O CD voltou: discos encantam colecionadores da geração Z - mesmo que nem tenham onde tocá-los


Bolachinhas voltam embrulhadas em uma estética de nostalgia pelos anos 2000, são mais baratas que vinis, se transformam em objetos de desejo de superfãs e viram até itens de decoração

Por Zoe Glasser
Atualização:

THE WASHINGTON POST | Kate Carniol, 23 anos, vem colecionando todos os CDs da Taylor Swift desde o lançamento original de Speak Now, em 2010. O lançamento de um novo álbum significa a compra de um novo CD, regra que ela reserva exclusivamente para Swift, cuja discografia completa enche uma prateleira no quarto de Carniol na casa da família.

Mas Carniol não tem CD player. Ela não ouve os CDs de Swift há anos, sempre opta por uma plataforma de streaming. Carniol, assim como outros jovens colecionadores, considera o CD mais uma mercadoria do que uma ferramenta funcional para consumir música. Ela adora as fotos, o design do álbum. Quando falei com ela no final de junho, ela estava esperando uma cópia autografada de Speak Now (Taylor’s Version) desde que a regravação fora anunciada.

“Fico acordada toda noite até meia-noite, esperando para ver se ela vai lançar uma cópia autografada”, diz Carniol. “Esse foi o álbum que realmente me fez gostar dela. Preciso da cópia autografada da regravação só pelo aspecto emocional”.

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Kate Carniol olha um CD "Reputation" de Taylor Swift na Village Revival Records, em Nova York Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

A reconquista dos CDs?

Os CDs representam uma pequena porcentagem dos ganhos da indústria musical: cerca de 3% em 2022, bem abaixo dos 96% em 2002. Os serviços de streaming digital dominam o mundo há mais de uma década, com o vinil subindo ano após ano desde meados da década.

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Os CDs não tiveram esse ressurgimento. Mas vêm atraindo uma base de jovens adultos que atingiram a maioridade muito depois do apogeu do CD. São as autoproclamadas CD people, um grupo pequeno mas dedicado que continua adorando os CDs e esperando seu renascimento.

Tabby Bernardus, 22 anos, uma recém-formada universitária de Los Angeles, lembra-se de quando seus pais lhe deram um imenso CD player com vários discos quando ela era criança. Ela ouvia o favorito de seu pai, The Shins, ou o favorito dela mesma, Joni Mitchell, além de uma nova banda (na época) chamada Florence and the Machine ou um clássico como Metallica.

Desde então, Bernardus colecionou cerca de 200 CDs, alguns novos e outros retirados de caixas de brechós. Ela os coloca no som do carro – o único CD player que ela tem, porque o tocador de CDs de carrossel já não existe mais – e ouve o álbum inteiro na ordem pretendida. Assim como seus pais, ela mantém uma pasta cheia de CDs no carro.

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“Gosto da possibilidade de colecionar os CDs e também da [sensação] de entrar numa loja e comprar algo, em vez de ir ao Spotify e adicionar à playlist, que é uma coisa que também faço”, diz Bernardus. “Você sabe em que loja você comprou ou em que momento da sua vida você comprou aquele CD, e acho que tudo isso deixa um pouco mais de impacto em você”.

Grupos de compra e venda de CDs reúnem colecionadores e permitem integração entre os entusiastas do formato Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Muitos colecionadores participam de espaços de fandom, onde a compra de CDs é uma expressão do amor por seu músico ou banda favorita. Quando um fã compra um CD, está apoiando seu músico mais do que o faria se o ouvisse centenas de vezes nos serviços de streaming. Os fãs de alguns gêneros parecem particularmente atraídos pelos CDs: country e K-pop estão entre os mais fortes, disse Jon Strickland, vice-presidente de vendas da Sub Pop Records.

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Para Ben Fitchett, 23 anos, colecionador de memorabília musical em Los Angeles, o importante é ter itens autografados. Fitchett tem placas de certificação de discos de artistas como Selena Gomez e Justin Bieber, junto com um vestido de tule que Ariana Grande usou certa vez no palco. Ele coleciona especificamente CDs autografados e é membro de vários grupos do Facebook nos quais os fãs compram, vendem e aconselham uns aos outros sobre se as assinaturas parecem legítimas ou falsificadas.

“As pessoas ficam, tipo, ‘Estou atrás deste CD. Alguém tem?’ Aí alguém diz, ‘Eu tenho, mas estou atrás daquilo’. E por aí vai, são muitas negociações. As pessoas acessam esse tipo de página porque sabem que tem fãs ali”, diz Fitchett.

Outro motivo para a subcultura das coleções talvez seja simples: as pessoas gostam de objetos, e esses objetos são relativamente baratos. Os CDs são mais fáceis de armazenar e mais baratos que os discos de vinil.

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Veronica Fuentes não tem um toca-CDs em casa, ouve no carro  Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

O preço baixo faz parte do apelo para Veronica Fuentes, 20 anos. Fuentes começou a colecionar porque achou que seria engraçado comprar um CD de Lindsay Lohan que encontrou em um brechó. Desde então, ela criou uma variedade de rock alternativo dos anos 90, que ela usa basicamente para decoração.

Agora está vasculhando as caixas de promoção em busca de álbuns de Fiona Apple e The Doors. Ela toca sua modesta coleção de CDs no carro – também não tem CD player em casa, embora tenha uma porta que lhe permite gravar CDs no computador.

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“Acho que estamos vendo esse surto agora porque tem toda uma geração de pessoas que estão saindo de casa pela primeira vez e se mudando para seus próprios espaços. E [os CDs] estão crescendo como peça de decoração porque são acessíveis para todo mundo, é um tipo de moda”, diz ela. “Como está muito preso a um período, é meio atemporal”.

Fuentes também gosta da estrutura definida dos CDs e de sua capacidade limitada de pular faixas, além de sua estética anos 2000 e seu valor para artistas emergentes.

Ascensão de formatos físicos é encabeçada pelo vinil

Os colecionadores, ansiosos por um renascimento do CD, ficaram entusiasmados quando, em 2021, as vendas de CD viveram seu primeiro aumento desde 2004. Strickland diz que as vendas de CD aumentaram na Sub Pop Records nos últimos anos. “É uma forma de se destacar e desenvolver uma base de fãs bastante leais”, diz Fuentes. “Se você for a um show pequeno e comprar um CD por 10 dólares, você sempre vai ter aquele CD e ficar tipo, ‘Oh, eu me lembro daquela banda’”.

Veronica Fuentes procura por álbuns de Fiona Apple e The Doors Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Mas a Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA, na sigla em inglês), que monitoriza a quantidade e a mídia das vendas de música no país por meio da recolha de dados das principais gravadoras discográficas e de fontes externas, não dispõe de dados que indiquem que os CDs estejam voltando. O diretor de pesquisa da RIAA, Matthew Bass, diz que, se algum meio físico voltou para ficar, é o vinil.

“Embora tenhamos visto uma pequena mudança no radar nos últimos dois anos, se você ampliar a imagem, na verdade vai ver um declínio bastante constante nos CDs”, diz Bass.

Mas os dados da RIAA rastreiam apenas as primeiras vendas: muitos CDs são vendidos de segunda mão e é praticamente impossível rastreá-los. John T. Kurz, proprietário da Waterloo Records em Austin, diz que as vendas de CDs usados continuam consistentes, mesmo com as vendas de CDs novos oscilando durante a ascensão do streaming.

Qual é o atrativo do CD?

Os dados também não conseguem quantificar o que está atraindo um pequeno mas dedicado segmento da geração Z para os CDs. Kurz acha que os jovens estão interessados em ouvir um álbum na ordem originalmente pretendida pelo artista e que, para os consumidores, é cada vez mais importante apoiar financeiramente seu artista favorito, na medida do possível.

“Acho que as pessoas querem ter a propriedade de suas músicas, em vez de apenas baixá-las gratuitamente ou, se estão assinando um serviço de streaming, basicamente alugar músicas”, diz ele. “Os fãs mais instruídos sabem que, às vezes, cem mil reproduções no streaming não dão nem para comprar um sanduíche. [Os colecionadores querem] ser realmente respeitosos e apoiar os artistas e saber que há um retorno decente para os artistas”.

Kate Carniol é fã de Taylor Swift e faz questão de ter todos os álbuns em CD Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Independentemente de os CDs voltarem a igualar ou ultrapassar o vinil em vendas, não parece que o meio físico vá escapar da consciência do público tão cedo. Os ouvintes adoram a possibilidade de segurar, tocar e possuir música permanentemente e apreciam o ritual de interagir com a arte além de apenas apertar o play.

“O que mais vale é o ato de ouvir música, que ficou tão fácil e acessível para todo mundo hoje em dia. Faz com que pareça mais uma escuta ativa”, diz Fuentes. “Parece que não estou só dando play nas minhas músicas favoritas. Quero ouvir as músicas e escolher uma vibe específica para mim e meus amigos. Quero tratar a música com um pouco mais de respeito”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST | Kate Carniol, 23 anos, vem colecionando todos os CDs da Taylor Swift desde o lançamento original de Speak Now, em 2010. O lançamento de um novo álbum significa a compra de um novo CD, regra que ela reserva exclusivamente para Swift, cuja discografia completa enche uma prateleira no quarto de Carniol na casa da família.

Mas Carniol não tem CD player. Ela não ouve os CDs de Swift há anos, sempre opta por uma plataforma de streaming. Carniol, assim como outros jovens colecionadores, considera o CD mais uma mercadoria do que uma ferramenta funcional para consumir música. Ela adora as fotos, o design do álbum. Quando falei com ela no final de junho, ela estava esperando uma cópia autografada de Speak Now (Taylor’s Version) desde que a regravação fora anunciada.

“Fico acordada toda noite até meia-noite, esperando para ver se ela vai lançar uma cópia autografada”, diz Carniol. “Esse foi o álbum que realmente me fez gostar dela. Preciso da cópia autografada da regravação só pelo aspecto emocional”.

Kate Carniol olha um CD "Reputation" de Taylor Swift na Village Revival Records, em Nova York Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

A reconquista dos CDs?

Os CDs representam uma pequena porcentagem dos ganhos da indústria musical: cerca de 3% em 2022, bem abaixo dos 96% em 2002. Os serviços de streaming digital dominam o mundo há mais de uma década, com o vinil subindo ano após ano desde meados da década.

Os CDs não tiveram esse ressurgimento. Mas vêm atraindo uma base de jovens adultos que atingiram a maioridade muito depois do apogeu do CD. São as autoproclamadas CD people, um grupo pequeno mas dedicado que continua adorando os CDs e esperando seu renascimento.

Tabby Bernardus, 22 anos, uma recém-formada universitária de Los Angeles, lembra-se de quando seus pais lhe deram um imenso CD player com vários discos quando ela era criança. Ela ouvia o favorito de seu pai, The Shins, ou o favorito dela mesma, Joni Mitchell, além de uma nova banda (na época) chamada Florence and the Machine ou um clássico como Metallica.

Desde então, Bernardus colecionou cerca de 200 CDs, alguns novos e outros retirados de caixas de brechós. Ela os coloca no som do carro – o único CD player que ela tem, porque o tocador de CDs de carrossel já não existe mais – e ouve o álbum inteiro na ordem pretendida. Assim como seus pais, ela mantém uma pasta cheia de CDs no carro.

“Gosto da possibilidade de colecionar os CDs e também da [sensação] de entrar numa loja e comprar algo, em vez de ir ao Spotify e adicionar à playlist, que é uma coisa que também faço”, diz Bernardus. “Você sabe em que loja você comprou ou em que momento da sua vida você comprou aquele CD, e acho que tudo isso deixa um pouco mais de impacto em você”.

Grupos de compra e venda de CDs reúnem colecionadores e permitem integração entre os entusiastas do formato Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Muitos colecionadores participam de espaços de fandom, onde a compra de CDs é uma expressão do amor por seu músico ou banda favorita. Quando um fã compra um CD, está apoiando seu músico mais do que o faria se o ouvisse centenas de vezes nos serviços de streaming. Os fãs de alguns gêneros parecem particularmente atraídos pelos CDs: country e K-pop estão entre os mais fortes, disse Jon Strickland, vice-presidente de vendas da Sub Pop Records.

Para Ben Fitchett, 23 anos, colecionador de memorabília musical em Los Angeles, o importante é ter itens autografados. Fitchett tem placas de certificação de discos de artistas como Selena Gomez e Justin Bieber, junto com um vestido de tule que Ariana Grande usou certa vez no palco. Ele coleciona especificamente CDs autografados e é membro de vários grupos do Facebook nos quais os fãs compram, vendem e aconselham uns aos outros sobre se as assinaturas parecem legítimas ou falsificadas.

“As pessoas ficam, tipo, ‘Estou atrás deste CD. Alguém tem?’ Aí alguém diz, ‘Eu tenho, mas estou atrás daquilo’. E por aí vai, são muitas negociações. As pessoas acessam esse tipo de página porque sabem que tem fãs ali”, diz Fitchett.

Outro motivo para a subcultura das coleções talvez seja simples: as pessoas gostam de objetos, e esses objetos são relativamente baratos. Os CDs são mais fáceis de armazenar e mais baratos que os discos de vinil.

Veronica Fuentes não tem um toca-CDs em casa, ouve no carro  Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

O preço baixo faz parte do apelo para Veronica Fuentes, 20 anos. Fuentes começou a colecionar porque achou que seria engraçado comprar um CD de Lindsay Lohan que encontrou em um brechó. Desde então, ela criou uma variedade de rock alternativo dos anos 90, que ela usa basicamente para decoração.

Agora está vasculhando as caixas de promoção em busca de álbuns de Fiona Apple e The Doors. Ela toca sua modesta coleção de CDs no carro – também não tem CD player em casa, embora tenha uma porta que lhe permite gravar CDs no computador.

“Acho que estamos vendo esse surto agora porque tem toda uma geração de pessoas que estão saindo de casa pela primeira vez e se mudando para seus próprios espaços. E [os CDs] estão crescendo como peça de decoração porque são acessíveis para todo mundo, é um tipo de moda”, diz ela. “Como está muito preso a um período, é meio atemporal”.

Fuentes também gosta da estrutura definida dos CDs e de sua capacidade limitada de pular faixas, além de sua estética anos 2000 e seu valor para artistas emergentes.

Ascensão de formatos físicos é encabeçada pelo vinil

Os colecionadores, ansiosos por um renascimento do CD, ficaram entusiasmados quando, em 2021, as vendas de CD viveram seu primeiro aumento desde 2004. Strickland diz que as vendas de CD aumentaram na Sub Pop Records nos últimos anos. “É uma forma de se destacar e desenvolver uma base de fãs bastante leais”, diz Fuentes. “Se você for a um show pequeno e comprar um CD por 10 dólares, você sempre vai ter aquele CD e ficar tipo, ‘Oh, eu me lembro daquela banda’”.

Veronica Fuentes procura por álbuns de Fiona Apple e The Doors Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Mas a Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA, na sigla em inglês), que monitoriza a quantidade e a mídia das vendas de música no país por meio da recolha de dados das principais gravadoras discográficas e de fontes externas, não dispõe de dados que indiquem que os CDs estejam voltando. O diretor de pesquisa da RIAA, Matthew Bass, diz que, se algum meio físico voltou para ficar, é o vinil.

“Embora tenhamos visto uma pequena mudança no radar nos últimos dois anos, se você ampliar a imagem, na verdade vai ver um declínio bastante constante nos CDs”, diz Bass.

Mas os dados da RIAA rastreiam apenas as primeiras vendas: muitos CDs são vendidos de segunda mão e é praticamente impossível rastreá-los. John T. Kurz, proprietário da Waterloo Records em Austin, diz que as vendas de CDs usados continuam consistentes, mesmo com as vendas de CDs novos oscilando durante a ascensão do streaming.

Qual é o atrativo do CD?

Os dados também não conseguem quantificar o que está atraindo um pequeno mas dedicado segmento da geração Z para os CDs. Kurz acha que os jovens estão interessados em ouvir um álbum na ordem originalmente pretendida pelo artista e que, para os consumidores, é cada vez mais importante apoiar financeiramente seu artista favorito, na medida do possível.

“Acho que as pessoas querem ter a propriedade de suas músicas, em vez de apenas baixá-las gratuitamente ou, se estão assinando um serviço de streaming, basicamente alugar músicas”, diz ele. “Os fãs mais instruídos sabem que, às vezes, cem mil reproduções no streaming não dão nem para comprar um sanduíche. [Os colecionadores querem] ser realmente respeitosos e apoiar os artistas e saber que há um retorno decente para os artistas”.

Kate Carniol é fã de Taylor Swift e faz questão de ter todos os álbuns em CD Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Independentemente de os CDs voltarem a igualar ou ultrapassar o vinil em vendas, não parece que o meio físico vá escapar da consciência do público tão cedo. Os ouvintes adoram a possibilidade de segurar, tocar e possuir música permanentemente e apreciam o ritual de interagir com a arte além de apenas apertar o play.

“O que mais vale é o ato de ouvir música, que ficou tão fácil e acessível para todo mundo hoje em dia. Faz com que pareça mais uma escuta ativa”, diz Fuentes. “Parece que não estou só dando play nas minhas músicas favoritas. Quero ouvir as músicas e escolher uma vibe específica para mim e meus amigos. Quero tratar a música com um pouco mais de respeito”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST | Kate Carniol, 23 anos, vem colecionando todos os CDs da Taylor Swift desde o lançamento original de Speak Now, em 2010. O lançamento de um novo álbum significa a compra de um novo CD, regra que ela reserva exclusivamente para Swift, cuja discografia completa enche uma prateleira no quarto de Carniol na casa da família.

Mas Carniol não tem CD player. Ela não ouve os CDs de Swift há anos, sempre opta por uma plataforma de streaming. Carniol, assim como outros jovens colecionadores, considera o CD mais uma mercadoria do que uma ferramenta funcional para consumir música. Ela adora as fotos, o design do álbum. Quando falei com ela no final de junho, ela estava esperando uma cópia autografada de Speak Now (Taylor’s Version) desde que a regravação fora anunciada.

“Fico acordada toda noite até meia-noite, esperando para ver se ela vai lançar uma cópia autografada”, diz Carniol. “Esse foi o álbum que realmente me fez gostar dela. Preciso da cópia autografada da regravação só pelo aspecto emocional”.

Kate Carniol olha um CD "Reputation" de Taylor Swift na Village Revival Records, em Nova York Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

A reconquista dos CDs?

Os CDs representam uma pequena porcentagem dos ganhos da indústria musical: cerca de 3% em 2022, bem abaixo dos 96% em 2002. Os serviços de streaming digital dominam o mundo há mais de uma década, com o vinil subindo ano após ano desde meados da década.

Os CDs não tiveram esse ressurgimento. Mas vêm atraindo uma base de jovens adultos que atingiram a maioridade muito depois do apogeu do CD. São as autoproclamadas CD people, um grupo pequeno mas dedicado que continua adorando os CDs e esperando seu renascimento.

Tabby Bernardus, 22 anos, uma recém-formada universitária de Los Angeles, lembra-se de quando seus pais lhe deram um imenso CD player com vários discos quando ela era criança. Ela ouvia o favorito de seu pai, The Shins, ou o favorito dela mesma, Joni Mitchell, além de uma nova banda (na época) chamada Florence and the Machine ou um clássico como Metallica.

Desde então, Bernardus colecionou cerca de 200 CDs, alguns novos e outros retirados de caixas de brechós. Ela os coloca no som do carro – o único CD player que ela tem, porque o tocador de CDs de carrossel já não existe mais – e ouve o álbum inteiro na ordem pretendida. Assim como seus pais, ela mantém uma pasta cheia de CDs no carro.

“Gosto da possibilidade de colecionar os CDs e também da [sensação] de entrar numa loja e comprar algo, em vez de ir ao Spotify e adicionar à playlist, que é uma coisa que também faço”, diz Bernardus. “Você sabe em que loja você comprou ou em que momento da sua vida você comprou aquele CD, e acho que tudo isso deixa um pouco mais de impacto em você”.

Grupos de compra e venda de CDs reúnem colecionadores e permitem integração entre os entusiastas do formato Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Muitos colecionadores participam de espaços de fandom, onde a compra de CDs é uma expressão do amor por seu músico ou banda favorita. Quando um fã compra um CD, está apoiando seu músico mais do que o faria se o ouvisse centenas de vezes nos serviços de streaming. Os fãs de alguns gêneros parecem particularmente atraídos pelos CDs: country e K-pop estão entre os mais fortes, disse Jon Strickland, vice-presidente de vendas da Sub Pop Records.

Para Ben Fitchett, 23 anos, colecionador de memorabília musical em Los Angeles, o importante é ter itens autografados. Fitchett tem placas de certificação de discos de artistas como Selena Gomez e Justin Bieber, junto com um vestido de tule que Ariana Grande usou certa vez no palco. Ele coleciona especificamente CDs autografados e é membro de vários grupos do Facebook nos quais os fãs compram, vendem e aconselham uns aos outros sobre se as assinaturas parecem legítimas ou falsificadas.

“As pessoas ficam, tipo, ‘Estou atrás deste CD. Alguém tem?’ Aí alguém diz, ‘Eu tenho, mas estou atrás daquilo’. E por aí vai, são muitas negociações. As pessoas acessam esse tipo de página porque sabem que tem fãs ali”, diz Fitchett.

Outro motivo para a subcultura das coleções talvez seja simples: as pessoas gostam de objetos, e esses objetos são relativamente baratos. Os CDs são mais fáceis de armazenar e mais baratos que os discos de vinil.

Veronica Fuentes não tem um toca-CDs em casa, ouve no carro  Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

O preço baixo faz parte do apelo para Veronica Fuentes, 20 anos. Fuentes começou a colecionar porque achou que seria engraçado comprar um CD de Lindsay Lohan que encontrou em um brechó. Desde então, ela criou uma variedade de rock alternativo dos anos 90, que ela usa basicamente para decoração.

Agora está vasculhando as caixas de promoção em busca de álbuns de Fiona Apple e The Doors. Ela toca sua modesta coleção de CDs no carro – também não tem CD player em casa, embora tenha uma porta que lhe permite gravar CDs no computador.

“Acho que estamos vendo esse surto agora porque tem toda uma geração de pessoas que estão saindo de casa pela primeira vez e se mudando para seus próprios espaços. E [os CDs] estão crescendo como peça de decoração porque são acessíveis para todo mundo, é um tipo de moda”, diz ela. “Como está muito preso a um período, é meio atemporal”.

Fuentes também gosta da estrutura definida dos CDs e de sua capacidade limitada de pular faixas, além de sua estética anos 2000 e seu valor para artistas emergentes.

Ascensão de formatos físicos é encabeçada pelo vinil

Os colecionadores, ansiosos por um renascimento do CD, ficaram entusiasmados quando, em 2021, as vendas de CD viveram seu primeiro aumento desde 2004. Strickland diz que as vendas de CD aumentaram na Sub Pop Records nos últimos anos. “É uma forma de se destacar e desenvolver uma base de fãs bastante leais”, diz Fuentes. “Se você for a um show pequeno e comprar um CD por 10 dólares, você sempre vai ter aquele CD e ficar tipo, ‘Oh, eu me lembro daquela banda’”.

Veronica Fuentes procura por álbuns de Fiona Apple e The Doors Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Mas a Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA, na sigla em inglês), que monitoriza a quantidade e a mídia das vendas de música no país por meio da recolha de dados das principais gravadoras discográficas e de fontes externas, não dispõe de dados que indiquem que os CDs estejam voltando. O diretor de pesquisa da RIAA, Matthew Bass, diz que, se algum meio físico voltou para ficar, é o vinil.

“Embora tenhamos visto uma pequena mudança no radar nos últimos dois anos, se você ampliar a imagem, na verdade vai ver um declínio bastante constante nos CDs”, diz Bass.

Mas os dados da RIAA rastreiam apenas as primeiras vendas: muitos CDs são vendidos de segunda mão e é praticamente impossível rastreá-los. John T. Kurz, proprietário da Waterloo Records em Austin, diz que as vendas de CDs usados continuam consistentes, mesmo com as vendas de CDs novos oscilando durante a ascensão do streaming.

Qual é o atrativo do CD?

Os dados também não conseguem quantificar o que está atraindo um pequeno mas dedicado segmento da geração Z para os CDs. Kurz acha que os jovens estão interessados em ouvir um álbum na ordem originalmente pretendida pelo artista e que, para os consumidores, é cada vez mais importante apoiar financeiramente seu artista favorito, na medida do possível.

“Acho que as pessoas querem ter a propriedade de suas músicas, em vez de apenas baixá-las gratuitamente ou, se estão assinando um serviço de streaming, basicamente alugar músicas”, diz ele. “Os fãs mais instruídos sabem que, às vezes, cem mil reproduções no streaming não dão nem para comprar um sanduíche. [Os colecionadores querem] ser realmente respeitosos e apoiar os artistas e saber que há um retorno decente para os artistas”.

Kate Carniol é fã de Taylor Swift e faz questão de ter todos os álbuns em CD Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Independentemente de os CDs voltarem a igualar ou ultrapassar o vinil em vendas, não parece que o meio físico vá escapar da consciência do público tão cedo. Os ouvintes adoram a possibilidade de segurar, tocar e possuir música permanentemente e apreciam o ritual de interagir com a arte além de apenas apertar o play.

“O que mais vale é o ato de ouvir música, que ficou tão fácil e acessível para todo mundo hoje em dia. Faz com que pareça mais uma escuta ativa”, diz Fuentes. “Parece que não estou só dando play nas minhas músicas favoritas. Quero ouvir as músicas e escolher uma vibe específica para mim e meus amigos. Quero tratar a música com um pouco mais de respeito”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST | Kate Carniol, 23 anos, vem colecionando todos os CDs da Taylor Swift desde o lançamento original de Speak Now, em 2010. O lançamento de um novo álbum significa a compra de um novo CD, regra que ela reserva exclusivamente para Swift, cuja discografia completa enche uma prateleira no quarto de Carniol na casa da família.

Mas Carniol não tem CD player. Ela não ouve os CDs de Swift há anos, sempre opta por uma plataforma de streaming. Carniol, assim como outros jovens colecionadores, considera o CD mais uma mercadoria do que uma ferramenta funcional para consumir música. Ela adora as fotos, o design do álbum. Quando falei com ela no final de junho, ela estava esperando uma cópia autografada de Speak Now (Taylor’s Version) desde que a regravação fora anunciada.

“Fico acordada toda noite até meia-noite, esperando para ver se ela vai lançar uma cópia autografada”, diz Carniol. “Esse foi o álbum que realmente me fez gostar dela. Preciso da cópia autografada da regravação só pelo aspecto emocional”.

Kate Carniol olha um CD "Reputation" de Taylor Swift na Village Revival Records, em Nova York Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

A reconquista dos CDs?

Os CDs representam uma pequena porcentagem dos ganhos da indústria musical: cerca de 3% em 2022, bem abaixo dos 96% em 2002. Os serviços de streaming digital dominam o mundo há mais de uma década, com o vinil subindo ano após ano desde meados da década.

Os CDs não tiveram esse ressurgimento. Mas vêm atraindo uma base de jovens adultos que atingiram a maioridade muito depois do apogeu do CD. São as autoproclamadas CD people, um grupo pequeno mas dedicado que continua adorando os CDs e esperando seu renascimento.

Tabby Bernardus, 22 anos, uma recém-formada universitária de Los Angeles, lembra-se de quando seus pais lhe deram um imenso CD player com vários discos quando ela era criança. Ela ouvia o favorito de seu pai, The Shins, ou o favorito dela mesma, Joni Mitchell, além de uma nova banda (na época) chamada Florence and the Machine ou um clássico como Metallica.

Desde então, Bernardus colecionou cerca de 200 CDs, alguns novos e outros retirados de caixas de brechós. Ela os coloca no som do carro – o único CD player que ela tem, porque o tocador de CDs de carrossel já não existe mais – e ouve o álbum inteiro na ordem pretendida. Assim como seus pais, ela mantém uma pasta cheia de CDs no carro.

“Gosto da possibilidade de colecionar os CDs e também da [sensação] de entrar numa loja e comprar algo, em vez de ir ao Spotify e adicionar à playlist, que é uma coisa que também faço”, diz Bernardus. “Você sabe em que loja você comprou ou em que momento da sua vida você comprou aquele CD, e acho que tudo isso deixa um pouco mais de impacto em você”.

Grupos de compra e venda de CDs reúnem colecionadores e permitem integração entre os entusiastas do formato Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Muitos colecionadores participam de espaços de fandom, onde a compra de CDs é uma expressão do amor por seu músico ou banda favorita. Quando um fã compra um CD, está apoiando seu músico mais do que o faria se o ouvisse centenas de vezes nos serviços de streaming. Os fãs de alguns gêneros parecem particularmente atraídos pelos CDs: country e K-pop estão entre os mais fortes, disse Jon Strickland, vice-presidente de vendas da Sub Pop Records.

Para Ben Fitchett, 23 anos, colecionador de memorabília musical em Los Angeles, o importante é ter itens autografados. Fitchett tem placas de certificação de discos de artistas como Selena Gomez e Justin Bieber, junto com um vestido de tule que Ariana Grande usou certa vez no palco. Ele coleciona especificamente CDs autografados e é membro de vários grupos do Facebook nos quais os fãs compram, vendem e aconselham uns aos outros sobre se as assinaturas parecem legítimas ou falsificadas.

“As pessoas ficam, tipo, ‘Estou atrás deste CD. Alguém tem?’ Aí alguém diz, ‘Eu tenho, mas estou atrás daquilo’. E por aí vai, são muitas negociações. As pessoas acessam esse tipo de página porque sabem que tem fãs ali”, diz Fitchett.

Outro motivo para a subcultura das coleções talvez seja simples: as pessoas gostam de objetos, e esses objetos são relativamente baratos. Os CDs são mais fáceis de armazenar e mais baratos que os discos de vinil.

Veronica Fuentes não tem um toca-CDs em casa, ouve no carro  Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

O preço baixo faz parte do apelo para Veronica Fuentes, 20 anos. Fuentes começou a colecionar porque achou que seria engraçado comprar um CD de Lindsay Lohan que encontrou em um brechó. Desde então, ela criou uma variedade de rock alternativo dos anos 90, que ela usa basicamente para decoração.

Agora está vasculhando as caixas de promoção em busca de álbuns de Fiona Apple e The Doors. Ela toca sua modesta coleção de CDs no carro – também não tem CD player em casa, embora tenha uma porta que lhe permite gravar CDs no computador.

“Acho que estamos vendo esse surto agora porque tem toda uma geração de pessoas que estão saindo de casa pela primeira vez e se mudando para seus próprios espaços. E [os CDs] estão crescendo como peça de decoração porque são acessíveis para todo mundo, é um tipo de moda”, diz ela. “Como está muito preso a um período, é meio atemporal”.

Fuentes também gosta da estrutura definida dos CDs e de sua capacidade limitada de pular faixas, além de sua estética anos 2000 e seu valor para artistas emergentes.

Ascensão de formatos físicos é encabeçada pelo vinil

Os colecionadores, ansiosos por um renascimento do CD, ficaram entusiasmados quando, em 2021, as vendas de CD viveram seu primeiro aumento desde 2004. Strickland diz que as vendas de CD aumentaram na Sub Pop Records nos últimos anos. “É uma forma de se destacar e desenvolver uma base de fãs bastante leais”, diz Fuentes. “Se você for a um show pequeno e comprar um CD por 10 dólares, você sempre vai ter aquele CD e ficar tipo, ‘Oh, eu me lembro daquela banda’”.

Veronica Fuentes procura por álbuns de Fiona Apple e The Doors Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Mas a Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA, na sigla em inglês), que monitoriza a quantidade e a mídia das vendas de música no país por meio da recolha de dados das principais gravadoras discográficas e de fontes externas, não dispõe de dados que indiquem que os CDs estejam voltando. O diretor de pesquisa da RIAA, Matthew Bass, diz que, se algum meio físico voltou para ficar, é o vinil.

“Embora tenhamos visto uma pequena mudança no radar nos últimos dois anos, se você ampliar a imagem, na verdade vai ver um declínio bastante constante nos CDs”, diz Bass.

Mas os dados da RIAA rastreiam apenas as primeiras vendas: muitos CDs são vendidos de segunda mão e é praticamente impossível rastreá-los. John T. Kurz, proprietário da Waterloo Records em Austin, diz que as vendas de CDs usados continuam consistentes, mesmo com as vendas de CDs novos oscilando durante a ascensão do streaming.

Qual é o atrativo do CD?

Os dados também não conseguem quantificar o que está atraindo um pequeno mas dedicado segmento da geração Z para os CDs. Kurz acha que os jovens estão interessados em ouvir um álbum na ordem originalmente pretendida pelo artista e que, para os consumidores, é cada vez mais importante apoiar financeiramente seu artista favorito, na medida do possível.

“Acho que as pessoas querem ter a propriedade de suas músicas, em vez de apenas baixá-las gratuitamente ou, se estão assinando um serviço de streaming, basicamente alugar músicas”, diz ele. “Os fãs mais instruídos sabem que, às vezes, cem mil reproduções no streaming não dão nem para comprar um sanduíche. [Os colecionadores querem] ser realmente respeitosos e apoiar os artistas e saber que há um retorno decente para os artistas”.

Kate Carniol é fã de Taylor Swift e faz questão de ter todos os álbuns em CD Foto: Jeenah Moon/The Washington Post

Independentemente de os CDs voltarem a igualar ou ultrapassar o vinil em vendas, não parece que o meio físico vá escapar da consciência do público tão cedo. Os ouvintes adoram a possibilidade de segurar, tocar e possuir música permanentemente e apreciam o ritual de interagir com a arte além de apenas apertar o play.

“O que mais vale é o ato de ouvir música, que ficou tão fácil e acessível para todo mundo hoje em dia. Faz com que pareça mais uma escuta ativa”, diz Fuentes. “Parece que não estou só dando play nas minhas músicas favoritas. Quero ouvir as músicas e escolher uma vibe específica para mim e meus amigos. Quero tratar a música com um pouco mais de respeito”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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