Quem já assistiu a um show de Yamandu Costa sabe que ele põe fogo na plateia. É difícil ficar parado compartilhando uma virtuosidade aparentemente infinita. Em geral com uma amplificação poderosa, seu violão de sete cordas ocupa sozinho todos os espaços. A musicalidade nele é algo totalmente espontâneo. O acorde aparentemente errado acaba sendo uma passagem para uma modulação inesperada. Uma nota fora do lugar o leva para outras aventuras melódicas.
Seus álbuns em geral possuíam esta chama genial do improviso em estado puro. Acho que ele jamais tocou uma música do mesmo jeito. Em seus dedos e nas sete cordas, a cada vez ele as reinventa, no calor da hora.
Festejo marca sua entrada no universo da maturidade. Quarenta anos, diz ele rindo. “Tem a ver com maturidade da gente, vai passando o tempo e você vai percebendo o que faz bem e entende que menos é mais. Enfim, é preciso paciência pra chegar na maturidade, e acho que estou chegando nela. Sem dúvida, a calmaria chegou pra mim nestes últimos anos”.
Uma das frases do arranjador e toca-tudo Marcelo Jiran define bem seu estado de espírito atual: “Ele é a música em forma de um ser humano gentil”. O álbum tem doze músicas, todas dançáveis ou originárias de danças da Venezuela, Colômbia e Caribe, com destaque para Cuba. Mas elas não nos fazem pular do sofá e dançar junto.
A reação é batucar junto, sacudir levemente o corpo. Sintomaticamente, três das faixas mais atraentes são de um gênero essencialmente melancólico: Bolero Doce e Bolero Negro, de Yamandu, e Sambolero, clássico da bossa nova de Luiz Bonfá. Faltou acrescentar uma música que a dupla fez a meio-caminho da produção e gravação do disco: Beliscando gostoso. Tudo aqui respira a malemolência, não a sacolejo desbregado. Porque, na verdade, Yamandu nos convida a um passeio de descobertas pela riquíssima música latina. Lá estão dois Porros, dança caribenha da Colômbia, de Gentil Montaña (um deles com jeitão de xote por causa do arranjo de Jiran); a célebre Danzón no. 2, do mexicano Arturo Márquez; e a antológica Guajira a mi madre, do cubano Ñico Rojas.