Carlinhos Brown relembra chuva de garrafas no Rock in Rio III: ‘Reação do público foi perfeita’


Para o músico, que se apresenta no festival neste sábado, 21, ao enfrentar os roqueiros enfurecidos, ele mostrou que o axé music tinha condições de influenciar a percussão mundial, o que, segundo ele, foi provado por nomes como Sepultura, Foo Fighters e Slipknot

Por Danilo Casaletti

Em 2001, após um hiato de dez anos, o Rock in Rio voltava à cena para sua terceira edição. Para reerguer o festival, Roberto Medina criou mais um de seus slogans de impacto. Dessa vez, em torno da paz: Rock in Rio - Por um Mundo Melhor! O empresário ainda sugeriu que todos meditassem a favor de um Brasil mais sereno - a violência no Rio de Janeiro havia adiado a volta do evento anos antes.

Mais um sucesso da marca. Foram 150 atrações para um público de mais de 1 milhão de pessoas dividido em sete dias -, com destaque para as apresentações de Oasis, R.E.M, Britney Spears, Iron Maiden, Guns N’ Roses, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Daniela Mercury e a grande estrela brasileira daquele momento: a cantora Cássia Eller, com o histórico show em que, livre e contestadora, mostrou os seios para a plateia - além de cantar Nirvana de forma magistral.

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O músico e compositor enfrentou a fúria dos roqueiros em 2011, mas diz que episódio fortaleceu o axé music

O músico e compositor Carlinhos Brown: segundo ele, sua resignação fortaleceu o axé music Foto: Léo Aversa

No entanto, a ‘corrente de paz’ proposta por Medina foi quebrada por impacientes roqueiros que aguardavam as apresentações das bandas Oasis e Guns N’ Roses no terceiro dia daquela terceira edição. O alvo? O músico e compositor baiano Carlinhos Brown.

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Prestes a participar mais uma vez do festival - ele se apresentará no dia 21, no Palco Mundo, ao lado de nomes como Daniela Mercury, Ney Matogrosso e BaianaSystem - Brown conversou com o Estadão para relembrar o dia em que recebeu uma verdadeira chuva de garrafas plásticas de água. No momento da agressão, ele cantava A Namorada, música que tem no refrão o verso ‘a namorada tem namorada’.

Com um show voltado para o que se pode chamar de axé pop, Brown, artista relativamente iniciante, mas já destacado àquela altura, não teve o mesmo êxito que sua conterrânea Daniela Mercury, acolhida pelo público na mesma edição. Um dos sucessos da cantora que empolgou a plateia? Rapunzel, justamente uma composição de Brown em parceria com Alain Tavares.

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Mas o que, então, teria motivado a fúria contra Brown? Para o músico, foi exatamente a falta de compreensão de que o Rock in Rio nunca foi um evento apenas de rock. “Pelo fato da música baiana ser carnavalesca, um pouco nonsense, dava a conotação que estávamos no lugar errado. Mas Medina não tinha essa visão. Ele queria o Brasil (no Rock in Rio)!”, afirma Brown.

O músico diz que o desejo do empresário, naquele momento, encontrava eco na sua proposta. “Queríamos um mundo de paz. Um mundo melhor, como dizia o slogan. Eu fui com o que atualmente se chama de ESG, Educação, Sustentabilidade e Governança. Levei uma ONG com garotos da Bahia tocando percussão”, diz.

Sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara

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Brown afirma que queria mostrar que o carnaval baiano não era apenas diversão, mas engajamento, por mais que a questão passe despercebida pela folia. “Eu falava de desertificação em Segue o Seco. Falava ‘a namorada tem namorada’. Levei o Candeal. Para mim, o maior marco é esse. Continuamos lutando contra a LGBTfobia. Queríamos que esses temas tivessem maior expressão em grandes setores de comunicação, que é o que o Rock in Rio é”, explica.

Pelo o que diz, Brown não guarda a menor mágoa do público, também provocado por ele quando disse: “Não adianta gostar de nada quando é ignorante e não tem juízo. Vocês, que gostam de rock, têm muito o que aprender na vida, aprender a amar. E o dedinho podem enfiar no traseiro”.

“Vejo a reação do público como perfeita. Naquele momento, eles estavam educados para isso. Não podemos dosar o que o dirigismo social, de discursos ou de classes, leva ao pensamento. Naquele instante, eles acreditavam que a roupa era a preta - naquele calor danado - , que o Guns ‘N Roses era o que eles gostavam e não queriam nada mais. Eram também fãs na expectativa de ver logo o seu ídolo”, pondera.

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“Eu era o cara que estava com um cocar na cabeça e roupa M. Officer. Era um adereço de uma tribo indígena do sertão da Bahia com uma super ponta de moda, Chocava. Mas sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara”, diz.

Carlinhos Brown durante seu show no Rock In rio em janeiro de 2001. Foto: Fábio Motta / Estadão

Ao aguentar firme no palco ao gritos de “eu não jogo nada em ninguém, só jogo amor”, Brown afirma que pôde mostar como o axé music iria revolucionar a rítmica mundial.

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“O axé music vai para o Sepultura. O Foo Fighters considera o (álbum) Roots e a (música) Ratamahatta (Brown é um dos compositores) como um antes e depois do heavy metal. O Slipknot aderiu à nossa maneira do tocar. A brasilidade é motor de mistura para tudo o que está parado em estética no mundo”, opina.

Participação no Dia Brasil 2024

A dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó e cantora Ana Castela ensaiam com a Orquestra sinfônica de Heliópolis para o Dia Brasil no Rock in Rio 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Se Brown tem alguma crítica ao Rock in Rio ela se refere ao passado. “Não gostei quando o Rock in Rio fez palcos para iniciantes, sem dividir com grandes artistas. Se faz arte, é tudo bom”, diz.

O músico sabe que irá encontrar uma acolhida melhor agora em 2024. “O público está muito mais amadurecido para ter um dia de música popular brasileira no Rock in Rio sem questionamentos”.

O Dia Brasil, como foi batizado, é uma nova experiência no festival, com line-up 100% nacional, inclusive, a exemplo do que fez com o samba, rap, o funk e o trap nas últimas edições, introduzindo, pela primeira vez, o sertanejo. Nomes como Chitãozinho & Xororó, Ana Castela e Luan Santana são alguns dos convidados.

Brown tocará no Palco Mundo em companhia de BaianaSystem, o grande grupo afro pop da música baiana no momento, das cantoras Daniela Mercury, Gaby Amarantos e Majur e dos cantores Ney Matogrosso e Zeca Baleiro.

Para ele, o Dia Brasil deixa “explícita” a construção que Erasmo Carlos e Elba Ramalho, ambos estiveram na primeira edição, e do Pato Fu, presente na edição do episódio das garrafadas, fizeram de que a verdadeira atitude roqueira nada mais é do que aquilo que “choca”.

“Se você discorda, é porque já está pensando’, diz. “Nós levamos um tempo, mas chegamos ao mundo melhor que era proposto naquele ano (2011). Música é ativismo”, finaliza.

Em 2001, após um hiato de dez anos, o Rock in Rio voltava à cena para sua terceira edição. Para reerguer o festival, Roberto Medina criou mais um de seus slogans de impacto. Dessa vez, em torno da paz: Rock in Rio - Por um Mundo Melhor! O empresário ainda sugeriu que todos meditassem a favor de um Brasil mais sereno - a violência no Rio de Janeiro havia adiado a volta do evento anos antes.

Mais um sucesso da marca. Foram 150 atrações para um público de mais de 1 milhão de pessoas dividido em sete dias -, com destaque para as apresentações de Oasis, R.E.M, Britney Spears, Iron Maiden, Guns N’ Roses, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Daniela Mercury e a grande estrela brasileira daquele momento: a cantora Cássia Eller, com o histórico show em que, livre e contestadora, mostrou os seios para a plateia - além de cantar Nirvana de forma magistral.

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O músico e compositor enfrentou a fúria dos roqueiros em 2011, mas diz que episódio fortaleceu o axé music

O músico e compositor Carlinhos Brown: segundo ele, sua resignação fortaleceu o axé music Foto: Léo Aversa

No entanto, a ‘corrente de paz’ proposta por Medina foi quebrada por impacientes roqueiros que aguardavam as apresentações das bandas Oasis e Guns N’ Roses no terceiro dia daquela terceira edição. O alvo? O músico e compositor baiano Carlinhos Brown.

Prestes a participar mais uma vez do festival - ele se apresentará no dia 21, no Palco Mundo, ao lado de nomes como Daniela Mercury, Ney Matogrosso e BaianaSystem - Brown conversou com o Estadão para relembrar o dia em que recebeu uma verdadeira chuva de garrafas plásticas de água. No momento da agressão, ele cantava A Namorada, música que tem no refrão o verso ‘a namorada tem namorada’.

Com um show voltado para o que se pode chamar de axé pop, Brown, artista relativamente iniciante, mas já destacado àquela altura, não teve o mesmo êxito que sua conterrânea Daniela Mercury, acolhida pelo público na mesma edição. Um dos sucessos da cantora que empolgou a plateia? Rapunzel, justamente uma composição de Brown em parceria com Alain Tavares.

Mas o que, então, teria motivado a fúria contra Brown? Para o músico, foi exatamente a falta de compreensão de que o Rock in Rio nunca foi um evento apenas de rock. “Pelo fato da música baiana ser carnavalesca, um pouco nonsense, dava a conotação que estávamos no lugar errado. Mas Medina não tinha essa visão. Ele queria o Brasil (no Rock in Rio)!”, afirma Brown.

O músico diz que o desejo do empresário, naquele momento, encontrava eco na sua proposta. “Queríamos um mundo de paz. Um mundo melhor, como dizia o slogan. Eu fui com o que atualmente se chama de ESG, Educação, Sustentabilidade e Governança. Levei uma ONG com garotos da Bahia tocando percussão”, diz.

Sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara

Brown afirma que queria mostrar que o carnaval baiano não era apenas diversão, mas engajamento, por mais que a questão passe despercebida pela folia. “Eu falava de desertificação em Segue o Seco. Falava ‘a namorada tem namorada’. Levei o Candeal. Para mim, o maior marco é esse. Continuamos lutando contra a LGBTfobia. Queríamos que esses temas tivessem maior expressão em grandes setores de comunicação, que é o que o Rock in Rio é”, explica.

Pelo o que diz, Brown não guarda a menor mágoa do público, também provocado por ele quando disse: “Não adianta gostar de nada quando é ignorante e não tem juízo. Vocês, que gostam de rock, têm muito o que aprender na vida, aprender a amar. E o dedinho podem enfiar no traseiro”.

“Vejo a reação do público como perfeita. Naquele momento, eles estavam educados para isso. Não podemos dosar o que o dirigismo social, de discursos ou de classes, leva ao pensamento. Naquele instante, eles acreditavam que a roupa era a preta - naquele calor danado - , que o Guns ‘N Roses era o que eles gostavam e não queriam nada mais. Eram também fãs na expectativa de ver logo o seu ídolo”, pondera.

“Eu era o cara que estava com um cocar na cabeça e roupa M. Officer. Era um adereço de uma tribo indígena do sertão da Bahia com uma super ponta de moda, Chocava. Mas sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara”, diz.

Carlinhos Brown durante seu show no Rock In rio em janeiro de 2001. Foto: Fábio Motta / Estadão

Ao aguentar firme no palco ao gritos de “eu não jogo nada em ninguém, só jogo amor”, Brown afirma que pôde mostar como o axé music iria revolucionar a rítmica mundial.

“O axé music vai para o Sepultura. O Foo Fighters considera o (álbum) Roots e a (música) Ratamahatta (Brown é um dos compositores) como um antes e depois do heavy metal. O Slipknot aderiu à nossa maneira do tocar. A brasilidade é motor de mistura para tudo o que está parado em estética no mundo”, opina.

Participação no Dia Brasil 2024

A dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó e cantora Ana Castela ensaiam com a Orquestra sinfônica de Heliópolis para o Dia Brasil no Rock in Rio 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Se Brown tem alguma crítica ao Rock in Rio ela se refere ao passado. “Não gostei quando o Rock in Rio fez palcos para iniciantes, sem dividir com grandes artistas. Se faz arte, é tudo bom”, diz.

O músico sabe que irá encontrar uma acolhida melhor agora em 2024. “O público está muito mais amadurecido para ter um dia de música popular brasileira no Rock in Rio sem questionamentos”.

O Dia Brasil, como foi batizado, é uma nova experiência no festival, com line-up 100% nacional, inclusive, a exemplo do que fez com o samba, rap, o funk e o trap nas últimas edições, introduzindo, pela primeira vez, o sertanejo. Nomes como Chitãozinho & Xororó, Ana Castela e Luan Santana são alguns dos convidados.

Brown tocará no Palco Mundo em companhia de BaianaSystem, o grande grupo afro pop da música baiana no momento, das cantoras Daniela Mercury, Gaby Amarantos e Majur e dos cantores Ney Matogrosso e Zeca Baleiro.

Para ele, o Dia Brasil deixa “explícita” a construção que Erasmo Carlos e Elba Ramalho, ambos estiveram na primeira edição, e do Pato Fu, presente na edição do episódio das garrafadas, fizeram de que a verdadeira atitude roqueira nada mais é do que aquilo que “choca”.

“Se você discorda, é porque já está pensando’, diz. “Nós levamos um tempo, mas chegamos ao mundo melhor que era proposto naquele ano (2011). Música é ativismo”, finaliza.

Em 2001, após um hiato de dez anos, o Rock in Rio voltava à cena para sua terceira edição. Para reerguer o festival, Roberto Medina criou mais um de seus slogans de impacto. Dessa vez, em torno da paz: Rock in Rio - Por um Mundo Melhor! O empresário ainda sugeriu que todos meditassem a favor de um Brasil mais sereno - a violência no Rio de Janeiro havia adiado a volta do evento anos antes.

Mais um sucesso da marca. Foram 150 atrações para um público de mais de 1 milhão de pessoas dividido em sete dias -, com destaque para as apresentações de Oasis, R.E.M, Britney Spears, Iron Maiden, Guns N’ Roses, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Daniela Mercury e a grande estrela brasileira daquele momento: a cantora Cássia Eller, com o histórico show em que, livre e contestadora, mostrou os seios para a plateia - além de cantar Nirvana de forma magistral.

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O músico e compositor enfrentou a fúria dos roqueiros em 2011, mas diz que episódio fortaleceu o axé music

O músico e compositor Carlinhos Brown: segundo ele, sua resignação fortaleceu o axé music Foto: Léo Aversa

No entanto, a ‘corrente de paz’ proposta por Medina foi quebrada por impacientes roqueiros que aguardavam as apresentações das bandas Oasis e Guns N’ Roses no terceiro dia daquela terceira edição. O alvo? O músico e compositor baiano Carlinhos Brown.

Prestes a participar mais uma vez do festival - ele se apresentará no dia 21, no Palco Mundo, ao lado de nomes como Daniela Mercury, Ney Matogrosso e BaianaSystem - Brown conversou com o Estadão para relembrar o dia em que recebeu uma verdadeira chuva de garrafas plásticas de água. No momento da agressão, ele cantava A Namorada, música que tem no refrão o verso ‘a namorada tem namorada’.

Com um show voltado para o que se pode chamar de axé pop, Brown, artista relativamente iniciante, mas já destacado àquela altura, não teve o mesmo êxito que sua conterrânea Daniela Mercury, acolhida pelo público na mesma edição. Um dos sucessos da cantora que empolgou a plateia? Rapunzel, justamente uma composição de Brown em parceria com Alain Tavares.

Mas o que, então, teria motivado a fúria contra Brown? Para o músico, foi exatamente a falta de compreensão de que o Rock in Rio nunca foi um evento apenas de rock. “Pelo fato da música baiana ser carnavalesca, um pouco nonsense, dava a conotação que estávamos no lugar errado. Mas Medina não tinha essa visão. Ele queria o Brasil (no Rock in Rio)!”, afirma Brown.

O músico diz que o desejo do empresário, naquele momento, encontrava eco na sua proposta. “Queríamos um mundo de paz. Um mundo melhor, como dizia o slogan. Eu fui com o que atualmente se chama de ESG, Educação, Sustentabilidade e Governança. Levei uma ONG com garotos da Bahia tocando percussão”, diz.

Sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara

Brown afirma que queria mostrar que o carnaval baiano não era apenas diversão, mas engajamento, por mais que a questão passe despercebida pela folia. “Eu falava de desertificação em Segue o Seco. Falava ‘a namorada tem namorada’. Levei o Candeal. Para mim, o maior marco é esse. Continuamos lutando contra a LGBTfobia. Queríamos que esses temas tivessem maior expressão em grandes setores de comunicação, que é o que o Rock in Rio é”, explica.

Pelo o que diz, Brown não guarda a menor mágoa do público, também provocado por ele quando disse: “Não adianta gostar de nada quando é ignorante e não tem juízo. Vocês, que gostam de rock, têm muito o que aprender na vida, aprender a amar. E o dedinho podem enfiar no traseiro”.

“Vejo a reação do público como perfeita. Naquele momento, eles estavam educados para isso. Não podemos dosar o que o dirigismo social, de discursos ou de classes, leva ao pensamento. Naquele instante, eles acreditavam que a roupa era a preta - naquele calor danado - , que o Guns ‘N Roses era o que eles gostavam e não queriam nada mais. Eram também fãs na expectativa de ver logo o seu ídolo”, pondera.

“Eu era o cara que estava com um cocar na cabeça e roupa M. Officer. Era um adereço de uma tribo indígena do sertão da Bahia com uma super ponta de moda, Chocava. Mas sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara”, diz.

Carlinhos Brown durante seu show no Rock In rio em janeiro de 2001. Foto: Fábio Motta / Estadão

Ao aguentar firme no palco ao gritos de “eu não jogo nada em ninguém, só jogo amor”, Brown afirma que pôde mostar como o axé music iria revolucionar a rítmica mundial.

“O axé music vai para o Sepultura. O Foo Fighters considera o (álbum) Roots e a (música) Ratamahatta (Brown é um dos compositores) como um antes e depois do heavy metal. O Slipknot aderiu à nossa maneira do tocar. A brasilidade é motor de mistura para tudo o que está parado em estética no mundo”, opina.

Participação no Dia Brasil 2024

A dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó e cantora Ana Castela ensaiam com a Orquestra sinfônica de Heliópolis para o Dia Brasil no Rock in Rio 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Se Brown tem alguma crítica ao Rock in Rio ela se refere ao passado. “Não gostei quando o Rock in Rio fez palcos para iniciantes, sem dividir com grandes artistas. Se faz arte, é tudo bom”, diz.

O músico sabe que irá encontrar uma acolhida melhor agora em 2024. “O público está muito mais amadurecido para ter um dia de música popular brasileira no Rock in Rio sem questionamentos”.

O Dia Brasil, como foi batizado, é uma nova experiência no festival, com line-up 100% nacional, inclusive, a exemplo do que fez com o samba, rap, o funk e o trap nas últimas edições, introduzindo, pela primeira vez, o sertanejo. Nomes como Chitãozinho & Xororó, Ana Castela e Luan Santana são alguns dos convidados.

Brown tocará no Palco Mundo em companhia de BaianaSystem, o grande grupo afro pop da música baiana no momento, das cantoras Daniela Mercury, Gaby Amarantos e Majur e dos cantores Ney Matogrosso e Zeca Baleiro.

Para ele, o Dia Brasil deixa “explícita” a construção que Erasmo Carlos e Elba Ramalho, ambos estiveram na primeira edição, e do Pato Fu, presente na edição do episódio das garrafadas, fizeram de que a verdadeira atitude roqueira nada mais é do que aquilo que “choca”.

“Se você discorda, é porque já está pensando’, diz. “Nós levamos um tempo, mas chegamos ao mundo melhor que era proposto naquele ano (2011). Música é ativismo”, finaliza.

Em 2001, após um hiato de dez anos, o Rock in Rio voltava à cena para sua terceira edição. Para reerguer o festival, Roberto Medina criou mais um de seus slogans de impacto. Dessa vez, em torno da paz: Rock in Rio - Por um Mundo Melhor! O empresário ainda sugeriu que todos meditassem a favor de um Brasil mais sereno - a violência no Rio de Janeiro havia adiado a volta do evento anos antes.

Mais um sucesso da marca. Foram 150 atrações para um público de mais de 1 milhão de pessoas dividido em sete dias -, com destaque para as apresentações de Oasis, R.E.M, Britney Spears, Iron Maiden, Guns N’ Roses, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Daniela Mercury e a grande estrela brasileira daquele momento: a cantora Cássia Eller, com o histórico show em que, livre e contestadora, mostrou os seios para a plateia - além de cantar Nirvana de forma magistral.

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O músico e compositor enfrentou a fúria dos roqueiros em 2011, mas diz que episódio fortaleceu o axé music

O músico e compositor Carlinhos Brown: segundo ele, sua resignação fortaleceu o axé music Foto: Léo Aversa

No entanto, a ‘corrente de paz’ proposta por Medina foi quebrada por impacientes roqueiros que aguardavam as apresentações das bandas Oasis e Guns N’ Roses no terceiro dia daquela terceira edição. O alvo? O músico e compositor baiano Carlinhos Brown.

Prestes a participar mais uma vez do festival - ele se apresentará no dia 21, no Palco Mundo, ao lado de nomes como Daniela Mercury, Ney Matogrosso e BaianaSystem - Brown conversou com o Estadão para relembrar o dia em que recebeu uma verdadeira chuva de garrafas plásticas de água. No momento da agressão, ele cantava A Namorada, música que tem no refrão o verso ‘a namorada tem namorada’.

Com um show voltado para o que se pode chamar de axé pop, Brown, artista relativamente iniciante, mas já destacado àquela altura, não teve o mesmo êxito que sua conterrânea Daniela Mercury, acolhida pelo público na mesma edição. Um dos sucessos da cantora que empolgou a plateia? Rapunzel, justamente uma composição de Brown em parceria com Alain Tavares.

Mas o que, então, teria motivado a fúria contra Brown? Para o músico, foi exatamente a falta de compreensão de que o Rock in Rio nunca foi um evento apenas de rock. “Pelo fato da música baiana ser carnavalesca, um pouco nonsense, dava a conotação que estávamos no lugar errado. Mas Medina não tinha essa visão. Ele queria o Brasil (no Rock in Rio)!”, afirma Brown.

O músico diz que o desejo do empresário, naquele momento, encontrava eco na sua proposta. “Queríamos um mundo de paz. Um mundo melhor, como dizia o slogan. Eu fui com o que atualmente se chama de ESG, Educação, Sustentabilidade e Governança. Levei uma ONG com garotos da Bahia tocando percussão”, diz.

Sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara

Brown afirma que queria mostrar que o carnaval baiano não era apenas diversão, mas engajamento, por mais que a questão passe despercebida pela folia. “Eu falava de desertificação em Segue o Seco. Falava ‘a namorada tem namorada’. Levei o Candeal. Para mim, o maior marco é esse. Continuamos lutando contra a LGBTfobia. Queríamos que esses temas tivessem maior expressão em grandes setores de comunicação, que é o que o Rock in Rio é”, explica.

Pelo o que diz, Brown não guarda a menor mágoa do público, também provocado por ele quando disse: “Não adianta gostar de nada quando é ignorante e não tem juízo. Vocês, que gostam de rock, têm muito o que aprender na vida, aprender a amar. E o dedinho podem enfiar no traseiro”.

“Vejo a reação do público como perfeita. Naquele momento, eles estavam educados para isso. Não podemos dosar o que o dirigismo social, de discursos ou de classes, leva ao pensamento. Naquele instante, eles acreditavam que a roupa era a preta - naquele calor danado - , que o Guns ‘N Roses era o que eles gostavam e não queriam nada mais. Eram também fãs na expectativa de ver logo o seu ídolo”, pondera.

“Eu era o cara que estava com um cocar na cabeça e roupa M. Officer. Era um adereço de uma tribo indígena do sertão da Bahia com uma super ponta de moda, Chocava. Mas sou grato a tudo o que ocorreu e continuo o mesmo cara”, diz.

Carlinhos Brown durante seu show no Rock In rio em janeiro de 2001. Foto: Fábio Motta / Estadão

Ao aguentar firme no palco ao gritos de “eu não jogo nada em ninguém, só jogo amor”, Brown afirma que pôde mostar como o axé music iria revolucionar a rítmica mundial.

“O axé music vai para o Sepultura. O Foo Fighters considera o (álbum) Roots e a (música) Ratamahatta (Brown é um dos compositores) como um antes e depois do heavy metal. O Slipknot aderiu à nossa maneira do tocar. A brasilidade é motor de mistura para tudo o que está parado em estética no mundo”, opina.

Participação no Dia Brasil 2024

A dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó e cantora Ana Castela ensaiam com a Orquestra sinfônica de Heliópolis para o Dia Brasil no Rock in Rio 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Se Brown tem alguma crítica ao Rock in Rio ela se refere ao passado. “Não gostei quando o Rock in Rio fez palcos para iniciantes, sem dividir com grandes artistas. Se faz arte, é tudo bom”, diz.

O músico sabe que irá encontrar uma acolhida melhor agora em 2024. “O público está muito mais amadurecido para ter um dia de música popular brasileira no Rock in Rio sem questionamentos”.

O Dia Brasil, como foi batizado, é uma nova experiência no festival, com line-up 100% nacional, inclusive, a exemplo do que fez com o samba, rap, o funk e o trap nas últimas edições, introduzindo, pela primeira vez, o sertanejo. Nomes como Chitãozinho & Xororó, Ana Castela e Luan Santana são alguns dos convidados.

Brown tocará no Palco Mundo em companhia de BaianaSystem, o grande grupo afro pop da música baiana no momento, das cantoras Daniela Mercury, Gaby Amarantos e Majur e dos cantores Ney Matogrosso e Zeca Baleiro.

Para ele, o Dia Brasil deixa “explícita” a construção que Erasmo Carlos e Elba Ramalho, ambos estiveram na primeira edição, e do Pato Fu, presente na edição do episódio das garrafadas, fizeram de que a verdadeira atitude roqueira nada mais é do que aquilo que “choca”.

“Se você discorda, é porque já está pensando’, diz. “Nós levamos um tempo, mas chegamos ao mundo melhor que era proposto naquele ano (2011). Música é ativismo”, finaliza.

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