Clapton domestica demônios e suaviza solos em novo disco


Guitarrista lança 'I Still Do' com releituras de blues dos anos 30 dentre as 12 faixas produzidas por Glyn Johns

Por Julio Maria

Aos 71 anos, Eric Clapton é um homem suave. Não pensa mais em shows pelo mundo, brinca com sua cabeleira branca de fios finos (“agora eu sou o grisalho”) e assume uma nova postura também quando tem o instrumento no colo. Quando fez sua maior homenagem ao blues, em 1994, com a gravação de 'From The Cradle' (“Do Berço”), seu conceito tinha o discurso das longas frases, erguidas monumentalmente no meio das almas de Willie Dixon, Muddy Waters e Tampa Red. A música era sempre um pretexto para os voos de sua guitarra. Ela chamava seus solos e eles entravam com uma determinação arrebatadora. Clapton jogava alto e provocava o incêndio no final. As dinâmicas que criou com 'From the Cradle' são usadas em aulas de música.

Aos 71 anos, Clapton não precisa mais das explosões Foto: Divulgação

'I Still Do', seu 23º disco com o próprio nome na capa, é o que ele mesmo diz em um vídeo promocional. “Esse é o Clapton que eu sou hoje”. São 12 temas que, por pouco, não o fazem um álbum puramente de blues. O homem que está a seu lado é o produtor Glyn Johns, que tem no currículo The Who, Rolling Stones e, o mais importante, o próprio Clapton, de 1977. Mais precisamente 'Slowhand', que trouxe 'Cocaine', 'Wonderful Tonight' e 'Lay Down Sally'. Ou seja, Johns é o nome das delicadezas, das guitarras sobrepostas e dos climas no lugar das explosões. Esse é o Clapton de hoje.

continua após a publicidade

Seu álbum traz aperitivos saborosos. Quem assina a arte, um retrato em gravura de Clapton, é Peter Blake, o artista responsável pela capa do disco 'Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band', de 1967. O baterista que aparece é Henry Spinetti, irmão do ator Victor Spinetti, que trabalhou em nos filmes dos Beatles 'A Hard Day’s Night', 'Help!' e 'Magical Mystery Tour'. E o coautor da balada 'I Will Be There' é alguém chamado Angelo Mysterioso, mais conhecido como George Harrison.

A pegadinha pegou até onde não deveria. Antes do lançamento, jornais do mundo noticiaram que Harrison não só havia composto como também cantava a canção ao lado do guitarrista. A voz que faz dueto com Clapton, no entanto, parece pertencer a Ed Sheeran, que já havia participado de concertos do músico. 'I Will Be There' é uma balada pop e pura. Há duas décadas, diriam se tratar da “faixa para tocar no rádio”. Angelo Mysterioso foi um pseudônimo brincalhão criado pelo beatle nos anos 60. A primeira vez que o usou foi para gravar com Clapton uma versão de 'Badge', lançada no último álbum do Cream, em 1969, 'Goodbye'.

'I Still Do' foi a última frase que Clapton ouvia de uma tia antes que ela morresse. “Eu ainda faço”. Aquilo ficou em sua memória e, na capa de um disco, ganha mais significados. Aos 71, Clapton ainda faz blues com a força dos 16 anos, quando aprendia a tocar na banda de John Mayall. O que o diferencia é a contenção de suas tormentas, a serenidade que o impede de procurar sempre a explosão. Gosta de fazer homenagens e honrar almas de antepassados com fidelidade.

continua após a publicidade

'Alabama Woman Blues' abre as portas de seu passado sofrido com estas dores de Scrapper Blackwell and Leroy Carr, um então conhecido duo de guitarra e piano nos anos 20. Um pulo de 50 anos o coloca nos anos 70 quando começa 'Spyral', que fez com o fiel Andy Fairweather Low e Simon Climie. A música é de agora, mas seu ambiente está todo nos anos de Cream. É um blues arrastado com algumas surpresas em acordes menores que o esfriam quando a expectativa era de que esquentasse. “Você não sabe o quanto significa ter essa música em mim”, diz em raro um trecho confessional. Os solos ainda não aparecem e sua guitarra se limita a transgredir a linha original com graça. A sequência com 'Cacht the Blues', que não é um blues, faz um ligeiro desvio no caminho, com o instrumento baixo, de belos timbres mas que não querem saber de briga. Estão sempre por lá o Hammond e um acordeon. 

'Cypress Grove' é de Skip James, de 1931. Vem com a sujeira que Clapton tanto usou em 'From the Cradle'. James é uma das obsessões de Clapton. Apenas o Cream lhe deu alguma dignidade nos anos 60, quando gravou duas versões de 'I’m So Glad', em 1966. Agora, 'Cypress' aparece como o trator que Clapton cria na base de bateria cheia de pratos e guitarras distorcidas. Clapton reabre Robert Johnson e vai a algo menos visitado do que 'Crossroads'. 'Stones in My Passway', de 1937, vem com toda a carga da desgraça que abateu este bluesman, o primeiro a vender a alma ao tinhoso. Sua fidelidade aos originais o deixa com uma pequena margem de manobra. Aos 71, Clapton não quer nem precisa mais fazer exorcismos a cada minuto.

Aos 71 anos, Eric Clapton é um homem suave. Não pensa mais em shows pelo mundo, brinca com sua cabeleira branca de fios finos (“agora eu sou o grisalho”) e assume uma nova postura também quando tem o instrumento no colo. Quando fez sua maior homenagem ao blues, em 1994, com a gravação de 'From The Cradle' (“Do Berço”), seu conceito tinha o discurso das longas frases, erguidas monumentalmente no meio das almas de Willie Dixon, Muddy Waters e Tampa Red. A música era sempre um pretexto para os voos de sua guitarra. Ela chamava seus solos e eles entravam com uma determinação arrebatadora. Clapton jogava alto e provocava o incêndio no final. As dinâmicas que criou com 'From the Cradle' são usadas em aulas de música.

Aos 71 anos, Clapton não precisa mais das explosões Foto: Divulgação

'I Still Do', seu 23º disco com o próprio nome na capa, é o que ele mesmo diz em um vídeo promocional. “Esse é o Clapton que eu sou hoje”. São 12 temas que, por pouco, não o fazem um álbum puramente de blues. O homem que está a seu lado é o produtor Glyn Johns, que tem no currículo The Who, Rolling Stones e, o mais importante, o próprio Clapton, de 1977. Mais precisamente 'Slowhand', que trouxe 'Cocaine', 'Wonderful Tonight' e 'Lay Down Sally'. Ou seja, Johns é o nome das delicadezas, das guitarras sobrepostas e dos climas no lugar das explosões. Esse é o Clapton de hoje.

Seu álbum traz aperitivos saborosos. Quem assina a arte, um retrato em gravura de Clapton, é Peter Blake, o artista responsável pela capa do disco 'Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band', de 1967. O baterista que aparece é Henry Spinetti, irmão do ator Victor Spinetti, que trabalhou em nos filmes dos Beatles 'A Hard Day’s Night', 'Help!' e 'Magical Mystery Tour'. E o coautor da balada 'I Will Be There' é alguém chamado Angelo Mysterioso, mais conhecido como George Harrison.

A pegadinha pegou até onde não deveria. Antes do lançamento, jornais do mundo noticiaram que Harrison não só havia composto como também cantava a canção ao lado do guitarrista. A voz que faz dueto com Clapton, no entanto, parece pertencer a Ed Sheeran, que já havia participado de concertos do músico. 'I Will Be There' é uma balada pop e pura. Há duas décadas, diriam se tratar da “faixa para tocar no rádio”. Angelo Mysterioso foi um pseudônimo brincalhão criado pelo beatle nos anos 60. A primeira vez que o usou foi para gravar com Clapton uma versão de 'Badge', lançada no último álbum do Cream, em 1969, 'Goodbye'.

'I Still Do' foi a última frase que Clapton ouvia de uma tia antes que ela morresse. “Eu ainda faço”. Aquilo ficou em sua memória e, na capa de um disco, ganha mais significados. Aos 71, Clapton ainda faz blues com a força dos 16 anos, quando aprendia a tocar na banda de John Mayall. O que o diferencia é a contenção de suas tormentas, a serenidade que o impede de procurar sempre a explosão. Gosta de fazer homenagens e honrar almas de antepassados com fidelidade.

'Alabama Woman Blues' abre as portas de seu passado sofrido com estas dores de Scrapper Blackwell and Leroy Carr, um então conhecido duo de guitarra e piano nos anos 20. Um pulo de 50 anos o coloca nos anos 70 quando começa 'Spyral', que fez com o fiel Andy Fairweather Low e Simon Climie. A música é de agora, mas seu ambiente está todo nos anos de Cream. É um blues arrastado com algumas surpresas em acordes menores que o esfriam quando a expectativa era de que esquentasse. “Você não sabe o quanto significa ter essa música em mim”, diz em raro um trecho confessional. Os solos ainda não aparecem e sua guitarra se limita a transgredir a linha original com graça. A sequência com 'Cacht the Blues', que não é um blues, faz um ligeiro desvio no caminho, com o instrumento baixo, de belos timbres mas que não querem saber de briga. Estão sempre por lá o Hammond e um acordeon. 

'Cypress Grove' é de Skip James, de 1931. Vem com a sujeira que Clapton tanto usou em 'From the Cradle'. James é uma das obsessões de Clapton. Apenas o Cream lhe deu alguma dignidade nos anos 60, quando gravou duas versões de 'I’m So Glad', em 1966. Agora, 'Cypress' aparece como o trator que Clapton cria na base de bateria cheia de pratos e guitarras distorcidas. Clapton reabre Robert Johnson e vai a algo menos visitado do que 'Crossroads'. 'Stones in My Passway', de 1937, vem com toda a carga da desgraça que abateu este bluesman, o primeiro a vender a alma ao tinhoso. Sua fidelidade aos originais o deixa com uma pequena margem de manobra. Aos 71, Clapton não quer nem precisa mais fazer exorcismos a cada minuto.

Aos 71 anos, Eric Clapton é um homem suave. Não pensa mais em shows pelo mundo, brinca com sua cabeleira branca de fios finos (“agora eu sou o grisalho”) e assume uma nova postura também quando tem o instrumento no colo. Quando fez sua maior homenagem ao blues, em 1994, com a gravação de 'From The Cradle' (“Do Berço”), seu conceito tinha o discurso das longas frases, erguidas monumentalmente no meio das almas de Willie Dixon, Muddy Waters e Tampa Red. A música era sempre um pretexto para os voos de sua guitarra. Ela chamava seus solos e eles entravam com uma determinação arrebatadora. Clapton jogava alto e provocava o incêndio no final. As dinâmicas que criou com 'From the Cradle' são usadas em aulas de música.

Aos 71 anos, Clapton não precisa mais das explosões Foto: Divulgação

'I Still Do', seu 23º disco com o próprio nome na capa, é o que ele mesmo diz em um vídeo promocional. “Esse é o Clapton que eu sou hoje”. São 12 temas que, por pouco, não o fazem um álbum puramente de blues. O homem que está a seu lado é o produtor Glyn Johns, que tem no currículo The Who, Rolling Stones e, o mais importante, o próprio Clapton, de 1977. Mais precisamente 'Slowhand', que trouxe 'Cocaine', 'Wonderful Tonight' e 'Lay Down Sally'. Ou seja, Johns é o nome das delicadezas, das guitarras sobrepostas e dos climas no lugar das explosões. Esse é o Clapton de hoje.

Seu álbum traz aperitivos saborosos. Quem assina a arte, um retrato em gravura de Clapton, é Peter Blake, o artista responsável pela capa do disco 'Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band', de 1967. O baterista que aparece é Henry Spinetti, irmão do ator Victor Spinetti, que trabalhou em nos filmes dos Beatles 'A Hard Day’s Night', 'Help!' e 'Magical Mystery Tour'. E o coautor da balada 'I Will Be There' é alguém chamado Angelo Mysterioso, mais conhecido como George Harrison.

A pegadinha pegou até onde não deveria. Antes do lançamento, jornais do mundo noticiaram que Harrison não só havia composto como também cantava a canção ao lado do guitarrista. A voz que faz dueto com Clapton, no entanto, parece pertencer a Ed Sheeran, que já havia participado de concertos do músico. 'I Will Be There' é uma balada pop e pura. Há duas décadas, diriam se tratar da “faixa para tocar no rádio”. Angelo Mysterioso foi um pseudônimo brincalhão criado pelo beatle nos anos 60. A primeira vez que o usou foi para gravar com Clapton uma versão de 'Badge', lançada no último álbum do Cream, em 1969, 'Goodbye'.

'I Still Do' foi a última frase que Clapton ouvia de uma tia antes que ela morresse. “Eu ainda faço”. Aquilo ficou em sua memória e, na capa de um disco, ganha mais significados. Aos 71, Clapton ainda faz blues com a força dos 16 anos, quando aprendia a tocar na banda de John Mayall. O que o diferencia é a contenção de suas tormentas, a serenidade que o impede de procurar sempre a explosão. Gosta de fazer homenagens e honrar almas de antepassados com fidelidade.

'Alabama Woman Blues' abre as portas de seu passado sofrido com estas dores de Scrapper Blackwell and Leroy Carr, um então conhecido duo de guitarra e piano nos anos 20. Um pulo de 50 anos o coloca nos anos 70 quando começa 'Spyral', que fez com o fiel Andy Fairweather Low e Simon Climie. A música é de agora, mas seu ambiente está todo nos anos de Cream. É um blues arrastado com algumas surpresas em acordes menores que o esfriam quando a expectativa era de que esquentasse. “Você não sabe o quanto significa ter essa música em mim”, diz em raro um trecho confessional. Os solos ainda não aparecem e sua guitarra se limita a transgredir a linha original com graça. A sequência com 'Cacht the Blues', que não é um blues, faz um ligeiro desvio no caminho, com o instrumento baixo, de belos timbres mas que não querem saber de briga. Estão sempre por lá o Hammond e um acordeon. 

'Cypress Grove' é de Skip James, de 1931. Vem com a sujeira que Clapton tanto usou em 'From the Cradle'. James é uma das obsessões de Clapton. Apenas o Cream lhe deu alguma dignidade nos anos 60, quando gravou duas versões de 'I’m So Glad', em 1966. Agora, 'Cypress' aparece como o trator que Clapton cria na base de bateria cheia de pratos e guitarras distorcidas. Clapton reabre Robert Johnson e vai a algo menos visitado do que 'Crossroads'. 'Stones in My Passway', de 1937, vem com toda a carga da desgraça que abateu este bluesman, o primeiro a vender a alma ao tinhoso. Sua fidelidade aos originais o deixa com uma pequena margem de manobra. Aos 71, Clapton não quer nem precisa mais fazer exorcismos a cada minuto.

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.