Como e quando ensinar música para crianças


Conversamos com professores, especialistas, pais - e as próprias crianças - para entender as vantagens do ensino de música e como a atividade pode ajudar nessa fase da vida

Por Damy Coelho
Atualização:
Alice, de 7 anos, toca bateria, enquanto Pina, de 9, canta e Gabriel, de 10, assume a guitarra em uma aula do curso de instrumentos Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Estamos nos preparando para entrevistar uma banda. Nada fora do habitual - se não fosse o fato os integrantes, que tocam de Cazuza a Red Hot Chilli Peppers terem, no máximo, 10 anos de idade.

Todos têm o mesmo entusiasmo pela música. No estúdio de ensaios, Alice, de 7 anos, posa atrás da bateria com as baquetas devidamente cruzadas em suas mãos, como espera-se de uma rockstar. Aos 9 anos, Pina, a vocalista, usa roupas coloridas e sua performance é inspirada nas divas pop. Na guitarra, está Gabriel. Aos 10 anos, ele conta que se sentiu “muito realizado” quando aprendeu a tocar Killing In The Name, do Rage Against The Machine. “E sou só uma criança!” - ele lembra, apesar da desenvoltura melhor que a de muitos adultos.

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Os integrantes dessa banda são alunos de uma escola de música voltada para crianças, na Zona Oeste de São Paulo.

Com a evolução teórica na área musical, muitos pais perceberam que a atividade, quando praticada na infância, ajuda no desenvolvimento pessoal, alivia a timidez e potencializa a memória - para além de ser uma opção extracurricular educativa e divertida.

Para todos

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Mas nem sempre o aprendizado musical foi visto com toda essa pompa - especialmente no caso de meninas. Até pouco tempo, aquelas que sonhavam em tocar um instrumento enfrentavam os mais diversos preconceitos.

Por isso, olhar para a banda do início da reportagem dá um certo alívio: hoje, elas fazem coro - e tocam guitarra, bateria.

Alice e Pina Arrigoni são irmãs. Na hora de escolher o instrumento, Alice optou pelo bumbo e baquetas - “adoro Black Sabbath e Rita Lee”- enquanto Pina quis imitar a performance de suas cantoras favoritas - “como a Larissa Manoela”, acrescenta ela.

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A música foi incentivada pelo pai, o empresário Rodrigo Arrigoni, que percebia uma pequena batucando tudo a sua volta, a outra, cantando pela casa. Vendo o talento e a vontade, decidiu matriculá-las no curso.

O que mais gosto de tocar bateria é poder bater nas coisas sem ficar de castigo

Alice, 7 anos

Profissionais concordam que estímulo à música pode vir de casa. O professor da School Of Rock, Robson Sidrim, percebe que os pais já gostam de música, mas também veem na criança uma aptidão. Na foto, as irmãs, Pina e Alice, com o pai, Rodrigo Foto: alex silva/estadão
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Para além das vantagens cognitivas, a música aproxima esses pais e filhos. A empolgação das meninas com as aulas inspirou Rodrigo, que decidiu aprender guitarra para acompanhar as pupilas.

O mesmo aconteceu com o pai de Gabriel, Ricardo Riedo Coutinho, que entrou para a aula de baixo após ver a evolução do filho. A escolha do instrumento foi estratégica.

“Quero montar uma banda com meu pequeno”

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Enquanto ouviam juntos bandas como Guns N’ Roses e AC/DC, Ricardo notava o interesse de Gabriel pelo instrumento, mas também percebia a insegurança do filho.

“Eu achava legal guitarra”, me conta Gabriel, “mas pensava que era melhor ‘deixar para os profissionais’. Foi meu pai que me incentivou a aprender.”

Hoje, o cenário é outro: “O Gabriel já tira de ouvido as músicas que quer tocar”, diz Ricardo, orgulhoso.

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Para eles, a música é mais que um hobby, é também escape para a timidez. Subir no palco vira diversão: “Desde a adolescência, a música me ajuda. E agora, está ajudando ele”, observa Ricardo.

Gabriel com o pai, Ricardo Riedo Coutinho, e a mãe Fabiana Linhares Murini: incentivo da família é fundamental Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Quando começar?

Tendo em vista as vantagens, é hora da parte prática: qual o melhor momento para iniciar o aprendizado musical? Para especialistas consultados pelo Estadão, quanto mais cedo, melhor. “A música ativa de forma única os dois hemisférios do cérebro. Quanto antes forem estimulados, mais se desenvolverão”, explica Sylvia Leticia Guida Lima, analista da Gerência de Cultura do Sesc.

A psicanalista Clarissa Sodano Ribeiro acrescenta que bebês já têm os sentidos aguçados por meio dos sons. Eles já produzem movimentos espontâneos em resposta à música, mas não apresentam regularidade e precisão - o que passa a ser desenvolvido a partir do segundo ano de vida, como aponta Margareth Darezzo, arte-educadora, escritora e professora de música.

Margareth dá aulas de ensino musical para bebês Foto: Divulgação / Acervo Pessoal Margareth Darezzo

Ela acrescenta que as seculares brincadeiras de roda também servem de inspiração lúdica para as atividades com bebês.

O importante, para os especialistas, é que o ensino se apoie em metodologias consolidadas, aliando diversão e prática. Isso porque música também ensina noções de responsabilidade, memória, desperta as emoções e ajuda na cooperação entre o grupo.

Sobre a instrumentalização, os profissionais concordam que a atividade pode esperar um pouco mais - especialmente, a partir dos 7 anos. “Nessa idade, a criança já apresenta uma melhora gradativa na sincronização motora”, aponta Margareth. Além disso, os pais devem ficar atentos para a anatomia das crianças e o tamanho dos instrumentos.

Na hora de escolher

O professor titular da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Kater, alerta para métodos que prometem “milagres” no aprendizado, pois podem apressar um processo que exige paciência e repetição, não trazendo os resultados desejados - e, às vezes, até desestimulando os alunos. “As crianças merecem desenvolver essas habilidades com respeito, vivenciando a música” diz.

O músico e professor Robson Sidrim acrescenta que é preciso mostrar para os responsáveis que o aprendizado é um processo. “Exige continuidade e pode demorar um pouco”, explica.

Para pais que queiram investir em um curso, há instituições que oferecem ensino para crianças ao redor do País, como a School Of Rock e o Sesc, com aulas voltados para crianças a partir de 3 anos. Escolas como o Instituto Baccareli, na Cidade Nova Heliópolis, em São Paulo, oferecem ensino musical para jovens vulneráveis. O número de escolas com aulas voltadas para o bebês também vem crescendo nos últimos anos.

Carlos lembra que não é preciso um investimento alto para o aprendizado musical: garrafas d’água e canos de PVC podem tirar um som e colocar a criança em contato com ritmos.

Rockstars mirins em ação: Gabriel toca guitarra, Alice, bateria e Pina assume os vocais Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Orquestra e MPB

Bento Arades faz parte da Orquestra Jovem do Sesc, no Pantanal (MT) Foto: Sesc / Divulgação

Além dos “rockstars”, a lista de músicos mirins também inclui aqueles que se encontraram nos instrumentos eruditos. O mato-grossense Bento Aredes, de 11 anos, toca flauta na Orquestra Jovem do Sesc, em um projeto voltado majoritariamente para jovens socialmente vulneráveis. “O que eu mais gosto das aulas é ver minha evolução e o som que consigo fazer com o instrumento”, conta.

Para esses alunos, o ensino de música vai além da diversão, tornando-se também oportunidade para o desenvolvimento social.

Bento já vê seu futuro na música: quer ser professor de choro. Apaixonado por MPB, tem em Luiz Gonzaga sua maior inspiração.

“Se eu pudesse voltar para o passado, eu teria o maior prazer em tocar para o Luiz Gonzaga.”

Bento Aredes, de 11 anos

Independente do instrumento, o importante é ter música como auxiliar no processo de aprendizagem, ajudando a despertar um olhar inicial para a arte e - por que não? - a realizar sonhos.

Gabriel, que hoje toca as músicas favoritas na guitarra, finaliza o nosso papo com um conselho: “Se você quer muito, vai pra cima e tenta. Se não conseguir, tenta de novo!”. Um recado que vale para o aprendizado de música, mas também para qualquer sonho que habite a mente de uma criança.

Alice, de 7 anos, toca bateria, enquanto Pina, de 9, canta e Gabriel, de 10, assume a guitarra em uma aula do curso de instrumentos Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Estamos nos preparando para entrevistar uma banda. Nada fora do habitual - se não fosse o fato os integrantes, que tocam de Cazuza a Red Hot Chilli Peppers terem, no máximo, 10 anos de idade.

Todos têm o mesmo entusiasmo pela música. No estúdio de ensaios, Alice, de 7 anos, posa atrás da bateria com as baquetas devidamente cruzadas em suas mãos, como espera-se de uma rockstar. Aos 9 anos, Pina, a vocalista, usa roupas coloridas e sua performance é inspirada nas divas pop. Na guitarra, está Gabriel. Aos 10 anos, ele conta que se sentiu “muito realizado” quando aprendeu a tocar Killing In The Name, do Rage Against The Machine. “E sou só uma criança!” - ele lembra, apesar da desenvoltura melhor que a de muitos adultos.

Os integrantes dessa banda são alunos de uma escola de música voltada para crianças, na Zona Oeste de São Paulo.

Com a evolução teórica na área musical, muitos pais perceberam que a atividade, quando praticada na infância, ajuda no desenvolvimento pessoal, alivia a timidez e potencializa a memória - para além de ser uma opção extracurricular educativa e divertida.

Para todos

Mas nem sempre o aprendizado musical foi visto com toda essa pompa - especialmente no caso de meninas. Até pouco tempo, aquelas que sonhavam em tocar um instrumento enfrentavam os mais diversos preconceitos.

Por isso, olhar para a banda do início da reportagem dá um certo alívio: hoje, elas fazem coro - e tocam guitarra, bateria.

Alice e Pina Arrigoni são irmãs. Na hora de escolher o instrumento, Alice optou pelo bumbo e baquetas - “adoro Black Sabbath e Rita Lee”- enquanto Pina quis imitar a performance de suas cantoras favoritas - “como a Larissa Manoela”, acrescenta ela.

A música foi incentivada pelo pai, o empresário Rodrigo Arrigoni, que percebia uma pequena batucando tudo a sua volta, a outra, cantando pela casa. Vendo o talento e a vontade, decidiu matriculá-las no curso.

O que mais gosto de tocar bateria é poder bater nas coisas sem ficar de castigo

Alice, 7 anos

Profissionais concordam que estímulo à música pode vir de casa. O professor da School Of Rock, Robson Sidrim, percebe que os pais já gostam de música, mas também veem na criança uma aptidão. Na foto, as irmãs, Pina e Alice, com o pai, Rodrigo Foto: alex silva/estadão

Para além das vantagens cognitivas, a música aproxima esses pais e filhos. A empolgação das meninas com as aulas inspirou Rodrigo, que decidiu aprender guitarra para acompanhar as pupilas.

O mesmo aconteceu com o pai de Gabriel, Ricardo Riedo Coutinho, que entrou para a aula de baixo após ver a evolução do filho. A escolha do instrumento foi estratégica.

“Quero montar uma banda com meu pequeno”

Enquanto ouviam juntos bandas como Guns N’ Roses e AC/DC, Ricardo notava o interesse de Gabriel pelo instrumento, mas também percebia a insegurança do filho.

“Eu achava legal guitarra”, me conta Gabriel, “mas pensava que era melhor ‘deixar para os profissionais’. Foi meu pai que me incentivou a aprender.”

Hoje, o cenário é outro: “O Gabriel já tira de ouvido as músicas que quer tocar”, diz Ricardo, orgulhoso.

Para eles, a música é mais que um hobby, é também escape para a timidez. Subir no palco vira diversão: “Desde a adolescência, a música me ajuda. E agora, está ajudando ele”, observa Ricardo.

Gabriel com o pai, Ricardo Riedo Coutinho, e a mãe Fabiana Linhares Murini: incentivo da família é fundamental Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Quando começar?

Tendo em vista as vantagens, é hora da parte prática: qual o melhor momento para iniciar o aprendizado musical? Para especialistas consultados pelo Estadão, quanto mais cedo, melhor. “A música ativa de forma única os dois hemisférios do cérebro. Quanto antes forem estimulados, mais se desenvolverão”, explica Sylvia Leticia Guida Lima, analista da Gerência de Cultura do Sesc.

A psicanalista Clarissa Sodano Ribeiro acrescenta que bebês já têm os sentidos aguçados por meio dos sons. Eles já produzem movimentos espontâneos em resposta à música, mas não apresentam regularidade e precisão - o que passa a ser desenvolvido a partir do segundo ano de vida, como aponta Margareth Darezzo, arte-educadora, escritora e professora de música.

Margareth dá aulas de ensino musical para bebês Foto: Divulgação / Acervo Pessoal Margareth Darezzo

Ela acrescenta que as seculares brincadeiras de roda também servem de inspiração lúdica para as atividades com bebês.

O importante, para os especialistas, é que o ensino se apoie em metodologias consolidadas, aliando diversão e prática. Isso porque música também ensina noções de responsabilidade, memória, desperta as emoções e ajuda na cooperação entre o grupo.

Sobre a instrumentalização, os profissionais concordam que a atividade pode esperar um pouco mais - especialmente, a partir dos 7 anos. “Nessa idade, a criança já apresenta uma melhora gradativa na sincronização motora”, aponta Margareth. Além disso, os pais devem ficar atentos para a anatomia das crianças e o tamanho dos instrumentos.

Na hora de escolher

O professor titular da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Kater, alerta para métodos que prometem “milagres” no aprendizado, pois podem apressar um processo que exige paciência e repetição, não trazendo os resultados desejados - e, às vezes, até desestimulando os alunos. “As crianças merecem desenvolver essas habilidades com respeito, vivenciando a música” diz.

O músico e professor Robson Sidrim acrescenta que é preciso mostrar para os responsáveis que o aprendizado é um processo. “Exige continuidade e pode demorar um pouco”, explica.

Para pais que queiram investir em um curso, há instituições que oferecem ensino para crianças ao redor do País, como a School Of Rock e o Sesc, com aulas voltados para crianças a partir de 3 anos. Escolas como o Instituto Baccareli, na Cidade Nova Heliópolis, em São Paulo, oferecem ensino musical para jovens vulneráveis. O número de escolas com aulas voltadas para o bebês também vem crescendo nos últimos anos.

Carlos lembra que não é preciso um investimento alto para o aprendizado musical: garrafas d’água e canos de PVC podem tirar um som e colocar a criança em contato com ritmos.

Rockstars mirins em ação: Gabriel toca guitarra, Alice, bateria e Pina assume os vocais Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Orquestra e MPB

Bento Arades faz parte da Orquestra Jovem do Sesc, no Pantanal (MT) Foto: Sesc / Divulgação

Além dos “rockstars”, a lista de músicos mirins também inclui aqueles que se encontraram nos instrumentos eruditos. O mato-grossense Bento Aredes, de 11 anos, toca flauta na Orquestra Jovem do Sesc, em um projeto voltado majoritariamente para jovens socialmente vulneráveis. “O que eu mais gosto das aulas é ver minha evolução e o som que consigo fazer com o instrumento”, conta.

Para esses alunos, o ensino de música vai além da diversão, tornando-se também oportunidade para o desenvolvimento social.

Bento já vê seu futuro na música: quer ser professor de choro. Apaixonado por MPB, tem em Luiz Gonzaga sua maior inspiração.

“Se eu pudesse voltar para o passado, eu teria o maior prazer em tocar para o Luiz Gonzaga.”

Bento Aredes, de 11 anos

Independente do instrumento, o importante é ter música como auxiliar no processo de aprendizagem, ajudando a despertar um olhar inicial para a arte e - por que não? - a realizar sonhos.

Gabriel, que hoje toca as músicas favoritas na guitarra, finaliza o nosso papo com um conselho: “Se você quer muito, vai pra cima e tenta. Se não conseguir, tenta de novo!”. Um recado que vale para o aprendizado de música, mas também para qualquer sonho que habite a mente de uma criança.

Alice, de 7 anos, toca bateria, enquanto Pina, de 9, canta e Gabriel, de 10, assume a guitarra em uma aula do curso de instrumentos Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Estamos nos preparando para entrevistar uma banda. Nada fora do habitual - se não fosse o fato os integrantes, que tocam de Cazuza a Red Hot Chilli Peppers terem, no máximo, 10 anos de idade.

Todos têm o mesmo entusiasmo pela música. No estúdio de ensaios, Alice, de 7 anos, posa atrás da bateria com as baquetas devidamente cruzadas em suas mãos, como espera-se de uma rockstar. Aos 9 anos, Pina, a vocalista, usa roupas coloridas e sua performance é inspirada nas divas pop. Na guitarra, está Gabriel. Aos 10 anos, ele conta que se sentiu “muito realizado” quando aprendeu a tocar Killing In The Name, do Rage Against The Machine. “E sou só uma criança!” - ele lembra, apesar da desenvoltura melhor que a de muitos adultos.

Os integrantes dessa banda são alunos de uma escola de música voltada para crianças, na Zona Oeste de São Paulo.

Com a evolução teórica na área musical, muitos pais perceberam que a atividade, quando praticada na infância, ajuda no desenvolvimento pessoal, alivia a timidez e potencializa a memória - para além de ser uma opção extracurricular educativa e divertida.

Para todos

Mas nem sempre o aprendizado musical foi visto com toda essa pompa - especialmente no caso de meninas. Até pouco tempo, aquelas que sonhavam em tocar um instrumento enfrentavam os mais diversos preconceitos.

Por isso, olhar para a banda do início da reportagem dá um certo alívio: hoje, elas fazem coro - e tocam guitarra, bateria.

Alice e Pina Arrigoni são irmãs. Na hora de escolher o instrumento, Alice optou pelo bumbo e baquetas - “adoro Black Sabbath e Rita Lee”- enquanto Pina quis imitar a performance de suas cantoras favoritas - “como a Larissa Manoela”, acrescenta ela.

A música foi incentivada pelo pai, o empresário Rodrigo Arrigoni, que percebia uma pequena batucando tudo a sua volta, a outra, cantando pela casa. Vendo o talento e a vontade, decidiu matriculá-las no curso.

O que mais gosto de tocar bateria é poder bater nas coisas sem ficar de castigo

Alice, 7 anos

Profissionais concordam que estímulo à música pode vir de casa. O professor da School Of Rock, Robson Sidrim, percebe que os pais já gostam de música, mas também veem na criança uma aptidão. Na foto, as irmãs, Pina e Alice, com o pai, Rodrigo Foto: alex silva/estadão

Para além das vantagens cognitivas, a música aproxima esses pais e filhos. A empolgação das meninas com as aulas inspirou Rodrigo, que decidiu aprender guitarra para acompanhar as pupilas.

O mesmo aconteceu com o pai de Gabriel, Ricardo Riedo Coutinho, que entrou para a aula de baixo após ver a evolução do filho. A escolha do instrumento foi estratégica.

“Quero montar uma banda com meu pequeno”

Enquanto ouviam juntos bandas como Guns N’ Roses e AC/DC, Ricardo notava o interesse de Gabriel pelo instrumento, mas também percebia a insegurança do filho.

“Eu achava legal guitarra”, me conta Gabriel, “mas pensava que era melhor ‘deixar para os profissionais’. Foi meu pai que me incentivou a aprender.”

Hoje, o cenário é outro: “O Gabriel já tira de ouvido as músicas que quer tocar”, diz Ricardo, orgulhoso.

Para eles, a música é mais que um hobby, é também escape para a timidez. Subir no palco vira diversão: “Desde a adolescência, a música me ajuda. E agora, está ajudando ele”, observa Ricardo.

Gabriel com o pai, Ricardo Riedo Coutinho, e a mãe Fabiana Linhares Murini: incentivo da família é fundamental Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Quando começar?

Tendo em vista as vantagens, é hora da parte prática: qual o melhor momento para iniciar o aprendizado musical? Para especialistas consultados pelo Estadão, quanto mais cedo, melhor. “A música ativa de forma única os dois hemisférios do cérebro. Quanto antes forem estimulados, mais se desenvolverão”, explica Sylvia Leticia Guida Lima, analista da Gerência de Cultura do Sesc.

A psicanalista Clarissa Sodano Ribeiro acrescenta que bebês já têm os sentidos aguçados por meio dos sons. Eles já produzem movimentos espontâneos em resposta à música, mas não apresentam regularidade e precisão - o que passa a ser desenvolvido a partir do segundo ano de vida, como aponta Margareth Darezzo, arte-educadora, escritora e professora de música.

Margareth dá aulas de ensino musical para bebês Foto: Divulgação / Acervo Pessoal Margareth Darezzo

Ela acrescenta que as seculares brincadeiras de roda também servem de inspiração lúdica para as atividades com bebês.

O importante, para os especialistas, é que o ensino se apoie em metodologias consolidadas, aliando diversão e prática. Isso porque música também ensina noções de responsabilidade, memória, desperta as emoções e ajuda na cooperação entre o grupo.

Sobre a instrumentalização, os profissionais concordam que a atividade pode esperar um pouco mais - especialmente, a partir dos 7 anos. “Nessa idade, a criança já apresenta uma melhora gradativa na sincronização motora”, aponta Margareth. Além disso, os pais devem ficar atentos para a anatomia das crianças e o tamanho dos instrumentos.

Na hora de escolher

O professor titular da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Kater, alerta para métodos que prometem “milagres” no aprendizado, pois podem apressar um processo que exige paciência e repetição, não trazendo os resultados desejados - e, às vezes, até desestimulando os alunos. “As crianças merecem desenvolver essas habilidades com respeito, vivenciando a música” diz.

O músico e professor Robson Sidrim acrescenta que é preciso mostrar para os responsáveis que o aprendizado é um processo. “Exige continuidade e pode demorar um pouco”, explica.

Para pais que queiram investir em um curso, há instituições que oferecem ensino para crianças ao redor do País, como a School Of Rock e o Sesc, com aulas voltados para crianças a partir de 3 anos. Escolas como o Instituto Baccareli, na Cidade Nova Heliópolis, em São Paulo, oferecem ensino musical para jovens vulneráveis. O número de escolas com aulas voltadas para o bebês também vem crescendo nos últimos anos.

Carlos lembra que não é preciso um investimento alto para o aprendizado musical: garrafas d’água e canos de PVC podem tirar um som e colocar a criança em contato com ritmos.

Rockstars mirins em ação: Gabriel toca guitarra, Alice, bateria e Pina assume os vocais Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Orquestra e MPB

Bento Arades faz parte da Orquestra Jovem do Sesc, no Pantanal (MT) Foto: Sesc / Divulgação

Além dos “rockstars”, a lista de músicos mirins também inclui aqueles que se encontraram nos instrumentos eruditos. O mato-grossense Bento Aredes, de 11 anos, toca flauta na Orquestra Jovem do Sesc, em um projeto voltado majoritariamente para jovens socialmente vulneráveis. “O que eu mais gosto das aulas é ver minha evolução e o som que consigo fazer com o instrumento”, conta.

Para esses alunos, o ensino de música vai além da diversão, tornando-se também oportunidade para o desenvolvimento social.

Bento já vê seu futuro na música: quer ser professor de choro. Apaixonado por MPB, tem em Luiz Gonzaga sua maior inspiração.

“Se eu pudesse voltar para o passado, eu teria o maior prazer em tocar para o Luiz Gonzaga.”

Bento Aredes, de 11 anos

Independente do instrumento, o importante é ter música como auxiliar no processo de aprendizagem, ajudando a despertar um olhar inicial para a arte e - por que não? - a realizar sonhos.

Gabriel, que hoje toca as músicas favoritas na guitarra, finaliza o nosso papo com um conselho: “Se você quer muito, vai pra cima e tenta. Se não conseguir, tenta de novo!”. Um recado que vale para o aprendizado de música, mas também para qualquer sonho que habite a mente de uma criança.

Alice, de 7 anos, toca bateria, enquanto Pina, de 9, canta e Gabriel, de 10, assume a guitarra em uma aula do curso de instrumentos Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Estamos nos preparando para entrevistar uma banda. Nada fora do habitual - se não fosse o fato os integrantes, que tocam de Cazuza a Red Hot Chilli Peppers terem, no máximo, 10 anos de idade.

Todos têm o mesmo entusiasmo pela música. No estúdio de ensaios, Alice, de 7 anos, posa atrás da bateria com as baquetas devidamente cruzadas em suas mãos, como espera-se de uma rockstar. Aos 9 anos, Pina, a vocalista, usa roupas coloridas e sua performance é inspirada nas divas pop. Na guitarra, está Gabriel. Aos 10 anos, ele conta que se sentiu “muito realizado” quando aprendeu a tocar Killing In The Name, do Rage Against The Machine. “E sou só uma criança!” - ele lembra, apesar da desenvoltura melhor que a de muitos adultos.

Os integrantes dessa banda são alunos de uma escola de música voltada para crianças, na Zona Oeste de São Paulo.

Com a evolução teórica na área musical, muitos pais perceberam que a atividade, quando praticada na infância, ajuda no desenvolvimento pessoal, alivia a timidez e potencializa a memória - para além de ser uma opção extracurricular educativa e divertida.

Para todos

Mas nem sempre o aprendizado musical foi visto com toda essa pompa - especialmente no caso de meninas. Até pouco tempo, aquelas que sonhavam em tocar um instrumento enfrentavam os mais diversos preconceitos.

Por isso, olhar para a banda do início da reportagem dá um certo alívio: hoje, elas fazem coro - e tocam guitarra, bateria.

Alice e Pina Arrigoni são irmãs. Na hora de escolher o instrumento, Alice optou pelo bumbo e baquetas - “adoro Black Sabbath e Rita Lee”- enquanto Pina quis imitar a performance de suas cantoras favoritas - “como a Larissa Manoela”, acrescenta ela.

A música foi incentivada pelo pai, o empresário Rodrigo Arrigoni, que percebia uma pequena batucando tudo a sua volta, a outra, cantando pela casa. Vendo o talento e a vontade, decidiu matriculá-las no curso.

O que mais gosto de tocar bateria é poder bater nas coisas sem ficar de castigo

Alice, 7 anos

Profissionais concordam que estímulo à música pode vir de casa. O professor da School Of Rock, Robson Sidrim, percebe que os pais já gostam de música, mas também veem na criança uma aptidão. Na foto, as irmãs, Pina e Alice, com o pai, Rodrigo Foto: alex silva/estadão

Para além das vantagens cognitivas, a música aproxima esses pais e filhos. A empolgação das meninas com as aulas inspirou Rodrigo, que decidiu aprender guitarra para acompanhar as pupilas.

O mesmo aconteceu com o pai de Gabriel, Ricardo Riedo Coutinho, que entrou para a aula de baixo após ver a evolução do filho. A escolha do instrumento foi estratégica.

“Quero montar uma banda com meu pequeno”

Enquanto ouviam juntos bandas como Guns N’ Roses e AC/DC, Ricardo notava o interesse de Gabriel pelo instrumento, mas também percebia a insegurança do filho.

“Eu achava legal guitarra”, me conta Gabriel, “mas pensava que era melhor ‘deixar para os profissionais’. Foi meu pai que me incentivou a aprender.”

Hoje, o cenário é outro: “O Gabriel já tira de ouvido as músicas que quer tocar”, diz Ricardo, orgulhoso.

Para eles, a música é mais que um hobby, é também escape para a timidez. Subir no palco vira diversão: “Desde a adolescência, a música me ajuda. E agora, está ajudando ele”, observa Ricardo.

Gabriel com o pai, Ricardo Riedo Coutinho, e a mãe Fabiana Linhares Murini: incentivo da família é fundamental Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Quando começar?

Tendo em vista as vantagens, é hora da parte prática: qual o melhor momento para iniciar o aprendizado musical? Para especialistas consultados pelo Estadão, quanto mais cedo, melhor. “A música ativa de forma única os dois hemisférios do cérebro. Quanto antes forem estimulados, mais se desenvolverão”, explica Sylvia Leticia Guida Lima, analista da Gerência de Cultura do Sesc.

A psicanalista Clarissa Sodano Ribeiro acrescenta que bebês já têm os sentidos aguçados por meio dos sons. Eles já produzem movimentos espontâneos em resposta à música, mas não apresentam regularidade e precisão - o que passa a ser desenvolvido a partir do segundo ano de vida, como aponta Margareth Darezzo, arte-educadora, escritora e professora de música.

Margareth dá aulas de ensino musical para bebês Foto: Divulgação / Acervo Pessoal Margareth Darezzo

Ela acrescenta que as seculares brincadeiras de roda também servem de inspiração lúdica para as atividades com bebês.

O importante, para os especialistas, é que o ensino se apoie em metodologias consolidadas, aliando diversão e prática. Isso porque música também ensina noções de responsabilidade, memória, desperta as emoções e ajuda na cooperação entre o grupo.

Sobre a instrumentalização, os profissionais concordam que a atividade pode esperar um pouco mais - especialmente, a partir dos 7 anos. “Nessa idade, a criança já apresenta uma melhora gradativa na sincronização motora”, aponta Margareth. Além disso, os pais devem ficar atentos para a anatomia das crianças e o tamanho dos instrumentos.

Na hora de escolher

O professor titular da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Kater, alerta para métodos que prometem “milagres” no aprendizado, pois podem apressar um processo que exige paciência e repetição, não trazendo os resultados desejados - e, às vezes, até desestimulando os alunos. “As crianças merecem desenvolver essas habilidades com respeito, vivenciando a música” diz.

O músico e professor Robson Sidrim acrescenta que é preciso mostrar para os responsáveis que o aprendizado é um processo. “Exige continuidade e pode demorar um pouco”, explica.

Para pais que queiram investir em um curso, há instituições que oferecem ensino para crianças ao redor do País, como a School Of Rock e o Sesc, com aulas voltados para crianças a partir de 3 anos. Escolas como o Instituto Baccareli, na Cidade Nova Heliópolis, em São Paulo, oferecem ensino musical para jovens vulneráveis. O número de escolas com aulas voltadas para o bebês também vem crescendo nos últimos anos.

Carlos lembra que não é preciso um investimento alto para o aprendizado musical: garrafas d’água e canos de PVC podem tirar um som e colocar a criança em contato com ritmos.

Rockstars mirins em ação: Gabriel toca guitarra, Alice, bateria e Pina assume os vocais Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Orquestra e MPB

Bento Arades faz parte da Orquestra Jovem do Sesc, no Pantanal (MT) Foto: Sesc / Divulgação

Além dos “rockstars”, a lista de músicos mirins também inclui aqueles que se encontraram nos instrumentos eruditos. O mato-grossense Bento Aredes, de 11 anos, toca flauta na Orquestra Jovem do Sesc, em um projeto voltado majoritariamente para jovens socialmente vulneráveis. “O que eu mais gosto das aulas é ver minha evolução e o som que consigo fazer com o instrumento”, conta.

Para esses alunos, o ensino de música vai além da diversão, tornando-se também oportunidade para o desenvolvimento social.

Bento já vê seu futuro na música: quer ser professor de choro. Apaixonado por MPB, tem em Luiz Gonzaga sua maior inspiração.

“Se eu pudesse voltar para o passado, eu teria o maior prazer em tocar para o Luiz Gonzaga.”

Bento Aredes, de 11 anos

Independente do instrumento, o importante é ter música como auxiliar no processo de aprendizagem, ajudando a despertar um olhar inicial para a arte e - por que não? - a realizar sonhos.

Gabriel, que hoje toca as músicas favoritas na guitarra, finaliza o nosso papo com um conselho: “Se você quer muito, vai pra cima e tenta. Se não conseguir, tenta de novo!”. Um recado que vale para o aprendizado de música, mas também para qualquer sonho que habite a mente de uma criança.

Alice, de 7 anos, toca bateria, enquanto Pina, de 9, canta e Gabriel, de 10, assume a guitarra em uma aula do curso de instrumentos Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Estamos nos preparando para entrevistar uma banda. Nada fora do habitual - se não fosse o fato os integrantes, que tocam de Cazuza a Red Hot Chilli Peppers terem, no máximo, 10 anos de idade.

Todos têm o mesmo entusiasmo pela música. No estúdio de ensaios, Alice, de 7 anos, posa atrás da bateria com as baquetas devidamente cruzadas em suas mãos, como espera-se de uma rockstar. Aos 9 anos, Pina, a vocalista, usa roupas coloridas e sua performance é inspirada nas divas pop. Na guitarra, está Gabriel. Aos 10 anos, ele conta que se sentiu “muito realizado” quando aprendeu a tocar Killing In The Name, do Rage Against The Machine. “E sou só uma criança!” - ele lembra, apesar da desenvoltura melhor que a de muitos adultos.

Os integrantes dessa banda são alunos de uma escola de música voltada para crianças, na Zona Oeste de São Paulo.

Com a evolução teórica na área musical, muitos pais perceberam que a atividade, quando praticada na infância, ajuda no desenvolvimento pessoal, alivia a timidez e potencializa a memória - para além de ser uma opção extracurricular educativa e divertida.

Para todos

Mas nem sempre o aprendizado musical foi visto com toda essa pompa - especialmente no caso de meninas. Até pouco tempo, aquelas que sonhavam em tocar um instrumento enfrentavam os mais diversos preconceitos.

Por isso, olhar para a banda do início da reportagem dá um certo alívio: hoje, elas fazem coro - e tocam guitarra, bateria.

Alice e Pina Arrigoni são irmãs. Na hora de escolher o instrumento, Alice optou pelo bumbo e baquetas - “adoro Black Sabbath e Rita Lee”- enquanto Pina quis imitar a performance de suas cantoras favoritas - “como a Larissa Manoela”, acrescenta ela.

A música foi incentivada pelo pai, o empresário Rodrigo Arrigoni, que percebia uma pequena batucando tudo a sua volta, a outra, cantando pela casa. Vendo o talento e a vontade, decidiu matriculá-las no curso.

O que mais gosto de tocar bateria é poder bater nas coisas sem ficar de castigo

Alice, 7 anos

Profissionais concordam que estímulo à música pode vir de casa. O professor da School Of Rock, Robson Sidrim, percebe que os pais já gostam de música, mas também veem na criança uma aptidão. Na foto, as irmãs, Pina e Alice, com o pai, Rodrigo Foto: alex silva/estadão

Para além das vantagens cognitivas, a música aproxima esses pais e filhos. A empolgação das meninas com as aulas inspirou Rodrigo, que decidiu aprender guitarra para acompanhar as pupilas.

O mesmo aconteceu com o pai de Gabriel, Ricardo Riedo Coutinho, que entrou para a aula de baixo após ver a evolução do filho. A escolha do instrumento foi estratégica.

“Quero montar uma banda com meu pequeno”

Enquanto ouviam juntos bandas como Guns N’ Roses e AC/DC, Ricardo notava o interesse de Gabriel pelo instrumento, mas também percebia a insegurança do filho.

“Eu achava legal guitarra”, me conta Gabriel, “mas pensava que era melhor ‘deixar para os profissionais’. Foi meu pai que me incentivou a aprender.”

Hoje, o cenário é outro: “O Gabriel já tira de ouvido as músicas que quer tocar”, diz Ricardo, orgulhoso.

Para eles, a música é mais que um hobby, é também escape para a timidez. Subir no palco vira diversão: “Desde a adolescência, a música me ajuda. E agora, está ajudando ele”, observa Ricardo.

Gabriel com o pai, Ricardo Riedo Coutinho, e a mãe Fabiana Linhares Murini: incentivo da família é fundamental Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Quando começar?

Tendo em vista as vantagens, é hora da parte prática: qual o melhor momento para iniciar o aprendizado musical? Para especialistas consultados pelo Estadão, quanto mais cedo, melhor. “A música ativa de forma única os dois hemisférios do cérebro. Quanto antes forem estimulados, mais se desenvolverão”, explica Sylvia Leticia Guida Lima, analista da Gerência de Cultura do Sesc.

A psicanalista Clarissa Sodano Ribeiro acrescenta que bebês já têm os sentidos aguçados por meio dos sons. Eles já produzem movimentos espontâneos em resposta à música, mas não apresentam regularidade e precisão - o que passa a ser desenvolvido a partir do segundo ano de vida, como aponta Margareth Darezzo, arte-educadora, escritora e professora de música.

Margareth dá aulas de ensino musical para bebês Foto: Divulgação / Acervo Pessoal Margareth Darezzo

Ela acrescenta que as seculares brincadeiras de roda também servem de inspiração lúdica para as atividades com bebês.

O importante, para os especialistas, é que o ensino se apoie em metodologias consolidadas, aliando diversão e prática. Isso porque música também ensina noções de responsabilidade, memória, desperta as emoções e ajuda na cooperação entre o grupo.

Sobre a instrumentalização, os profissionais concordam que a atividade pode esperar um pouco mais - especialmente, a partir dos 7 anos. “Nessa idade, a criança já apresenta uma melhora gradativa na sincronização motora”, aponta Margareth. Além disso, os pais devem ficar atentos para a anatomia das crianças e o tamanho dos instrumentos.

Na hora de escolher

O professor titular da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Kater, alerta para métodos que prometem “milagres” no aprendizado, pois podem apressar um processo que exige paciência e repetição, não trazendo os resultados desejados - e, às vezes, até desestimulando os alunos. “As crianças merecem desenvolver essas habilidades com respeito, vivenciando a música” diz.

O músico e professor Robson Sidrim acrescenta que é preciso mostrar para os responsáveis que o aprendizado é um processo. “Exige continuidade e pode demorar um pouco”, explica.

Para pais que queiram investir em um curso, há instituições que oferecem ensino para crianças ao redor do País, como a School Of Rock e o Sesc, com aulas voltados para crianças a partir de 3 anos. Escolas como o Instituto Baccareli, na Cidade Nova Heliópolis, em São Paulo, oferecem ensino musical para jovens vulneráveis. O número de escolas com aulas voltadas para o bebês também vem crescendo nos últimos anos.

Carlos lembra que não é preciso um investimento alto para o aprendizado musical: garrafas d’água e canos de PVC podem tirar um som e colocar a criança em contato com ritmos.

Rockstars mirins em ação: Gabriel toca guitarra, Alice, bateria e Pina assume os vocais Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

Orquestra e MPB

Bento Arades faz parte da Orquestra Jovem do Sesc, no Pantanal (MT) Foto: Sesc / Divulgação

Além dos “rockstars”, a lista de músicos mirins também inclui aqueles que se encontraram nos instrumentos eruditos. O mato-grossense Bento Aredes, de 11 anos, toca flauta na Orquestra Jovem do Sesc, em um projeto voltado majoritariamente para jovens socialmente vulneráveis. “O que eu mais gosto das aulas é ver minha evolução e o som que consigo fazer com o instrumento”, conta.

Para esses alunos, o ensino de música vai além da diversão, tornando-se também oportunidade para o desenvolvimento social.

Bento já vê seu futuro na música: quer ser professor de choro. Apaixonado por MPB, tem em Luiz Gonzaga sua maior inspiração.

“Se eu pudesse voltar para o passado, eu teria o maior prazer em tocar para o Luiz Gonzaga.”

Bento Aredes, de 11 anos

Independente do instrumento, o importante é ter música como auxiliar no processo de aprendizagem, ajudando a despertar um olhar inicial para a arte e - por que não? - a realizar sonhos.

Gabriel, que hoje toca as músicas favoritas na guitarra, finaliza o nosso papo com um conselho: “Se você quer muito, vai pra cima e tenta. Se não conseguir, tenta de novo!”. Um recado que vale para o aprendizado de música, mas também para qualquer sonho que habite a mente de uma criança.

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