Crítica: após análise rasa da indústria pop, Manu Gavassi vai mais fundo como analista de si mesma


A faixa confessional ‘31′, lançada no aniversário da cantora, na qual Manu reflete sobre crescimento de si mesma e de sua geração, sobe o nível de novo projeto audiovisual

Por Damy Coelho

Manu Gavassi começou seu atual projeto tentando lançar um olhar supostamente profundo sobre a indústria pop, mas acabou indo mais fundo em outro objeto específico, sua especialidade: a própria Manu Gavassi. O tom confessional caiu melhor do que a crítica cultural.

A cantora lançou, na quinta, 4, o último vídeo da série de projetos audiovisuais iniciado em dezembro, com Programa de Proteção à Carreira Artística, que prenunciou três canções: Pronta pra desagradar; Sexo, poder e arte e a mais recente, 31. A faixa foi lançada no dia de seu aniversário 31 anos e ganhou um clipe em plano sequência dirigido pela própria em parceria com Gabriel Dietrich. Os vídeos foram idealizados em seu espaço de criação, o Estúdio Gracinha.

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Em Sexo, Poder e Arte e Pronta pra Desagradar, a qualidade da produção audiovisual é o destaque. Os vídeos, no formato curta metragem, têm mais de 10 minutos e contam com atuações que vão de Letícia Colin e Pathy DeJesus a Tim Bernades e Pitty.

31, porém, firma-se como o lançamento mais interessante desta série, pois é quando Manu melhor trabalha o tom confessional, sua especialidade. Isso é perceptível desde o clipe, mais intimista que os demais, até (e principalmente), a composição.

Ao avaliar a chegada na casa dos 30, em um processo de crescimento acompanhado de perto pelos fãs, Manu acerta nas singelezas, como em: “Já quis estar com todo mundo, hoje quero estar com os meus / E pro orgulho de quem me criou, meu coração me protegeu”. O ponto alto da letra é quando ela se despe de suas influências estéticas — o tal “conceito” — e se mostra como é.

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Confessional

A cantora, vale lembrar, cravou seu espaço no pop teen brasileiro nos anos 2000. À época, quando tocava violão com looks boho chic, foi comparada com Sandy pelo timbre e pelas letras românticas e juvenis. A comparação, porém, não parecia justa a Manu, que desde sempre foi compositora de suas próprias histórias.

Seguindo os passos de Taylor Swift — de quem é fã — a cantora encontrou-se nas letras confessionais, como um diário que mostra suas paixões e desilusões a um público que entende sua língua. Faixas como Farsa, de 2015, que fãs atribuem como uma indireta ao ex, o ator Chay Suede, se destacam nesse tom.

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Em 31, ela faz reflexōes sobre si, sobre a nostalgia da geração millennial e a dualidade em que vivem os jovens adultos, entre apostar no presente ou alimentar-se do próprio passado, como nos versos: ”É que eu nasci no tempo errado, tô presa no agora”. No mesmo jogo, faz referências ao próprio passado e suas “eras”, como a presença no BBB e a suas letras, como 23, lançada em 2017.

Leia também: Nostalgia emo: festival I Wanna Be Tour traz Simple Plan, A Day To Remember e mais ao Brasil

Manu Gavassi com modelo detalhado e com inspiração étnica Foto: Divulgação/ Instagram
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31 escorrega quando escancara inspiraçōes que os fãs já estão cansados de saber — como a própria Taylor Swift, (”matei todas as minhas versões antes que elas me matassem”; como em Look What You Made Me Do) ou Rita Lee (“Eu andava meio desligada, finalmente acordei”, em menção à canção dos Mutantes). A cantora, inclusive, prestou uma homenagem a Rita no ano passado, regravando o álbum Fruto Proibido.

Leia também: Manu Gavassi promete fase ‘segura’ com ‘Acústico MTV’ e bênção de Rita Lee: ‘Sou o que queria ser’

Programa de Proteção à Carreira Artística

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O vídeo Programa de proteção à carreira artística, primeiro desta serie audiovisual, foi o que teve mais repercussão. O roteiro mostra cantora tentando voltar à carreira com ajuda de uma versão desinteressante e automatizada de si mesma. A critica não poderia ser maior, nem mais estelar, (Anitta chamou de “sensacional”, Duda Beat mandou um “muito bom, estou rindo e chorando”, Bruna Marquezine disse que “gostava muito do cérebro” da cantora). De modo geral, o clipe agradou a quem está inserido no mercado pop e vestiu a carapuça.

Na legenda que divulga o vídeo, Manu anuncia a série Severance (Ruptura) como referência — o que é perceptível, do roteiro ao cenário. Por isso, quem acompanhou a ótima produção da Apple TV pode não ter visto tanta genialidade no vídeo da cantora. O problema está aí: fica difícil reconhecer a essência do artista no meio de tantas referências que ela — e outros nomes pop — procuram ostentar. O problema não são as pistas, mas o excesso delas.

Em uma necessidade de mostrar que artista pop também é artista, compartilhada por alguns cantores do nicho, e no consequente amarrar de referências estéticas que possam trazer alguma credibilidade à obra, falta saber o que o vídeo traz de novo para o mercado que ocupa.

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Leia também: Pitty ironiza Beyoncé, elogia Manu Gavassi e é criticada nas redes; leia

Manu faz críticas clichês à indústria da música, ao apontar, por exemplo, que as polêmicas são importantes para o sucesso — o que já se sabe desde Emilinha Borba e Marlene a Britney Spears e Christina Aguilera, para não ir muito longe no tempo.

É irônico a cantora — que ganhou visibilidade nacional com o BBB, tem milhões de seguidores e publica posts com parcerias pagas — criticar a indústria usando um modus operandi que engaja. Outras reflexões nessa toada poderiam ser aprofundadas, como a multifuncionalidade exigida para artistas sem dinheiro e uma grande equipe, que precisam negligenciar o processo criativo para se dedicar às funções de empresário, produtor e social media para bancar suas carreiras.

Para quem é fã

Mesmo recebendo elogios, Manu precisou lidar com críticas vindas do público. Em dezembro, ela rebateu um seguidor que considerava suas letras “infantis”. O comentário veio no lançamento de Pronta pra desagradar, que tem versos como: “Sotaque paulistano não se monetiza / O Brasil é muito vasto e eu, muito Mona Lisa“. Manu respondeu: “É porque mulher, quando não se mostra sexy, acaba sendo julgada como infantil”, sem considerar que, nestes casos, deve ser assim mesmo que o público a enxergue, independente de apelar ou não para a sensualidade.

Talvez por isso, decidiu dedicar sua melhor sacada para quem “é fã meeeesmo”(segundo suas próprias palavras no post de divulgação de 31). É quando aposta em sua autenticidade confessional que Manu Gavassi acerta o alvo. A ver qual será o legado deste 31 para sua carreira.

Manu Gavassi começou seu atual projeto tentando lançar um olhar supostamente profundo sobre a indústria pop, mas acabou indo mais fundo em outro objeto específico, sua especialidade: a própria Manu Gavassi. O tom confessional caiu melhor do que a crítica cultural.

A cantora lançou, na quinta, 4, o último vídeo da série de projetos audiovisuais iniciado em dezembro, com Programa de Proteção à Carreira Artística, que prenunciou três canções: Pronta pra desagradar; Sexo, poder e arte e a mais recente, 31. A faixa foi lançada no dia de seu aniversário 31 anos e ganhou um clipe em plano sequência dirigido pela própria em parceria com Gabriel Dietrich. Os vídeos foram idealizados em seu espaço de criação, o Estúdio Gracinha.

Em Sexo, Poder e Arte e Pronta pra Desagradar, a qualidade da produção audiovisual é o destaque. Os vídeos, no formato curta metragem, têm mais de 10 minutos e contam com atuações que vão de Letícia Colin e Pathy DeJesus a Tim Bernades e Pitty.

31, porém, firma-se como o lançamento mais interessante desta série, pois é quando Manu melhor trabalha o tom confessional, sua especialidade. Isso é perceptível desde o clipe, mais intimista que os demais, até (e principalmente), a composição.

Ao avaliar a chegada na casa dos 30, em um processo de crescimento acompanhado de perto pelos fãs, Manu acerta nas singelezas, como em: “Já quis estar com todo mundo, hoje quero estar com os meus / E pro orgulho de quem me criou, meu coração me protegeu”. O ponto alto da letra é quando ela se despe de suas influências estéticas — o tal “conceito” — e se mostra como é.

Confessional

A cantora, vale lembrar, cravou seu espaço no pop teen brasileiro nos anos 2000. À época, quando tocava violão com looks boho chic, foi comparada com Sandy pelo timbre e pelas letras românticas e juvenis. A comparação, porém, não parecia justa a Manu, que desde sempre foi compositora de suas próprias histórias.

Seguindo os passos de Taylor Swift — de quem é fã — a cantora encontrou-se nas letras confessionais, como um diário que mostra suas paixões e desilusões a um público que entende sua língua. Faixas como Farsa, de 2015, que fãs atribuem como uma indireta ao ex, o ator Chay Suede, se destacam nesse tom.

Em 31, ela faz reflexōes sobre si, sobre a nostalgia da geração millennial e a dualidade em que vivem os jovens adultos, entre apostar no presente ou alimentar-se do próprio passado, como nos versos: ”É que eu nasci no tempo errado, tô presa no agora”. No mesmo jogo, faz referências ao próprio passado e suas “eras”, como a presença no BBB e a suas letras, como 23, lançada em 2017.

Leia também: Nostalgia emo: festival I Wanna Be Tour traz Simple Plan, A Day To Remember e mais ao Brasil

Manu Gavassi com modelo detalhado e com inspiração étnica Foto: Divulgação/ Instagram

31 escorrega quando escancara inspiraçōes que os fãs já estão cansados de saber — como a própria Taylor Swift, (”matei todas as minhas versões antes que elas me matassem”; como em Look What You Made Me Do) ou Rita Lee (“Eu andava meio desligada, finalmente acordei”, em menção à canção dos Mutantes). A cantora, inclusive, prestou uma homenagem a Rita no ano passado, regravando o álbum Fruto Proibido.

Leia também: Manu Gavassi promete fase ‘segura’ com ‘Acústico MTV’ e bênção de Rita Lee: ‘Sou o que queria ser’

Programa de Proteção à Carreira Artística

O vídeo Programa de proteção à carreira artística, primeiro desta serie audiovisual, foi o que teve mais repercussão. O roteiro mostra cantora tentando voltar à carreira com ajuda de uma versão desinteressante e automatizada de si mesma. A critica não poderia ser maior, nem mais estelar, (Anitta chamou de “sensacional”, Duda Beat mandou um “muito bom, estou rindo e chorando”, Bruna Marquezine disse que “gostava muito do cérebro” da cantora). De modo geral, o clipe agradou a quem está inserido no mercado pop e vestiu a carapuça.

Na legenda que divulga o vídeo, Manu anuncia a série Severance (Ruptura) como referência — o que é perceptível, do roteiro ao cenário. Por isso, quem acompanhou a ótima produção da Apple TV pode não ter visto tanta genialidade no vídeo da cantora. O problema está aí: fica difícil reconhecer a essência do artista no meio de tantas referências que ela — e outros nomes pop — procuram ostentar. O problema não são as pistas, mas o excesso delas.

Em uma necessidade de mostrar que artista pop também é artista, compartilhada por alguns cantores do nicho, e no consequente amarrar de referências estéticas que possam trazer alguma credibilidade à obra, falta saber o que o vídeo traz de novo para o mercado que ocupa.

Leia também: Pitty ironiza Beyoncé, elogia Manu Gavassi e é criticada nas redes; leia

Manu faz críticas clichês à indústria da música, ao apontar, por exemplo, que as polêmicas são importantes para o sucesso — o que já se sabe desde Emilinha Borba e Marlene a Britney Spears e Christina Aguilera, para não ir muito longe no tempo.

É irônico a cantora — que ganhou visibilidade nacional com o BBB, tem milhões de seguidores e publica posts com parcerias pagas — criticar a indústria usando um modus operandi que engaja. Outras reflexões nessa toada poderiam ser aprofundadas, como a multifuncionalidade exigida para artistas sem dinheiro e uma grande equipe, que precisam negligenciar o processo criativo para se dedicar às funções de empresário, produtor e social media para bancar suas carreiras.

Para quem é fã

Mesmo recebendo elogios, Manu precisou lidar com críticas vindas do público. Em dezembro, ela rebateu um seguidor que considerava suas letras “infantis”. O comentário veio no lançamento de Pronta pra desagradar, que tem versos como: “Sotaque paulistano não se monetiza / O Brasil é muito vasto e eu, muito Mona Lisa“. Manu respondeu: “É porque mulher, quando não se mostra sexy, acaba sendo julgada como infantil”, sem considerar que, nestes casos, deve ser assim mesmo que o público a enxergue, independente de apelar ou não para a sensualidade.

Talvez por isso, decidiu dedicar sua melhor sacada para quem “é fã meeeesmo”(segundo suas próprias palavras no post de divulgação de 31). É quando aposta em sua autenticidade confessional que Manu Gavassi acerta o alvo. A ver qual será o legado deste 31 para sua carreira.

Manu Gavassi começou seu atual projeto tentando lançar um olhar supostamente profundo sobre a indústria pop, mas acabou indo mais fundo em outro objeto específico, sua especialidade: a própria Manu Gavassi. O tom confessional caiu melhor do que a crítica cultural.

A cantora lançou, na quinta, 4, o último vídeo da série de projetos audiovisuais iniciado em dezembro, com Programa de Proteção à Carreira Artística, que prenunciou três canções: Pronta pra desagradar; Sexo, poder e arte e a mais recente, 31. A faixa foi lançada no dia de seu aniversário 31 anos e ganhou um clipe em plano sequência dirigido pela própria em parceria com Gabriel Dietrich. Os vídeos foram idealizados em seu espaço de criação, o Estúdio Gracinha.

Em Sexo, Poder e Arte e Pronta pra Desagradar, a qualidade da produção audiovisual é o destaque. Os vídeos, no formato curta metragem, têm mais de 10 minutos e contam com atuações que vão de Letícia Colin e Pathy DeJesus a Tim Bernades e Pitty.

31, porém, firma-se como o lançamento mais interessante desta série, pois é quando Manu melhor trabalha o tom confessional, sua especialidade. Isso é perceptível desde o clipe, mais intimista que os demais, até (e principalmente), a composição.

Ao avaliar a chegada na casa dos 30, em um processo de crescimento acompanhado de perto pelos fãs, Manu acerta nas singelezas, como em: “Já quis estar com todo mundo, hoje quero estar com os meus / E pro orgulho de quem me criou, meu coração me protegeu”. O ponto alto da letra é quando ela se despe de suas influências estéticas — o tal “conceito” — e se mostra como é.

Confessional

A cantora, vale lembrar, cravou seu espaço no pop teen brasileiro nos anos 2000. À época, quando tocava violão com looks boho chic, foi comparada com Sandy pelo timbre e pelas letras românticas e juvenis. A comparação, porém, não parecia justa a Manu, que desde sempre foi compositora de suas próprias histórias.

Seguindo os passos de Taylor Swift — de quem é fã — a cantora encontrou-se nas letras confessionais, como um diário que mostra suas paixões e desilusões a um público que entende sua língua. Faixas como Farsa, de 2015, que fãs atribuem como uma indireta ao ex, o ator Chay Suede, se destacam nesse tom.

Em 31, ela faz reflexōes sobre si, sobre a nostalgia da geração millennial e a dualidade em que vivem os jovens adultos, entre apostar no presente ou alimentar-se do próprio passado, como nos versos: ”É que eu nasci no tempo errado, tô presa no agora”. No mesmo jogo, faz referências ao próprio passado e suas “eras”, como a presença no BBB e a suas letras, como 23, lançada em 2017.

Leia também: Nostalgia emo: festival I Wanna Be Tour traz Simple Plan, A Day To Remember e mais ao Brasil

Manu Gavassi com modelo detalhado e com inspiração étnica Foto: Divulgação/ Instagram

31 escorrega quando escancara inspiraçōes que os fãs já estão cansados de saber — como a própria Taylor Swift, (”matei todas as minhas versões antes que elas me matassem”; como em Look What You Made Me Do) ou Rita Lee (“Eu andava meio desligada, finalmente acordei”, em menção à canção dos Mutantes). A cantora, inclusive, prestou uma homenagem a Rita no ano passado, regravando o álbum Fruto Proibido.

Leia também: Manu Gavassi promete fase ‘segura’ com ‘Acústico MTV’ e bênção de Rita Lee: ‘Sou o que queria ser’

Programa de Proteção à Carreira Artística

O vídeo Programa de proteção à carreira artística, primeiro desta serie audiovisual, foi o que teve mais repercussão. O roteiro mostra cantora tentando voltar à carreira com ajuda de uma versão desinteressante e automatizada de si mesma. A critica não poderia ser maior, nem mais estelar, (Anitta chamou de “sensacional”, Duda Beat mandou um “muito bom, estou rindo e chorando”, Bruna Marquezine disse que “gostava muito do cérebro” da cantora). De modo geral, o clipe agradou a quem está inserido no mercado pop e vestiu a carapuça.

Na legenda que divulga o vídeo, Manu anuncia a série Severance (Ruptura) como referência — o que é perceptível, do roteiro ao cenário. Por isso, quem acompanhou a ótima produção da Apple TV pode não ter visto tanta genialidade no vídeo da cantora. O problema está aí: fica difícil reconhecer a essência do artista no meio de tantas referências que ela — e outros nomes pop — procuram ostentar. O problema não são as pistas, mas o excesso delas.

Em uma necessidade de mostrar que artista pop também é artista, compartilhada por alguns cantores do nicho, e no consequente amarrar de referências estéticas que possam trazer alguma credibilidade à obra, falta saber o que o vídeo traz de novo para o mercado que ocupa.

Leia também: Pitty ironiza Beyoncé, elogia Manu Gavassi e é criticada nas redes; leia

Manu faz críticas clichês à indústria da música, ao apontar, por exemplo, que as polêmicas são importantes para o sucesso — o que já se sabe desde Emilinha Borba e Marlene a Britney Spears e Christina Aguilera, para não ir muito longe no tempo.

É irônico a cantora — que ganhou visibilidade nacional com o BBB, tem milhões de seguidores e publica posts com parcerias pagas — criticar a indústria usando um modus operandi que engaja. Outras reflexões nessa toada poderiam ser aprofundadas, como a multifuncionalidade exigida para artistas sem dinheiro e uma grande equipe, que precisam negligenciar o processo criativo para se dedicar às funções de empresário, produtor e social media para bancar suas carreiras.

Para quem é fã

Mesmo recebendo elogios, Manu precisou lidar com críticas vindas do público. Em dezembro, ela rebateu um seguidor que considerava suas letras “infantis”. O comentário veio no lançamento de Pronta pra desagradar, que tem versos como: “Sotaque paulistano não se monetiza / O Brasil é muito vasto e eu, muito Mona Lisa“. Manu respondeu: “É porque mulher, quando não se mostra sexy, acaba sendo julgada como infantil”, sem considerar que, nestes casos, deve ser assim mesmo que o público a enxergue, independente de apelar ou não para a sensualidade.

Talvez por isso, decidiu dedicar sua melhor sacada para quem “é fã meeeesmo”(segundo suas próprias palavras no post de divulgação de 31). É quando aposta em sua autenticidade confessional que Manu Gavassi acerta o alvo. A ver qual será o legado deste 31 para sua carreira.

Manu Gavassi começou seu atual projeto tentando lançar um olhar supostamente profundo sobre a indústria pop, mas acabou indo mais fundo em outro objeto específico, sua especialidade: a própria Manu Gavassi. O tom confessional caiu melhor do que a crítica cultural.

A cantora lançou, na quinta, 4, o último vídeo da série de projetos audiovisuais iniciado em dezembro, com Programa de Proteção à Carreira Artística, que prenunciou três canções: Pronta pra desagradar; Sexo, poder e arte e a mais recente, 31. A faixa foi lançada no dia de seu aniversário 31 anos e ganhou um clipe em plano sequência dirigido pela própria em parceria com Gabriel Dietrich. Os vídeos foram idealizados em seu espaço de criação, o Estúdio Gracinha.

Em Sexo, Poder e Arte e Pronta pra Desagradar, a qualidade da produção audiovisual é o destaque. Os vídeos, no formato curta metragem, têm mais de 10 minutos e contam com atuações que vão de Letícia Colin e Pathy DeJesus a Tim Bernades e Pitty.

31, porém, firma-se como o lançamento mais interessante desta série, pois é quando Manu melhor trabalha o tom confessional, sua especialidade. Isso é perceptível desde o clipe, mais intimista que os demais, até (e principalmente), a composição.

Ao avaliar a chegada na casa dos 30, em um processo de crescimento acompanhado de perto pelos fãs, Manu acerta nas singelezas, como em: “Já quis estar com todo mundo, hoje quero estar com os meus / E pro orgulho de quem me criou, meu coração me protegeu”. O ponto alto da letra é quando ela se despe de suas influências estéticas — o tal “conceito” — e se mostra como é.

Confessional

A cantora, vale lembrar, cravou seu espaço no pop teen brasileiro nos anos 2000. À época, quando tocava violão com looks boho chic, foi comparada com Sandy pelo timbre e pelas letras românticas e juvenis. A comparação, porém, não parecia justa a Manu, que desde sempre foi compositora de suas próprias histórias.

Seguindo os passos de Taylor Swift — de quem é fã — a cantora encontrou-se nas letras confessionais, como um diário que mostra suas paixões e desilusões a um público que entende sua língua. Faixas como Farsa, de 2015, que fãs atribuem como uma indireta ao ex, o ator Chay Suede, se destacam nesse tom.

Em 31, ela faz reflexōes sobre si, sobre a nostalgia da geração millennial e a dualidade em que vivem os jovens adultos, entre apostar no presente ou alimentar-se do próprio passado, como nos versos: ”É que eu nasci no tempo errado, tô presa no agora”. No mesmo jogo, faz referências ao próprio passado e suas “eras”, como a presença no BBB e a suas letras, como 23, lançada em 2017.

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Manu Gavassi com modelo detalhado e com inspiração étnica Foto: Divulgação/ Instagram

31 escorrega quando escancara inspiraçōes que os fãs já estão cansados de saber — como a própria Taylor Swift, (”matei todas as minhas versões antes que elas me matassem”; como em Look What You Made Me Do) ou Rita Lee (“Eu andava meio desligada, finalmente acordei”, em menção à canção dos Mutantes). A cantora, inclusive, prestou uma homenagem a Rita no ano passado, regravando o álbum Fruto Proibido.

Leia também: Manu Gavassi promete fase ‘segura’ com ‘Acústico MTV’ e bênção de Rita Lee: ‘Sou o que queria ser’

Programa de Proteção à Carreira Artística

O vídeo Programa de proteção à carreira artística, primeiro desta serie audiovisual, foi o que teve mais repercussão. O roteiro mostra cantora tentando voltar à carreira com ajuda de uma versão desinteressante e automatizada de si mesma. A critica não poderia ser maior, nem mais estelar, (Anitta chamou de “sensacional”, Duda Beat mandou um “muito bom, estou rindo e chorando”, Bruna Marquezine disse que “gostava muito do cérebro” da cantora). De modo geral, o clipe agradou a quem está inserido no mercado pop e vestiu a carapuça.

Na legenda que divulga o vídeo, Manu anuncia a série Severance (Ruptura) como referência — o que é perceptível, do roteiro ao cenário. Por isso, quem acompanhou a ótima produção da Apple TV pode não ter visto tanta genialidade no vídeo da cantora. O problema está aí: fica difícil reconhecer a essência do artista no meio de tantas referências que ela — e outros nomes pop — procuram ostentar. O problema não são as pistas, mas o excesso delas.

Em uma necessidade de mostrar que artista pop também é artista, compartilhada por alguns cantores do nicho, e no consequente amarrar de referências estéticas que possam trazer alguma credibilidade à obra, falta saber o que o vídeo traz de novo para o mercado que ocupa.

Leia também: Pitty ironiza Beyoncé, elogia Manu Gavassi e é criticada nas redes; leia

Manu faz críticas clichês à indústria da música, ao apontar, por exemplo, que as polêmicas são importantes para o sucesso — o que já se sabe desde Emilinha Borba e Marlene a Britney Spears e Christina Aguilera, para não ir muito longe no tempo.

É irônico a cantora — que ganhou visibilidade nacional com o BBB, tem milhões de seguidores e publica posts com parcerias pagas — criticar a indústria usando um modus operandi que engaja. Outras reflexões nessa toada poderiam ser aprofundadas, como a multifuncionalidade exigida para artistas sem dinheiro e uma grande equipe, que precisam negligenciar o processo criativo para se dedicar às funções de empresário, produtor e social media para bancar suas carreiras.

Para quem é fã

Mesmo recebendo elogios, Manu precisou lidar com críticas vindas do público. Em dezembro, ela rebateu um seguidor que considerava suas letras “infantis”. O comentário veio no lançamento de Pronta pra desagradar, que tem versos como: “Sotaque paulistano não se monetiza / O Brasil é muito vasto e eu, muito Mona Lisa“. Manu respondeu: “É porque mulher, quando não se mostra sexy, acaba sendo julgada como infantil”, sem considerar que, nestes casos, deve ser assim mesmo que o público a enxergue, independente de apelar ou não para a sensualidade.

Talvez por isso, decidiu dedicar sua melhor sacada para quem “é fã meeeesmo”(segundo suas próprias palavras no post de divulgação de 31). É quando aposta em sua autenticidade confessional que Manu Gavassi acerta o alvo. A ver qual será o legado deste 31 para sua carreira.

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