Crítica: Emicida ganha força ao despolarizar discurso do rap


'AmarElo' quebra a linearidade dos contra-ataques odientos falando de amor para, quando se rebelar, chegar com uma legitimidade transformadora

Por Julio Maria
Atualização:

De Chico Cesar, mesmo que ainda combativo desejando “fogo nos fascistas” no mesmo álbum que afirma ser o amor “um ato revolucionário”, a Nando Reis e Arnaldo Antunes, explicando em recente entrevista ao Estado como a palavra amor já passa a soar como uma resistência em si, as armas parecem estar sendo substituídas. O contexto de polarização miscigenada que coloca lado a lado, na mesma plateia, fãs crentes das duas linhas de pensamento político às quais um País de 202 milhões de viventes parece ter se reduzido, exige a descoberta de um novo eixo combativo.

Emicida, em São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

A voz de Emicida no álbum AmarElo aprofunda o veio que já marcava seus discos anteriores. Ele canta, com uma indignação que não é mais só nervosa, um rap que não é mais só rap. Ao desarmar a alma da sede das vinganças, sai da superfície do ódio e despolariza uma mesma música que, como quem a ouve, pode ser agora seca, dura, melodiosa, tranquila e raivosa. O bem e o mal não estão separados e não vivem apenas no outro. O sistema opressor que se deve combater pode ser minado com menos tiroteio e mais devoção às pequenas alegrias de uma vida adulta. “A música é só uma semente / um sorriso é a única língua que todos entendem”, diz em Principia.

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O bom de quem se despolariza é o poder de se trocar a linearidade por uma riqueza sem fim de nuances, e esse é o movimento mais interessante de AmarElo. Cantando sem se entregar ao canto para não deixar de ser rapper, Emicida se junta a Zeca Pagodinho no samba rap Quem Tem Um Amigo Tem Tudo, parceria sua com Wilson das Neves, cantor e baterista morto em 2017. “Ser mano igual Gil e Caetano / Nesse mundo louco é pra poucos / Tanto sufoco insano, encontrei / Voltar pra esse plano e vamos estar voltando...” Ou rappeando com a potência de versos como “eu sonho mais alto que drones / Combustível do meu tipo? A fome / Pra arregaçar como um ciclone (entendeu?) / Pra que amanhã não seja só um ontem” sem se prender ao rap para entregar ao canto de Pabllo Vittar e Majur, eles fazem AmarElo sobre a base do refrão de Belchior em Sujeito de Sorte.

Ismália, com Larissa Luz emulando por ou sem querer Elza Soares e a voz de Fernanda Montenegro declamando versos ao final, é o instante de se lembrar a que mesmo o rap veio, dos tempos em que a raiva movia as montanhas das rimas sem conversões cristãs ou filosóficas. “Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo / E quem disparou usava farda / Quem te acusou nem lamentava”. Ouvi-lo assim, inteligentemente driblando os novos Dops sem citar nomes e fatos já citando, ainda é de se lavar a alma. A revolta parece fazer mais sentido quando sai da mesma boca de quem provou que também sabe falar de amor.

De Chico Cesar, mesmo que ainda combativo desejando “fogo nos fascistas” no mesmo álbum que afirma ser o amor “um ato revolucionário”, a Nando Reis e Arnaldo Antunes, explicando em recente entrevista ao Estado como a palavra amor já passa a soar como uma resistência em si, as armas parecem estar sendo substituídas. O contexto de polarização miscigenada que coloca lado a lado, na mesma plateia, fãs crentes das duas linhas de pensamento político às quais um País de 202 milhões de viventes parece ter se reduzido, exige a descoberta de um novo eixo combativo.

Emicida, em São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

A voz de Emicida no álbum AmarElo aprofunda o veio que já marcava seus discos anteriores. Ele canta, com uma indignação que não é mais só nervosa, um rap que não é mais só rap. Ao desarmar a alma da sede das vinganças, sai da superfície do ódio e despolariza uma mesma música que, como quem a ouve, pode ser agora seca, dura, melodiosa, tranquila e raivosa. O bem e o mal não estão separados e não vivem apenas no outro. O sistema opressor que se deve combater pode ser minado com menos tiroteio e mais devoção às pequenas alegrias de uma vida adulta. “A música é só uma semente / um sorriso é a única língua que todos entendem”, diz em Principia.

O bom de quem se despolariza é o poder de se trocar a linearidade por uma riqueza sem fim de nuances, e esse é o movimento mais interessante de AmarElo. Cantando sem se entregar ao canto para não deixar de ser rapper, Emicida se junta a Zeca Pagodinho no samba rap Quem Tem Um Amigo Tem Tudo, parceria sua com Wilson das Neves, cantor e baterista morto em 2017. “Ser mano igual Gil e Caetano / Nesse mundo louco é pra poucos / Tanto sufoco insano, encontrei / Voltar pra esse plano e vamos estar voltando...” Ou rappeando com a potência de versos como “eu sonho mais alto que drones / Combustível do meu tipo? A fome / Pra arregaçar como um ciclone (entendeu?) / Pra que amanhã não seja só um ontem” sem se prender ao rap para entregar ao canto de Pabllo Vittar e Majur, eles fazem AmarElo sobre a base do refrão de Belchior em Sujeito de Sorte.

Ismália, com Larissa Luz emulando por ou sem querer Elza Soares e a voz de Fernanda Montenegro declamando versos ao final, é o instante de se lembrar a que mesmo o rap veio, dos tempos em que a raiva movia as montanhas das rimas sem conversões cristãs ou filosóficas. “Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo / E quem disparou usava farda / Quem te acusou nem lamentava”. Ouvi-lo assim, inteligentemente driblando os novos Dops sem citar nomes e fatos já citando, ainda é de se lavar a alma. A revolta parece fazer mais sentido quando sai da mesma boca de quem provou que também sabe falar de amor.

De Chico Cesar, mesmo que ainda combativo desejando “fogo nos fascistas” no mesmo álbum que afirma ser o amor “um ato revolucionário”, a Nando Reis e Arnaldo Antunes, explicando em recente entrevista ao Estado como a palavra amor já passa a soar como uma resistência em si, as armas parecem estar sendo substituídas. O contexto de polarização miscigenada que coloca lado a lado, na mesma plateia, fãs crentes das duas linhas de pensamento político às quais um País de 202 milhões de viventes parece ter se reduzido, exige a descoberta de um novo eixo combativo.

Emicida, em São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

A voz de Emicida no álbum AmarElo aprofunda o veio que já marcava seus discos anteriores. Ele canta, com uma indignação que não é mais só nervosa, um rap que não é mais só rap. Ao desarmar a alma da sede das vinganças, sai da superfície do ódio e despolariza uma mesma música que, como quem a ouve, pode ser agora seca, dura, melodiosa, tranquila e raivosa. O bem e o mal não estão separados e não vivem apenas no outro. O sistema opressor que se deve combater pode ser minado com menos tiroteio e mais devoção às pequenas alegrias de uma vida adulta. “A música é só uma semente / um sorriso é a única língua que todos entendem”, diz em Principia.

O bom de quem se despolariza é o poder de se trocar a linearidade por uma riqueza sem fim de nuances, e esse é o movimento mais interessante de AmarElo. Cantando sem se entregar ao canto para não deixar de ser rapper, Emicida se junta a Zeca Pagodinho no samba rap Quem Tem Um Amigo Tem Tudo, parceria sua com Wilson das Neves, cantor e baterista morto em 2017. “Ser mano igual Gil e Caetano / Nesse mundo louco é pra poucos / Tanto sufoco insano, encontrei / Voltar pra esse plano e vamos estar voltando...” Ou rappeando com a potência de versos como “eu sonho mais alto que drones / Combustível do meu tipo? A fome / Pra arregaçar como um ciclone (entendeu?) / Pra que amanhã não seja só um ontem” sem se prender ao rap para entregar ao canto de Pabllo Vittar e Majur, eles fazem AmarElo sobre a base do refrão de Belchior em Sujeito de Sorte.

Ismália, com Larissa Luz emulando por ou sem querer Elza Soares e a voz de Fernanda Montenegro declamando versos ao final, é o instante de se lembrar a que mesmo o rap veio, dos tempos em que a raiva movia as montanhas das rimas sem conversões cristãs ou filosóficas. “Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo / E quem disparou usava farda / Quem te acusou nem lamentava”. Ouvi-lo assim, inteligentemente driblando os novos Dops sem citar nomes e fatos já citando, ainda é de se lavar a alma. A revolta parece fazer mais sentido quando sai da mesma boca de quem provou que também sabe falar de amor.

De Chico Cesar, mesmo que ainda combativo desejando “fogo nos fascistas” no mesmo álbum que afirma ser o amor “um ato revolucionário”, a Nando Reis e Arnaldo Antunes, explicando em recente entrevista ao Estado como a palavra amor já passa a soar como uma resistência em si, as armas parecem estar sendo substituídas. O contexto de polarização miscigenada que coloca lado a lado, na mesma plateia, fãs crentes das duas linhas de pensamento político às quais um País de 202 milhões de viventes parece ter se reduzido, exige a descoberta de um novo eixo combativo.

Emicida, em São Paulo Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

A voz de Emicida no álbum AmarElo aprofunda o veio que já marcava seus discos anteriores. Ele canta, com uma indignação que não é mais só nervosa, um rap que não é mais só rap. Ao desarmar a alma da sede das vinganças, sai da superfície do ódio e despolariza uma mesma música que, como quem a ouve, pode ser agora seca, dura, melodiosa, tranquila e raivosa. O bem e o mal não estão separados e não vivem apenas no outro. O sistema opressor que se deve combater pode ser minado com menos tiroteio e mais devoção às pequenas alegrias de uma vida adulta. “A música é só uma semente / um sorriso é a única língua que todos entendem”, diz em Principia.

O bom de quem se despolariza é o poder de se trocar a linearidade por uma riqueza sem fim de nuances, e esse é o movimento mais interessante de AmarElo. Cantando sem se entregar ao canto para não deixar de ser rapper, Emicida se junta a Zeca Pagodinho no samba rap Quem Tem Um Amigo Tem Tudo, parceria sua com Wilson das Neves, cantor e baterista morto em 2017. “Ser mano igual Gil e Caetano / Nesse mundo louco é pra poucos / Tanto sufoco insano, encontrei / Voltar pra esse plano e vamos estar voltando...” Ou rappeando com a potência de versos como “eu sonho mais alto que drones / Combustível do meu tipo? A fome / Pra arregaçar como um ciclone (entendeu?) / Pra que amanhã não seja só um ontem” sem se prender ao rap para entregar ao canto de Pabllo Vittar e Majur, eles fazem AmarElo sobre a base do refrão de Belchior em Sujeito de Sorte.

Ismália, com Larissa Luz emulando por ou sem querer Elza Soares e a voz de Fernanda Montenegro declamando versos ao final, é o instante de se lembrar a que mesmo o rap veio, dos tempos em que a raiva movia as montanhas das rimas sem conversões cristãs ou filosóficas. “Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo / E quem disparou usava farda / Quem te acusou nem lamentava”. Ouvi-lo assim, inteligentemente driblando os novos Dops sem citar nomes e fatos já citando, ainda é de se lavar a alma. A revolta parece fazer mais sentido quando sai da mesma boca de quem provou que também sabe falar de amor.

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