No recado que enviou para o Estadão na última sexta-feira, dia 4, a cantora Marisa Monte, 54 anos, disse que estava com saudades dos palcos, espaço que ela frequenta desde os 19 anos de idade. Depois de adiar a estreia mundial prevista para janeiro em função da covid – ela e alguns músicos foram contaminados – Marisa, enfim, mostrou a turnê Portas para o público.
Em um roteiro de mais de 30 canções, o show trouxe grandes sucessos da carreira da cantora, além de parte do repertório do álbum homônimo, lançado em julho de 2021.
O que poderia ser um grande problema – afinal, músicas como Maria de Verdade, Beija Eu e Velha Infância, por serem grandes hits, daqueles que levantam a plateia, poderiam tirar o brilho das novas canções. Entretanto, não foi isso o que aconteceu.
As novas A Língua dos Animais, Calma, Pra Melhorar e Déjà Vu, por exemplo, foram muito bem recebidas pelo público que lotou a casa de show Espaço das Américas, na Barra Funda, onde Marisa ainda se apresenta ainda neste sábado, no próximo fim de semana, dias 11 e 12, e, em julho, nos dias 21, 22 e 23.
Com a pegada pop que marca o trabalho da cantora, o show abriu espaço para o samba, outro gênero em que Marisa tem intimidade, em números como Preciso Me Encontrar, de Candeia, que ela, de certa forma, revitalizou quando a incluiu em seu álbum MM, de 1989, além de Elegante Amanhecer, parceria de Marisa e Pretinho da Serrinha em homenagem à Portela, escola de samba de Marisa, que foi sucedida por Lenda das Sereias, samba enredo da Império Serrano de 1976 que se tornou sucesso na voz da cantora.
Ao longo do show, Marisa fez questão de exaltar os músicos que a acompanham no palco: o baixista Dadi, ex- A Cor do Som, parceiro de longa data da cantora; o percussionista e compositor Pretinho da Serrinha, que nos últimos tempos tem marcado presença em discos de outros grande nomes, como Caetano Veloso e Maria Bethânia; Davi Moraes, a quem Marisa chamou de “conhecedor profundo das cordas”; Chico Brown, seu parceria no novo álbum, nos teclados e vocais; o baterista e produtor Pupillo, ex- Nação Zumbi; Antonio Neves, nos trombones e arranjos de metais, que teve seu som definido pela cantora como “ora percussivo, ora espacial”; Eduardo Santanna, no trompete e flugelhorn; e Lessa, na flauta e sax.
Com direção e concepção visual da própria Marisa, em parceria com Cláudio Torres e Batman Zavareze, Portas tem uma caixa cênica, concebida por Torres, que delimita o espaço do total do palco e na qual a cada música apresenta uma projeção diferente, sempre relevantes, criativas e de beleza visual - jamais cansativas para os olhos do público, como as por vezes oferecidas pelos telões de LED, tão comuns nas apresentações musicais atualmente.
No bis, Marisa trouxe a contundente de Comida, de Arnaldo Antunes, Marcelo Frommer e Sergio Britto, que, embora de seja de 1987, continua atual, Pra Melhorar, parceria dela com Seu Jorge e Flor, filha do compositor, que, de certa forma, traz esperança perante a dura mensagem da canção anterior, e a festiva Já Sei Namorar, de sua fase Tribalista ao lado de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
Em um segundo bis, Marisa fez com que seu primeiro sucesso, Bem Que Se Quis, de 1988, se fizesse presente.
Depois dessas primeiras apresentações em São Paulo, Marisa levará a turnê Portas para cidades americanas, como Nova York e Boston, e, ao voltar ao Brasil, passará por capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.
Na Europa, os shows em Lisboa e Porto, em Portugal, já estão confirmados. No Velho Continente, a propósito, a gravadora Sony Music lançou o álbum Portas em mídia física, algo que não aconteceu no Brasil, apesar do apelo dos fãs.