Britney Spears além da fofoca: novo livro é um retrato inédito do seu processo criativo; entenda


‘A Mulher em Mim’ oferece um raro e por vezes inédito olhar sobre as decisões artísticas e instinto musical por trás dos acertos e erros na carreira da princesa do pop

Por João Ker

Para além dos traumas pessoais, relacionamentos românticos, brigas familiares e a luta por sua liberdade, a autobiografia lançada por Britney Spears na última terça-feira, 24, traz pela primeira vez um vislumbre até então inédito da artista por trás da celebridade. Em “A Mulher em Mim” (Ed. Buzz), o público consegue finalmente entender de forma aprofundada como as inspirações, visões e escolhas criativas da princesa do pop guiaram os erros e acertos de sua carreira que, antes mesmo dos seus 18 anos, já era considerada um dos maiores casos de sucesso na história da indústria fonográfica.

Britney começa o livro contando como a música sempre foi uma forma de escape para os seus problemas familiares e que, ainda na infância, encarava o ato de cantar como uma conexão espiritual que a levava “à presença do divino”. “Os artistas realizam coisas e interpretam personagens porque querem fugir para mundos distantes, e isso era exatamente do que eu precisava. Eu queria viver dentro dos meus sonhos, meu maravilhoso mundo fictício e, se pudesse evitar, não pensar na realidade”, explica.

Ainda criança, Britney começou a competir em concursos de canto e dança, ao mesmo tempo em que fazia aulas de balé e ginástica. Aos 11 anos, ela entrou para o elenco do Clube do Mickey e, aos 16, conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, após conquistar os executivos da Jive com sua versão de “I Have Nothing”, da Whitney Houston.

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'A Mulher Em Mim', de Britney Spears Foto: Divulgação/Buzz Editora

Dois anos mais tarde, quando lançou seu debut oficial com “...Baby One More Time”, o sucesso comercial do single e do álbum de mesmo nome foi tamanho que a artista se tornou a primeira mulher a estrear simultaneamente no topo das paradas de discos e músicas mais vendidos dos Estados Unidos, segundo a Billboard. Dali em diante, a carreira de Britney decolou, quebrando uma série de recordes, conquistando prêmios e, mais importante, impactando a cultura de uma forma que reverbera até hoje.

Apesar de todas as conquistas profissionais, as turbulências e polêmicas na vida pessoal de Britney por vezes ofuscaram a genialidade musical, o esforço incansável e o instinto infalível que foram vitais para o seu sucesso. “Eu tinha trabalhado tanto nas minhas músicas e apresentações. Mas alguns repórteres só conseguiam pensar em perguntar para mim se os meus seios eram naturais ou não (eles eram, na verdade) ou se o meu hímen estava intacto”, ela desabafa no livro, comentando o machismo que sofreu logo no início de sua carreira.

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Outro aspecto que impedia o público geral de apreciar o talento de Britney como artista é a ideia fantasiosa de que ela sempre foi apenas um produto comercial pensado e construído por executivos de gravadoras, sem poder de decisão sobre o que lançavam com seu nome. Abaixo, confira dez momentos de “A Mulher em Mim” que derrubam esse mito, onde a Princesa do Pop detalha os bastidores de alguns dos maiores sucessos e fracassos de sua carreira.

“…Baby One More Time”

A primeira música lançada por Britney foi gravada na Suécia, onde ela passou meses trabalhando em estúdio com o produtor Max Martin, hoje consolidado como um dos principais nomes da música pop. No livro, a artista conta que na noite anterior à gravação da faixa ouviu “Tainted Love”, da banda Soft Cell, e decidiu moldar seus vocais de forma a emular um tom diferente do que estava acostumada.

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“Fiquei acordada até tarde para entrar no estúdio cansada, com a voz rouca. Deu certo. Quando cantei, minha voz saiu mais grave, soando mais adulta e mais sexy. Assim que percebi o que estava acontecendo, fiquei extremamente focada na gravação”, lembra, afirmando que Max Martin logo acatou suas indicações para a produção dos vocais. “Quando falei que queria mais R&B na minha voz, sem soar tão pop, ele entendeu o que eu estava querendo dizer e fez acontecer.”

Grande parte do sucesso atemporal de “...Baby One More time” se deve também ao videoclipe da música. O conceito e o figurino de colegial, hoje icônicos, foram idealizados pela própria Britney, que precisou convencer a gravadora de abandonar a ideia inicial de que ela interpretasse uma “astronauta futurista”. “Na proposta eu parecia uma Power Ranger. Não me identifiquei com aquilo e tive a sensação de que meu público também não se identificaria. Falei que imaginava que as pessoas gostariam de ver meus amigos e eu na escola, entediados, e, assim que o alarme soasse, bum — todos nós começaríamos a dançar.”

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A visão deu certo e “...Baby One More Time” lançou Britney ao estrelato, marcando o pop para sempre ao longo do caminho. Em 2020, a música foi eleita pela Rolling Stone como o melhor single de estreia já lançado na história, acima dos debuts de nomes como Taylor Swift, Elvis Presley e Radiohead. “Na grande tradição dos singles de estreia, essa foi uma declaração que demarcou um limite entre o passado e o futuro”, afirmou a publicação.

Beijo e parcerias com Madonna

Um dos momentos mais marcantes, lembrados e comentados na carreira de Britney foi o beijo infame que ela e Madonna protagonizaram no palco do VMA de 2003 (e que também contou com a participação de Christina Aguilera). “Em todos os ensaios, mandávamos um beijinho no ar uma para a outra. Cerca de dois minutos antes da apresentação, eu estava sentada ao lado do palco, pensando naquela que seria a minha maior apresentação no VMA até então”, lembra a artista.

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O impulso de beijar Madonna, segundo Britney, foi motivado pela vontade de replicar o sucesso de quando apresentou dois anos antes um medley de “(I Can’t Get No) Satisfaction” e “Oops… I Did It Again” na mesma premiação. “Pensei comigo mesma: Eu quero um momento como este, de novo, este ano. Com o beijo e tudo, será que eu devo simplesmente me jogar?”, conta.

Beijo de Britney e Madonna no palco do VMA de 2003 Foto: Reprodução

No dia seguinte, o beijo estampou capas de jornais e foi debatido à exaustão na TV e nas rádios. Mas para além disso, o momento serviu para solidificar ainda mais a relação colaborativa entre as duas, que pouco tempo depois lançariam juntas “Me Against The Music”, carro-chefe de divulgação do quarto disco de Britney, In The Zone.

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A parceria foi arquitetada diretamente por Britney, que mais uma vez precisou bater o pé e driblar a desaprovação da gravadora com a música e insistir no seu lançamento. “Pensei que, se pudéssemos encontrar alguém para um feat., poderíamos elaborar uma história em torno disso. ‘Quem você quer que faça o feat. com você?’, meu empresário perguntou. ‘Ela!’, respondi, apontando para a Madonna do outro lado da sala”, conta.

“Em vez de abordarmos a equipe da Madonna, decidimos que eu a convidaria pessoalmente”, continua. “Eu expliquei a ela quão divertido seria se ela topasse cantar a música comigo e o quanto eu acreditava que poderíamos ajudar uma à outra: seria algo que beneficiaria nós duas. Ela concordou”, escreve Britney, afirmando que “Me Against The Music” é até hoje uma de suas músicas favoritas.

Estrela de cinema

Em 2002, Britney fez aquela que seria sua primeira e até hoje única investida na sétima arte ao interpretar Lucy, a protagonista de Crossroads, um road movie centrado na relação de três amigas e suas transições para a vida adulta. Com roteiro de Shonda Rhimes e direção de Tamra Davis, o longa não foi bem recebido pela crítica da época, mas conseguiu arrecadar mais de US$ 61 milhões na bilheteria, superando em mais de cinco vezes o valor que custou para ser produzido.

Apesar de não ser lá um dos papéis mais complexos na história do cinema, Britney conta que se dedicou tanto para interpretar a protagonista que teve dificuldades de separar a ficção da realidade. “É constrangedor dizer isso, mas era como se eu tivesse uma nuvem ou algo do tipo sobre mim e eu simplesmente me tornei essa garota chamada Lucy. Com a câmera ligada, eu era ela, e então não sabia mais diferenciar quem era quem, fora ou dentro da gravação. Sei que parece ridículo, mas é a verdade”, afirma.

A experiência foi tão traumática que, anos depois, Britney decidiu recusar um papel que lhe foi oferecido no musical Chicago. Antes disso, porém, ela ainda fez mais uma tentativa como atriz, chegando até a fase final dos testes para viver a protagonista de Diário de uma paixão, papel que acabou indo acertadamente para Rachel McAdams.

“Mesmo que tivesse sido legal reencontrar Ryan Gosling depois da época de O Clube do Mickey, estou feliz por não ter feito. Se tivesse atuado nesse filme em vez de trabalhar no meu álbum In the Zone, eu ficaria agindo, dia e noite, como uma herdeira mimada da década de 1940″, escreve a cantora.

Na última semana, o Daily Mail divulgou o vídeo do teste que Britney fez para o filme. No clipe, que logo viralizou, a popstar aparece chorando enquanto interpreta um monólogo com seu sotaque sulista carregado. Em uma entrevista recente, Matthew Barry, diretor de elenco de “Diário de Uma Paixão”, disse que a cantora conseguiu desbancar nomes como Natalie Portman e Claire Danes na briga pelo papel. “Ela foi inacreditável”, afirmou.

Blackout, a obra-prima

Unanimidade entre a crítica e os fãs, Blackout é considerado por muitos como o melhor disco de Britney Spears, mesclando desabafos pessoais sobre fama e divórcio com confissões sexuais e fantasias hedonistas ao longo de 12 músicas. A sonoridade mais EDM, urbana, pesada e sombria que a de seus trabalhos anteriores fez com que a Rolling Stone incluísse o álbum na sua lista dos 500 melhores de todos os tempos, além de creditá-lo como o lançamento deste século que mais influenciou a música pop.

Lançado em 2007, Blackout talvez seja a prova mais sólida da competência de Britney Spears como uma artista pop visionária e incomparável. Responsável pela produção executiva do disco, ela escolheu a dedo um time de compositores e produtores ainda majoritariamente desconhecidos para criar uma sonoridade até então inédita no pop, neste que foi o último exercício livre de sua criatividade antes da curatela.

A qualidade musical do disco acabou ofuscada pelos problemas pessoais que a artista enfrentava naquele ano, os quais também impediram que ela divulgasse o trabalho apropriadamente. Nos anos que se seguiram, Britney passou a viver sob a curatela do pai e raramente mencionava o Blackout em entrevistas, ajudando assim a criar uma aura de mistério sobre a produção do disco, cujos bastidores eram pouco ou nada conhecidos pelo público. Pelo menos até agora.

“Enquanto gravava Blackout, senti tanta liberdade”, lembra a artista, afirmando que conseguiu “usar a voz de maneiras diferentes” durante a produção do álbum. “Adorei que ninguém estivesse pensando demais nas coisas e eu pudesse dizer do que gostava ou não. Eu sabia exatamente o que queria e gostei demais do que me foi oferecido.”

Em vários momentos, Britney afirma que Blackout é “o melhor disco” da sua carreira, além de ter sido o trabalho mais gratificante e do qual se sente mais orgulhosa. Ela também revela pela primeira vez bastidores sobre as gravações, contando que tentava gravar as músicas em menos de 30 minutos para conseguir fugir dos paparazzi: “O meu mecanismo de sobrevivência era entrar e sair dos estúdios o mais rápido possível”.

“O álbum foi uma espécie de grito de guerra. Depois de anos sendo meticulosa, tentando agradar a minha mãe e o meu pai, tinha chegado a minha vez de dizer Foda-se”, completa, dizendo que sentiu um momento “espiritual” ao gravar a faixa “Hot as Ice”. “Minha voz alcançou notas que eu nunca tinha conseguido. Cantei duas vezes e fui embora.”

‘Gimme More’

Escolhida como carro-chefe para a divulgação do Blackout, “Gimme More” carrega o mesmo nível de mitologia obscura do disco e também é cercada de polêmicas, teorias e mistérios. O primeiro deles diz respeito ao videoclipe, cuja versão lançada oficialmente não seria o conceito originalmente proposto e gravado por Britney, no qual ela supostamente encena o próprio enterro. Fotos do set mostravam a artista gravando uma cena que só viu a luz do dia mais de uma década depois.

“Comecei eu mesma a gravar vídeos na rua. Eu ia a bares com uma amiga, e ela levava uma câmera, e foi assim que gravamos ‘Gimme More’”, revela a artista, dizendo também que este é “o pior videoclipe” da sua carreira. “Não gosto dele nem um pouco — é tão cafona. Parece que gastamos apenas uns três mil dólares para gravá-lo. E ainda que seja muito ruim, atingiu seu propósito.”

“Gimme More” também marca o que muitos consideram o ponto mais baixo na carreira de Britney: o VMA de 2007. Com lentes azuis e o cabelo sujo, a artista por vezes parecia desorientada, atrasada e perdida enquanto tentava executar a coreografia de forma quase mecânica, em nada lembrando a estrela cuja presença de palco conquistou milhões de pessoas pelo mundo. O que era para ser o seu grande momento de triunfo virou uma piada amarga para a indústria, o público e a mídia, que declarou o fim de sua carreira após o episódio.

“Eu não queria, porém a minha equipe ficou me pressionando para eu fazer isso e mostrar ao mundo que estava bem”, escreve Britney, que até então nunca tinha comentado o episódio publicamente. “O único problema com esse plano: eu não estava bem.”

De luto pela morte da tia, cansada, deprimida, sem ter ensaiado o suficiente e insegura sobre o próprio corpo (“Todo mundo agia como se o fato de eu não estar com o abdômen definido fosse uma ofensa”), ela conta que teve um ataque de pânico após encontrar o ex Justin Timberlake nos bastidores. “Sabia que ia ser ruim. Subi no palco e fiz o melhor que pude naquele momento, e que — sim, reconheço — estava longe do meu melhor em outras ocasiões. Não vou defender aquela apresentação ou dizer que foi boa, mas digo que, como artistas, todos nós temos noites ruins”, diz, acrescentando que momentos antes estava “chorando e soluçando” no camarim.

Britney Spears durante sua performance no Video Music Awards 2007 Foto: Reuters

A turnê mais odiada

Em 2003, Britney rodou o mundo para promover o disco In The Zone com a turnê The Onyx Hotel, uma das preferidas dos fãs. Mas pela primeira vez, a artista revela que odiou o projeto e se arrepende de ter feito os shows ao invés de pausar a carreira naquele momento.

“Para começo de conversa, era muito sexualizada. Justin havia me humilhado publicamente, então a minha réplica no palco seguiu um pouco por esse caminho também. Mas foi absolutamente horrível”, diz. “Odiei tanto que rezava toda noite. Dizia: “Deus, apenas faça meu braço quebrar. Faça minha perna quebrar. Você pode fazer alguma coisa quebrar?”

Em 8 de junho de 2004, o pedido foi realizado e ela machucou o joelho enquanto gravava um clipe e as datas restantes da turnê foram canceladas.

‘A morte da minha criatividade’

Ao longo dos 13 anos que ficou sob a curatela do pai, Britney conta no livro que não podia escolher o que vestir, comer, o que comprar ou aonde ir. Mas além do controle sobre sua vida pessoal e financeira, ela diz que o pai a chamava constantemente de “gorda”, o que destruiu a sua segurança nos palcos e sua paixão pela música.

“Tinha uns momentos de criatividade aqui e ali mas eu já não tinha o entusiasmo de antes. Nesse momento, minha paixão por cantar e dançar eram praticamente uma piada”, desabafa. “Sentir-se incompetente o tempo todo destrói você por dentro quando criança. Ele martelou essa mensagem em mim quando eu era pequena e, mesmo depois de ter conquistado tantas coisas, continuava fazendo isso comigo. Isso era a morte para a minha criatividade como artista.”

Ela afirma ainda que durante esse período “viveu à sombra de si mesma” e que escolheu propositalmente não se esforçar na carreira nem fazer arte “com o coração”. “Me tornei mais uma entidade do que uma pessoa no palco. Sempre senti a música correndo pelas minhas veias, e eles roubaram isso de mim.”

Residência em Las Vegas

A rotina de apresentações na residência em Las Vegas foi uma das maiores frustrações que Britney diz ter enfrentado em sua vida profissional ao longo da curatela. Além de ter sido forçada a trabalhar sem direito a férias, ela se sentia incomodada pela falta de liberdade criativa para mudar o formato do próprio show e conta que o pai negou todos os seus pedidos para mudar detalhes como a mixagem das músicas, a setlist e até mesmo as coreografias que precisava dançar.

“Comecei a perder a alegria de me apresentar, aquele amor visceral para cantar que eu tinha desde pequena. Como uma artista que sempre teve tanto orgulho de sua musicalidade, não posso deixar de enfatizar o quanto fiquei brava por eles nem me deixarem mudar meu show”, conta. “Tínhamos semanas entre cada série de shows em Las Vegas. Tanto tempo foi desperdiçado. Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de me deixar dar aos meus fãs a melhor performance possível todas as noites, o que eles merecem.”

O renascimento de Glory

Lançado em 2016, Glory foi o 9º álbum de inéditas lançado por Britney Spears e, segundo ela, o responsável por reacender seu interesse na música. “Eu estava apaixonada por esse processo. Foi a única coisa a que me dediquei de coração nos treze anos de curatela”, conta sobre o trabalho com os compositores Julia Michaels e Justin Tranter.

“Dei duro nas músicas, o que me deixou autoconfiante. Sabe quando você é boa em algo e pode sentir isso? Você começa a fazer algo e pensa: Dou conta disso? Escrever aquele álbum me deu minha confiança de volta”, conta Britney, afirmando também que a aprovação dos filhos sobre o trabalho lhe deu um novo senso de autoconfiança. “Era algo que eu não sentia havia muito tempo.”

Dueto com Elton John

Com o penoso fim da curatela, Britney conta que planejava um hiato da música e da carreira, algo que só mudou quando recebeu o convite para gravar um dueto com Elton John. Juntos, eles lançaram “Hold Me Closer”, que reinventa o clássico “Tiny Dancer” (1971) com interpolações de “The One” (1992) sobre uma produção tropical e eletrônica.

“Eu me senti tão honrada. Como eu, Elton John também passou por muita coisa publicamente. Ele tem uma compaixão inacreditável. Um homem maravilhoso em todos os níveis”, conta Britney, que admite ter se sentido nervosa ao gravar a faixa e mostrar sua voz depois de seis anos afastada dos estúdios. “De frente ao microfone, acelerei o tempo, e comecei a cantar. Eu estava empolgada, ansiosa e emocionada nas semanas até o lançamento.”

Segundo o produtor Andrew Watt, Britney acompanhou o processo de mixagem do início ao fim, ditando os takes vocais que seriam usados, enquanto improvisava melismas e harmonizações. No dia seguinte ao lançamento, “Hold Me Closer” chegou ao topo das paradas de 40 países.

“Meu primeiro lugar e minha música a ficar mais tempo nas paradas em quase dez anos”, comemora Britney no livro. “E sob os meus termos. Totalmente no controle. Os fãs disseram que eu soava incrível na canção. Compartilhar seu trabalho com o mundo é aterrorizante. Mas, de acordo com a minha experiência, sempre vale a pena. Não me senti bem — me senti incrível.”

Para além dos traumas pessoais, relacionamentos românticos, brigas familiares e a luta por sua liberdade, a autobiografia lançada por Britney Spears na última terça-feira, 24, traz pela primeira vez um vislumbre até então inédito da artista por trás da celebridade. Em “A Mulher em Mim” (Ed. Buzz), o público consegue finalmente entender de forma aprofundada como as inspirações, visões e escolhas criativas da princesa do pop guiaram os erros e acertos de sua carreira que, antes mesmo dos seus 18 anos, já era considerada um dos maiores casos de sucesso na história da indústria fonográfica.

Britney começa o livro contando como a música sempre foi uma forma de escape para os seus problemas familiares e que, ainda na infância, encarava o ato de cantar como uma conexão espiritual que a levava “à presença do divino”. “Os artistas realizam coisas e interpretam personagens porque querem fugir para mundos distantes, e isso era exatamente do que eu precisava. Eu queria viver dentro dos meus sonhos, meu maravilhoso mundo fictício e, se pudesse evitar, não pensar na realidade”, explica.

Ainda criança, Britney começou a competir em concursos de canto e dança, ao mesmo tempo em que fazia aulas de balé e ginástica. Aos 11 anos, ela entrou para o elenco do Clube do Mickey e, aos 16, conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, após conquistar os executivos da Jive com sua versão de “I Have Nothing”, da Whitney Houston.

'A Mulher Em Mim', de Britney Spears Foto: Divulgação/Buzz Editora

Dois anos mais tarde, quando lançou seu debut oficial com “...Baby One More Time”, o sucesso comercial do single e do álbum de mesmo nome foi tamanho que a artista se tornou a primeira mulher a estrear simultaneamente no topo das paradas de discos e músicas mais vendidos dos Estados Unidos, segundo a Billboard. Dali em diante, a carreira de Britney decolou, quebrando uma série de recordes, conquistando prêmios e, mais importante, impactando a cultura de uma forma que reverbera até hoje.

Apesar de todas as conquistas profissionais, as turbulências e polêmicas na vida pessoal de Britney por vezes ofuscaram a genialidade musical, o esforço incansável e o instinto infalível que foram vitais para o seu sucesso. “Eu tinha trabalhado tanto nas minhas músicas e apresentações. Mas alguns repórteres só conseguiam pensar em perguntar para mim se os meus seios eram naturais ou não (eles eram, na verdade) ou se o meu hímen estava intacto”, ela desabafa no livro, comentando o machismo que sofreu logo no início de sua carreira.

Outro aspecto que impedia o público geral de apreciar o talento de Britney como artista é a ideia fantasiosa de que ela sempre foi apenas um produto comercial pensado e construído por executivos de gravadoras, sem poder de decisão sobre o que lançavam com seu nome. Abaixo, confira dez momentos de “A Mulher em Mim” que derrubam esse mito, onde a Princesa do Pop detalha os bastidores de alguns dos maiores sucessos e fracassos de sua carreira.

“…Baby One More Time”

A primeira música lançada por Britney foi gravada na Suécia, onde ela passou meses trabalhando em estúdio com o produtor Max Martin, hoje consolidado como um dos principais nomes da música pop. No livro, a artista conta que na noite anterior à gravação da faixa ouviu “Tainted Love”, da banda Soft Cell, e decidiu moldar seus vocais de forma a emular um tom diferente do que estava acostumada.

“Fiquei acordada até tarde para entrar no estúdio cansada, com a voz rouca. Deu certo. Quando cantei, minha voz saiu mais grave, soando mais adulta e mais sexy. Assim que percebi o que estava acontecendo, fiquei extremamente focada na gravação”, lembra, afirmando que Max Martin logo acatou suas indicações para a produção dos vocais. “Quando falei que queria mais R&B na minha voz, sem soar tão pop, ele entendeu o que eu estava querendo dizer e fez acontecer.”

Grande parte do sucesso atemporal de “...Baby One More time” se deve também ao videoclipe da música. O conceito e o figurino de colegial, hoje icônicos, foram idealizados pela própria Britney, que precisou convencer a gravadora de abandonar a ideia inicial de que ela interpretasse uma “astronauta futurista”. “Na proposta eu parecia uma Power Ranger. Não me identifiquei com aquilo e tive a sensação de que meu público também não se identificaria. Falei que imaginava que as pessoas gostariam de ver meus amigos e eu na escola, entediados, e, assim que o alarme soasse, bum — todos nós começaríamos a dançar.”

A visão deu certo e “...Baby One More Time” lançou Britney ao estrelato, marcando o pop para sempre ao longo do caminho. Em 2020, a música foi eleita pela Rolling Stone como o melhor single de estreia já lançado na história, acima dos debuts de nomes como Taylor Swift, Elvis Presley e Radiohead. “Na grande tradição dos singles de estreia, essa foi uma declaração que demarcou um limite entre o passado e o futuro”, afirmou a publicação.

Beijo e parcerias com Madonna

Um dos momentos mais marcantes, lembrados e comentados na carreira de Britney foi o beijo infame que ela e Madonna protagonizaram no palco do VMA de 2003 (e que também contou com a participação de Christina Aguilera). “Em todos os ensaios, mandávamos um beijinho no ar uma para a outra. Cerca de dois minutos antes da apresentação, eu estava sentada ao lado do palco, pensando naquela que seria a minha maior apresentação no VMA até então”, lembra a artista.

O impulso de beijar Madonna, segundo Britney, foi motivado pela vontade de replicar o sucesso de quando apresentou dois anos antes um medley de “(I Can’t Get No) Satisfaction” e “Oops… I Did It Again” na mesma premiação. “Pensei comigo mesma: Eu quero um momento como este, de novo, este ano. Com o beijo e tudo, será que eu devo simplesmente me jogar?”, conta.

Beijo de Britney e Madonna no palco do VMA de 2003 Foto: Reprodução

No dia seguinte, o beijo estampou capas de jornais e foi debatido à exaustão na TV e nas rádios. Mas para além disso, o momento serviu para solidificar ainda mais a relação colaborativa entre as duas, que pouco tempo depois lançariam juntas “Me Against The Music”, carro-chefe de divulgação do quarto disco de Britney, In The Zone.

A parceria foi arquitetada diretamente por Britney, que mais uma vez precisou bater o pé e driblar a desaprovação da gravadora com a música e insistir no seu lançamento. “Pensei que, se pudéssemos encontrar alguém para um feat., poderíamos elaborar uma história em torno disso. ‘Quem você quer que faça o feat. com você?’, meu empresário perguntou. ‘Ela!’, respondi, apontando para a Madonna do outro lado da sala”, conta.

“Em vez de abordarmos a equipe da Madonna, decidimos que eu a convidaria pessoalmente”, continua. “Eu expliquei a ela quão divertido seria se ela topasse cantar a música comigo e o quanto eu acreditava que poderíamos ajudar uma à outra: seria algo que beneficiaria nós duas. Ela concordou”, escreve Britney, afirmando que “Me Against The Music” é até hoje uma de suas músicas favoritas.

Estrela de cinema

Em 2002, Britney fez aquela que seria sua primeira e até hoje única investida na sétima arte ao interpretar Lucy, a protagonista de Crossroads, um road movie centrado na relação de três amigas e suas transições para a vida adulta. Com roteiro de Shonda Rhimes e direção de Tamra Davis, o longa não foi bem recebido pela crítica da época, mas conseguiu arrecadar mais de US$ 61 milhões na bilheteria, superando em mais de cinco vezes o valor que custou para ser produzido.

Apesar de não ser lá um dos papéis mais complexos na história do cinema, Britney conta que se dedicou tanto para interpretar a protagonista que teve dificuldades de separar a ficção da realidade. “É constrangedor dizer isso, mas era como se eu tivesse uma nuvem ou algo do tipo sobre mim e eu simplesmente me tornei essa garota chamada Lucy. Com a câmera ligada, eu era ela, e então não sabia mais diferenciar quem era quem, fora ou dentro da gravação. Sei que parece ridículo, mas é a verdade”, afirma.

A experiência foi tão traumática que, anos depois, Britney decidiu recusar um papel que lhe foi oferecido no musical Chicago. Antes disso, porém, ela ainda fez mais uma tentativa como atriz, chegando até a fase final dos testes para viver a protagonista de Diário de uma paixão, papel que acabou indo acertadamente para Rachel McAdams.

“Mesmo que tivesse sido legal reencontrar Ryan Gosling depois da época de O Clube do Mickey, estou feliz por não ter feito. Se tivesse atuado nesse filme em vez de trabalhar no meu álbum In the Zone, eu ficaria agindo, dia e noite, como uma herdeira mimada da década de 1940″, escreve a cantora.

Na última semana, o Daily Mail divulgou o vídeo do teste que Britney fez para o filme. No clipe, que logo viralizou, a popstar aparece chorando enquanto interpreta um monólogo com seu sotaque sulista carregado. Em uma entrevista recente, Matthew Barry, diretor de elenco de “Diário de Uma Paixão”, disse que a cantora conseguiu desbancar nomes como Natalie Portman e Claire Danes na briga pelo papel. “Ela foi inacreditável”, afirmou.

Blackout, a obra-prima

Unanimidade entre a crítica e os fãs, Blackout é considerado por muitos como o melhor disco de Britney Spears, mesclando desabafos pessoais sobre fama e divórcio com confissões sexuais e fantasias hedonistas ao longo de 12 músicas. A sonoridade mais EDM, urbana, pesada e sombria que a de seus trabalhos anteriores fez com que a Rolling Stone incluísse o álbum na sua lista dos 500 melhores de todos os tempos, além de creditá-lo como o lançamento deste século que mais influenciou a música pop.

Lançado em 2007, Blackout talvez seja a prova mais sólida da competência de Britney Spears como uma artista pop visionária e incomparável. Responsável pela produção executiva do disco, ela escolheu a dedo um time de compositores e produtores ainda majoritariamente desconhecidos para criar uma sonoridade até então inédita no pop, neste que foi o último exercício livre de sua criatividade antes da curatela.

A qualidade musical do disco acabou ofuscada pelos problemas pessoais que a artista enfrentava naquele ano, os quais também impediram que ela divulgasse o trabalho apropriadamente. Nos anos que se seguiram, Britney passou a viver sob a curatela do pai e raramente mencionava o Blackout em entrevistas, ajudando assim a criar uma aura de mistério sobre a produção do disco, cujos bastidores eram pouco ou nada conhecidos pelo público. Pelo menos até agora.

“Enquanto gravava Blackout, senti tanta liberdade”, lembra a artista, afirmando que conseguiu “usar a voz de maneiras diferentes” durante a produção do álbum. “Adorei que ninguém estivesse pensando demais nas coisas e eu pudesse dizer do que gostava ou não. Eu sabia exatamente o que queria e gostei demais do que me foi oferecido.”

Em vários momentos, Britney afirma que Blackout é “o melhor disco” da sua carreira, além de ter sido o trabalho mais gratificante e do qual se sente mais orgulhosa. Ela também revela pela primeira vez bastidores sobre as gravações, contando que tentava gravar as músicas em menos de 30 minutos para conseguir fugir dos paparazzi: “O meu mecanismo de sobrevivência era entrar e sair dos estúdios o mais rápido possível”.

“O álbum foi uma espécie de grito de guerra. Depois de anos sendo meticulosa, tentando agradar a minha mãe e o meu pai, tinha chegado a minha vez de dizer Foda-se”, completa, dizendo que sentiu um momento “espiritual” ao gravar a faixa “Hot as Ice”. “Minha voz alcançou notas que eu nunca tinha conseguido. Cantei duas vezes e fui embora.”

‘Gimme More’

Escolhida como carro-chefe para a divulgação do Blackout, “Gimme More” carrega o mesmo nível de mitologia obscura do disco e também é cercada de polêmicas, teorias e mistérios. O primeiro deles diz respeito ao videoclipe, cuja versão lançada oficialmente não seria o conceito originalmente proposto e gravado por Britney, no qual ela supostamente encena o próprio enterro. Fotos do set mostravam a artista gravando uma cena que só viu a luz do dia mais de uma década depois.

“Comecei eu mesma a gravar vídeos na rua. Eu ia a bares com uma amiga, e ela levava uma câmera, e foi assim que gravamos ‘Gimme More’”, revela a artista, dizendo também que este é “o pior videoclipe” da sua carreira. “Não gosto dele nem um pouco — é tão cafona. Parece que gastamos apenas uns três mil dólares para gravá-lo. E ainda que seja muito ruim, atingiu seu propósito.”

“Gimme More” também marca o que muitos consideram o ponto mais baixo na carreira de Britney: o VMA de 2007. Com lentes azuis e o cabelo sujo, a artista por vezes parecia desorientada, atrasada e perdida enquanto tentava executar a coreografia de forma quase mecânica, em nada lembrando a estrela cuja presença de palco conquistou milhões de pessoas pelo mundo. O que era para ser o seu grande momento de triunfo virou uma piada amarga para a indústria, o público e a mídia, que declarou o fim de sua carreira após o episódio.

“Eu não queria, porém a minha equipe ficou me pressionando para eu fazer isso e mostrar ao mundo que estava bem”, escreve Britney, que até então nunca tinha comentado o episódio publicamente. “O único problema com esse plano: eu não estava bem.”

De luto pela morte da tia, cansada, deprimida, sem ter ensaiado o suficiente e insegura sobre o próprio corpo (“Todo mundo agia como se o fato de eu não estar com o abdômen definido fosse uma ofensa”), ela conta que teve um ataque de pânico após encontrar o ex Justin Timberlake nos bastidores. “Sabia que ia ser ruim. Subi no palco e fiz o melhor que pude naquele momento, e que — sim, reconheço — estava longe do meu melhor em outras ocasiões. Não vou defender aquela apresentação ou dizer que foi boa, mas digo que, como artistas, todos nós temos noites ruins”, diz, acrescentando que momentos antes estava “chorando e soluçando” no camarim.

Britney Spears durante sua performance no Video Music Awards 2007 Foto: Reuters

A turnê mais odiada

Em 2003, Britney rodou o mundo para promover o disco In The Zone com a turnê The Onyx Hotel, uma das preferidas dos fãs. Mas pela primeira vez, a artista revela que odiou o projeto e se arrepende de ter feito os shows ao invés de pausar a carreira naquele momento.

“Para começo de conversa, era muito sexualizada. Justin havia me humilhado publicamente, então a minha réplica no palco seguiu um pouco por esse caminho também. Mas foi absolutamente horrível”, diz. “Odiei tanto que rezava toda noite. Dizia: “Deus, apenas faça meu braço quebrar. Faça minha perna quebrar. Você pode fazer alguma coisa quebrar?”

Em 8 de junho de 2004, o pedido foi realizado e ela machucou o joelho enquanto gravava um clipe e as datas restantes da turnê foram canceladas.

‘A morte da minha criatividade’

Ao longo dos 13 anos que ficou sob a curatela do pai, Britney conta no livro que não podia escolher o que vestir, comer, o que comprar ou aonde ir. Mas além do controle sobre sua vida pessoal e financeira, ela diz que o pai a chamava constantemente de “gorda”, o que destruiu a sua segurança nos palcos e sua paixão pela música.

“Tinha uns momentos de criatividade aqui e ali mas eu já não tinha o entusiasmo de antes. Nesse momento, minha paixão por cantar e dançar eram praticamente uma piada”, desabafa. “Sentir-se incompetente o tempo todo destrói você por dentro quando criança. Ele martelou essa mensagem em mim quando eu era pequena e, mesmo depois de ter conquistado tantas coisas, continuava fazendo isso comigo. Isso era a morte para a minha criatividade como artista.”

Ela afirma ainda que durante esse período “viveu à sombra de si mesma” e que escolheu propositalmente não se esforçar na carreira nem fazer arte “com o coração”. “Me tornei mais uma entidade do que uma pessoa no palco. Sempre senti a música correndo pelas minhas veias, e eles roubaram isso de mim.”

Residência em Las Vegas

A rotina de apresentações na residência em Las Vegas foi uma das maiores frustrações que Britney diz ter enfrentado em sua vida profissional ao longo da curatela. Além de ter sido forçada a trabalhar sem direito a férias, ela se sentia incomodada pela falta de liberdade criativa para mudar o formato do próprio show e conta que o pai negou todos os seus pedidos para mudar detalhes como a mixagem das músicas, a setlist e até mesmo as coreografias que precisava dançar.

“Comecei a perder a alegria de me apresentar, aquele amor visceral para cantar que eu tinha desde pequena. Como uma artista que sempre teve tanto orgulho de sua musicalidade, não posso deixar de enfatizar o quanto fiquei brava por eles nem me deixarem mudar meu show”, conta. “Tínhamos semanas entre cada série de shows em Las Vegas. Tanto tempo foi desperdiçado. Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de me deixar dar aos meus fãs a melhor performance possível todas as noites, o que eles merecem.”

O renascimento de Glory

Lançado em 2016, Glory foi o 9º álbum de inéditas lançado por Britney Spears e, segundo ela, o responsável por reacender seu interesse na música. “Eu estava apaixonada por esse processo. Foi a única coisa a que me dediquei de coração nos treze anos de curatela”, conta sobre o trabalho com os compositores Julia Michaels e Justin Tranter.

“Dei duro nas músicas, o que me deixou autoconfiante. Sabe quando você é boa em algo e pode sentir isso? Você começa a fazer algo e pensa: Dou conta disso? Escrever aquele álbum me deu minha confiança de volta”, conta Britney, afirmando também que a aprovação dos filhos sobre o trabalho lhe deu um novo senso de autoconfiança. “Era algo que eu não sentia havia muito tempo.”

Dueto com Elton John

Com o penoso fim da curatela, Britney conta que planejava um hiato da música e da carreira, algo que só mudou quando recebeu o convite para gravar um dueto com Elton John. Juntos, eles lançaram “Hold Me Closer”, que reinventa o clássico “Tiny Dancer” (1971) com interpolações de “The One” (1992) sobre uma produção tropical e eletrônica.

“Eu me senti tão honrada. Como eu, Elton John também passou por muita coisa publicamente. Ele tem uma compaixão inacreditável. Um homem maravilhoso em todos os níveis”, conta Britney, que admite ter se sentido nervosa ao gravar a faixa e mostrar sua voz depois de seis anos afastada dos estúdios. “De frente ao microfone, acelerei o tempo, e comecei a cantar. Eu estava empolgada, ansiosa e emocionada nas semanas até o lançamento.”

Segundo o produtor Andrew Watt, Britney acompanhou o processo de mixagem do início ao fim, ditando os takes vocais que seriam usados, enquanto improvisava melismas e harmonizações. No dia seguinte ao lançamento, “Hold Me Closer” chegou ao topo das paradas de 40 países.

“Meu primeiro lugar e minha música a ficar mais tempo nas paradas em quase dez anos”, comemora Britney no livro. “E sob os meus termos. Totalmente no controle. Os fãs disseram que eu soava incrível na canção. Compartilhar seu trabalho com o mundo é aterrorizante. Mas, de acordo com a minha experiência, sempre vale a pena. Não me senti bem — me senti incrível.”

Para além dos traumas pessoais, relacionamentos românticos, brigas familiares e a luta por sua liberdade, a autobiografia lançada por Britney Spears na última terça-feira, 24, traz pela primeira vez um vislumbre até então inédito da artista por trás da celebridade. Em “A Mulher em Mim” (Ed. Buzz), o público consegue finalmente entender de forma aprofundada como as inspirações, visões e escolhas criativas da princesa do pop guiaram os erros e acertos de sua carreira que, antes mesmo dos seus 18 anos, já era considerada um dos maiores casos de sucesso na história da indústria fonográfica.

Britney começa o livro contando como a música sempre foi uma forma de escape para os seus problemas familiares e que, ainda na infância, encarava o ato de cantar como uma conexão espiritual que a levava “à presença do divino”. “Os artistas realizam coisas e interpretam personagens porque querem fugir para mundos distantes, e isso era exatamente do que eu precisava. Eu queria viver dentro dos meus sonhos, meu maravilhoso mundo fictício e, se pudesse evitar, não pensar na realidade”, explica.

Ainda criança, Britney começou a competir em concursos de canto e dança, ao mesmo tempo em que fazia aulas de balé e ginástica. Aos 11 anos, ela entrou para o elenco do Clube do Mickey e, aos 16, conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, após conquistar os executivos da Jive com sua versão de “I Have Nothing”, da Whitney Houston.

'A Mulher Em Mim', de Britney Spears Foto: Divulgação/Buzz Editora

Dois anos mais tarde, quando lançou seu debut oficial com “...Baby One More Time”, o sucesso comercial do single e do álbum de mesmo nome foi tamanho que a artista se tornou a primeira mulher a estrear simultaneamente no topo das paradas de discos e músicas mais vendidos dos Estados Unidos, segundo a Billboard. Dali em diante, a carreira de Britney decolou, quebrando uma série de recordes, conquistando prêmios e, mais importante, impactando a cultura de uma forma que reverbera até hoje.

Apesar de todas as conquistas profissionais, as turbulências e polêmicas na vida pessoal de Britney por vezes ofuscaram a genialidade musical, o esforço incansável e o instinto infalível que foram vitais para o seu sucesso. “Eu tinha trabalhado tanto nas minhas músicas e apresentações. Mas alguns repórteres só conseguiam pensar em perguntar para mim se os meus seios eram naturais ou não (eles eram, na verdade) ou se o meu hímen estava intacto”, ela desabafa no livro, comentando o machismo que sofreu logo no início de sua carreira.

Outro aspecto que impedia o público geral de apreciar o talento de Britney como artista é a ideia fantasiosa de que ela sempre foi apenas um produto comercial pensado e construído por executivos de gravadoras, sem poder de decisão sobre o que lançavam com seu nome. Abaixo, confira dez momentos de “A Mulher em Mim” que derrubam esse mito, onde a Princesa do Pop detalha os bastidores de alguns dos maiores sucessos e fracassos de sua carreira.

“…Baby One More Time”

A primeira música lançada por Britney foi gravada na Suécia, onde ela passou meses trabalhando em estúdio com o produtor Max Martin, hoje consolidado como um dos principais nomes da música pop. No livro, a artista conta que na noite anterior à gravação da faixa ouviu “Tainted Love”, da banda Soft Cell, e decidiu moldar seus vocais de forma a emular um tom diferente do que estava acostumada.

“Fiquei acordada até tarde para entrar no estúdio cansada, com a voz rouca. Deu certo. Quando cantei, minha voz saiu mais grave, soando mais adulta e mais sexy. Assim que percebi o que estava acontecendo, fiquei extremamente focada na gravação”, lembra, afirmando que Max Martin logo acatou suas indicações para a produção dos vocais. “Quando falei que queria mais R&B na minha voz, sem soar tão pop, ele entendeu o que eu estava querendo dizer e fez acontecer.”

Grande parte do sucesso atemporal de “...Baby One More time” se deve também ao videoclipe da música. O conceito e o figurino de colegial, hoje icônicos, foram idealizados pela própria Britney, que precisou convencer a gravadora de abandonar a ideia inicial de que ela interpretasse uma “astronauta futurista”. “Na proposta eu parecia uma Power Ranger. Não me identifiquei com aquilo e tive a sensação de que meu público também não se identificaria. Falei que imaginava que as pessoas gostariam de ver meus amigos e eu na escola, entediados, e, assim que o alarme soasse, bum — todos nós começaríamos a dançar.”

A visão deu certo e “...Baby One More Time” lançou Britney ao estrelato, marcando o pop para sempre ao longo do caminho. Em 2020, a música foi eleita pela Rolling Stone como o melhor single de estreia já lançado na história, acima dos debuts de nomes como Taylor Swift, Elvis Presley e Radiohead. “Na grande tradição dos singles de estreia, essa foi uma declaração que demarcou um limite entre o passado e o futuro”, afirmou a publicação.

Beijo e parcerias com Madonna

Um dos momentos mais marcantes, lembrados e comentados na carreira de Britney foi o beijo infame que ela e Madonna protagonizaram no palco do VMA de 2003 (e que também contou com a participação de Christina Aguilera). “Em todos os ensaios, mandávamos um beijinho no ar uma para a outra. Cerca de dois minutos antes da apresentação, eu estava sentada ao lado do palco, pensando naquela que seria a minha maior apresentação no VMA até então”, lembra a artista.

O impulso de beijar Madonna, segundo Britney, foi motivado pela vontade de replicar o sucesso de quando apresentou dois anos antes um medley de “(I Can’t Get No) Satisfaction” e “Oops… I Did It Again” na mesma premiação. “Pensei comigo mesma: Eu quero um momento como este, de novo, este ano. Com o beijo e tudo, será que eu devo simplesmente me jogar?”, conta.

Beijo de Britney e Madonna no palco do VMA de 2003 Foto: Reprodução

No dia seguinte, o beijo estampou capas de jornais e foi debatido à exaustão na TV e nas rádios. Mas para além disso, o momento serviu para solidificar ainda mais a relação colaborativa entre as duas, que pouco tempo depois lançariam juntas “Me Against The Music”, carro-chefe de divulgação do quarto disco de Britney, In The Zone.

A parceria foi arquitetada diretamente por Britney, que mais uma vez precisou bater o pé e driblar a desaprovação da gravadora com a música e insistir no seu lançamento. “Pensei que, se pudéssemos encontrar alguém para um feat., poderíamos elaborar uma história em torno disso. ‘Quem você quer que faça o feat. com você?’, meu empresário perguntou. ‘Ela!’, respondi, apontando para a Madonna do outro lado da sala”, conta.

“Em vez de abordarmos a equipe da Madonna, decidimos que eu a convidaria pessoalmente”, continua. “Eu expliquei a ela quão divertido seria se ela topasse cantar a música comigo e o quanto eu acreditava que poderíamos ajudar uma à outra: seria algo que beneficiaria nós duas. Ela concordou”, escreve Britney, afirmando que “Me Against The Music” é até hoje uma de suas músicas favoritas.

Estrela de cinema

Em 2002, Britney fez aquela que seria sua primeira e até hoje única investida na sétima arte ao interpretar Lucy, a protagonista de Crossroads, um road movie centrado na relação de três amigas e suas transições para a vida adulta. Com roteiro de Shonda Rhimes e direção de Tamra Davis, o longa não foi bem recebido pela crítica da época, mas conseguiu arrecadar mais de US$ 61 milhões na bilheteria, superando em mais de cinco vezes o valor que custou para ser produzido.

Apesar de não ser lá um dos papéis mais complexos na história do cinema, Britney conta que se dedicou tanto para interpretar a protagonista que teve dificuldades de separar a ficção da realidade. “É constrangedor dizer isso, mas era como se eu tivesse uma nuvem ou algo do tipo sobre mim e eu simplesmente me tornei essa garota chamada Lucy. Com a câmera ligada, eu era ela, e então não sabia mais diferenciar quem era quem, fora ou dentro da gravação. Sei que parece ridículo, mas é a verdade”, afirma.

A experiência foi tão traumática que, anos depois, Britney decidiu recusar um papel que lhe foi oferecido no musical Chicago. Antes disso, porém, ela ainda fez mais uma tentativa como atriz, chegando até a fase final dos testes para viver a protagonista de Diário de uma paixão, papel que acabou indo acertadamente para Rachel McAdams.

“Mesmo que tivesse sido legal reencontrar Ryan Gosling depois da época de O Clube do Mickey, estou feliz por não ter feito. Se tivesse atuado nesse filme em vez de trabalhar no meu álbum In the Zone, eu ficaria agindo, dia e noite, como uma herdeira mimada da década de 1940″, escreve a cantora.

Na última semana, o Daily Mail divulgou o vídeo do teste que Britney fez para o filme. No clipe, que logo viralizou, a popstar aparece chorando enquanto interpreta um monólogo com seu sotaque sulista carregado. Em uma entrevista recente, Matthew Barry, diretor de elenco de “Diário de Uma Paixão”, disse que a cantora conseguiu desbancar nomes como Natalie Portman e Claire Danes na briga pelo papel. “Ela foi inacreditável”, afirmou.

Blackout, a obra-prima

Unanimidade entre a crítica e os fãs, Blackout é considerado por muitos como o melhor disco de Britney Spears, mesclando desabafos pessoais sobre fama e divórcio com confissões sexuais e fantasias hedonistas ao longo de 12 músicas. A sonoridade mais EDM, urbana, pesada e sombria que a de seus trabalhos anteriores fez com que a Rolling Stone incluísse o álbum na sua lista dos 500 melhores de todos os tempos, além de creditá-lo como o lançamento deste século que mais influenciou a música pop.

Lançado em 2007, Blackout talvez seja a prova mais sólida da competência de Britney Spears como uma artista pop visionária e incomparável. Responsável pela produção executiva do disco, ela escolheu a dedo um time de compositores e produtores ainda majoritariamente desconhecidos para criar uma sonoridade até então inédita no pop, neste que foi o último exercício livre de sua criatividade antes da curatela.

A qualidade musical do disco acabou ofuscada pelos problemas pessoais que a artista enfrentava naquele ano, os quais também impediram que ela divulgasse o trabalho apropriadamente. Nos anos que se seguiram, Britney passou a viver sob a curatela do pai e raramente mencionava o Blackout em entrevistas, ajudando assim a criar uma aura de mistério sobre a produção do disco, cujos bastidores eram pouco ou nada conhecidos pelo público. Pelo menos até agora.

“Enquanto gravava Blackout, senti tanta liberdade”, lembra a artista, afirmando que conseguiu “usar a voz de maneiras diferentes” durante a produção do álbum. “Adorei que ninguém estivesse pensando demais nas coisas e eu pudesse dizer do que gostava ou não. Eu sabia exatamente o que queria e gostei demais do que me foi oferecido.”

Em vários momentos, Britney afirma que Blackout é “o melhor disco” da sua carreira, além de ter sido o trabalho mais gratificante e do qual se sente mais orgulhosa. Ela também revela pela primeira vez bastidores sobre as gravações, contando que tentava gravar as músicas em menos de 30 minutos para conseguir fugir dos paparazzi: “O meu mecanismo de sobrevivência era entrar e sair dos estúdios o mais rápido possível”.

“O álbum foi uma espécie de grito de guerra. Depois de anos sendo meticulosa, tentando agradar a minha mãe e o meu pai, tinha chegado a minha vez de dizer Foda-se”, completa, dizendo que sentiu um momento “espiritual” ao gravar a faixa “Hot as Ice”. “Minha voz alcançou notas que eu nunca tinha conseguido. Cantei duas vezes e fui embora.”

‘Gimme More’

Escolhida como carro-chefe para a divulgação do Blackout, “Gimme More” carrega o mesmo nível de mitologia obscura do disco e também é cercada de polêmicas, teorias e mistérios. O primeiro deles diz respeito ao videoclipe, cuja versão lançada oficialmente não seria o conceito originalmente proposto e gravado por Britney, no qual ela supostamente encena o próprio enterro. Fotos do set mostravam a artista gravando uma cena que só viu a luz do dia mais de uma década depois.

“Comecei eu mesma a gravar vídeos na rua. Eu ia a bares com uma amiga, e ela levava uma câmera, e foi assim que gravamos ‘Gimme More’”, revela a artista, dizendo também que este é “o pior videoclipe” da sua carreira. “Não gosto dele nem um pouco — é tão cafona. Parece que gastamos apenas uns três mil dólares para gravá-lo. E ainda que seja muito ruim, atingiu seu propósito.”

“Gimme More” também marca o que muitos consideram o ponto mais baixo na carreira de Britney: o VMA de 2007. Com lentes azuis e o cabelo sujo, a artista por vezes parecia desorientada, atrasada e perdida enquanto tentava executar a coreografia de forma quase mecânica, em nada lembrando a estrela cuja presença de palco conquistou milhões de pessoas pelo mundo. O que era para ser o seu grande momento de triunfo virou uma piada amarga para a indústria, o público e a mídia, que declarou o fim de sua carreira após o episódio.

“Eu não queria, porém a minha equipe ficou me pressionando para eu fazer isso e mostrar ao mundo que estava bem”, escreve Britney, que até então nunca tinha comentado o episódio publicamente. “O único problema com esse plano: eu não estava bem.”

De luto pela morte da tia, cansada, deprimida, sem ter ensaiado o suficiente e insegura sobre o próprio corpo (“Todo mundo agia como se o fato de eu não estar com o abdômen definido fosse uma ofensa”), ela conta que teve um ataque de pânico após encontrar o ex Justin Timberlake nos bastidores. “Sabia que ia ser ruim. Subi no palco e fiz o melhor que pude naquele momento, e que — sim, reconheço — estava longe do meu melhor em outras ocasiões. Não vou defender aquela apresentação ou dizer que foi boa, mas digo que, como artistas, todos nós temos noites ruins”, diz, acrescentando que momentos antes estava “chorando e soluçando” no camarim.

Britney Spears durante sua performance no Video Music Awards 2007 Foto: Reuters

A turnê mais odiada

Em 2003, Britney rodou o mundo para promover o disco In The Zone com a turnê The Onyx Hotel, uma das preferidas dos fãs. Mas pela primeira vez, a artista revela que odiou o projeto e se arrepende de ter feito os shows ao invés de pausar a carreira naquele momento.

“Para começo de conversa, era muito sexualizada. Justin havia me humilhado publicamente, então a minha réplica no palco seguiu um pouco por esse caminho também. Mas foi absolutamente horrível”, diz. “Odiei tanto que rezava toda noite. Dizia: “Deus, apenas faça meu braço quebrar. Faça minha perna quebrar. Você pode fazer alguma coisa quebrar?”

Em 8 de junho de 2004, o pedido foi realizado e ela machucou o joelho enquanto gravava um clipe e as datas restantes da turnê foram canceladas.

‘A morte da minha criatividade’

Ao longo dos 13 anos que ficou sob a curatela do pai, Britney conta no livro que não podia escolher o que vestir, comer, o que comprar ou aonde ir. Mas além do controle sobre sua vida pessoal e financeira, ela diz que o pai a chamava constantemente de “gorda”, o que destruiu a sua segurança nos palcos e sua paixão pela música.

“Tinha uns momentos de criatividade aqui e ali mas eu já não tinha o entusiasmo de antes. Nesse momento, minha paixão por cantar e dançar eram praticamente uma piada”, desabafa. “Sentir-se incompetente o tempo todo destrói você por dentro quando criança. Ele martelou essa mensagem em mim quando eu era pequena e, mesmo depois de ter conquistado tantas coisas, continuava fazendo isso comigo. Isso era a morte para a minha criatividade como artista.”

Ela afirma ainda que durante esse período “viveu à sombra de si mesma” e que escolheu propositalmente não se esforçar na carreira nem fazer arte “com o coração”. “Me tornei mais uma entidade do que uma pessoa no palco. Sempre senti a música correndo pelas minhas veias, e eles roubaram isso de mim.”

Residência em Las Vegas

A rotina de apresentações na residência em Las Vegas foi uma das maiores frustrações que Britney diz ter enfrentado em sua vida profissional ao longo da curatela. Além de ter sido forçada a trabalhar sem direito a férias, ela se sentia incomodada pela falta de liberdade criativa para mudar o formato do próprio show e conta que o pai negou todos os seus pedidos para mudar detalhes como a mixagem das músicas, a setlist e até mesmo as coreografias que precisava dançar.

“Comecei a perder a alegria de me apresentar, aquele amor visceral para cantar que eu tinha desde pequena. Como uma artista que sempre teve tanto orgulho de sua musicalidade, não posso deixar de enfatizar o quanto fiquei brava por eles nem me deixarem mudar meu show”, conta. “Tínhamos semanas entre cada série de shows em Las Vegas. Tanto tempo foi desperdiçado. Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de me deixar dar aos meus fãs a melhor performance possível todas as noites, o que eles merecem.”

O renascimento de Glory

Lançado em 2016, Glory foi o 9º álbum de inéditas lançado por Britney Spears e, segundo ela, o responsável por reacender seu interesse na música. “Eu estava apaixonada por esse processo. Foi a única coisa a que me dediquei de coração nos treze anos de curatela”, conta sobre o trabalho com os compositores Julia Michaels e Justin Tranter.

“Dei duro nas músicas, o que me deixou autoconfiante. Sabe quando você é boa em algo e pode sentir isso? Você começa a fazer algo e pensa: Dou conta disso? Escrever aquele álbum me deu minha confiança de volta”, conta Britney, afirmando também que a aprovação dos filhos sobre o trabalho lhe deu um novo senso de autoconfiança. “Era algo que eu não sentia havia muito tempo.”

Dueto com Elton John

Com o penoso fim da curatela, Britney conta que planejava um hiato da música e da carreira, algo que só mudou quando recebeu o convite para gravar um dueto com Elton John. Juntos, eles lançaram “Hold Me Closer”, que reinventa o clássico “Tiny Dancer” (1971) com interpolações de “The One” (1992) sobre uma produção tropical e eletrônica.

“Eu me senti tão honrada. Como eu, Elton John também passou por muita coisa publicamente. Ele tem uma compaixão inacreditável. Um homem maravilhoso em todos os níveis”, conta Britney, que admite ter se sentido nervosa ao gravar a faixa e mostrar sua voz depois de seis anos afastada dos estúdios. “De frente ao microfone, acelerei o tempo, e comecei a cantar. Eu estava empolgada, ansiosa e emocionada nas semanas até o lançamento.”

Segundo o produtor Andrew Watt, Britney acompanhou o processo de mixagem do início ao fim, ditando os takes vocais que seriam usados, enquanto improvisava melismas e harmonizações. No dia seguinte ao lançamento, “Hold Me Closer” chegou ao topo das paradas de 40 países.

“Meu primeiro lugar e minha música a ficar mais tempo nas paradas em quase dez anos”, comemora Britney no livro. “E sob os meus termos. Totalmente no controle. Os fãs disseram que eu soava incrível na canção. Compartilhar seu trabalho com o mundo é aterrorizante. Mas, de acordo com a minha experiência, sempre vale a pena. Não me senti bem — me senti incrível.”

Para além dos traumas pessoais, relacionamentos românticos, brigas familiares e a luta por sua liberdade, a autobiografia lançada por Britney Spears na última terça-feira, 24, traz pela primeira vez um vislumbre até então inédito da artista por trás da celebridade. Em “A Mulher em Mim” (Ed. Buzz), o público consegue finalmente entender de forma aprofundada como as inspirações, visões e escolhas criativas da princesa do pop guiaram os erros e acertos de sua carreira que, antes mesmo dos seus 18 anos, já era considerada um dos maiores casos de sucesso na história da indústria fonográfica.

Britney começa o livro contando como a música sempre foi uma forma de escape para os seus problemas familiares e que, ainda na infância, encarava o ato de cantar como uma conexão espiritual que a levava “à presença do divino”. “Os artistas realizam coisas e interpretam personagens porque querem fugir para mundos distantes, e isso era exatamente do que eu precisava. Eu queria viver dentro dos meus sonhos, meu maravilhoso mundo fictício e, se pudesse evitar, não pensar na realidade”, explica.

Ainda criança, Britney começou a competir em concursos de canto e dança, ao mesmo tempo em que fazia aulas de balé e ginástica. Aos 11 anos, ela entrou para o elenco do Clube do Mickey e, aos 16, conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, após conquistar os executivos da Jive com sua versão de “I Have Nothing”, da Whitney Houston.

'A Mulher Em Mim', de Britney Spears Foto: Divulgação/Buzz Editora

Dois anos mais tarde, quando lançou seu debut oficial com “...Baby One More Time”, o sucesso comercial do single e do álbum de mesmo nome foi tamanho que a artista se tornou a primeira mulher a estrear simultaneamente no topo das paradas de discos e músicas mais vendidos dos Estados Unidos, segundo a Billboard. Dali em diante, a carreira de Britney decolou, quebrando uma série de recordes, conquistando prêmios e, mais importante, impactando a cultura de uma forma que reverbera até hoje.

Apesar de todas as conquistas profissionais, as turbulências e polêmicas na vida pessoal de Britney por vezes ofuscaram a genialidade musical, o esforço incansável e o instinto infalível que foram vitais para o seu sucesso. “Eu tinha trabalhado tanto nas minhas músicas e apresentações. Mas alguns repórteres só conseguiam pensar em perguntar para mim se os meus seios eram naturais ou não (eles eram, na verdade) ou se o meu hímen estava intacto”, ela desabafa no livro, comentando o machismo que sofreu logo no início de sua carreira.

Outro aspecto que impedia o público geral de apreciar o talento de Britney como artista é a ideia fantasiosa de que ela sempre foi apenas um produto comercial pensado e construído por executivos de gravadoras, sem poder de decisão sobre o que lançavam com seu nome. Abaixo, confira dez momentos de “A Mulher em Mim” que derrubam esse mito, onde a Princesa do Pop detalha os bastidores de alguns dos maiores sucessos e fracassos de sua carreira.

“…Baby One More Time”

A primeira música lançada por Britney foi gravada na Suécia, onde ela passou meses trabalhando em estúdio com o produtor Max Martin, hoje consolidado como um dos principais nomes da música pop. No livro, a artista conta que na noite anterior à gravação da faixa ouviu “Tainted Love”, da banda Soft Cell, e decidiu moldar seus vocais de forma a emular um tom diferente do que estava acostumada.

“Fiquei acordada até tarde para entrar no estúdio cansada, com a voz rouca. Deu certo. Quando cantei, minha voz saiu mais grave, soando mais adulta e mais sexy. Assim que percebi o que estava acontecendo, fiquei extremamente focada na gravação”, lembra, afirmando que Max Martin logo acatou suas indicações para a produção dos vocais. “Quando falei que queria mais R&B na minha voz, sem soar tão pop, ele entendeu o que eu estava querendo dizer e fez acontecer.”

Grande parte do sucesso atemporal de “...Baby One More time” se deve também ao videoclipe da música. O conceito e o figurino de colegial, hoje icônicos, foram idealizados pela própria Britney, que precisou convencer a gravadora de abandonar a ideia inicial de que ela interpretasse uma “astronauta futurista”. “Na proposta eu parecia uma Power Ranger. Não me identifiquei com aquilo e tive a sensação de que meu público também não se identificaria. Falei que imaginava que as pessoas gostariam de ver meus amigos e eu na escola, entediados, e, assim que o alarme soasse, bum — todos nós começaríamos a dançar.”

A visão deu certo e “...Baby One More Time” lançou Britney ao estrelato, marcando o pop para sempre ao longo do caminho. Em 2020, a música foi eleita pela Rolling Stone como o melhor single de estreia já lançado na história, acima dos debuts de nomes como Taylor Swift, Elvis Presley e Radiohead. “Na grande tradição dos singles de estreia, essa foi uma declaração que demarcou um limite entre o passado e o futuro”, afirmou a publicação.

Beijo e parcerias com Madonna

Um dos momentos mais marcantes, lembrados e comentados na carreira de Britney foi o beijo infame que ela e Madonna protagonizaram no palco do VMA de 2003 (e que também contou com a participação de Christina Aguilera). “Em todos os ensaios, mandávamos um beijinho no ar uma para a outra. Cerca de dois minutos antes da apresentação, eu estava sentada ao lado do palco, pensando naquela que seria a minha maior apresentação no VMA até então”, lembra a artista.

O impulso de beijar Madonna, segundo Britney, foi motivado pela vontade de replicar o sucesso de quando apresentou dois anos antes um medley de “(I Can’t Get No) Satisfaction” e “Oops… I Did It Again” na mesma premiação. “Pensei comigo mesma: Eu quero um momento como este, de novo, este ano. Com o beijo e tudo, será que eu devo simplesmente me jogar?”, conta.

Beijo de Britney e Madonna no palco do VMA de 2003 Foto: Reprodução

No dia seguinte, o beijo estampou capas de jornais e foi debatido à exaustão na TV e nas rádios. Mas para além disso, o momento serviu para solidificar ainda mais a relação colaborativa entre as duas, que pouco tempo depois lançariam juntas “Me Against The Music”, carro-chefe de divulgação do quarto disco de Britney, In The Zone.

A parceria foi arquitetada diretamente por Britney, que mais uma vez precisou bater o pé e driblar a desaprovação da gravadora com a música e insistir no seu lançamento. “Pensei que, se pudéssemos encontrar alguém para um feat., poderíamos elaborar uma história em torno disso. ‘Quem você quer que faça o feat. com você?’, meu empresário perguntou. ‘Ela!’, respondi, apontando para a Madonna do outro lado da sala”, conta.

“Em vez de abordarmos a equipe da Madonna, decidimos que eu a convidaria pessoalmente”, continua. “Eu expliquei a ela quão divertido seria se ela topasse cantar a música comigo e o quanto eu acreditava que poderíamos ajudar uma à outra: seria algo que beneficiaria nós duas. Ela concordou”, escreve Britney, afirmando que “Me Against The Music” é até hoje uma de suas músicas favoritas.

Estrela de cinema

Em 2002, Britney fez aquela que seria sua primeira e até hoje única investida na sétima arte ao interpretar Lucy, a protagonista de Crossroads, um road movie centrado na relação de três amigas e suas transições para a vida adulta. Com roteiro de Shonda Rhimes e direção de Tamra Davis, o longa não foi bem recebido pela crítica da época, mas conseguiu arrecadar mais de US$ 61 milhões na bilheteria, superando em mais de cinco vezes o valor que custou para ser produzido.

Apesar de não ser lá um dos papéis mais complexos na história do cinema, Britney conta que se dedicou tanto para interpretar a protagonista que teve dificuldades de separar a ficção da realidade. “É constrangedor dizer isso, mas era como se eu tivesse uma nuvem ou algo do tipo sobre mim e eu simplesmente me tornei essa garota chamada Lucy. Com a câmera ligada, eu era ela, e então não sabia mais diferenciar quem era quem, fora ou dentro da gravação. Sei que parece ridículo, mas é a verdade”, afirma.

A experiência foi tão traumática que, anos depois, Britney decidiu recusar um papel que lhe foi oferecido no musical Chicago. Antes disso, porém, ela ainda fez mais uma tentativa como atriz, chegando até a fase final dos testes para viver a protagonista de Diário de uma paixão, papel que acabou indo acertadamente para Rachel McAdams.

“Mesmo que tivesse sido legal reencontrar Ryan Gosling depois da época de O Clube do Mickey, estou feliz por não ter feito. Se tivesse atuado nesse filme em vez de trabalhar no meu álbum In the Zone, eu ficaria agindo, dia e noite, como uma herdeira mimada da década de 1940″, escreve a cantora.

Na última semana, o Daily Mail divulgou o vídeo do teste que Britney fez para o filme. No clipe, que logo viralizou, a popstar aparece chorando enquanto interpreta um monólogo com seu sotaque sulista carregado. Em uma entrevista recente, Matthew Barry, diretor de elenco de “Diário de Uma Paixão”, disse que a cantora conseguiu desbancar nomes como Natalie Portman e Claire Danes na briga pelo papel. “Ela foi inacreditável”, afirmou.

Blackout, a obra-prima

Unanimidade entre a crítica e os fãs, Blackout é considerado por muitos como o melhor disco de Britney Spears, mesclando desabafos pessoais sobre fama e divórcio com confissões sexuais e fantasias hedonistas ao longo de 12 músicas. A sonoridade mais EDM, urbana, pesada e sombria que a de seus trabalhos anteriores fez com que a Rolling Stone incluísse o álbum na sua lista dos 500 melhores de todos os tempos, além de creditá-lo como o lançamento deste século que mais influenciou a música pop.

Lançado em 2007, Blackout talvez seja a prova mais sólida da competência de Britney Spears como uma artista pop visionária e incomparável. Responsável pela produção executiva do disco, ela escolheu a dedo um time de compositores e produtores ainda majoritariamente desconhecidos para criar uma sonoridade até então inédita no pop, neste que foi o último exercício livre de sua criatividade antes da curatela.

A qualidade musical do disco acabou ofuscada pelos problemas pessoais que a artista enfrentava naquele ano, os quais também impediram que ela divulgasse o trabalho apropriadamente. Nos anos que se seguiram, Britney passou a viver sob a curatela do pai e raramente mencionava o Blackout em entrevistas, ajudando assim a criar uma aura de mistério sobre a produção do disco, cujos bastidores eram pouco ou nada conhecidos pelo público. Pelo menos até agora.

“Enquanto gravava Blackout, senti tanta liberdade”, lembra a artista, afirmando que conseguiu “usar a voz de maneiras diferentes” durante a produção do álbum. “Adorei que ninguém estivesse pensando demais nas coisas e eu pudesse dizer do que gostava ou não. Eu sabia exatamente o que queria e gostei demais do que me foi oferecido.”

Em vários momentos, Britney afirma que Blackout é “o melhor disco” da sua carreira, além de ter sido o trabalho mais gratificante e do qual se sente mais orgulhosa. Ela também revela pela primeira vez bastidores sobre as gravações, contando que tentava gravar as músicas em menos de 30 minutos para conseguir fugir dos paparazzi: “O meu mecanismo de sobrevivência era entrar e sair dos estúdios o mais rápido possível”.

“O álbum foi uma espécie de grito de guerra. Depois de anos sendo meticulosa, tentando agradar a minha mãe e o meu pai, tinha chegado a minha vez de dizer Foda-se”, completa, dizendo que sentiu um momento “espiritual” ao gravar a faixa “Hot as Ice”. “Minha voz alcançou notas que eu nunca tinha conseguido. Cantei duas vezes e fui embora.”

‘Gimme More’

Escolhida como carro-chefe para a divulgação do Blackout, “Gimme More” carrega o mesmo nível de mitologia obscura do disco e também é cercada de polêmicas, teorias e mistérios. O primeiro deles diz respeito ao videoclipe, cuja versão lançada oficialmente não seria o conceito originalmente proposto e gravado por Britney, no qual ela supostamente encena o próprio enterro. Fotos do set mostravam a artista gravando uma cena que só viu a luz do dia mais de uma década depois.

“Comecei eu mesma a gravar vídeos na rua. Eu ia a bares com uma amiga, e ela levava uma câmera, e foi assim que gravamos ‘Gimme More’”, revela a artista, dizendo também que este é “o pior videoclipe” da sua carreira. “Não gosto dele nem um pouco — é tão cafona. Parece que gastamos apenas uns três mil dólares para gravá-lo. E ainda que seja muito ruim, atingiu seu propósito.”

“Gimme More” também marca o que muitos consideram o ponto mais baixo na carreira de Britney: o VMA de 2007. Com lentes azuis e o cabelo sujo, a artista por vezes parecia desorientada, atrasada e perdida enquanto tentava executar a coreografia de forma quase mecânica, em nada lembrando a estrela cuja presença de palco conquistou milhões de pessoas pelo mundo. O que era para ser o seu grande momento de triunfo virou uma piada amarga para a indústria, o público e a mídia, que declarou o fim de sua carreira após o episódio.

“Eu não queria, porém a minha equipe ficou me pressionando para eu fazer isso e mostrar ao mundo que estava bem”, escreve Britney, que até então nunca tinha comentado o episódio publicamente. “O único problema com esse plano: eu não estava bem.”

De luto pela morte da tia, cansada, deprimida, sem ter ensaiado o suficiente e insegura sobre o próprio corpo (“Todo mundo agia como se o fato de eu não estar com o abdômen definido fosse uma ofensa”), ela conta que teve um ataque de pânico após encontrar o ex Justin Timberlake nos bastidores. “Sabia que ia ser ruim. Subi no palco e fiz o melhor que pude naquele momento, e que — sim, reconheço — estava longe do meu melhor em outras ocasiões. Não vou defender aquela apresentação ou dizer que foi boa, mas digo que, como artistas, todos nós temos noites ruins”, diz, acrescentando que momentos antes estava “chorando e soluçando” no camarim.

Britney Spears durante sua performance no Video Music Awards 2007 Foto: Reuters

A turnê mais odiada

Em 2003, Britney rodou o mundo para promover o disco In The Zone com a turnê The Onyx Hotel, uma das preferidas dos fãs. Mas pela primeira vez, a artista revela que odiou o projeto e se arrepende de ter feito os shows ao invés de pausar a carreira naquele momento.

“Para começo de conversa, era muito sexualizada. Justin havia me humilhado publicamente, então a minha réplica no palco seguiu um pouco por esse caminho também. Mas foi absolutamente horrível”, diz. “Odiei tanto que rezava toda noite. Dizia: “Deus, apenas faça meu braço quebrar. Faça minha perna quebrar. Você pode fazer alguma coisa quebrar?”

Em 8 de junho de 2004, o pedido foi realizado e ela machucou o joelho enquanto gravava um clipe e as datas restantes da turnê foram canceladas.

‘A morte da minha criatividade’

Ao longo dos 13 anos que ficou sob a curatela do pai, Britney conta no livro que não podia escolher o que vestir, comer, o que comprar ou aonde ir. Mas além do controle sobre sua vida pessoal e financeira, ela diz que o pai a chamava constantemente de “gorda”, o que destruiu a sua segurança nos palcos e sua paixão pela música.

“Tinha uns momentos de criatividade aqui e ali mas eu já não tinha o entusiasmo de antes. Nesse momento, minha paixão por cantar e dançar eram praticamente uma piada”, desabafa. “Sentir-se incompetente o tempo todo destrói você por dentro quando criança. Ele martelou essa mensagem em mim quando eu era pequena e, mesmo depois de ter conquistado tantas coisas, continuava fazendo isso comigo. Isso era a morte para a minha criatividade como artista.”

Ela afirma ainda que durante esse período “viveu à sombra de si mesma” e que escolheu propositalmente não se esforçar na carreira nem fazer arte “com o coração”. “Me tornei mais uma entidade do que uma pessoa no palco. Sempre senti a música correndo pelas minhas veias, e eles roubaram isso de mim.”

Residência em Las Vegas

A rotina de apresentações na residência em Las Vegas foi uma das maiores frustrações que Britney diz ter enfrentado em sua vida profissional ao longo da curatela. Além de ter sido forçada a trabalhar sem direito a férias, ela se sentia incomodada pela falta de liberdade criativa para mudar o formato do próprio show e conta que o pai negou todos os seus pedidos para mudar detalhes como a mixagem das músicas, a setlist e até mesmo as coreografias que precisava dançar.

“Comecei a perder a alegria de me apresentar, aquele amor visceral para cantar que eu tinha desde pequena. Como uma artista que sempre teve tanto orgulho de sua musicalidade, não posso deixar de enfatizar o quanto fiquei brava por eles nem me deixarem mudar meu show”, conta. “Tínhamos semanas entre cada série de shows em Las Vegas. Tanto tempo foi desperdiçado. Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de me deixar dar aos meus fãs a melhor performance possível todas as noites, o que eles merecem.”

O renascimento de Glory

Lançado em 2016, Glory foi o 9º álbum de inéditas lançado por Britney Spears e, segundo ela, o responsável por reacender seu interesse na música. “Eu estava apaixonada por esse processo. Foi a única coisa a que me dediquei de coração nos treze anos de curatela”, conta sobre o trabalho com os compositores Julia Michaels e Justin Tranter.

“Dei duro nas músicas, o que me deixou autoconfiante. Sabe quando você é boa em algo e pode sentir isso? Você começa a fazer algo e pensa: Dou conta disso? Escrever aquele álbum me deu minha confiança de volta”, conta Britney, afirmando também que a aprovação dos filhos sobre o trabalho lhe deu um novo senso de autoconfiança. “Era algo que eu não sentia havia muito tempo.”

Dueto com Elton John

Com o penoso fim da curatela, Britney conta que planejava um hiato da música e da carreira, algo que só mudou quando recebeu o convite para gravar um dueto com Elton John. Juntos, eles lançaram “Hold Me Closer”, que reinventa o clássico “Tiny Dancer” (1971) com interpolações de “The One” (1992) sobre uma produção tropical e eletrônica.

“Eu me senti tão honrada. Como eu, Elton John também passou por muita coisa publicamente. Ele tem uma compaixão inacreditável. Um homem maravilhoso em todos os níveis”, conta Britney, que admite ter se sentido nervosa ao gravar a faixa e mostrar sua voz depois de seis anos afastada dos estúdios. “De frente ao microfone, acelerei o tempo, e comecei a cantar. Eu estava empolgada, ansiosa e emocionada nas semanas até o lançamento.”

Segundo o produtor Andrew Watt, Britney acompanhou o processo de mixagem do início ao fim, ditando os takes vocais que seriam usados, enquanto improvisava melismas e harmonizações. No dia seguinte ao lançamento, “Hold Me Closer” chegou ao topo das paradas de 40 países.

“Meu primeiro lugar e minha música a ficar mais tempo nas paradas em quase dez anos”, comemora Britney no livro. “E sob os meus termos. Totalmente no controle. Os fãs disseram que eu soava incrível na canção. Compartilhar seu trabalho com o mundo é aterrorizante. Mas, de acordo com a minha experiência, sempre vale a pena. Não me senti bem — me senti incrível.”

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