo palco do Carnegie Hall, tem um objetivo para além da efeméride: apontar um futuro para a bossa nova. Ou mostrar como ela está no DNA da música feita até a atualidade - fato comprovado por popstars novinhos lá de fora, como Billie Elish e Alessia Cara, e daqui, como Anitta e Luísa Sonza, donos de sucessos recentes no gênero.

A apresentação será conduzida pelo pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e pelo cantor Seu Jorge – os dois têm apresentado um show dedicado ao maestro. Como convidados, o compositor e violonista Roberto Menescal – que esteve na noite de 1962 -, o músico Carlinhos Brown, a cantora brasileira Carol Biazin e a cantora britânica Celeste. A direção artística será do músico Max Viana. O apresentador Serginho Groisman será o mestre de cerimônia.

O pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e o músico e compositor Roberto Menescal estarão juntos em Nova York Foto: Alex Silva/Estadão

“A bossa nova já deveria ter voltado ao palco do Carnegie Hall muitas outras vezes. O show é a abertura de um novo portal para a música brasileira, sua harmonia, melodia e ritmo, ser exportada, mesmo que por outros gêneros”, diz Viana.

A base do repertório será Tom Jobim – e seus respectivos parceiros. São músicas que se tornaram trunfos da bossa nova, a partir do concerto de 1962, como Chega de Saudade, Samba de Uma Nota Só, Desafinado, A Felicidade, Só Danço Samba, Dindi, além da canção que se tornou uma embaixadora do movimento: Garota de Ipanema.

“Tom é o cara. Tem que ser ele”, diz Menescal. Daniel aproveita para falar sobre o documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, que acaba de estrear e mostra como o entendimento entre Elis, Tom e o músico Cesar Camargo Mariano foi difícil. “Não teve essa briga toda. Ele fez com o Cesar a mesma coisa que ele fazia com o Claus (Ogerman, arranjador do álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim). O resultado do disco é maravilhoso”, afirma Daniel.

Menescal vai reviver na casa novaiorquina o número que fez em 1962, O Barquinho, sua parceria com Ronaldo Bôscoli. No passado, ele errou a letra de sua própria canção. “Naquela época, ninguém conhecia a música. Passou batido”, diz. De lá para cá, O Barquinho já teve mais de três mil gravações no Brasil e no exterior. “Agora vou decorar a letra”, brinca Menescal, de 85 anos.

Para o público, certamente fica difícil a associação de Seu Jorge e Carlinhos Brown com a bossa nova. “Eu canto mais suave. Seu Jorge, mais forte. Mas ele canta tudo, não tem uma vírgula fora de lugar”, defende Daniel. Menescal diz que conheceu Seu Jorge há três semanas. “Não importa se ele veio da bossa. É importante que ele está aqui, com a gente. Não podemos querer que todo mundo seja um João Gilberto ou ficar presos ao passado”, diz Menescal.

Menescal, Daniel Jobim e Max Vianna : um papo cheio de bossa Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Sobre Brown, Max Viana diz que, assim como Seu Jorge, ele representa a universalidade da bossa nova. “Ele não toca propriamente bossa nova, mas foi formado por ela. Luísa Sonza e Anitta não são cantoras de bossa, mas a reconheceram e a usaram em suas músicas”, explica.

“Tudo é bossa. Não sei se nova. Até a música da Luísa Sonza (Chico) é bossa. Todo mundo esperava que eu falasse mal, mas é uma boa música, bonitinha”, diz Menescal, sobre o alcance do gênero.

Fly Way, que o Michael Jackson gravou, com a participação do (violonista) Oscar Castro Neves, é uma bossa nova. Bossa é a mistura toda”, complementa Jobim, para exemplificar como ela é pode ser muito mais do que a imagem e o som de um banquinho e um violão.

A paranaense Carol Biazin, de 26 anos, vai cantar Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, canção bastante conhecida no exterior como So Nice. A reportagem do Estadão acompanhou o ensaio de Carol com Menescal e Daniel em um estúdio em São Paulo. Para Viana, Carol e Menescal se complementam. Ele, no ritmo. Ela, na melodia.

Carol Biazin e Menescal ensaiam 'Samba de Verão' Foto: Alex Silva/Estadão

“Quando eu fazia aula de violão, aos oito anos, pedi para o meu professor me mostrar algo diferente. Ele me ensinou O Barquinho. Quando vi aqueles acordes todos invertidos, percebi que o mundo era mais do que ré, dó e sol”, diz a cantora.

Sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda?

Quando o primeiro concerto de bossa nova ocorreu no Carnegie Hall, em 1962, a imprensa brasileira recebeu com desconfiança a apresentação. Não faltaram textos falando sobre o suposto ‘fracasso’ da noite que reuniu nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, entre outros.

A reação mais radical veio do jornalista e compositor David Nasser, um dos nomes do samba canção, movimento que a bossa nova, de certa maneira, sepultou. “Ele era contrário a nós. Fazia letras com versos do tipo ‘ninguém me ama’. Ninguém te ama por causa disso, cara”, reage Menescal.

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Para Menescal, a apresentação de 1962 foi, sim, um sucesso – dizem que o trompetista Miles Davis e outros importantes nomes do jazz estariam na plateia. “Eles queriam aprender como se tocava bossa, sobretudo os bateristas. No jazz, não se pode fazer nada. No ritmo da bossa, se pode fazer tudo, o tempo todo”, diz.

Tudo foi registrado em áudio e vídeo. Um disco foi lançado com parte da apresentação e está disponível nas plataformas digitais. Já as imagens se perderam. Segundo Menescal, o empresário Ricardo Amaral está em busca delas.

Roberto Menescal (na guitarra) e Alaíde Costa, ao fundo, nos anos 1960 Foto: Acervo de Roberto Menescal/Divulgação

A lista de convidados também gerou polêmica. Menescal diz que isso ficou a cargo do Itamaraty. “Eu fiquei com fama de não chamar esse ou aquele, mas não era minha responsabilidade”, diz Menescal, que afirma não lembrar se recebeu cachê.

Muita gente ligada à bossa ficou de fora. Foi o caso de Johnny Alf. “Acho que o Itamaraty nem sabia quem era ele. Era muito tímido, não gostava de ir às reuniões na casa de Nara (Leão)”, diz Menescal. Das cantoras, outras tantas foram esquecidas: Alaíde Costa, Silvinha Telles e Sônia Delfino, por exemplo.

A produção do concerto do dia 8 de outubro trabalha agora para confirmar mais um nome para a apresentação. Se der certo, vai redimir a lista fria elaborada pelo Itamaraty. Depois de seis décadas, a bossa nova – também acusada de ser o embranquecimento do samba - pisará no Carnegie Hall novamente não com cara de missão oficial, e sim com a pluralidade que construiu seu balanço.

Em 1962, quando o empresário americano Sidney Frey, dono da gravadora Audio Fidelity Records, organizou, com ajuda do Itamaraty, o lendário Concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele disse uma frase que compreendeu de uma só vez o habitual tino comercial estadunidense e o insistente complexo de vira-lata dos brasileiros: “Ainda vamos vender a bossa nova para o Brasil”.

A bossa nova continua a ser vendida (e adorada) mundo afora – certamente mais do que em solo nacional, e muitas vezes produzida por não brasileiros. Por isso, o concerto comemorativo A Grande Noite – Bossa Nova que ocorrerá no dia 8 de outubro, no mesmo palco do Carnegie Hall, tem um objetivo para além da efeméride: apontar um futuro para a bossa nova. Ou mostrar como ela está no DNA da música feita até a atualidade - fato comprovado por popstars novinhos lá de fora, como Billie Elish e Alessia Cara, e daqui, como Anitta e Luísa Sonza, donos de sucessos recentes no gênero.

A apresentação será conduzida pelo pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e pelo cantor Seu Jorge – os dois têm apresentado um show dedicado ao maestro. Como convidados, o compositor e violonista Roberto Menescal – que esteve na noite de 1962 -, o músico Carlinhos Brown, a cantora brasileira Carol Biazin e a cantora britânica Celeste. A direção artística será do músico Max Viana. O apresentador Serginho Groisman será o mestre de cerimônia.

O pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e o músico e compositor Roberto Menescal estarão juntos em Nova York Foto: Alex Silva/Estadão

“A bossa nova já deveria ter voltado ao palco do Carnegie Hall muitas outras vezes. O show é a abertura de um novo portal para a música brasileira, sua harmonia, melodia e ritmo, ser exportada, mesmo que por outros gêneros”, diz Viana.

A base do repertório será Tom Jobim – e seus respectivos parceiros. São músicas que se tornaram trunfos da bossa nova, a partir do concerto de 1962, como Chega de Saudade, Samba de Uma Nota Só, Desafinado, A Felicidade, Só Danço Samba, Dindi, além da canção que se tornou uma embaixadora do movimento: Garota de Ipanema.

“Tom é o cara. Tem que ser ele”, diz Menescal. Daniel aproveita para falar sobre o documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, que acaba de estrear e mostra como o entendimento entre Elis, Tom e o músico Cesar Camargo Mariano foi difícil. “Não teve essa briga toda. Ele fez com o Cesar a mesma coisa que ele fazia com o Claus (Ogerman, arranjador do álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim). O resultado do disco é maravilhoso”, afirma Daniel.

Menescal vai reviver na casa novaiorquina o número que fez em 1962, O Barquinho, sua parceria com Ronaldo Bôscoli. No passado, ele errou a letra de sua própria canção. “Naquela época, ninguém conhecia a música. Passou batido”, diz. De lá para cá, O Barquinho já teve mais de três mil gravações no Brasil e no exterior. “Agora vou decorar a letra”, brinca Menescal, de 85 anos.

Para o público, certamente fica difícil a associação de Seu Jorge e Carlinhos Brown com a bossa nova. “Eu canto mais suave. Seu Jorge, mais forte. Mas ele canta tudo, não tem uma vírgula fora de lugar”, defende Daniel. Menescal diz que conheceu Seu Jorge há três semanas. “Não importa se ele veio da bossa. É importante que ele está aqui, com a gente. Não podemos querer que todo mundo seja um João Gilberto ou ficar presos ao passado”, diz Menescal.

Menescal, Daniel Jobim e Max Vianna : um papo cheio de bossa Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Sobre Brown, Max Viana diz que, assim como Seu Jorge, ele representa a universalidade da bossa nova. “Ele não toca propriamente bossa nova, mas foi formado por ela. Luísa Sonza e Anitta não são cantoras de bossa, mas a reconheceram e a usaram em suas músicas”, explica.

“Tudo é bossa. Não sei se nova. Até a música da Luísa Sonza (Chico) é bossa. Todo mundo esperava que eu falasse mal, mas é uma boa música, bonitinha”, diz Menescal, sobre o alcance do gênero.

Fly Way, que o Michael Jackson gravou, com a participação do (violonista) Oscar Castro Neves, é uma bossa nova. Bossa é a mistura toda”, complementa Jobim, para exemplificar como ela é pode ser muito mais do que a imagem e o som de um banquinho e um violão.

A paranaense Carol Biazin, de 26 anos, vai cantar Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, canção bastante conhecida no exterior como So Nice. A reportagem do Estadão acompanhou o ensaio de Carol com Menescal e Daniel em um estúdio em São Paulo. Para Viana, Carol e Menescal se complementam. Ele, no ritmo. Ela, na melodia.

Carol Biazin e Menescal ensaiam 'Samba de Verão' Foto: Alex Silva/Estadão

“Quando eu fazia aula de violão, aos oito anos, pedi para o meu professor me mostrar algo diferente. Ele me ensinou O Barquinho. Quando vi aqueles acordes todos invertidos, percebi que o mundo era mais do que ré, dó e sol”, diz a cantora.

Sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda?

Quando o primeiro concerto de bossa nova ocorreu no Carnegie Hall, em 1962, a imprensa brasileira recebeu com desconfiança a apresentação. Não faltaram textos falando sobre o suposto ‘fracasso’ da noite que reuniu nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, entre outros.

A reação mais radical veio do jornalista e compositor David Nasser, um dos nomes do samba canção, movimento que a bossa nova, de certa maneira, sepultou. “Ele era contrário a nós. Fazia letras com versos do tipo ‘ninguém me ama’. Ninguém te ama por causa disso, cara”, reage Menescal.

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Para Menescal, a apresentação de 1962 foi, sim, um sucesso – dizem que o trompetista Miles Davis e outros importantes nomes do jazz estariam na plateia. “Eles queriam aprender como se tocava bossa, sobretudo os bateristas. No jazz, não se pode fazer nada. No ritmo da bossa, se pode fazer tudo, o tempo todo”, diz.

Tudo foi registrado em áudio e vídeo. Um disco foi lançado com parte da apresentação e está disponível nas plataformas digitais. Já as imagens se perderam. Segundo Menescal, o empresário Ricardo Amaral está em busca delas.

Roberto Menescal (na guitarra) e Alaíde Costa, ao fundo, nos anos 1960 Foto: Acervo de Roberto Menescal/Divulgação

A lista de convidados também gerou polêmica. Menescal diz que isso ficou a cargo do Itamaraty. “Eu fiquei com fama de não chamar esse ou aquele, mas não era minha responsabilidade”, diz Menescal, que afirma não lembrar se recebeu cachê.

Muita gente ligada à bossa ficou de fora. Foi o caso de Johnny Alf. “Acho que o Itamaraty nem sabia quem era ele. Era muito tímido, não gostava de ir às reuniões na casa de Nara (Leão)”, diz Menescal. Das cantoras, outras tantas foram esquecidas: Alaíde Costa, Silvinha Telles e Sônia Delfino, por exemplo.

A produção do concerto do dia 8 de outubro trabalha agora para confirmar mais um nome para a apresentação. Se der certo, vai redimir a lista fria elaborada pelo Itamaraty. Depois de seis décadas, a bossa nova – também acusada de ser o embranquecimento do samba - pisará no Carnegie Hall novamente não com cara de missão oficial, e sim com a pluralidade que construiu seu balanço.

Em 1962, quando o empresário americano Sidney Frey, dono da gravadora Audio Fidelity Records, organizou, com ajuda do Itamaraty, o lendário Concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova York, ele disse uma frase que compreendeu de uma só vez o habitual tino comercial estadunidense e o insistente complexo de vira-lata dos brasileiros: “Ainda vamos vender a bossa nova para o Brasil”.

A bossa nova continua a ser vendida (e adorada) mundo afora – certamente mais do que em solo nacional, e muitas vezes produzida por não brasileiros. Por isso, o concerto comemorativo A Grande Noite – Bossa Nova que ocorrerá no dia 8 de outubro, no mesmo palco do Carnegie Hall, tem um objetivo para além da efeméride: apontar um futuro para a bossa nova. Ou mostrar como ela está no DNA da música feita até a atualidade - fato comprovado por popstars novinhos lá de fora, como Billie Elish e Alessia Cara, e daqui, como Anitta e Luísa Sonza, donos de sucessos recentes no gênero.

A apresentação será conduzida pelo pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e pelo cantor Seu Jorge – os dois têm apresentado um show dedicado ao maestro. Como convidados, o compositor e violonista Roberto Menescal – que esteve na noite de 1962 -, o músico Carlinhos Brown, a cantora brasileira Carol Biazin e a cantora britânica Celeste. A direção artística será do músico Max Viana. O apresentador Serginho Groisman será o mestre de cerimônia.

O pianista Daniel Jobim, neto de Tom, e o músico e compositor Roberto Menescal estarão juntos em Nova York Foto: Alex Silva/Estadão

“A bossa nova já deveria ter voltado ao palco do Carnegie Hall muitas outras vezes. O show é a abertura de um novo portal para a música brasileira, sua harmonia, melodia e ritmo, ser exportada, mesmo que por outros gêneros”, diz Viana.

A base do repertório será Tom Jobim – e seus respectivos parceiros. São músicas que se tornaram trunfos da bossa nova, a partir do concerto de 1962, como Chega de Saudade, Samba de Uma Nota Só, Desafinado, A Felicidade, Só Danço Samba, Dindi, além da canção que se tornou uma embaixadora do movimento: Garota de Ipanema.

“Tom é o cara. Tem que ser ele”, diz Menescal. Daniel aproveita para falar sobre o documentário Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, que acaba de estrear e mostra como o entendimento entre Elis, Tom e o músico Cesar Camargo Mariano foi difícil. “Não teve essa briga toda. Ele fez com o Cesar a mesma coisa que ele fazia com o Claus (Ogerman, arranjador do álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim). O resultado do disco é maravilhoso”, afirma Daniel.

Menescal vai reviver na casa novaiorquina o número que fez em 1962, O Barquinho, sua parceria com Ronaldo Bôscoli. No passado, ele errou a letra de sua própria canção. “Naquela época, ninguém conhecia a música. Passou batido”, diz. De lá para cá, O Barquinho já teve mais de três mil gravações no Brasil e no exterior. “Agora vou decorar a letra”, brinca Menescal, de 85 anos.

Para o público, certamente fica difícil a associação de Seu Jorge e Carlinhos Brown com a bossa nova. “Eu canto mais suave. Seu Jorge, mais forte. Mas ele canta tudo, não tem uma vírgula fora de lugar”, defende Daniel. Menescal diz que conheceu Seu Jorge há três semanas. “Não importa se ele veio da bossa. É importante que ele está aqui, com a gente. Não podemos querer que todo mundo seja um João Gilberto ou ficar presos ao passado”, diz Menescal.

Menescal, Daniel Jobim e Max Vianna : um papo cheio de bossa Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Sobre Brown, Max Viana diz que, assim como Seu Jorge, ele representa a universalidade da bossa nova. “Ele não toca propriamente bossa nova, mas foi formado por ela. Luísa Sonza e Anitta não são cantoras de bossa, mas a reconheceram e a usaram em suas músicas”, explica.

“Tudo é bossa. Não sei se nova. Até a música da Luísa Sonza (Chico) é bossa. Todo mundo esperava que eu falasse mal, mas é uma boa música, bonitinha”, diz Menescal, sobre o alcance do gênero.

Fly Way, que o Michael Jackson gravou, com a participação do (violonista) Oscar Castro Neves, é uma bossa nova. Bossa é a mistura toda”, complementa Jobim, para exemplificar como ela é pode ser muito mais do que a imagem e o som de um banquinho e um violão.

A paranaense Carol Biazin, de 26 anos, vai cantar Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, canção bastante conhecida no exterior como So Nice. A reportagem do Estadão acompanhou o ensaio de Carol com Menescal e Daniel em um estúdio em São Paulo. Para Viana, Carol e Menescal se complementam. Ele, no ritmo. Ela, na melodia.

Carol Biazin e Menescal ensaiam 'Samba de Verão' Foto: Alex Silva/Estadão

“Quando eu fazia aula de violão, aos oito anos, pedi para o meu professor me mostrar algo diferente. Ele me ensinou O Barquinho. Quando vi aqueles acordes todos invertidos, percebi que o mundo era mais do que ré, dó e sol”, diz a cantora.

Sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda?

Quando o primeiro concerto de bossa nova ocorreu no Carnegie Hall, em 1962, a imprensa brasileira recebeu com desconfiança a apresentação. Não faltaram textos falando sobre o suposto ‘fracasso’ da noite que reuniu nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, entre outros.

A reação mais radical veio do jornalista e compositor David Nasser, um dos nomes do samba canção, movimento que a bossa nova, de certa maneira, sepultou. “Ele era contrário a nós. Fazia letras com versos do tipo ‘ninguém me ama’. Ninguém te ama por causa disso, cara”, reage Menescal.

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Para Menescal, a apresentação de 1962 foi, sim, um sucesso – dizem que o trompetista Miles Davis e outros importantes nomes do jazz estariam na plateia. “Eles queriam aprender como se tocava bossa, sobretudo os bateristas. No jazz, não se pode fazer nada. No ritmo da bossa, se pode fazer tudo, o tempo todo”, diz.

Tudo foi registrado em áudio e vídeo. Um disco foi lançado com parte da apresentação e está disponível nas plataformas digitais. Já as imagens se perderam. Segundo Menescal, o empresário Ricardo Amaral está em busca delas.

Roberto Menescal (na guitarra) e Alaíde Costa, ao fundo, nos anos 1960 Foto: Acervo de Roberto Menescal/Divulgação

A lista de convidados também gerou polêmica. Menescal diz que isso ficou a cargo do Itamaraty. “Eu fiquei com fama de não chamar esse ou aquele, mas não era minha responsabilidade”, diz Menescal, que afirma não lembrar se recebeu cachê.

Muita gente ligada à bossa ficou de fora. Foi o caso de Johnny Alf. “Acho que o Itamaraty nem sabia quem era ele. Era muito tímido, não gostava de ir às reuniões na casa de Nara (Leão)”, diz Menescal. Das cantoras, outras tantas foram esquecidas: Alaíde Costa, Silvinha Telles e Sônia Delfino, por exemplo.

A produção do concerto do dia 8 de outubro trabalha agora para confirmar mais um nome para a apresentação. Se der certo, vai redimir a lista fria elaborada pelo Itamaraty. Depois de seis décadas, a bossa nova – também acusada de ser o embranquecimento do samba - pisará no Carnegie Hall novamente não com cara de missão oficial, e sim com a pluralidade que construiu seu balanço.

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