Céu investe em timbres sintéticos em quarto disco 'Tropix'


Cantora inicia turnê pela Europa e chega a São Paulo no Sesc Pompeia de 28 a 30 de abril

Por Adriana Del Ré

A cantora Céu chega ao local da entrevista, na Vila Madalena, em São Paulo, com um visual cintilante. A voz doce, quase tímida, contrasta com a esfuziante blusa dourada. O figurino foi especialmente pensado para as sessões de fotos para a imprensa, ela comenta. Já acomodada à mesa, em entrevista ao Estado, sua mente flutua entre o passado e o futuro, com passagens pelo presente. Tal e qual a sonoridade de seu ótimo novo disco, o 4.º da carreira, Tropix, que entrará com exclusividade no Spotify na próxima sexta, 18, e será lançado oficialmente no dia 25. Com ele, Céu inicia a nova turnê pela Europa, a partir do dia 29, e, de volta ao Brasil, se apresentará em São Paulo, no Sesc Pompeia, de 28 a 30 de abril.

ANÁLISE: Céu se desnuda esteticamente e vaga por climas noturnos em 'Tropix'

Antes de entrar no mérito do novo álbum, vale lembrar que os trabalhos de Céu sempre surpreendem, por um avanço rítmico aqui, uma inesperada imersão acolá, e por aí vai. Mas, neste, ela foi mais além. Com mais de dez anos de trajetória, a cantora e compositora paulistana, de 35 anos, trilhou sua estrada musical tendo como alicerces seus discos anteriores: CéU (2005), Vagarosa (2009) e Caravana Sereia Bloom (2012). Com o Caravana, ela rodou bastante o Brasil – onde procurou se focar mais para não ficar muito tempo longe da filha, Rosa Morena – e foi também para o exterior, durante três anos, até o final do ano passado.

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  Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

Nesse ínterim, lançou ainda seu primeiro DVD, em 2014. E muitos consideram esse projeto ao vivo o fechamento de um ciclo iniciado justamente com os três primeiros discos. O raciocínio é coerente, já que a tríade foi feita de forma mais orgânica enquanto que, em Tropix, Céu se deixa seduzir pelos timbres mais sintéticos. “Engraçado, não vejo assim (o DVD fechando um ciclo), mas as pessoas veem. Não me incomoda”, diz a cantora.

No fim das contas, o resultado sonoro de Tropix transita deliciosamente entre o retrô e o futurista. “Acho que a gente sempre pode tentar olhar para o futuro, criar um futuro na nossa cabeça, mas a gente sempre vai ter como nosso princípio o passado”, pondera. “Eu queria beats, mas, junto com eles, resgatamos a tamba (instrumento de percussão criado por Hélcio Milito nos anos 1960). Acho divertido brincar com isso, um futuro que traz o que a gente viveu.”

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Como ela se enveredou por esse universo? Céu diz que estava numa fase de ouvir esses sons. Kraftwerk, Tame Impala, “umas coisas mais obscuras também”. Nesse período, descobriu ainda a banda de pós-punk paulistana Fellini, de Cadão Volpato, formada nos anos 1980. “Sou da geração nascida em 1980, então, para mim, é natural estar revendo um pouco os 90, 80. Curto fazer as coisas de maneira um pouco lúdica também. As ideias existem, as músicas existem, as letras existem, mas acho que as roupagens, a estética podem ser leves. Eu estava com vontade de flertar com algumas coisas mais sintéticas, mesmo sendo desse jeito: brasileira, tropical, uma maquininha atrás dos trópicos. Enfim, era um desejo de entender os nossos mecanismos e nossas maquinárias, e isso tudo fecha um conceito para mim.” Daí o título do disco, Tropix, numa espécie de união da tropicalidade brasileira com o vintage – e digital – pixel.

No disco, Céu vem acompanhada por um power trio, em que o teclado ocupa o lugar de importância normalmente atribuído à guitarra, com Pupillo na bateria, Lucas Martins no baixo e Hervé Salters nos teclados. Ela diz que sonhava em trabalhar com os mesmos músicos ao longo de um álbum – hoje em dia, é comum ter músicos diferentes participando das faixas de um mesmo disco. “No final da turnê do Caravana, eu estava em trio, porque era complicado levar banda grande. Então, foi gostoso experimentar esse formato, uma coisa sucinta. Essa experiência foi muito positiva, de reduzir, descobrir que as músicas funcionam assim também com power trio”, conta ela. “Adicionamos guitarra, que não é o centro, mas tinha de ter, e o Pedro Sá arrasou muito.”

Memória afetiva. A produção de Tropix é assinada por Pupillo, baterista do Nação Zumbi, e pelo músico francês Hervé Salters, fundador do grupo General Elektriks, projeto musical de electropop, mas que também bebe na fonte de outros estilos, como funk e jazz. Mulher de Pupillo, Céu conseguiu o melhor dos dois mundos com essa dupla: um olhar local – e que conhece bem o trabalho da cantora – e outro estrangeiro – e que foi descobrindo a obra de Céu. “Chamei o Pupillo desde o início para estar nessa história. Ele decifra muito bem ritmos, beats, programações, tem essa clareza”, afirma. “E eu tinha vontade de trabalhar com o Hervé. Eu o conheci na estrada. Sempre curti muito o jeito dele, a forma como ele vê música, eu me identifico. E chamar uma pessoa com outro olhar sobre o Brasil, para ver o que dá, mas com a nossa parte rítmica.”

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Hervé Salters veio a São Paulo, onde ficou uma semana trabalhando no estúdio. A cantora já tinha na manga várias músicas, algumas inacabadas. A sintonia dele com os outros músicos do disco e com a própria Céu era uma loteria. Podia dar muito certo ou não. “Ele super se integrou, é muito sensível para o que você está querendo e tem um jeito de resolver mais claro, pragmático.” A entrada de Hervé no disco rendeu até uma parceria dele com Céu, em Varanda Suspensa. “Era uma canção inacabada, comecei a tocar e disse: ‘Hervé, não curto muito o jeito que harmonizei essa música’. Ele foi pensando coisas e solucionou.”

Por trás da letra dessa música, aliás, está a memória afetiva da cantora. “Descansar a vista/Até onde a vista alcança/ De uma zona temperada/ Até onde o sonho te leva”, escreve ela no começo da canção, inspirada pelas lembranças do avô, de quando ia para a casa dele, em São Sebastião, litoral paulista, e da esplêndida visão que tinha daquela varanda. “Meu avô ficava lá horas sentadinho, ouvindo música. Eu gostava de ficar com ele.”

Diferentemente do que ocorreu nos álbuns anteriores, em Tropix, Céu assume seu lado compositora em praticamente todas as músicas, com exceção de A Nave Vai, de Jorge Du Peixe, e Chico Buarque Song, de Cadão Volpato – pinçada daquelas audições que a cantora fazia dos discos da banda Fellini, incentivada por Pupillo –, aqui em versão menos acelerada. Céu admite que foi difícil eleger uma canção do grupo, mas a escolha de Chico Buarque Song, cantada em inglês, foi um achado de garimpeiro bem antenado. E são poucas suas canções em parceria no novo álbum: além da já citada com Hervé, Céu assina Sangria, com Lira, e Camadas, com Fernando Almeida, o Dinho, do Boogarins. “Acho que isso tem a ver sobre crescer como compositora, amadurecer, me sentir mais segura. Muitas vezes, eu fazia uma música achando que não estava nada legal e aí fazia parcerias. Foi um processo longo.”

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A mesma concisão vale para as participações, o que as tornam bem especiais: os vocais de Tulipa Ruiz em Etílica/Interlúdio e os da filha de Céu, Rosa Morena, em Varanda Suspensa. Os planos eram esses mesmos: um disco com poucos convidados, com os mesmos músicos. E uma simplicidade grandiosa nos pequenos detalhes.

A cantora Céu chega ao local da entrevista, na Vila Madalena, em São Paulo, com um visual cintilante. A voz doce, quase tímida, contrasta com a esfuziante blusa dourada. O figurino foi especialmente pensado para as sessões de fotos para a imprensa, ela comenta. Já acomodada à mesa, em entrevista ao Estado, sua mente flutua entre o passado e o futuro, com passagens pelo presente. Tal e qual a sonoridade de seu ótimo novo disco, o 4.º da carreira, Tropix, que entrará com exclusividade no Spotify na próxima sexta, 18, e será lançado oficialmente no dia 25. Com ele, Céu inicia a nova turnê pela Europa, a partir do dia 29, e, de volta ao Brasil, se apresentará em São Paulo, no Sesc Pompeia, de 28 a 30 de abril.

ANÁLISE: Céu se desnuda esteticamente e vaga por climas noturnos em 'Tropix'

Antes de entrar no mérito do novo álbum, vale lembrar que os trabalhos de Céu sempre surpreendem, por um avanço rítmico aqui, uma inesperada imersão acolá, e por aí vai. Mas, neste, ela foi mais além. Com mais de dez anos de trajetória, a cantora e compositora paulistana, de 35 anos, trilhou sua estrada musical tendo como alicerces seus discos anteriores: CéU (2005), Vagarosa (2009) e Caravana Sereia Bloom (2012). Com o Caravana, ela rodou bastante o Brasil – onde procurou se focar mais para não ficar muito tempo longe da filha, Rosa Morena – e foi também para o exterior, durante três anos, até o final do ano passado.

  Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

Nesse ínterim, lançou ainda seu primeiro DVD, em 2014. E muitos consideram esse projeto ao vivo o fechamento de um ciclo iniciado justamente com os três primeiros discos. O raciocínio é coerente, já que a tríade foi feita de forma mais orgânica enquanto que, em Tropix, Céu se deixa seduzir pelos timbres mais sintéticos. “Engraçado, não vejo assim (o DVD fechando um ciclo), mas as pessoas veem. Não me incomoda”, diz a cantora.

No fim das contas, o resultado sonoro de Tropix transita deliciosamente entre o retrô e o futurista. “Acho que a gente sempre pode tentar olhar para o futuro, criar um futuro na nossa cabeça, mas a gente sempre vai ter como nosso princípio o passado”, pondera. “Eu queria beats, mas, junto com eles, resgatamos a tamba (instrumento de percussão criado por Hélcio Milito nos anos 1960). Acho divertido brincar com isso, um futuro que traz o que a gente viveu.”

Como ela se enveredou por esse universo? Céu diz que estava numa fase de ouvir esses sons. Kraftwerk, Tame Impala, “umas coisas mais obscuras também”. Nesse período, descobriu ainda a banda de pós-punk paulistana Fellini, de Cadão Volpato, formada nos anos 1980. “Sou da geração nascida em 1980, então, para mim, é natural estar revendo um pouco os 90, 80. Curto fazer as coisas de maneira um pouco lúdica também. As ideias existem, as músicas existem, as letras existem, mas acho que as roupagens, a estética podem ser leves. Eu estava com vontade de flertar com algumas coisas mais sintéticas, mesmo sendo desse jeito: brasileira, tropical, uma maquininha atrás dos trópicos. Enfim, era um desejo de entender os nossos mecanismos e nossas maquinárias, e isso tudo fecha um conceito para mim.” Daí o título do disco, Tropix, numa espécie de união da tropicalidade brasileira com o vintage – e digital – pixel.

No disco, Céu vem acompanhada por um power trio, em que o teclado ocupa o lugar de importância normalmente atribuído à guitarra, com Pupillo na bateria, Lucas Martins no baixo e Hervé Salters nos teclados. Ela diz que sonhava em trabalhar com os mesmos músicos ao longo de um álbum – hoje em dia, é comum ter músicos diferentes participando das faixas de um mesmo disco. “No final da turnê do Caravana, eu estava em trio, porque era complicado levar banda grande. Então, foi gostoso experimentar esse formato, uma coisa sucinta. Essa experiência foi muito positiva, de reduzir, descobrir que as músicas funcionam assim também com power trio”, conta ela. “Adicionamos guitarra, que não é o centro, mas tinha de ter, e o Pedro Sá arrasou muito.”

Memória afetiva. A produção de Tropix é assinada por Pupillo, baterista do Nação Zumbi, e pelo músico francês Hervé Salters, fundador do grupo General Elektriks, projeto musical de electropop, mas que também bebe na fonte de outros estilos, como funk e jazz. Mulher de Pupillo, Céu conseguiu o melhor dos dois mundos com essa dupla: um olhar local – e que conhece bem o trabalho da cantora – e outro estrangeiro – e que foi descobrindo a obra de Céu. “Chamei o Pupillo desde o início para estar nessa história. Ele decifra muito bem ritmos, beats, programações, tem essa clareza”, afirma. “E eu tinha vontade de trabalhar com o Hervé. Eu o conheci na estrada. Sempre curti muito o jeito dele, a forma como ele vê música, eu me identifico. E chamar uma pessoa com outro olhar sobre o Brasil, para ver o que dá, mas com a nossa parte rítmica.”

Hervé Salters veio a São Paulo, onde ficou uma semana trabalhando no estúdio. A cantora já tinha na manga várias músicas, algumas inacabadas. A sintonia dele com os outros músicos do disco e com a própria Céu era uma loteria. Podia dar muito certo ou não. “Ele super se integrou, é muito sensível para o que você está querendo e tem um jeito de resolver mais claro, pragmático.” A entrada de Hervé no disco rendeu até uma parceria dele com Céu, em Varanda Suspensa. “Era uma canção inacabada, comecei a tocar e disse: ‘Hervé, não curto muito o jeito que harmonizei essa música’. Ele foi pensando coisas e solucionou.”

Por trás da letra dessa música, aliás, está a memória afetiva da cantora. “Descansar a vista/Até onde a vista alcança/ De uma zona temperada/ Até onde o sonho te leva”, escreve ela no começo da canção, inspirada pelas lembranças do avô, de quando ia para a casa dele, em São Sebastião, litoral paulista, e da esplêndida visão que tinha daquela varanda. “Meu avô ficava lá horas sentadinho, ouvindo música. Eu gostava de ficar com ele.”

Diferentemente do que ocorreu nos álbuns anteriores, em Tropix, Céu assume seu lado compositora em praticamente todas as músicas, com exceção de A Nave Vai, de Jorge Du Peixe, e Chico Buarque Song, de Cadão Volpato – pinçada daquelas audições que a cantora fazia dos discos da banda Fellini, incentivada por Pupillo –, aqui em versão menos acelerada. Céu admite que foi difícil eleger uma canção do grupo, mas a escolha de Chico Buarque Song, cantada em inglês, foi um achado de garimpeiro bem antenado. E são poucas suas canções em parceria no novo álbum: além da já citada com Hervé, Céu assina Sangria, com Lira, e Camadas, com Fernando Almeida, o Dinho, do Boogarins. “Acho que isso tem a ver sobre crescer como compositora, amadurecer, me sentir mais segura. Muitas vezes, eu fazia uma música achando que não estava nada legal e aí fazia parcerias. Foi um processo longo.”

A mesma concisão vale para as participações, o que as tornam bem especiais: os vocais de Tulipa Ruiz em Etílica/Interlúdio e os da filha de Céu, Rosa Morena, em Varanda Suspensa. Os planos eram esses mesmos: um disco com poucos convidados, com os mesmos músicos. E uma simplicidade grandiosa nos pequenos detalhes.

A cantora Céu chega ao local da entrevista, na Vila Madalena, em São Paulo, com um visual cintilante. A voz doce, quase tímida, contrasta com a esfuziante blusa dourada. O figurino foi especialmente pensado para as sessões de fotos para a imprensa, ela comenta. Já acomodada à mesa, em entrevista ao Estado, sua mente flutua entre o passado e o futuro, com passagens pelo presente. Tal e qual a sonoridade de seu ótimo novo disco, o 4.º da carreira, Tropix, que entrará com exclusividade no Spotify na próxima sexta, 18, e será lançado oficialmente no dia 25. Com ele, Céu inicia a nova turnê pela Europa, a partir do dia 29, e, de volta ao Brasil, se apresentará em São Paulo, no Sesc Pompeia, de 28 a 30 de abril.

ANÁLISE: Céu se desnuda esteticamente e vaga por climas noturnos em 'Tropix'

Antes de entrar no mérito do novo álbum, vale lembrar que os trabalhos de Céu sempre surpreendem, por um avanço rítmico aqui, uma inesperada imersão acolá, e por aí vai. Mas, neste, ela foi mais além. Com mais de dez anos de trajetória, a cantora e compositora paulistana, de 35 anos, trilhou sua estrada musical tendo como alicerces seus discos anteriores: CéU (2005), Vagarosa (2009) e Caravana Sereia Bloom (2012). Com o Caravana, ela rodou bastante o Brasil – onde procurou se focar mais para não ficar muito tempo longe da filha, Rosa Morena – e foi também para o exterior, durante três anos, até o final do ano passado.

  Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

Nesse ínterim, lançou ainda seu primeiro DVD, em 2014. E muitos consideram esse projeto ao vivo o fechamento de um ciclo iniciado justamente com os três primeiros discos. O raciocínio é coerente, já que a tríade foi feita de forma mais orgânica enquanto que, em Tropix, Céu se deixa seduzir pelos timbres mais sintéticos. “Engraçado, não vejo assim (o DVD fechando um ciclo), mas as pessoas veem. Não me incomoda”, diz a cantora.

No fim das contas, o resultado sonoro de Tropix transita deliciosamente entre o retrô e o futurista. “Acho que a gente sempre pode tentar olhar para o futuro, criar um futuro na nossa cabeça, mas a gente sempre vai ter como nosso princípio o passado”, pondera. “Eu queria beats, mas, junto com eles, resgatamos a tamba (instrumento de percussão criado por Hélcio Milito nos anos 1960). Acho divertido brincar com isso, um futuro que traz o que a gente viveu.”

Como ela se enveredou por esse universo? Céu diz que estava numa fase de ouvir esses sons. Kraftwerk, Tame Impala, “umas coisas mais obscuras também”. Nesse período, descobriu ainda a banda de pós-punk paulistana Fellini, de Cadão Volpato, formada nos anos 1980. “Sou da geração nascida em 1980, então, para mim, é natural estar revendo um pouco os 90, 80. Curto fazer as coisas de maneira um pouco lúdica também. As ideias existem, as músicas existem, as letras existem, mas acho que as roupagens, a estética podem ser leves. Eu estava com vontade de flertar com algumas coisas mais sintéticas, mesmo sendo desse jeito: brasileira, tropical, uma maquininha atrás dos trópicos. Enfim, era um desejo de entender os nossos mecanismos e nossas maquinárias, e isso tudo fecha um conceito para mim.” Daí o título do disco, Tropix, numa espécie de união da tropicalidade brasileira com o vintage – e digital – pixel.

No disco, Céu vem acompanhada por um power trio, em que o teclado ocupa o lugar de importância normalmente atribuído à guitarra, com Pupillo na bateria, Lucas Martins no baixo e Hervé Salters nos teclados. Ela diz que sonhava em trabalhar com os mesmos músicos ao longo de um álbum – hoje em dia, é comum ter músicos diferentes participando das faixas de um mesmo disco. “No final da turnê do Caravana, eu estava em trio, porque era complicado levar banda grande. Então, foi gostoso experimentar esse formato, uma coisa sucinta. Essa experiência foi muito positiva, de reduzir, descobrir que as músicas funcionam assim também com power trio”, conta ela. “Adicionamos guitarra, que não é o centro, mas tinha de ter, e o Pedro Sá arrasou muito.”

Memória afetiva. A produção de Tropix é assinada por Pupillo, baterista do Nação Zumbi, e pelo músico francês Hervé Salters, fundador do grupo General Elektriks, projeto musical de electropop, mas que também bebe na fonte de outros estilos, como funk e jazz. Mulher de Pupillo, Céu conseguiu o melhor dos dois mundos com essa dupla: um olhar local – e que conhece bem o trabalho da cantora – e outro estrangeiro – e que foi descobrindo a obra de Céu. “Chamei o Pupillo desde o início para estar nessa história. Ele decifra muito bem ritmos, beats, programações, tem essa clareza”, afirma. “E eu tinha vontade de trabalhar com o Hervé. Eu o conheci na estrada. Sempre curti muito o jeito dele, a forma como ele vê música, eu me identifico. E chamar uma pessoa com outro olhar sobre o Brasil, para ver o que dá, mas com a nossa parte rítmica.”

Hervé Salters veio a São Paulo, onde ficou uma semana trabalhando no estúdio. A cantora já tinha na manga várias músicas, algumas inacabadas. A sintonia dele com os outros músicos do disco e com a própria Céu era uma loteria. Podia dar muito certo ou não. “Ele super se integrou, é muito sensível para o que você está querendo e tem um jeito de resolver mais claro, pragmático.” A entrada de Hervé no disco rendeu até uma parceria dele com Céu, em Varanda Suspensa. “Era uma canção inacabada, comecei a tocar e disse: ‘Hervé, não curto muito o jeito que harmonizei essa música’. Ele foi pensando coisas e solucionou.”

Por trás da letra dessa música, aliás, está a memória afetiva da cantora. “Descansar a vista/Até onde a vista alcança/ De uma zona temperada/ Até onde o sonho te leva”, escreve ela no começo da canção, inspirada pelas lembranças do avô, de quando ia para a casa dele, em São Sebastião, litoral paulista, e da esplêndida visão que tinha daquela varanda. “Meu avô ficava lá horas sentadinho, ouvindo música. Eu gostava de ficar com ele.”

Diferentemente do que ocorreu nos álbuns anteriores, em Tropix, Céu assume seu lado compositora em praticamente todas as músicas, com exceção de A Nave Vai, de Jorge Du Peixe, e Chico Buarque Song, de Cadão Volpato – pinçada daquelas audições que a cantora fazia dos discos da banda Fellini, incentivada por Pupillo –, aqui em versão menos acelerada. Céu admite que foi difícil eleger uma canção do grupo, mas a escolha de Chico Buarque Song, cantada em inglês, foi um achado de garimpeiro bem antenado. E são poucas suas canções em parceria no novo álbum: além da já citada com Hervé, Céu assina Sangria, com Lira, e Camadas, com Fernando Almeida, o Dinho, do Boogarins. “Acho que isso tem a ver sobre crescer como compositora, amadurecer, me sentir mais segura. Muitas vezes, eu fazia uma música achando que não estava nada legal e aí fazia parcerias. Foi um processo longo.”

A mesma concisão vale para as participações, o que as tornam bem especiais: os vocais de Tulipa Ruiz em Etílica/Interlúdio e os da filha de Céu, Rosa Morena, em Varanda Suspensa. Os planos eram esses mesmos: um disco com poucos convidados, com os mesmos músicos. E uma simplicidade grandiosa nos pequenos detalhes.

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