Texto atualizado às 20h
A longa estrada da vida de Milionário e José Rico não termina com a morte de Zé Rico, nesta terça-feira, aos 68 anos, por complicações cardíacas. Mais do que a união bem-sucedida e lucrativa desde 1973, quando lançaram o primeiro disco, estes dois homens são um ponto de parada obrigatória na linha do tempo inaugurada por Cornélio Pires no final da década de 1920. Seu público invisível é um gigante que já consumiu 35 milhões de cópias de seus LPs e sua carreira funciona mais nas boleias dos caminhões e nas emissoras de rádios do grande Brasil do que em esquemas de promoção viciados ligados à TV. Milionário e José Rico, vivendo na liberdade que só existe fora das cidades grandes, nunca precisaram aparecer mais do que suas músicas.
Vivi na pele uma prova do desdém que sentiam pela grande imprensa. Marcamos pelo jornal uma entrevista com os dois em Presidente Prudente, a 558 quilômetros de São Paulo. Era a chance de pegá-los juntos, missão só possível na estrada. Queria entender e me aprofundar em uma das histórias mais saborosas da música brasileira, desmascarar ou comprovar mitos, ouvi-los como o biografismo que ratifica os eleitos em detrimento dos esquecidos não se interessa em fazer. Pois chegamos à distante cidade, eu e o fotógrafo do jornal, e minhas vistas quase se escureceram diante de tanta crueldade. Nem Milionário nem José Rico apareceram. Nem mandaram notícias. Apenas não foram.
Milionário e José Rico são personagens da música sertaneja iniciada na década de 1970, a mais cruel delas por ter sido cimentada sob a melhor era da música brasileira urbana. A concorrência era dura. Tim Maia, Roberto Carlos, Gil, Caetano, Chico, Milton e o diabo pareciam disputar para ver quem produzia o melhor álbum. Sobrava ao sertanejo o Brasil que o Brasil não via. Um país muito maior, responsável pela imortalidade de José Rico.
Morre o cantor José Rico
Cinco clássicos de Milionário e José Rico
Quem disse que esqueci
Volta pra casa
Solidão
Vontade Dividida
A Carta