Zélia Duncan pode estar em alguns lugares diferentes sendo ela mesma, Zélia Duncan. Parece natural a capacidade de um artista em se metamorfosear, mas não é. Muitos encontram seu registro, ganham a aprovação de suas plateias e ali ficam, confortavelmente, por toda uma carreira. Já Zélia consegue, sendo ela mesma, trafegar sobretudo por dois mundos aparentemente extremos: a canção e a subversão da canção. Quando vai a Luiz Tatit e a Itamar Assumpção, por exemplo, ela assume seus pensamentos e propõem uma experiência mais profunda, já que se tratam de dois casos que nunca cantaram apenas aquilo que cantaram.
No álbum de agora, Tudo É Um, Zélia se coloca de novo no mundo das literalidades, o que não soa como contraponto, mas um certo complemento. Se o meio é a mensagem, mesmo frases mais diretas em canções folk de se tocar na sala com o violão no colo chegam simples, fáceis, doces e profundamente belas. Breve Canção do Sonho, parceria sua com Dimitri, é desses despudores de cantar o que a cabeça pede primeiro. Christiaan Oyens, seu conhecido produtor responsável por esse retorno ao arco de abrangência maior, divide com ela a primeira e bela Canção de Amigo e Dani Black aparece na seguinte, a sua Só Pra Lembrar. Zeca Baleiro está ali com Me Faz uma Surpresa e o pernambucano Juliano Holanda, em O Que Mereço.