Conheça Fefe Life, a TikToker dinamarquesa que virou funkeira: ‘Brasil roubou meu coração’


Frederikke Palmgren viralizou ao confessar que o Brasil ‘estragou sua vida’; nesta entrevista, ela relembra a descoberta do País e de suas músicas, fala de sua temporada carioca e canta ‘Show das Poderosas’ para o ‘Estadão’; veja vídeo exclusivo

Por Damy Coelho
Atualização:

Em um português impecável, que ganha charme com o sotaque dinamarquês misturado a gírias cariocas, Frederikke Palmgren - Fefe Life, para os tiktokers - conta ao Estadão seu amor pelo Brasil, pouco provável para quem cresceu na gelada Dinamarca, separada do País por um oceano e por uma barreira linguística e, para sua tristeza, sem Guaravita ou açaí.

Apesar disso, a cantora, produtora e hoje influencer explica que o Brasil deu a ela uma carreira no funk (incluindo letras “proibidonas”), amigos, um amor e novos conceitos. “Uma das coisas que mais amei daí é a lanchonete”, conta, fascinada pelas estufas de salgados e as frutas penduradas no teto.

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‘O Brasil estragou minha vida’

Fefe Life, funkeira dinamarquesa, se apaixonou pelo Brasil Foto: Reprodução Instagram/@fefelife

Fefe viralizou entre os brasileiros no TikTok ao passear por uma cinzenta e gelada Suécia contando sobre as saudades que sente do Brasil.

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O vídeo tem o curioso título de “O Brasil estragou sua vida”. Trata-se de um “POV” (ou “point of view”, em que o criador de conteúdo dá um ponto de vista sobre qualquer assunto). No vídeo, ela conta como pensava que tinha uma vida feliz na Dinamarca - até conhecer o Brasil.

A cultura e o povo caloroso a conquistaram. “Eu vi pessoas se falando na rua, música na rua, pessoal falando alto, crianças desconhecidas brincando juntas, pessoas me convidando para churrasco, samba, funk, sertanejo, pessoas que dançam onde quiserem, pessoas falando comigo no busão”, conta. “Eu conheci tudo isso e voltei ao meu país, onde diversão é andar no cemitério.”

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Como tudo começou

A dinamarquesa foi apresentada à cultura brasileira ainda adolescente, quando foi quase “adotada” pela mãe brasileira de sua amiga. Conta que ficava encantada quando ia à casa dela, sempre cheia de gente entrando e saindo, MPB, samba e sertanejo tocando na sala. “Era completamente diferente, e eu amei.”

Quando adolescente, muda-se para a Argentina para “viver uma aventura”. Aproveita a proximidade com o Brasil para finalmente conhecer o Rio de Janeiro. Planejou passar dois dias, quando viu, não voltou mais ao país vizinho.

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Ela chega no Rio em meio às manifestações de 2013. O clima político inflamado não a assustou. Trabalhou em hostel em troca de estadia, viveu no bairro da Glória e na Ladeira dos Tabajaras. Entre idas e vindas, ficou na ponte aérea Brasil/Dinamarca até 2018. Em 2019, fixou residência aqui. Em 2020, casou-se casou com o carioca Helt MC e, juntos, tiveram uma filha, Lumi.

Funk do metrô

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No Rio, se encantou por um ritmo que não costumava tocar na casa da amiga na Dinamarca. “Escutei um carro passando com funk e fiquei me perguntando ' o que é isso?’ Eu adorei. Fiquei animada com a música, mas ainda não sabia português. Pouco a pouco fui conhecendo, traduzindo [as letras] e estudando as raízes do ritmo”, conta, mostrando a disciplina que teve para aprender tanto a língua quanto a cultura do País, tudo por meio da música.

Fefe conta que um dos aspectos que fez com que ela se encantasse pelo funk foi o caráter democrático da produção musical, diferente do perfeccionismo da cultura de seu país, que pode afastar as pessoas de sua vocação.

Ela explica que, na Dinamarca, só é possível viver de música se há oportunidade de trabalhar em grandes estúdios, caros, aos quais ela também não tinha acesso. “No Brasil, eu vi que eu também posso fazer música. Especialmente com o funk. Muita gente não tem acesso a um estúdio grande, às vezes tem só um celular. E a música estoura. Isso é incrível. Vi isso acontecendo e falei: ‘eu também posso’.”

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É ela quem faz tudo em sua música: letra, batida, produção. “Às vezes, meu marido vem com algumas falas brasileiras que me inspiram”. Faz questão de cantar em português por respeitar as raízes do funk carioca, nascido nas comunidades.

Músicas como Bum Bum TamTam comprovam essa possibilidade criativa do funk - de fazer uma música nascer do zero e virar sucesso dentro de um quarto, usando apenas um computador ou celular. Foi o que aconteceu com MC Fioti em 2018. Ele usou um trecho de uma flauta clássica de Sebastian Bach e criou uma batida por cima, tão irresistível que virou sucesso até na Europa.

Fefe também viu possibilidade de investir na carreira musical, um desejo adormecido. “Era um sonho secreto. Não tinha coragem de assumir nem pra mim mesma porque não tinha confiança em fazer música. Cresci com meus pais dinamarqueses e sempre que eu começava a cantar, eles pediam silêncio”, ela lembra.

O vaivém do metrô carioca foi inspiração para que ela criasse a letra e a batida do seu funk mais conhecido, Metrô Rio (feat Helt) que chegou a viralizar no Spotify. Fefe pegou a famosa chamada do metrô e fez uma batida por cima, narrando, com seu sotaque característico, o nome de estações como Cadete, Glória e Cinelândia.

Chamou amigos craques no passinho para gravar um clipe, dirigido por Bernald Carvalho, em uma estação. Conta que, desde sempre, os amigos brasileiros incentivaram o seu sonho de trabalhar com música.

Outra declaração de amor ao Rio em forma de funk veio com Guaravita, símbolo das praias cariocas.

Feat com Anitta

Quando perguntada sobre seus funks favoritos, tem as respostas na ponta da língua. Suas maiores inspirações são Mr. Catra e o funk feito por mulheres - Deize Tigrona, Mc Carol e Mc Dricka são alguns dos nomes citados. “Meu sonho é fazer um feat com a Anitta”, confessa. A cantora, que ajudou a deixar o funk mais pop - e internacional -, é uma admiração para a dinamarquesa que, a pedido do Estadão, gravou um vídeo cantando Anitta (veja no início deste texto ou aqui).

“A galera do funk foi a que melhor me recebeu. Criei uma família no povo brasileiro. Acho bem louco o que falam de pessoas que curtem funk. Não combina o que eu vivi. São pessoas muito carinhosas, que me levaram para a cena, que me incentivaram”, diz, referindo-se ao preconceito que algumas pessoas têm com relação ao gênero musical e seu universo.

“Funk é cultura. Se eu fosse brasileira, me orgulharia do funk. Tem assuntos mais polêmicos que [a música] aborda, mas não são todos. Eu adoro como expressão, especialmente para mulher, que não tem espaço pra falar de certos assuntos em outros lugares”, explica, ao falar sobre a liberdade sexual feminina nas letras. Boa parte de seu repertório, inclusive, passa pelo chamado “funk proibidão”, com letras explícitas.

Planos de voltar

A pandemia e a gravidez fizeram com que ela e o marido se mudassem para a Suécia, onde vivem até hoje. Mas voltar para o Brasil está nos planos da funkeira, ainda mais depois do sucesso instantâneo que fez no País - e continua fazendo. “Eu amo o Brasil, amo o Rio. Acho que tem uma energia muito especial”, finaliza.

Enquanto isso, Fefe vem conquistando cada vez mais fãs por aqui, mesmo morando do outro lado do oceano. Ainda.

Em um português impecável, que ganha charme com o sotaque dinamarquês misturado a gírias cariocas, Frederikke Palmgren - Fefe Life, para os tiktokers - conta ao Estadão seu amor pelo Brasil, pouco provável para quem cresceu na gelada Dinamarca, separada do País por um oceano e por uma barreira linguística e, para sua tristeza, sem Guaravita ou açaí.

Apesar disso, a cantora, produtora e hoje influencer explica que o Brasil deu a ela uma carreira no funk (incluindo letras “proibidonas”), amigos, um amor e novos conceitos. “Uma das coisas que mais amei daí é a lanchonete”, conta, fascinada pelas estufas de salgados e as frutas penduradas no teto.

‘O Brasil estragou minha vida’

Fefe Life, funkeira dinamarquesa, se apaixonou pelo Brasil Foto: Reprodução Instagram/@fefelife

Fefe viralizou entre os brasileiros no TikTok ao passear por uma cinzenta e gelada Suécia contando sobre as saudades que sente do Brasil.

O vídeo tem o curioso título de “O Brasil estragou sua vida”. Trata-se de um “POV” (ou “point of view”, em que o criador de conteúdo dá um ponto de vista sobre qualquer assunto). No vídeo, ela conta como pensava que tinha uma vida feliz na Dinamarca - até conhecer o Brasil.

A cultura e o povo caloroso a conquistaram. “Eu vi pessoas se falando na rua, música na rua, pessoal falando alto, crianças desconhecidas brincando juntas, pessoas me convidando para churrasco, samba, funk, sertanejo, pessoas que dançam onde quiserem, pessoas falando comigo no busão”, conta. “Eu conheci tudo isso e voltei ao meu país, onde diversão é andar no cemitério.”

Como tudo começou

A dinamarquesa foi apresentada à cultura brasileira ainda adolescente, quando foi quase “adotada” pela mãe brasileira de sua amiga. Conta que ficava encantada quando ia à casa dela, sempre cheia de gente entrando e saindo, MPB, samba e sertanejo tocando na sala. “Era completamente diferente, e eu amei.”

Quando adolescente, muda-se para a Argentina para “viver uma aventura”. Aproveita a proximidade com o Brasil para finalmente conhecer o Rio de Janeiro. Planejou passar dois dias, quando viu, não voltou mais ao país vizinho.

Ela chega no Rio em meio às manifestações de 2013. O clima político inflamado não a assustou. Trabalhou em hostel em troca de estadia, viveu no bairro da Glória e na Ladeira dos Tabajaras. Entre idas e vindas, ficou na ponte aérea Brasil/Dinamarca até 2018. Em 2019, fixou residência aqui. Em 2020, casou-se casou com o carioca Helt MC e, juntos, tiveram uma filha, Lumi.

Funk do metrô

No Rio, se encantou por um ritmo que não costumava tocar na casa da amiga na Dinamarca. “Escutei um carro passando com funk e fiquei me perguntando ' o que é isso?’ Eu adorei. Fiquei animada com a música, mas ainda não sabia português. Pouco a pouco fui conhecendo, traduzindo [as letras] e estudando as raízes do ritmo”, conta, mostrando a disciplina que teve para aprender tanto a língua quanto a cultura do País, tudo por meio da música.

Fefe conta que um dos aspectos que fez com que ela se encantasse pelo funk foi o caráter democrático da produção musical, diferente do perfeccionismo da cultura de seu país, que pode afastar as pessoas de sua vocação.

Ela explica que, na Dinamarca, só é possível viver de música se há oportunidade de trabalhar em grandes estúdios, caros, aos quais ela também não tinha acesso. “No Brasil, eu vi que eu também posso fazer música. Especialmente com o funk. Muita gente não tem acesso a um estúdio grande, às vezes tem só um celular. E a música estoura. Isso é incrível. Vi isso acontecendo e falei: ‘eu também posso’.”

É ela quem faz tudo em sua música: letra, batida, produção. “Às vezes, meu marido vem com algumas falas brasileiras que me inspiram”. Faz questão de cantar em português por respeitar as raízes do funk carioca, nascido nas comunidades.

Músicas como Bum Bum TamTam comprovam essa possibilidade criativa do funk - de fazer uma música nascer do zero e virar sucesso dentro de um quarto, usando apenas um computador ou celular. Foi o que aconteceu com MC Fioti em 2018. Ele usou um trecho de uma flauta clássica de Sebastian Bach e criou uma batida por cima, tão irresistível que virou sucesso até na Europa.

Fefe também viu possibilidade de investir na carreira musical, um desejo adormecido. “Era um sonho secreto. Não tinha coragem de assumir nem pra mim mesma porque não tinha confiança em fazer música. Cresci com meus pais dinamarqueses e sempre que eu começava a cantar, eles pediam silêncio”, ela lembra.

O vaivém do metrô carioca foi inspiração para que ela criasse a letra e a batida do seu funk mais conhecido, Metrô Rio (feat Helt) que chegou a viralizar no Spotify. Fefe pegou a famosa chamada do metrô e fez uma batida por cima, narrando, com seu sotaque característico, o nome de estações como Cadete, Glória e Cinelândia.

Chamou amigos craques no passinho para gravar um clipe, dirigido por Bernald Carvalho, em uma estação. Conta que, desde sempre, os amigos brasileiros incentivaram o seu sonho de trabalhar com música.

Outra declaração de amor ao Rio em forma de funk veio com Guaravita, símbolo das praias cariocas.

Feat com Anitta

Quando perguntada sobre seus funks favoritos, tem as respostas na ponta da língua. Suas maiores inspirações são Mr. Catra e o funk feito por mulheres - Deize Tigrona, Mc Carol e Mc Dricka são alguns dos nomes citados. “Meu sonho é fazer um feat com a Anitta”, confessa. A cantora, que ajudou a deixar o funk mais pop - e internacional -, é uma admiração para a dinamarquesa que, a pedido do Estadão, gravou um vídeo cantando Anitta (veja no início deste texto ou aqui).

“A galera do funk foi a que melhor me recebeu. Criei uma família no povo brasileiro. Acho bem louco o que falam de pessoas que curtem funk. Não combina o que eu vivi. São pessoas muito carinhosas, que me levaram para a cena, que me incentivaram”, diz, referindo-se ao preconceito que algumas pessoas têm com relação ao gênero musical e seu universo.

“Funk é cultura. Se eu fosse brasileira, me orgulharia do funk. Tem assuntos mais polêmicos que [a música] aborda, mas não são todos. Eu adoro como expressão, especialmente para mulher, que não tem espaço pra falar de certos assuntos em outros lugares”, explica, ao falar sobre a liberdade sexual feminina nas letras. Boa parte de seu repertório, inclusive, passa pelo chamado “funk proibidão”, com letras explícitas.

Planos de voltar

A pandemia e a gravidez fizeram com que ela e o marido se mudassem para a Suécia, onde vivem até hoje. Mas voltar para o Brasil está nos planos da funkeira, ainda mais depois do sucesso instantâneo que fez no País - e continua fazendo. “Eu amo o Brasil, amo o Rio. Acho que tem uma energia muito especial”, finaliza.

Enquanto isso, Fefe vem conquistando cada vez mais fãs por aqui, mesmo morando do outro lado do oceano. Ainda.

Em um português impecável, que ganha charme com o sotaque dinamarquês misturado a gírias cariocas, Frederikke Palmgren - Fefe Life, para os tiktokers - conta ao Estadão seu amor pelo Brasil, pouco provável para quem cresceu na gelada Dinamarca, separada do País por um oceano e por uma barreira linguística e, para sua tristeza, sem Guaravita ou açaí.

Apesar disso, a cantora, produtora e hoje influencer explica que o Brasil deu a ela uma carreira no funk (incluindo letras “proibidonas”), amigos, um amor e novos conceitos. “Uma das coisas que mais amei daí é a lanchonete”, conta, fascinada pelas estufas de salgados e as frutas penduradas no teto.

‘O Brasil estragou minha vida’

Fefe Life, funkeira dinamarquesa, se apaixonou pelo Brasil Foto: Reprodução Instagram/@fefelife

Fefe viralizou entre os brasileiros no TikTok ao passear por uma cinzenta e gelada Suécia contando sobre as saudades que sente do Brasil.

O vídeo tem o curioso título de “O Brasil estragou sua vida”. Trata-se de um “POV” (ou “point of view”, em que o criador de conteúdo dá um ponto de vista sobre qualquer assunto). No vídeo, ela conta como pensava que tinha uma vida feliz na Dinamarca - até conhecer o Brasil.

A cultura e o povo caloroso a conquistaram. “Eu vi pessoas se falando na rua, música na rua, pessoal falando alto, crianças desconhecidas brincando juntas, pessoas me convidando para churrasco, samba, funk, sertanejo, pessoas que dançam onde quiserem, pessoas falando comigo no busão”, conta. “Eu conheci tudo isso e voltei ao meu país, onde diversão é andar no cemitério.”

Como tudo começou

A dinamarquesa foi apresentada à cultura brasileira ainda adolescente, quando foi quase “adotada” pela mãe brasileira de sua amiga. Conta que ficava encantada quando ia à casa dela, sempre cheia de gente entrando e saindo, MPB, samba e sertanejo tocando na sala. “Era completamente diferente, e eu amei.”

Quando adolescente, muda-se para a Argentina para “viver uma aventura”. Aproveita a proximidade com o Brasil para finalmente conhecer o Rio de Janeiro. Planejou passar dois dias, quando viu, não voltou mais ao país vizinho.

Ela chega no Rio em meio às manifestações de 2013. O clima político inflamado não a assustou. Trabalhou em hostel em troca de estadia, viveu no bairro da Glória e na Ladeira dos Tabajaras. Entre idas e vindas, ficou na ponte aérea Brasil/Dinamarca até 2018. Em 2019, fixou residência aqui. Em 2020, casou-se casou com o carioca Helt MC e, juntos, tiveram uma filha, Lumi.

Funk do metrô

No Rio, se encantou por um ritmo que não costumava tocar na casa da amiga na Dinamarca. “Escutei um carro passando com funk e fiquei me perguntando ' o que é isso?’ Eu adorei. Fiquei animada com a música, mas ainda não sabia português. Pouco a pouco fui conhecendo, traduzindo [as letras] e estudando as raízes do ritmo”, conta, mostrando a disciplina que teve para aprender tanto a língua quanto a cultura do País, tudo por meio da música.

Fefe conta que um dos aspectos que fez com que ela se encantasse pelo funk foi o caráter democrático da produção musical, diferente do perfeccionismo da cultura de seu país, que pode afastar as pessoas de sua vocação.

Ela explica que, na Dinamarca, só é possível viver de música se há oportunidade de trabalhar em grandes estúdios, caros, aos quais ela também não tinha acesso. “No Brasil, eu vi que eu também posso fazer música. Especialmente com o funk. Muita gente não tem acesso a um estúdio grande, às vezes tem só um celular. E a música estoura. Isso é incrível. Vi isso acontecendo e falei: ‘eu também posso’.”

É ela quem faz tudo em sua música: letra, batida, produção. “Às vezes, meu marido vem com algumas falas brasileiras que me inspiram”. Faz questão de cantar em português por respeitar as raízes do funk carioca, nascido nas comunidades.

Músicas como Bum Bum TamTam comprovam essa possibilidade criativa do funk - de fazer uma música nascer do zero e virar sucesso dentro de um quarto, usando apenas um computador ou celular. Foi o que aconteceu com MC Fioti em 2018. Ele usou um trecho de uma flauta clássica de Sebastian Bach e criou uma batida por cima, tão irresistível que virou sucesso até na Europa.

Fefe também viu possibilidade de investir na carreira musical, um desejo adormecido. “Era um sonho secreto. Não tinha coragem de assumir nem pra mim mesma porque não tinha confiança em fazer música. Cresci com meus pais dinamarqueses e sempre que eu começava a cantar, eles pediam silêncio”, ela lembra.

O vaivém do metrô carioca foi inspiração para que ela criasse a letra e a batida do seu funk mais conhecido, Metrô Rio (feat Helt) que chegou a viralizar no Spotify. Fefe pegou a famosa chamada do metrô e fez uma batida por cima, narrando, com seu sotaque característico, o nome de estações como Cadete, Glória e Cinelândia.

Chamou amigos craques no passinho para gravar um clipe, dirigido por Bernald Carvalho, em uma estação. Conta que, desde sempre, os amigos brasileiros incentivaram o seu sonho de trabalhar com música.

Outra declaração de amor ao Rio em forma de funk veio com Guaravita, símbolo das praias cariocas.

Feat com Anitta

Quando perguntada sobre seus funks favoritos, tem as respostas na ponta da língua. Suas maiores inspirações são Mr. Catra e o funk feito por mulheres - Deize Tigrona, Mc Carol e Mc Dricka são alguns dos nomes citados. “Meu sonho é fazer um feat com a Anitta”, confessa. A cantora, que ajudou a deixar o funk mais pop - e internacional -, é uma admiração para a dinamarquesa que, a pedido do Estadão, gravou um vídeo cantando Anitta (veja no início deste texto ou aqui).

“A galera do funk foi a que melhor me recebeu. Criei uma família no povo brasileiro. Acho bem louco o que falam de pessoas que curtem funk. Não combina o que eu vivi. São pessoas muito carinhosas, que me levaram para a cena, que me incentivaram”, diz, referindo-se ao preconceito que algumas pessoas têm com relação ao gênero musical e seu universo.

“Funk é cultura. Se eu fosse brasileira, me orgulharia do funk. Tem assuntos mais polêmicos que [a música] aborda, mas não são todos. Eu adoro como expressão, especialmente para mulher, que não tem espaço pra falar de certos assuntos em outros lugares”, explica, ao falar sobre a liberdade sexual feminina nas letras. Boa parte de seu repertório, inclusive, passa pelo chamado “funk proibidão”, com letras explícitas.

Planos de voltar

A pandemia e a gravidez fizeram com que ela e o marido se mudassem para a Suécia, onde vivem até hoje. Mas voltar para o Brasil está nos planos da funkeira, ainda mais depois do sucesso instantâneo que fez no País - e continua fazendo. “Eu amo o Brasil, amo o Rio. Acho que tem uma energia muito especial”, finaliza.

Enquanto isso, Fefe vem conquistando cada vez mais fãs por aqui, mesmo morando do outro lado do oceano. Ainda.

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