Com duas músicas inéditas, Paralamas do Sucesso voltam a se apresentar no formato power trio


Último show da banda apenas com Herbert, Bi e Barone no palco foi em 1986

Por João Paulo Carvalho

RIO - Os Paralamas do Sucesso vão tocar na capital. A paulista, que bem fique claro. A deixa serve apenas para parafrasear a letra de Vital e Sua Moto, clássico do grupo. Quem vê Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) conversando calmamente no estúdio onde a banda ensaia no Jardim Botânico, zona sul do Rio, em uma quente e ensolarada tarde de quarta-feira, não imagina o quão animados estão. Depois de 30 anos, eles voltarão a se apresentar no formato power trio. Serão três shows em São Paulo, no Teatro J. Safra, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro.  No palco, a formação clássica que encantou a década de 1980 com a já conhecida tríplice discográfica: Cinema Mudo (1983), O Passo do Lui (1984) e Selvagem? (1986). As performances não terão nenhum músico adicional, incluindo o tecladista João Fera, que acompanha os Paralamas desde 1986. “A ideia, na verdade, é antiga. Exploramos isso ao longo dos anos. Em vários momentos do nosso show convencional, por exemplo, ficamos só com os três no palco. Fomos amadurecendo o projeto e vamos aproveitar essa oportunidade para resgatar coisas menos unânimes e conhecidas do repertório”, afirma o baterista João Barone. A sinergia de mais de três décadas de Herbert, Bi e João fica evidente logo nos primeiros minutos de entrevista à reportagem do Estado. “Você não vai perguntar por que escolhemos o nome Paralamas?”, brinca Herbert. Despojados como três meninos iniciantes, os Paralamas sabem que é difícil se reinventar, principalmente depois de tanto tempo na estrada. No ano passado, lançaram a caixa Os Paralamas do Sucesso 1983-2015 para celebrar os 30 anos de carreira. Aniversário completado, na verdade, em 2013. O material, no entanto, atrasou dois anos.

Banda fará 3 apresentações em fevereiro nos dias 19, 20 e 21 Foto: Mauro Pimentel|Estadão

Sobre os três shows em São Paulo, alguns arranjos e reajustes precisaram ser feitos na estrutura original das músicas. Desde 1986, o som dos Paralamas foi encorpado. Com João Fera no teclado, a sonoridade do grupo evoluiu. “É preciso preencher um pouco mais o som só com os três instrumentos - guitarra, baixo e bateria. O intuito é fazer que aquela canção seja logo identificada pelo público, apesar da diferença sonora mínima. Isso, claro, levando sempre em conta a nossa pegada. O chamado feeling que faz as veias saltarem”, diz Herbert. Barone confessa que as ideias musicais da banda não eram mais compatíveis com a performance crua, porém coesa, do então trio. “A gente se recorda que, nos últimos shows da turnê do disco Selvagem, estávamos no limite de tocar só com três pessoas na banda. Tínhamos ideias embrionárias de colocar mais gente e, em 1986, veio o João Fera no teclado. Dois anos depois, em 1988, colocamos um naipe de sopro. A partir daquele momento, portanto, a coisa foi crescendo”, diz Barone. Engana-se quem pensa que as três apresentações na capital paulista serão recheadas de hits. O set deve ser composto por músicas menos conhecidas do grande público. Sucessões e baladas darão lugar a composições importantes para os chamados fãs de carteirinha. “A gente não quer entregar o ouro do repertório. Tem um lado meio roleta-russa, de coisas que ainda não escolhemos. As músicas podem variar. Afinal, são três dias, três shows diferentes. Vai ser algo diferenciado e distinto. Trata-se de uma coisa diversificada, mas que faz parte do nosso legado como banda de rock. É um projeto artisticamente ambicioso”, conceitua o baterista. O baixista Bi Ribeiro também ressalta a importância da sincronia musical entre o trio veterano. “Quando você toca com três pessoas na banda, o papel de cada um triplica de proporção. A gente acaba se apoiando em nós mesmos para não deixar nenhum espaço em branco. Pode soar errado e nos prejudicar”, afirma. Se os clássicos não serão predominantes, os shows ganham um combustível extra com duas músicas inéditas. Ainda sem nome, as canções farão parte do novo disco do grupo, que também não tem data para ser lançado. O que se sabe, entretanto, é que Herbert, Bi e Barone já ensaiam novos projetos para o segundo semestre de 2016. “Teremos duas músicas novas, sim. Além delas, tem muito lado B, como Viernes 3 Am, Um Amor, Um Lugar e Fui Eu, que não tocamos há tempos. Esses shows também vão servir de laboratório para, posteriormente, fazermos em outros lugares do País”, fala Barone.Sujeira para todo lado. Os shows dos Paralamas na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, foram considerados por muitos o divisor de águas da carreira da banda. Chamado de última hora, o trio não teve tempo de construir o cenário, que foi decorado somente com um vaso de planta retirado dos camarins da Cidade do Rock. Mas isso não afetou o desempenho do grupo, que fez um dos shows mais enérgicos e politizados do festival. A banda acabou sendo considerada a grande revelação de um Rock in Rio que tinha AC/DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e James Taylor como principais atrações.  No dia anterior ao segundo show dos Paralamas - naquela edição do Rock in Rio, todas as bandas se apresentaram duas vezes - , Tancredo Neves havia sido anunciado como novo presidente da República, colocando fim a mais de 20 anos de ditadura militar. “A gente não sabia o que ia ser do Brasil dali para frente. Acho que ninguém sabia, na verdade. Mas tínhamos muita esperança”, lembra Bi.  Em 2015, 30 anos depois da emblemática apresentação no Rock in Rio, os Paralamas voltaram a se apresentar no festival. Na ocasião, antes de tocarem Que País É Este?, da Legião Urbana, João Barone fez um desabafo: “Trinta anos atrás, a gente estava acreditando num País melhor, Rock in Rio. O Brasil ainda pode dar certo”, afirmou em alto e bom som. Questionado sobre a frase, Barone é diplomático. “É terrível ter de reconhecer as condições adversas que estamos vivendo hoje em dia. Em contrapartida, é o País em que nascemos e onde nossos filhos moram. Precisamos ter esperança em alguma coisa. Caso contrário, terei de abrir uma barraquinha de churros em Montevidéu, no Uruguai, que, para mim, é o país mais civilizado da América do Sul”, brinca Barone. “É difícil você ver no dia a dia, em uma cidade como o Rio de Janeiro, a amplitude das diferenças. Temos uma classe média de consumismo desenfreado e, do outro lado, um trabalhador que pega a fila do ônibus todos os dias. O contraste social é desumano”, conclui Herbert Vianna.

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PARALAMAS Teatro J. Safra. Rua Josef Kryss, 318, tel. 3611-3042. 6ª (19) e sáb. (20), 21h30. Dom. (21), 20h30. R$ 50/R$ 220  

RIO - Os Paralamas do Sucesso vão tocar na capital. A paulista, que bem fique claro. A deixa serve apenas para parafrasear a letra de Vital e Sua Moto, clássico do grupo. Quem vê Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) conversando calmamente no estúdio onde a banda ensaia no Jardim Botânico, zona sul do Rio, em uma quente e ensolarada tarde de quarta-feira, não imagina o quão animados estão. Depois de 30 anos, eles voltarão a se apresentar no formato power trio. Serão três shows em São Paulo, no Teatro J. Safra, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro.  No palco, a formação clássica que encantou a década de 1980 com a já conhecida tríplice discográfica: Cinema Mudo (1983), O Passo do Lui (1984) e Selvagem? (1986). As performances não terão nenhum músico adicional, incluindo o tecladista João Fera, que acompanha os Paralamas desde 1986. “A ideia, na verdade, é antiga. Exploramos isso ao longo dos anos. Em vários momentos do nosso show convencional, por exemplo, ficamos só com os três no palco. Fomos amadurecendo o projeto e vamos aproveitar essa oportunidade para resgatar coisas menos unânimes e conhecidas do repertório”, afirma o baterista João Barone. A sinergia de mais de três décadas de Herbert, Bi e João fica evidente logo nos primeiros minutos de entrevista à reportagem do Estado. “Você não vai perguntar por que escolhemos o nome Paralamas?”, brinca Herbert. Despojados como três meninos iniciantes, os Paralamas sabem que é difícil se reinventar, principalmente depois de tanto tempo na estrada. No ano passado, lançaram a caixa Os Paralamas do Sucesso 1983-2015 para celebrar os 30 anos de carreira. Aniversário completado, na verdade, em 2013. O material, no entanto, atrasou dois anos.

Banda fará 3 apresentações em fevereiro nos dias 19, 20 e 21 Foto: Mauro Pimentel|Estadão

Sobre os três shows em São Paulo, alguns arranjos e reajustes precisaram ser feitos na estrutura original das músicas. Desde 1986, o som dos Paralamas foi encorpado. Com João Fera no teclado, a sonoridade do grupo evoluiu. “É preciso preencher um pouco mais o som só com os três instrumentos - guitarra, baixo e bateria. O intuito é fazer que aquela canção seja logo identificada pelo público, apesar da diferença sonora mínima. Isso, claro, levando sempre em conta a nossa pegada. O chamado feeling que faz as veias saltarem”, diz Herbert. Barone confessa que as ideias musicais da banda não eram mais compatíveis com a performance crua, porém coesa, do então trio. “A gente se recorda que, nos últimos shows da turnê do disco Selvagem, estávamos no limite de tocar só com três pessoas na banda. Tínhamos ideias embrionárias de colocar mais gente e, em 1986, veio o João Fera no teclado. Dois anos depois, em 1988, colocamos um naipe de sopro. A partir daquele momento, portanto, a coisa foi crescendo”, diz Barone. Engana-se quem pensa que as três apresentações na capital paulista serão recheadas de hits. O set deve ser composto por músicas menos conhecidas do grande público. Sucessões e baladas darão lugar a composições importantes para os chamados fãs de carteirinha. “A gente não quer entregar o ouro do repertório. Tem um lado meio roleta-russa, de coisas que ainda não escolhemos. As músicas podem variar. Afinal, são três dias, três shows diferentes. Vai ser algo diferenciado e distinto. Trata-se de uma coisa diversificada, mas que faz parte do nosso legado como banda de rock. É um projeto artisticamente ambicioso”, conceitua o baterista. O baixista Bi Ribeiro também ressalta a importância da sincronia musical entre o trio veterano. “Quando você toca com três pessoas na banda, o papel de cada um triplica de proporção. A gente acaba se apoiando em nós mesmos para não deixar nenhum espaço em branco. Pode soar errado e nos prejudicar”, afirma. Se os clássicos não serão predominantes, os shows ganham um combustível extra com duas músicas inéditas. Ainda sem nome, as canções farão parte do novo disco do grupo, que também não tem data para ser lançado. O que se sabe, entretanto, é que Herbert, Bi e Barone já ensaiam novos projetos para o segundo semestre de 2016. “Teremos duas músicas novas, sim. Além delas, tem muito lado B, como Viernes 3 Am, Um Amor, Um Lugar e Fui Eu, que não tocamos há tempos. Esses shows também vão servir de laboratório para, posteriormente, fazermos em outros lugares do País”, fala Barone.Sujeira para todo lado. Os shows dos Paralamas na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, foram considerados por muitos o divisor de águas da carreira da banda. Chamado de última hora, o trio não teve tempo de construir o cenário, que foi decorado somente com um vaso de planta retirado dos camarins da Cidade do Rock. Mas isso não afetou o desempenho do grupo, que fez um dos shows mais enérgicos e politizados do festival. A banda acabou sendo considerada a grande revelação de um Rock in Rio que tinha AC/DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e James Taylor como principais atrações.  No dia anterior ao segundo show dos Paralamas - naquela edição do Rock in Rio, todas as bandas se apresentaram duas vezes - , Tancredo Neves havia sido anunciado como novo presidente da República, colocando fim a mais de 20 anos de ditadura militar. “A gente não sabia o que ia ser do Brasil dali para frente. Acho que ninguém sabia, na verdade. Mas tínhamos muita esperança”, lembra Bi.  Em 2015, 30 anos depois da emblemática apresentação no Rock in Rio, os Paralamas voltaram a se apresentar no festival. Na ocasião, antes de tocarem Que País É Este?, da Legião Urbana, João Barone fez um desabafo: “Trinta anos atrás, a gente estava acreditando num País melhor, Rock in Rio. O Brasil ainda pode dar certo”, afirmou em alto e bom som. Questionado sobre a frase, Barone é diplomático. “É terrível ter de reconhecer as condições adversas que estamos vivendo hoje em dia. Em contrapartida, é o País em que nascemos e onde nossos filhos moram. Precisamos ter esperança em alguma coisa. Caso contrário, terei de abrir uma barraquinha de churros em Montevidéu, no Uruguai, que, para mim, é o país mais civilizado da América do Sul”, brinca Barone. “É difícil você ver no dia a dia, em uma cidade como o Rio de Janeiro, a amplitude das diferenças. Temos uma classe média de consumismo desenfreado e, do outro lado, um trabalhador que pega a fila do ônibus todos os dias. O contraste social é desumano”, conclui Herbert Vianna.

PARALAMAS Teatro J. Safra. Rua Josef Kryss, 318, tel. 3611-3042. 6ª (19) e sáb. (20), 21h30. Dom. (21), 20h30. R$ 50/R$ 220  

RIO - Os Paralamas do Sucesso vão tocar na capital. A paulista, que bem fique claro. A deixa serve apenas para parafrasear a letra de Vital e Sua Moto, clássico do grupo. Quem vê Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) conversando calmamente no estúdio onde a banda ensaia no Jardim Botânico, zona sul do Rio, em uma quente e ensolarada tarde de quarta-feira, não imagina o quão animados estão. Depois de 30 anos, eles voltarão a se apresentar no formato power trio. Serão três shows em São Paulo, no Teatro J. Safra, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro.  No palco, a formação clássica que encantou a década de 1980 com a já conhecida tríplice discográfica: Cinema Mudo (1983), O Passo do Lui (1984) e Selvagem? (1986). As performances não terão nenhum músico adicional, incluindo o tecladista João Fera, que acompanha os Paralamas desde 1986. “A ideia, na verdade, é antiga. Exploramos isso ao longo dos anos. Em vários momentos do nosso show convencional, por exemplo, ficamos só com os três no palco. Fomos amadurecendo o projeto e vamos aproveitar essa oportunidade para resgatar coisas menos unânimes e conhecidas do repertório”, afirma o baterista João Barone. A sinergia de mais de três décadas de Herbert, Bi e João fica evidente logo nos primeiros minutos de entrevista à reportagem do Estado. “Você não vai perguntar por que escolhemos o nome Paralamas?”, brinca Herbert. Despojados como três meninos iniciantes, os Paralamas sabem que é difícil se reinventar, principalmente depois de tanto tempo na estrada. No ano passado, lançaram a caixa Os Paralamas do Sucesso 1983-2015 para celebrar os 30 anos de carreira. Aniversário completado, na verdade, em 2013. O material, no entanto, atrasou dois anos.

Banda fará 3 apresentações em fevereiro nos dias 19, 20 e 21 Foto: Mauro Pimentel|Estadão

Sobre os três shows em São Paulo, alguns arranjos e reajustes precisaram ser feitos na estrutura original das músicas. Desde 1986, o som dos Paralamas foi encorpado. Com João Fera no teclado, a sonoridade do grupo evoluiu. “É preciso preencher um pouco mais o som só com os três instrumentos - guitarra, baixo e bateria. O intuito é fazer que aquela canção seja logo identificada pelo público, apesar da diferença sonora mínima. Isso, claro, levando sempre em conta a nossa pegada. O chamado feeling que faz as veias saltarem”, diz Herbert. Barone confessa que as ideias musicais da banda não eram mais compatíveis com a performance crua, porém coesa, do então trio. “A gente se recorda que, nos últimos shows da turnê do disco Selvagem, estávamos no limite de tocar só com três pessoas na banda. Tínhamos ideias embrionárias de colocar mais gente e, em 1986, veio o João Fera no teclado. Dois anos depois, em 1988, colocamos um naipe de sopro. A partir daquele momento, portanto, a coisa foi crescendo”, diz Barone. Engana-se quem pensa que as três apresentações na capital paulista serão recheadas de hits. O set deve ser composto por músicas menos conhecidas do grande público. Sucessões e baladas darão lugar a composições importantes para os chamados fãs de carteirinha. “A gente não quer entregar o ouro do repertório. Tem um lado meio roleta-russa, de coisas que ainda não escolhemos. As músicas podem variar. Afinal, são três dias, três shows diferentes. Vai ser algo diferenciado e distinto. Trata-se de uma coisa diversificada, mas que faz parte do nosso legado como banda de rock. É um projeto artisticamente ambicioso”, conceitua o baterista. O baixista Bi Ribeiro também ressalta a importância da sincronia musical entre o trio veterano. “Quando você toca com três pessoas na banda, o papel de cada um triplica de proporção. A gente acaba se apoiando em nós mesmos para não deixar nenhum espaço em branco. Pode soar errado e nos prejudicar”, afirma. Se os clássicos não serão predominantes, os shows ganham um combustível extra com duas músicas inéditas. Ainda sem nome, as canções farão parte do novo disco do grupo, que também não tem data para ser lançado. O que se sabe, entretanto, é que Herbert, Bi e Barone já ensaiam novos projetos para o segundo semestre de 2016. “Teremos duas músicas novas, sim. Além delas, tem muito lado B, como Viernes 3 Am, Um Amor, Um Lugar e Fui Eu, que não tocamos há tempos. Esses shows também vão servir de laboratório para, posteriormente, fazermos em outros lugares do País”, fala Barone.Sujeira para todo lado. Os shows dos Paralamas na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, foram considerados por muitos o divisor de águas da carreira da banda. Chamado de última hora, o trio não teve tempo de construir o cenário, que foi decorado somente com um vaso de planta retirado dos camarins da Cidade do Rock. Mas isso não afetou o desempenho do grupo, que fez um dos shows mais enérgicos e politizados do festival. A banda acabou sendo considerada a grande revelação de um Rock in Rio que tinha AC/DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e James Taylor como principais atrações.  No dia anterior ao segundo show dos Paralamas - naquela edição do Rock in Rio, todas as bandas se apresentaram duas vezes - , Tancredo Neves havia sido anunciado como novo presidente da República, colocando fim a mais de 20 anos de ditadura militar. “A gente não sabia o que ia ser do Brasil dali para frente. Acho que ninguém sabia, na verdade. Mas tínhamos muita esperança”, lembra Bi.  Em 2015, 30 anos depois da emblemática apresentação no Rock in Rio, os Paralamas voltaram a se apresentar no festival. Na ocasião, antes de tocarem Que País É Este?, da Legião Urbana, João Barone fez um desabafo: “Trinta anos atrás, a gente estava acreditando num País melhor, Rock in Rio. O Brasil ainda pode dar certo”, afirmou em alto e bom som. Questionado sobre a frase, Barone é diplomático. “É terrível ter de reconhecer as condições adversas que estamos vivendo hoje em dia. Em contrapartida, é o País em que nascemos e onde nossos filhos moram. Precisamos ter esperança em alguma coisa. Caso contrário, terei de abrir uma barraquinha de churros em Montevidéu, no Uruguai, que, para mim, é o país mais civilizado da América do Sul”, brinca Barone. “É difícil você ver no dia a dia, em uma cidade como o Rio de Janeiro, a amplitude das diferenças. Temos uma classe média de consumismo desenfreado e, do outro lado, um trabalhador que pega a fila do ônibus todos os dias. O contraste social é desumano”, conclui Herbert Vianna.

PARALAMAS Teatro J. Safra. Rua Josef Kryss, 318, tel. 3611-3042. 6ª (19) e sáb. (20), 21h30. Dom. (21), 20h30. R$ 50/R$ 220  

RIO - Os Paralamas do Sucesso vão tocar na capital. A paulista, que bem fique claro. A deixa serve apenas para parafrasear a letra de Vital e Sua Moto, clássico do grupo. Quem vê Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) conversando calmamente no estúdio onde a banda ensaia no Jardim Botânico, zona sul do Rio, em uma quente e ensolarada tarde de quarta-feira, não imagina o quão animados estão. Depois de 30 anos, eles voltarão a se apresentar no formato power trio. Serão três shows em São Paulo, no Teatro J. Safra, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro.  No palco, a formação clássica que encantou a década de 1980 com a já conhecida tríplice discográfica: Cinema Mudo (1983), O Passo do Lui (1984) e Selvagem? (1986). As performances não terão nenhum músico adicional, incluindo o tecladista João Fera, que acompanha os Paralamas desde 1986. “A ideia, na verdade, é antiga. Exploramos isso ao longo dos anos. Em vários momentos do nosso show convencional, por exemplo, ficamos só com os três no palco. Fomos amadurecendo o projeto e vamos aproveitar essa oportunidade para resgatar coisas menos unânimes e conhecidas do repertório”, afirma o baterista João Barone. A sinergia de mais de três décadas de Herbert, Bi e João fica evidente logo nos primeiros minutos de entrevista à reportagem do Estado. “Você não vai perguntar por que escolhemos o nome Paralamas?”, brinca Herbert. Despojados como três meninos iniciantes, os Paralamas sabem que é difícil se reinventar, principalmente depois de tanto tempo na estrada. No ano passado, lançaram a caixa Os Paralamas do Sucesso 1983-2015 para celebrar os 30 anos de carreira. Aniversário completado, na verdade, em 2013. O material, no entanto, atrasou dois anos.

Banda fará 3 apresentações em fevereiro nos dias 19, 20 e 21 Foto: Mauro Pimentel|Estadão

Sobre os três shows em São Paulo, alguns arranjos e reajustes precisaram ser feitos na estrutura original das músicas. Desde 1986, o som dos Paralamas foi encorpado. Com João Fera no teclado, a sonoridade do grupo evoluiu. “É preciso preencher um pouco mais o som só com os três instrumentos - guitarra, baixo e bateria. O intuito é fazer que aquela canção seja logo identificada pelo público, apesar da diferença sonora mínima. Isso, claro, levando sempre em conta a nossa pegada. O chamado feeling que faz as veias saltarem”, diz Herbert. Barone confessa que as ideias musicais da banda não eram mais compatíveis com a performance crua, porém coesa, do então trio. “A gente se recorda que, nos últimos shows da turnê do disco Selvagem, estávamos no limite de tocar só com três pessoas na banda. Tínhamos ideias embrionárias de colocar mais gente e, em 1986, veio o João Fera no teclado. Dois anos depois, em 1988, colocamos um naipe de sopro. A partir daquele momento, portanto, a coisa foi crescendo”, diz Barone. Engana-se quem pensa que as três apresentações na capital paulista serão recheadas de hits. O set deve ser composto por músicas menos conhecidas do grande público. Sucessões e baladas darão lugar a composições importantes para os chamados fãs de carteirinha. “A gente não quer entregar o ouro do repertório. Tem um lado meio roleta-russa, de coisas que ainda não escolhemos. As músicas podem variar. Afinal, são três dias, três shows diferentes. Vai ser algo diferenciado e distinto. Trata-se de uma coisa diversificada, mas que faz parte do nosso legado como banda de rock. É um projeto artisticamente ambicioso”, conceitua o baterista. O baixista Bi Ribeiro também ressalta a importância da sincronia musical entre o trio veterano. “Quando você toca com três pessoas na banda, o papel de cada um triplica de proporção. A gente acaba se apoiando em nós mesmos para não deixar nenhum espaço em branco. Pode soar errado e nos prejudicar”, afirma. Se os clássicos não serão predominantes, os shows ganham um combustível extra com duas músicas inéditas. Ainda sem nome, as canções farão parte do novo disco do grupo, que também não tem data para ser lançado. O que se sabe, entretanto, é que Herbert, Bi e Barone já ensaiam novos projetos para o segundo semestre de 2016. “Teremos duas músicas novas, sim. Além delas, tem muito lado B, como Viernes 3 Am, Um Amor, Um Lugar e Fui Eu, que não tocamos há tempos. Esses shows também vão servir de laboratório para, posteriormente, fazermos em outros lugares do País”, fala Barone.Sujeira para todo lado. Os shows dos Paralamas na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, foram considerados por muitos o divisor de águas da carreira da banda. Chamado de última hora, o trio não teve tempo de construir o cenário, que foi decorado somente com um vaso de planta retirado dos camarins da Cidade do Rock. Mas isso não afetou o desempenho do grupo, que fez um dos shows mais enérgicos e politizados do festival. A banda acabou sendo considerada a grande revelação de um Rock in Rio que tinha AC/DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e James Taylor como principais atrações.  No dia anterior ao segundo show dos Paralamas - naquela edição do Rock in Rio, todas as bandas se apresentaram duas vezes - , Tancredo Neves havia sido anunciado como novo presidente da República, colocando fim a mais de 20 anos de ditadura militar. “A gente não sabia o que ia ser do Brasil dali para frente. Acho que ninguém sabia, na verdade. Mas tínhamos muita esperança”, lembra Bi.  Em 2015, 30 anos depois da emblemática apresentação no Rock in Rio, os Paralamas voltaram a se apresentar no festival. Na ocasião, antes de tocarem Que País É Este?, da Legião Urbana, João Barone fez um desabafo: “Trinta anos atrás, a gente estava acreditando num País melhor, Rock in Rio. O Brasil ainda pode dar certo”, afirmou em alto e bom som. Questionado sobre a frase, Barone é diplomático. “É terrível ter de reconhecer as condições adversas que estamos vivendo hoje em dia. Em contrapartida, é o País em que nascemos e onde nossos filhos moram. Precisamos ter esperança em alguma coisa. Caso contrário, terei de abrir uma barraquinha de churros em Montevidéu, no Uruguai, que, para mim, é o país mais civilizado da América do Sul”, brinca Barone. “É difícil você ver no dia a dia, em uma cidade como o Rio de Janeiro, a amplitude das diferenças. Temos uma classe média de consumismo desenfreado e, do outro lado, um trabalhador que pega a fila do ônibus todos os dias. O contraste social é desumano”, conclui Herbert Vianna.

PARALAMAS Teatro J. Safra. Rua Josef Kryss, 318, tel. 3611-3042. 6ª (19) e sáb. (20), 21h30. Dom. (21), 20h30. R$ 50/R$ 220  

RIO - Os Paralamas do Sucesso vão tocar na capital. A paulista, que bem fique claro. A deixa serve apenas para parafrasear a letra de Vital e Sua Moto, clássico do grupo. Quem vê Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) conversando calmamente no estúdio onde a banda ensaia no Jardim Botânico, zona sul do Rio, em uma quente e ensolarada tarde de quarta-feira, não imagina o quão animados estão. Depois de 30 anos, eles voltarão a se apresentar no formato power trio. Serão três shows em São Paulo, no Teatro J. Safra, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro.  No palco, a formação clássica que encantou a década de 1980 com a já conhecida tríplice discográfica: Cinema Mudo (1983), O Passo do Lui (1984) e Selvagem? (1986). As performances não terão nenhum músico adicional, incluindo o tecladista João Fera, que acompanha os Paralamas desde 1986. “A ideia, na verdade, é antiga. Exploramos isso ao longo dos anos. Em vários momentos do nosso show convencional, por exemplo, ficamos só com os três no palco. Fomos amadurecendo o projeto e vamos aproveitar essa oportunidade para resgatar coisas menos unânimes e conhecidas do repertório”, afirma o baterista João Barone. A sinergia de mais de três décadas de Herbert, Bi e João fica evidente logo nos primeiros minutos de entrevista à reportagem do Estado. “Você não vai perguntar por que escolhemos o nome Paralamas?”, brinca Herbert. Despojados como três meninos iniciantes, os Paralamas sabem que é difícil se reinventar, principalmente depois de tanto tempo na estrada. No ano passado, lançaram a caixa Os Paralamas do Sucesso 1983-2015 para celebrar os 30 anos de carreira. Aniversário completado, na verdade, em 2013. O material, no entanto, atrasou dois anos.

Banda fará 3 apresentações em fevereiro nos dias 19, 20 e 21 Foto: Mauro Pimentel|Estadão

Sobre os três shows em São Paulo, alguns arranjos e reajustes precisaram ser feitos na estrutura original das músicas. Desde 1986, o som dos Paralamas foi encorpado. Com João Fera no teclado, a sonoridade do grupo evoluiu. “É preciso preencher um pouco mais o som só com os três instrumentos - guitarra, baixo e bateria. O intuito é fazer que aquela canção seja logo identificada pelo público, apesar da diferença sonora mínima. Isso, claro, levando sempre em conta a nossa pegada. O chamado feeling que faz as veias saltarem”, diz Herbert. Barone confessa que as ideias musicais da banda não eram mais compatíveis com a performance crua, porém coesa, do então trio. “A gente se recorda que, nos últimos shows da turnê do disco Selvagem, estávamos no limite de tocar só com três pessoas na banda. Tínhamos ideias embrionárias de colocar mais gente e, em 1986, veio o João Fera no teclado. Dois anos depois, em 1988, colocamos um naipe de sopro. A partir daquele momento, portanto, a coisa foi crescendo”, diz Barone. Engana-se quem pensa que as três apresentações na capital paulista serão recheadas de hits. O set deve ser composto por músicas menos conhecidas do grande público. Sucessões e baladas darão lugar a composições importantes para os chamados fãs de carteirinha. “A gente não quer entregar o ouro do repertório. Tem um lado meio roleta-russa, de coisas que ainda não escolhemos. As músicas podem variar. Afinal, são três dias, três shows diferentes. Vai ser algo diferenciado e distinto. Trata-se de uma coisa diversificada, mas que faz parte do nosso legado como banda de rock. É um projeto artisticamente ambicioso”, conceitua o baterista. O baixista Bi Ribeiro também ressalta a importância da sincronia musical entre o trio veterano. “Quando você toca com três pessoas na banda, o papel de cada um triplica de proporção. A gente acaba se apoiando em nós mesmos para não deixar nenhum espaço em branco. Pode soar errado e nos prejudicar”, afirma. Se os clássicos não serão predominantes, os shows ganham um combustível extra com duas músicas inéditas. Ainda sem nome, as canções farão parte do novo disco do grupo, que também não tem data para ser lançado. O que se sabe, entretanto, é que Herbert, Bi e Barone já ensaiam novos projetos para o segundo semestre de 2016. “Teremos duas músicas novas, sim. Além delas, tem muito lado B, como Viernes 3 Am, Um Amor, Um Lugar e Fui Eu, que não tocamos há tempos. Esses shows também vão servir de laboratório para, posteriormente, fazermos em outros lugares do País”, fala Barone.Sujeira para todo lado. Os shows dos Paralamas na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, foram considerados por muitos o divisor de águas da carreira da banda. Chamado de última hora, o trio não teve tempo de construir o cenário, que foi decorado somente com um vaso de planta retirado dos camarins da Cidade do Rock. Mas isso não afetou o desempenho do grupo, que fez um dos shows mais enérgicos e politizados do festival. A banda acabou sendo considerada a grande revelação de um Rock in Rio que tinha AC/DC, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e James Taylor como principais atrações.  No dia anterior ao segundo show dos Paralamas - naquela edição do Rock in Rio, todas as bandas se apresentaram duas vezes - , Tancredo Neves havia sido anunciado como novo presidente da República, colocando fim a mais de 20 anos de ditadura militar. “A gente não sabia o que ia ser do Brasil dali para frente. Acho que ninguém sabia, na verdade. Mas tínhamos muita esperança”, lembra Bi.  Em 2015, 30 anos depois da emblemática apresentação no Rock in Rio, os Paralamas voltaram a se apresentar no festival. Na ocasião, antes de tocarem Que País É Este?, da Legião Urbana, João Barone fez um desabafo: “Trinta anos atrás, a gente estava acreditando num País melhor, Rock in Rio. O Brasil ainda pode dar certo”, afirmou em alto e bom som. Questionado sobre a frase, Barone é diplomático. “É terrível ter de reconhecer as condições adversas que estamos vivendo hoje em dia. Em contrapartida, é o País em que nascemos e onde nossos filhos moram. Precisamos ter esperança em alguma coisa. Caso contrário, terei de abrir uma barraquinha de churros em Montevidéu, no Uruguai, que, para mim, é o país mais civilizado da América do Sul”, brinca Barone. “É difícil você ver no dia a dia, em uma cidade como o Rio de Janeiro, a amplitude das diferenças. Temos uma classe média de consumismo desenfreado e, do outro lado, um trabalhador que pega a fila do ônibus todos os dias. O contraste social é desumano”, conclui Herbert Vianna.

PARALAMAS Teatro J. Safra. Rua Josef Kryss, 318, tel. 3611-3042. 6ª (19) e sáb. (20), 21h30. Dom. (21), 20h30. R$ 50/R$ 220  

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