Cem anos de Amália Rodrigues: a maior tradutora do sentimento português


Uma polêmica biografia lançada em Portugal e todas as regravações feitas à obra da fadista morta em 1999 só ratificam a potência de sua existência

Por Julio Maria
Atualização:

E então, tudo em volta estava à beira do fim, os últimos instantes que levariam apenas o tempo da canção antes que tudo fosse irremediavelmente destruído assim que o horizonte engolisse os últimos sinais da embarcação que levava seu amor insubstituível. Nada mais valia a pena ao mesmo tempo em que todo o esplendor nascia assim que Amália Rodrigues soltava a sua voz e rasgava-se em público tendo como testemunha o quarteto de guitarristas às suas costas. “Gritar quem pode salvar-me / Gritar quem pode salvar-me / Do que está dentro de mim / Gostava até de matar-me / Gostava até de matar-me / Mas eu sei que ele há de esperar-me / Ao pé da ponte do fim / Ao pé da ponte do fim.”

Amália Rodrigues, em 1997 Foto: REUTERS/Jose Manuel Ribeiro

Amália Rodrigues, a mulher que traduziu aos limites o sentimento português na maior expressão artística de seu país, o fado, teria feito 100 anos no último 1º de julho, apesar de seu registro sair apenas em 23 do mesmo mês do ano de 1920. Filha de pai sapateiro de Castelo Branco e mãe dona de casa de São Martinho, obrigada a deixar a escola aos 14 anos para trabalhar, sua vida muito mais longa do que os 79 anos que o tempo oficialmente decidiu lhe rendeu uma onipresença no canto de todas as vozes ibéricas surgidas depois de si. Amália revive sempre que cantam Teresa Salgueiro, Carminho, Mariza, Dulce Pontes, Antonio Zambujo, Ana Moura, Carlos do Carmo e mesmo Yolanda Soares com sua formação mais clássica. O Brasil a tem muitas vezes mais como uma ideia, o fado, do que com conhecimento de sua carreira, mas também ganhou revisitações com Ney Matogrosso, em Barco Negro, Caetano Veloso, em Estranha Forma de Vida, e Bibi Ferreira, saudosa, em um espetáculo inteiro encenado em 2017.

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Muitas homenagens lusitanas devem ser prestadas, mesmo em regime de quarentena, e uma das mais potentes trata-se de uma biografia lançada em Portugal em 30 de junho pelo jornalista Miguel de Carvalho, com mais de 600 páginas. A obra lembra de uma mulher vigiada pela PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo português, por suspeita de apoio aos comunistas. Nada tão revelador, já que até os punks paulistanos regravaram o hino da Revolução dos Cravos, Grândola Vila Morena, composta e cantada por José Afonso para sinalizar assim que fosse executada em uma emissora de rádio, como uma senha mesmo, o início da revolução que colocaria Portugal de volta aos braços da democracia, em 1974. Nara Leão lançou a canção no Brasil em compacto simples, nos anos 1970, e, em outro contexto político e universo sonoro, a banda punk de São Paulo 365, em 1987, a cantou em seu álbum de estreia.

O que pode ser considerado pesado na biografia são documentos investigados pelo autor que trariam posturas ambíguas da fadista. O mais robusto deles pode ser uma carta conseguida no arquivo do antigo líder da ditadura, o ex-presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, o ditador Salazar, escrita por Amália Rodrigues dias antes da inauguração da atual Ponte 25 de Abril, em 1966, na qual Amália “se derrete de orgulho pátrio e elogios ao destinatário.” Ilações são sempre arriscadas em biografias, sobretudo se tirarem um comportamento de um contexto (Amália poderia estar seduzindo a simpatia de Salazar para jogar justamente a favor da democracia). Mas o livro, que não parece disposto a manchar a glória da cantora, faz barulho e reconduz a obra de Amália ao centro em seu centenário.

E então, tudo em volta estava à beira do fim, os últimos instantes que levariam apenas o tempo da canção antes que tudo fosse irremediavelmente destruído assim que o horizonte engolisse os últimos sinais da embarcação que levava seu amor insubstituível. Nada mais valia a pena ao mesmo tempo em que todo o esplendor nascia assim que Amália Rodrigues soltava a sua voz e rasgava-se em público tendo como testemunha o quarteto de guitarristas às suas costas. “Gritar quem pode salvar-me / Gritar quem pode salvar-me / Do que está dentro de mim / Gostava até de matar-me / Gostava até de matar-me / Mas eu sei que ele há de esperar-me / Ao pé da ponte do fim / Ao pé da ponte do fim.”

Amália Rodrigues, em 1997 Foto: REUTERS/Jose Manuel Ribeiro

Amália Rodrigues, a mulher que traduziu aos limites o sentimento português na maior expressão artística de seu país, o fado, teria feito 100 anos no último 1º de julho, apesar de seu registro sair apenas em 23 do mesmo mês do ano de 1920. Filha de pai sapateiro de Castelo Branco e mãe dona de casa de São Martinho, obrigada a deixar a escola aos 14 anos para trabalhar, sua vida muito mais longa do que os 79 anos que o tempo oficialmente decidiu lhe rendeu uma onipresença no canto de todas as vozes ibéricas surgidas depois de si. Amália revive sempre que cantam Teresa Salgueiro, Carminho, Mariza, Dulce Pontes, Antonio Zambujo, Ana Moura, Carlos do Carmo e mesmo Yolanda Soares com sua formação mais clássica. O Brasil a tem muitas vezes mais como uma ideia, o fado, do que com conhecimento de sua carreira, mas também ganhou revisitações com Ney Matogrosso, em Barco Negro, Caetano Veloso, em Estranha Forma de Vida, e Bibi Ferreira, saudosa, em um espetáculo inteiro encenado em 2017.

Muitas homenagens lusitanas devem ser prestadas, mesmo em regime de quarentena, e uma das mais potentes trata-se de uma biografia lançada em Portugal em 30 de junho pelo jornalista Miguel de Carvalho, com mais de 600 páginas. A obra lembra de uma mulher vigiada pela PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo português, por suspeita de apoio aos comunistas. Nada tão revelador, já que até os punks paulistanos regravaram o hino da Revolução dos Cravos, Grândola Vila Morena, composta e cantada por José Afonso para sinalizar assim que fosse executada em uma emissora de rádio, como uma senha mesmo, o início da revolução que colocaria Portugal de volta aos braços da democracia, em 1974. Nara Leão lançou a canção no Brasil em compacto simples, nos anos 1970, e, em outro contexto político e universo sonoro, a banda punk de São Paulo 365, em 1987, a cantou em seu álbum de estreia.

O que pode ser considerado pesado na biografia são documentos investigados pelo autor que trariam posturas ambíguas da fadista. O mais robusto deles pode ser uma carta conseguida no arquivo do antigo líder da ditadura, o ex-presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, o ditador Salazar, escrita por Amália Rodrigues dias antes da inauguração da atual Ponte 25 de Abril, em 1966, na qual Amália “se derrete de orgulho pátrio e elogios ao destinatário.” Ilações são sempre arriscadas em biografias, sobretudo se tirarem um comportamento de um contexto (Amália poderia estar seduzindo a simpatia de Salazar para jogar justamente a favor da democracia). Mas o livro, que não parece disposto a manchar a glória da cantora, faz barulho e reconduz a obra de Amália ao centro em seu centenário.

E então, tudo em volta estava à beira do fim, os últimos instantes que levariam apenas o tempo da canção antes que tudo fosse irremediavelmente destruído assim que o horizonte engolisse os últimos sinais da embarcação que levava seu amor insubstituível. Nada mais valia a pena ao mesmo tempo em que todo o esplendor nascia assim que Amália Rodrigues soltava a sua voz e rasgava-se em público tendo como testemunha o quarteto de guitarristas às suas costas. “Gritar quem pode salvar-me / Gritar quem pode salvar-me / Do que está dentro de mim / Gostava até de matar-me / Gostava até de matar-me / Mas eu sei que ele há de esperar-me / Ao pé da ponte do fim / Ao pé da ponte do fim.”

Amália Rodrigues, em 1997 Foto: REUTERS/Jose Manuel Ribeiro

Amália Rodrigues, a mulher que traduziu aos limites o sentimento português na maior expressão artística de seu país, o fado, teria feito 100 anos no último 1º de julho, apesar de seu registro sair apenas em 23 do mesmo mês do ano de 1920. Filha de pai sapateiro de Castelo Branco e mãe dona de casa de São Martinho, obrigada a deixar a escola aos 14 anos para trabalhar, sua vida muito mais longa do que os 79 anos que o tempo oficialmente decidiu lhe rendeu uma onipresença no canto de todas as vozes ibéricas surgidas depois de si. Amália revive sempre que cantam Teresa Salgueiro, Carminho, Mariza, Dulce Pontes, Antonio Zambujo, Ana Moura, Carlos do Carmo e mesmo Yolanda Soares com sua formação mais clássica. O Brasil a tem muitas vezes mais como uma ideia, o fado, do que com conhecimento de sua carreira, mas também ganhou revisitações com Ney Matogrosso, em Barco Negro, Caetano Veloso, em Estranha Forma de Vida, e Bibi Ferreira, saudosa, em um espetáculo inteiro encenado em 2017.

Muitas homenagens lusitanas devem ser prestadas, mesmo em regime de quarentena, e uma das mais potentes trata-se de uma biografia lançada em Portugal em 30 de junho pelo jornalista Miguel de Carvalho, com mais de 600 páginas. A obra lembra de uma mulher vigiada pela PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo português, por suspeita de apoio aos comunistas. Nada tão revelador, já que até os punks paulistanos regravaram o hino da Revolução dos Cravos, Grândola Vila Morena, composta e cantada por José Afonso para sinalizar assim que fosse executada em uma emissora de rádio, como uma senha mesmo, o início da revolução que colocaria Portugal de volta aos braços da democracia, em 1974. Nara Leão lançou a canção no Brasil em compacto simples, nos anos 1970, e, em outro contexto político e universo sonoro, a banda punk de São Paulo 365, em 1987, a cantou em seu álbum de estreia.

O que pode ser considerado pesado na biografia são documentos investigados pelo autor que trariam posturas ambíguas da fadista. O mais robusto deles pode ser uma carta conseguida no arquivo do antigo líder da ditadura, o ex-presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, o ditador Salazar, escrita por Amália Rodrigues dias antes da inauguração da atual Ponte 25 de Abril, em 1966, na qual Amália “se derrete de orgulho pátrio e elogios ao destinatário.” Ilações são sempre arriscadas em biografias, sobretudo se tirarem um comportamento de um contexto (Amália poderia estar seduzindo a simpatia de Salazar para jogar justamente a favor da democracia). Mas o livro, que não parece disposto a manchar a glória da cantora, faz barulho e reconduz a obra de Amália ao centro em seu centenário.

E então, tudo em volta estava à beira do fim, os últimos instantes que levariam apenas o tempo da canção antes que tudo fosse irremediavelmente destruído assim que o horizonte engolisse os últimos sinais da embarcação que levava seu amor insubstituível. Nada mais valia a pena ao mesmo tempo em que todo o esplendor nascia assim que Amália Rodrigues soltava a sua voz e rasgava-se em público tendo como testemunha o quarteto de guitarristas às suas costas. “Gritar quem pode salvar-me / Gritar quem pode salvar-me / Do que está dentro de mim / Gostava até de matar-me / Gostava até de matar-me / Mas eu sei que ele há de esperar-me / Ao pé da ponte do fim / Ao pé da ponte do fim.”

Amália Rodrigues, em 1997 Foto: REUTERS/Jose Manuel Ribeiro

Amália Rodrigues, a mulher que traduziu aos limites o sentimento português na maior expressão artística de seu país, o fado, teria feito 100 anos no último 1º de julho, apesar de seu registro sair apenas em 23 do mesmo mês do ano de 1920. Filha de pai sapateiro de Castelo Branco e mãe dona de casa de São Martinho, obrigada a deixar a escola aos 14 anos para trabalhar, sua vida muito mais longa do que os 79 anos que o tempo oficialmente decidiu lhe rendeu uma onipresença no canto de todas as vozes ibéricas surgidas depois de si. Amália revive sempre que cantam Teresa Salgueiro, Carminho, Mariza, Dulce Pontes, Antonio Zambujo, Ana Moura, Carlos do Carmo e mesmo Yolanda Soares com sua formação mais clássica. O Brasil a tem muitas vezes mais como uma ideia, o fado, do que com conhecimento de sua carreira, mas também ganhou revisitações com Ney Matogrosso, em Barco Negro, Caetano Veloso, em Estranha Forma de Vida, e Bibi Ferreira, saudosa, em um espetáculo inteiro encenado em 2017.

Muitas homenagens lusitanas devem ser prestadas, mesmo em regime de quarentena, e uma das mais potentes trata-se de uma biografia lançada em Portugal em 30 de junho pelo jornalista Miguel de Carvalho, com mais de 600 páginas. A obra lembra de uma mulher vigiada pela PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo português, por suspeita de apoio aos comunistas. Nada tão revelador, já que até os punks paulistanos regravaram o hino da Revolução dos Cravos, Grândola Vila Morena, composta e cantada por José Afonso para sinalizar assim que fosse executada em uma emissora de rádio, como uma senha mesmo, o início da revolução que colocaria Portugal de volta aos braços da democracia, em 1974. Nara Leão lançou a canção no Brasil em compacto simples, nos anos 1970, e, em outro contexto político e universo sonoro, a banda punk de São Paulo 365, em 1987, a cantou em seu álbum de estreia.

O que pode ser considerado pesado na biografia são documentos investigados pelo autor que trariam posturas ambíguas da fadista. O mais robusto deles pode ser uma carta conseguida no arquivo do antigo líder da ditadura, o ex-presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, o ditador Salazar, escrita por Amália Rodrigues dias antes da inauguração da atual Ponte 25 de Abril, em 1966, na qual Amália “se derrete de orgulho pátrio e elogios ao destinatário.” Ilações são sempre arriscadas em biografias, sobretudo se tirarem um comportamento de um contexto (Amália poderia estar seduzindo a simpatia de Salazar para jogar justamente a favor da democracia). Mas o livro, que não parece disposto a manchar a glória da cantora, faz barulho e reconduz a obra de Amália ao centro em seu centenário.

E então, tudo em volta estava à beira do fim, os últimos instantes que levariam apenas o tempo da canção antes que tudo fosse irremediavelmente destruído assim que o horizonte engolisse os últimos sinais da embarcação que levava seu amor insubstituível. Nada mais valia a pena ao mesmo tempo em que todo o esplendor nascia assim que Amália Rodrigues soltava a sua voz e rasgava-se em público tendo como testemunha o quarteto de guitarristas às suas costas. “Gritar quem pode salvar-me / Gritar quem pode salvar-me / Do que está dentro de mim / Gostava até de matar-me / Gostava até de matar-me / Mas eu sei que ele há de esperar-me / Ao pé da ponte do fim / Ao pé da ponte do fim.”

Amália Rodrigues, em 1997 Foto: REUTERS/Jose Manuel Ribeiro

Amália Rodrigues, a mulher que traduziu aos limites o sentimento português na maior expressão artística de seu país, o fado, teria feito 100 anos no último 1º de julho, apesar de seu registro sair apenas em 23 do mesmo mês do ano de 1920. Filha de pai sapateiro de Castelo Branco e mãe dona de casa de São Martinho, obrigada a deixar a escola aos 14 anos para trabalhar, sua vida muito mais longa do que os 79 anos que o tempo oficialmente decidiu lhe rendeu uma onipresença no canto de todas as vozes ibéricas surgidas depois de si. Amália revive sempre que cantam Teresa Salgueiro, Carminho, Mariza, Dulce Pontes, Antonio Zambujo, Ana Moura, Carlos do Carmo e mesmo Yolanda Soares com sua formação mais clássica. O Brasil a tem muitas vezes mais como uma ideia, o fado, do que com conhecimento de sua carreira, mas também ganhou revisitações com Ney Matogrosso, em Barco Negro, Caetano Veloso, em Estranha Forma de Vida, e Bibi Ferreira, saudosa, em um espetáculo inteiro encenado em 2017.

Muitas homenagens lusitanas devem ser prestadas, mesmo em regime de quarentena, e uma das mais potentes trata-se de uma biografia lançada em Portugal em 30 de junho pelo jornalista Miguel de Carvalho, com mais de 600 páginas. A obra lembra de uma mulher vigiada pela PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo português, por suspeita de apoio aos comunistas. Nada tão revelador, já que até os punks paulistanos regravaram o hino da Revolução dos Cravos, Grândola Vila Morena, composta e cantada por José Afonso para sinalizar assim que fosse executada em uma emissora de rádio, como uma senha mesmo, o início da revolução que colocaria Portugal de volta aos braços da democracia, em 1974. Nara Leão lançou a canção no Brasil em compacto simples, nos anos 1970, e, em outro contexto político e universo sonoro, a banda punk de São Paulo 365, em 1987, a cantou em seu álbum de estreia.

O que pode ser considerado pesado na biografia são documentos investigados pelo autor que trariam posturas ambíguas da fadista. O mais robusto deles pode ser uma carta conseguida no arquivo do antigo líder da ditadura, o ex-presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, o ditador Salazar, escrita por Amália Rodrigues dias antes da inauguração da atual Ponte 25 de Abril, em 1966, na qual Amália “se derrete de orgulho pátrio e elogios ao destinatário.” Ilações são sempre arriscadas em biografias, sobretudo se tirarem um comportamento de um contexto (Amália poderia estar seduzindo a simpatia de Salazar para jogar justamente a favor da democracia). Mas o livro, que não parece disposto a manchar a glória da cantora, faz barulho e reconduz a obra de Amália ao centro em seu centenário.

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