Crítica: Tribalistas voltam previsíveis e formatados


Longe do potencial criativo de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, trio sustenta-se na forma que criou há 15 anos para se tornar um fenômeno de vendas

Por Julio Maria

Eles fizeram tudo às escondidas. Se reuniram frequentemente, traçaram estratégias, compuseram mais e mais canções. Arnaldo Antunes mentia sempre nas entrevistas, dizendo que não havia nada de Tribalistas no horizonte. Marisa Monte, Carlinhos Brown e seus assessores faziam o mesmo. A regra era dizer não, não temos nada. 

Os Tribalistas, 15 anos depois Foto: MARCO FRONER

Chegou então a noite de ontem e o mistério, já que os boatos de um suposto retorno eram ventilados nas redes sociais, começou a ser desfeito. Os três artistas anunciaram em suas páginas no Facebook que uma transmissão ao vivo seria exibida a partir das 23h. O alvoroço foi imediato e os comentários de fãs lotaram as redes. As redações, ignoradas até então, só receberam alguma informação na tarde de ontem (10). E, pelos números que chegaram, parece que a blindagem surtiu algum efeito. 

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Pelos 60 minutos em que estiveram falando e tocando quatro músicas inéditas do novo disco, os Tribalistas foram vistos por 5,62 milhões de seguidores em 52 países diferentes, incluindo Brasil, América Latina, Estados Unidos, França, Espanha, Japão, Rússia e até Paquistão. As quatro músicas tribalísticas são de uma criatividade previsível. Ao lado do baixista Dadi, dos violonistas Cézar Mendes e Pedro Baby, Marisa, Arnaldo e Brown mostraram Diáspora, a que deve ser o primeiro hit, Um Só, Fora da Memória e Aliança. Quinze anos depois, eles vinham com um material que poderia estar bem acomodado também no primeiro disco, tamanha a semelhança com a primeira proposta que os tornaram fenômeno.

“Desde que fizemos o primeiro álbum, nunca deixamos de estar próximos nem paramos de compor em parceria. Mas, desta vez, sentimos que tínhamos em mãos uma coleção de canções que soavam mais potentes quando cantadas pelos três juntos, daí surgiu o desejo de gravar um novo álbum”, resumiu Marisa Monte. O disco vai sair com dez músicas novas e chega às lojas físicas e virtuais no fim deste mês, em CD e DVD. O início da pré-venda foi anunciado para ontem mesmo, nas principais lojas online.

As canções respeitam um formato que já parece um estilo de música. Os personagens estão todos bem definidos ali. Em geral, Arnaldo Antunes canta em seus limítrofes graves e declama as poesias. É um canto declamatório que ele faz com Marisa desde Amor, I Love You, de 2000. Carlinhos Brown contém suas expansões, o que é admirável, para trabalhar ali como um coadjuvante humilde, fazendo a voz que se sente bem nos altos contrapor à de Arnaldo. E Marisa dá liga em tudo. Mesmo canções que poderiam ser menores, como Fora da Memória, ganham o brilho de uma voz presenteada pela genética. Há barulhinhos meigos da percussão de Carlinhos, violões gotejantes e muitas cordas soltas, sem uma sessão rítmica que lhes obriguem a andar no chão. É muitas vezes mais a ideia de uma interpretação o que está na frente.

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A postura do trio será a mesma em todas as canções, e isso pode ser uma cobrança. Arnaldo Antunes não se parece com o inquieto criador que passou pelos inquietos Titãs e fez discos surpreendentes depois disso. Carlinhos Brown parece um menino contido, não ficando claro sua presença na criação nem pela veia percussionista, nem pelo compositor. Eles falaram sobre o caráter de criação coletiva, Carlinhos chegou a levar a conversa para a miscigenação racial que marca a população brasileira e Marisa falou de discos históricos feitos em parcerias, como Elis & Tom. O projeto aparece assim com a assinatura de Marisa mais legível.

A negação do acontecimento é outra questão difícil de ser explicada. Ao dizerem não e não, mentindo convictamente em um país em que essa prática tem pesos cada vez maiores, parecem querer guardar o lançamento para a grande noite de estreia. Mas se anunciassem isso previamente não teriam eles ainda mais audiência. Ao romperem com os jornalistas e mandarem que seus assessores façam o mesmo, não perdem a chance de travar discussões interessantes com a imprensa? Não são seus fãs que mais perdem com tanta blindagem?

A música que deve tocar mais, por enquanto, parece ser Diáspora. É um belo feito. Ela abre com gemidos de Marisa e Carlinhos sobre escalas árabes, enquanto Arnaldo declama sua poesia. Com uma delicadeza triste e sem revolta, falam da questão dos refugiados. Tem um tratamento cigano impresso possivelmente por Dadi, e pode permitir um improviso de Marisa quando vier um show ao vivo dos Tribalistas. Mas, talvez, essa informação seja passada aos jornalistas em primeira mão. Será preciso vender ingressos. 

Eles fizeram tudo às escondidas. Se reuniram frequentemente, traçaram estratégias, compuseram mais e mais canções. Arnaldo Antunes mentia sempre nas entrevistas, dizendo que não havia nada de Tribalistas no horizonte. Marisa Monte, Carlinhos Brown e seus assessores faziam o mesmo. A regra era dizer não, não temos nada. 

Os Tribalistas, 15 anos depois Foto: MARCO FRONER

Chegou então a noite de ontem e o mistério, já que os boatos de um suposto retorno eram ventilados nas redes sociais, começou a ser desfeito. Os três artistas anunciaram em suas páginas no Facebook que uma transmissão ao vivo seria exibida a partir das 23h. O alvoroço foi imediato e os comentários de fãs lotaram as redes. As redações, ignoradas até então, só receberam alguma informação na tarde de ontem (10). E, pelos números que chegaram, parece que a blindagem surtiu algum efeito. 

Pelos 60 minutos em que estiveram falando e tocando quatro músicas inéditas do novo disco, os Tribalistas foram vistos por 5,62 milhões de seguidores em 52 países diferentes, incluindo Brasil, América Latina, Estados Unidos, França, Espanha, Japão, Rússia e até Paquistão. As quatro músicas tribalísticas são de uma criatividade previsível. Ao lado do baixista Dadi, dos violonistas Cézar Mendes e Pedro Baby, Marisa, Arnaldo e Brown mostraram Diáspora, a que deve ser o primeiro hit, Um Só, Fora da Memória e Aliança. Quinze anos depois, eles vinham com um material que poderia estar bem acomodado também no primeiro disco, tamanha a semelhança com a primeira proposta que os tornaram fenômeno.

“Desde que fizemos o primeiro álbum, nunca deixamos de estar próximos nem paramos de compor em parceria. Mas, desta vez, sentimos que tínhamos em mãos uma coleção de canções que soavam mais potentes quando cantadas pelos três juntos, daí surgiu o desejo de gravar um novo álbum”, resumiu Marisa Monte. O disco vai sair com dez músicas novas e chega às lojas físicas e virtuais no fim deste mês, em CD e DVD. O início da pré-venda foi anunciado para ontem mesmo, nas principais lojas online.

As canções respeitam um formato que já parece um estilo de música. Os personagens estão todos bem definidos ali. Em geral, Arnaldo Antunes canta em seus limítrofes graves e declama as poesias. É um canto declamatório que ele faz com Marisa desde Amor, I Love You, de 2000. Carlinhos Brown contém suas expansões, o que é admirável, para trabalhar ali como um coadjuvante humilde, fazendo a voz que se sente bem nos altos contrapor à de Arnaldo. E Marisa dá liga em tudo. Mesmo canções que poderiam ser menores, como Fora da Memória, ganham o brilho de uma voz presenteada pela genética. Há barulhinhos meigos da percussão de Carlinhos, violões gotejantes e muitas cordas soltas, sem uma sessão rítmica que lhes obriguem a andar no chão. É muitas vezes mais a ideia de uma interpretação o que está na frente.

A postura do trio será a mesma em todas as canções, e isso pode ser uma cobrança. Arnaldo Antunes não se parece com o inquieto criador que passou pelos inquietos Titãs e fez discos surpreendentes depois disso. Carlinhos Brown parece um menino contido, não ficando claro sua presença na criação nem pela veia percussionista, nem pelo compositor. Eles falaram sobre o caráter de criação coletiva, Carlinhos chegou a levar a conversa para a miscigenação racial que marca a população brasileira e Marisa falou de discos históricos feitos em parcerias, como Elis & Tom. O projeto aparece assim com a assinatura de Marisa mais legível.

A negação do acontecimento é outra questão difícil de ser explicada. Ao dizerem não e não, mentindo convictamente em um país em que essa prática tem pesos cada vez maiores, parecem querer guardar o lançamento para a grande noite de estreia. Mas se anunciassem isso previamente não teriam eles ainda mais audiência. Ao romperem com os jornalistas e mandarem que seus assessores façam o mesmo, não perdem a chance de travar discussões interessantes com a imprensa? Não são seus fãs que mais perdem com tanta blindagem?

A música que deve tocar mais, por enquanto, parece ser Diáspora. É um belo feito. Ela abre com gemidos de Marisa e Carlinhos sobre escalas árabes, enquanto Arnaldo declama sua poesia. Com uma delicadeza triste e sem revolta, falam da questão dos refugiados. Tem um tratamento cigano impresso possivelmente por Dadi, e pode permitir um improviso de Marisa quando vier um show ao vivo dos Tribalistas. Mas, talvez, essa informação seja passada aos jornalistas em primeira mão. Será preciso vender ingressos. 

Eles fizeram tudo às escondidas. Se reuniram frequentemente, traçaram estratégias, compuseram mais e mais canções. Arnaldo Antunes mentia sempre nas entrevistas, dizendo que não havia nada de Tribalistas no horizonte. Marisa Monte, Carlinhos Brown e seus assessores faziam o mesmo. A regra era dizer não, não temos nada. 

Os Tribalistas, 15 anos depois Foto: MARCO FRONER

Chegou então a noite de ontem e o mistério, já que os boatos de um suposto retorno eram ventilados nas redes sociais, começou a ser desfeito. Os três artistas anunciaram em suas páginas no Facebook que uma transmissão ao vivo seria exibida a partir das 23h. O alvoroço foi imediato e os comentários de fãs lotaram as redes. As redações, ignoradas até então, só receberam alguma informação na tarde de ontem (10). E, pelos números que chegaram, parece que a blindagem surtiu algum efeito. 

Pelos 60 minutos em que estiveram falando e tocando quatro músicas inéditas do novo disco, os Tribalistas foram vistos por 5,62 milhões de seguidores em 52 países diferentes, incluindo Brasil, América Latina, Estados Unidos, França, Espanha, Japão, Rússia e até Paquistão. As quatro músicas tribalísticas são de uma criatividade previsível. Ao lado do baixista Dadi, dos violonistas Cézar Mendes e Pedro Baby, Marisa, Arnaldo e Brown mostraram Diáspora, a que deve ser o primeiro hit, Um Só, Fora da Memória e Aliança. Quinze anos depois, eles vinham com um material que poderia estar bem acomodado também no primeiro disco, tamanha a semelhança com a primeira proposta que os tornaram fenômeno.

“Desde que fizemos o primeiro álbum, nunca deixamos de estar próximos nem paramos de compor em parceria. Mas, desta vez, sentimos que tínhamos em mãos uma coleção de canções que soavam mais potentes quando cantadas pelos três juntos, daí surgiu o desejo de gravar um novo álbum”, resumiu Marisa Monte. O disco vai sair com dez músicas novas e chega às lojas físicas e virtuais no fim deste mês, em CD e DVD. O início da pré-venda foi anunciado para ontem mesmo, nas principais lojas online.

As canções respeitam um formato que já parece um estilo de música. Os personagens estão todos bem definidos ali. Em geral, Arnaldo Antunes canta em seus limítrofes graves e declama as poesias. É um canto declamatório que ele faz com Marisa desde Amor, I Love You, de 2000. Carlinhos Brown contém suas expansões, o que é admirável, para trabalhar ali como um coadjuvante humilde, fazendo a voz que se sente bem nos altos contrapor à de Arnaldo. E Marisa dá liga em tudo. Mesmo canções que poderiam ser menores, como Fora da Memória, ganham o brilho de uma voz presenteada pela genética. Há barulhinhos meigos da percussão de Carlinhos, violões gotejantes e muitas cordas soltas, sem uma sessão rítmica que lhes obriguem a andar no chão. É muitas vezes mais a ideia de uma interpretação o que está na frente.

A postura do trio será a mesma em todas as canções, e isso pode ser uma cobrança. Arnaldo Antunes não se parece com o inquieto criador que passou pelos inquietos Titãs e fez discos surpreendentes depois disso. Carlinhos Brown parece um menino contido, não ficando claro sua presença na criação nem pela veia percussionista, nem pelo compositor. Eles falaram sobre o caráter de criação coletiva, Carlinhos chegou a levar a conversa para a miscigenação racial que marca a população brasileira e Marisa falou de discos históricos feitos em parcerias, como Elis & Tom. O projeto aparece assim com a assinatura de Marisa mais legível.

A negação do acontecimento é outra questão difícil de ser explicada. Ao dizerem não e não, mentindo convictamente em um país em que essa prática tem pesos cada vez maiores, parecem querer guardar o lançamento para a grande noite de estreia. Mas se anunciassem isso previamente não teriam eles ainda mais audiência. Ao romperem com os jornalistas e mandarem que seus assessores façam o mesmo, não perdem a chance de travar discussões interessantes com a imprensa? Não são seus fãs que mais perdem com tanta blindagem?

A música que deve tocar mais, por enquanto, parece ser Diáspora. É um belo feito. Ela abre com gemidos de Marisa e Carlinhos sobre escalas árabes, enquanto Arnaldo declama sua poesia. Com uma delicadeza triste e sem revolta, falam da questão dos refugiados. Tem um tratamento cigano impresso possivelmente por Dadi, e pode permitir um improviso de Marisa quando vier um show ao vivo dos Tribalistas. Mas, talvez, essa informação seja passada aos jornalistas em primeira mão. Será preciso vender ingressos. 

Eles fizeram tudo às escondidas. Se reuniram frequentemente, traçaram estratégias, compuseram mais e mais canções. Arnaldo Antunes mentia sempre nas entrevistas, dizendo que não havia nada de Tribalistas no horizonte. Marisa Monte, Carlinhos Brown e seus assessores faziam o mesmo. A regra era dizer não, não temos nada. 

Os Tribalistas, 15 anos depois Foto: MARCO FRONER

Chegou então a noite de ontem e o mistério, já que os boatos de um suposto retorno eram ventilados nas redes sociais, começou a ser desfeito. Os três artistas anunciaram em suas páginas no Facebook que uma transmissão ao vivo seria exibida a partir das 23h. O alvoroço foi imediato e os comentários de fãs lotaram as redes. As redações, ignoradas até então, só receberam alguma informação na tarde de ontem (10). E, pelos números que chegaram, parece que a blindagem surtiu algum efeito. 

Pelos 60 minutos em que estiveram falando e tocando quatro músicas inéditas do novo disco, os Tribalistas foram vistos por 5,62 milhões de seguidores em 52 países diferentes, incluindo Brasil, América Latina, Estados Unidos, França, Espanha, Japão, Rússia e até Paquistão. As quatro músicas tribalísticas são de uma criatividade previsível. Ao lado do baixista Dadi, dos violonistas Cézar Mendes e Pedro Baby, Marisa, Arnaldo e Brown mostraram Diáspora, a que deve ser o primeiro hit, Um Só, Fora da Memória e Aliança. Quinze anos depois, eles vinham com um material que poderia estar bem acomodado também no primeiro disco, tamanha a semelhança com a primeira proposta que os tornaram fenômeno.

“Desde que fizemos o primeiro álbum, nunca deixamos de estar próximos nem paramos de compor em parceria. Mas, desta vez, sentimos que tínhamos em mãos uma coleção de canções que soavam mais potentes quando cantadas pelos três juntos, daí surgiu o desejo de gravar um novo álbum”, resumiu Marisa Monte. O disco vai sair com dez músicas novas e chega às lojas físicas e virtuais no fim deste mês, em CD e DVD. O início da pré-venda foi anunciado para ontem mesmo, nas principais lojas online.

As canções respeitam um formato que já parece um estilo de música. Os personagens estão todos bem definidos ali. Em geral, Arnaldo Antunes canta em seus limítrofes graves e declama as poesias. É um canto declamatório que ele faz com Marisa desde Amor, I Love You, de 2000. Carlinhos Brown contém suas expansões, o que é admirável, para trabalhar ali como um coadjuvante humilde, fazendo a voz que se sente bem nos altos contrapor à de Arnaldo. E Marisa dá liga em tudo. Mesmo canções que poderiam ser menores, como Fora da Memória, ganham o brilho de uma voz presenteada pela genética. Há barulhinhos meigos da percussão de Carlinhos, violões gotejantes e muitas cordas soltas, sem uma sessão rítmica que lhes obriguem a andar no chão. É muitas vezes mais a ideia de uma interpretação o que está na frente.

A postura do trio será a mesma em todas as canções, e isso pode ser uma cobrança. Arnaldo Antunes não se parece com o inquieto criador que passou pelos inquietos Titãs e fez discos surpreendentes depois disso. Carlinhos Brown parece um menino contido, não ficando claro sua presença na criação nem pela veia percussionista, nem pelo compositor. Eles falaram sobre o caráter de criação coletiva, Carlinhos chegou a levar a conversa para a miscigenação racial que marca a população brasileira e Marisa falou de discos históricos feitos em parcerias, como Elis & Tom. O projeto aparece assim com a assinatura de Marisa mais legível.

A negação do acontecimento é outra questão difícil de ser explicada. Ao dizerem não e não, mentindo convictamente em um país em que essa prática tem pesos cada vez maiores, parecem querer guardar o lançamento para a grande noite de estreia. Mas se anunciassem isso previamente não teriam eles ainda mais audiência. Ao romperem com os jornalistas e mandarem que seus assessores façam o mesmo, não perdem a chance de travar discussões interessantes com a imprensa? Não são seus fãs que mais perdem com tanta blindagem?

A música que deve tocar mais, por enquanto, parece ser Diáspora. É um belo feito. Ela abre com gemidos de Marisa e Carlinhos sobre escalas árabes, enquanto Arnaldo declama sua poesia. Com uma delicadeza triste e sem revolta, falam da questão dos refugiados. Tem um tratamento cigano impresso possivelmente por Dadi, e pode permitir um improviso de Marisa quando vier um show ao vivo dos Tribalistas. Mas, talvez, essa informação seja passada aos jornalistas em primeira mão. Será preciso vender ingressos. 

Eles fizeram tudo às escondidas. Se reuniram frequentemente, traçaram estratégias, compuseram mais e mais canções. Arnaldo Antunes mentia sempre nas entrevistas, dizendo que não havia nada de Tribalistas no horizonte. Marisa Monte, Carlinhos Brown e seus assessores faziam o mesmo. A regra era dizer não, não temos nada. 

Os Tribalistas, 15 anos depois Foto: MARCO FRONER

Chegou então a noite de ontem e o mistério, já que os boatos de um suposto retorno eram ventilados nas redes sociais, começou a ser desfeito. Os três artistas anunciaram em suas páginas no Facebook que uma transmissão ao vivo seria exibida a partir das 23h. O alvoroço foi imediato e os comentários de fãs lotaram as redes. As redações, ignoradas até então, só receberam alguma informação na tarde de ontem (10). E, pelos números que chegaram, parece que a blindagem surtiu algum efeito. 

Pelos 60 minutos em que estiveram falando e tocando quatro músicas inéditas do novo disco, os Tribalistas foram vistos por 5,62 milhões de seguidores em 52 países diferentes, incluindo Brasil, América Latina, Estados Unidos, França, Espanha, Japão, Rússia e até Paquistão. As quatro músicas tribalísticas são de uma criatividade previsível. Ao lado do baixista Dadi, dos violonistas Cézar Mendes e Pedro Baby, Marisa, Arnaldo e Brown mostraram Diáspora, a que deve ser o primeiro hit, Um Só, Fora da Memória e Aliança. Quinze anos depois, eles vinham com um material que poderia estar bem acomodado também no primeiro disco, tamanha a semelhança com a primeira proposta que os tornaram fenômeno.

“Desde que fizemos o primeiro álbum, nunca deixamos de estar próximos nem paramos de compor em parceria. Mas, desta vez, sentimos que tínhamos em mãos uma coleção de canções que soavam mais potentes quando cantadas pelos três juntos, daí surgiu o desejo de gravar um novo álbum”, resumiu Marisa Monte. O disco vai sair com dez músicas novas e chega às lojas físicas e virtuais no fim deste mês, em CD e DVD. O início da pré-venda foi anunciado para ontem mesmo, nas principais lojas online.

As canções respeitam um formato que já parece um estilo de música. Os personagens estão todos bem definidos ali. Em geral, Arnaldo Antunes canta em seus limítrofes graves e declama as poesias. É um canto declamatório que ele faz com Marisa desde Amor, I Love You, de 2000. Carlinhos Brown contém suas expansões, o que é admirável, para trabalhar ali como um coadjuvante humilde, fazendo a voz que se sente bem nos altos contrapor à de Arnaldo. E Marisa dá liga em tudo. Mesmo canções que poderiam ser menores, como Fora da Memória, ganham o brilho de uma voz presenteada pela genética. Há barulhinhos meigos da percussão de Carlinhos, violões gotejantes e muitas cordas soltas, sem uma sessão rítmica que lhes obriguem a andar no chão. É muitas vezes mais a ideia de uma interpretação o que está na frente.

A postura do trio será a mesma em todas as canções, e isso pode ser uma cobrança. Arnaldo Antunes não se parece com o inquieto criador que passou pelos inquietos Titãs e fez discos surpreendentes depois disso. Carlinhos Brown parece um menino contido, não ficando claro sua presença na criação nem pela veia percussionista, nem pelo compositor. Eles falaram sobre o caráter de criação coletiva, Carlinhos chegou a levar a conversa para a miscigenação racial que marca a população brasileira e Marisa falou de discos históricos feitos em parcerias, como Elis & Tom. O projeto aparece assim com a assinatura de Marisa mais legível.

A negação do acontecimento é outra questão difícil de ser explicada. Ao dizerem não e não, mentindo convictamente em um país em que essa prática tem pesos cada vez maiores, parecem querer guardar o lançamento para a grande noite de estreia. Mas se anunciassem isso previamente não teriam eles ainda mais audiência. Ao romperem com os jornalistas e mandarem que seus assessores façam o mesmo, não perdem a chance de travar discussões interessantes com a imprensa? Não são seus fãs que mais perdem com tanta blindagem?

A música que deve tocar mais, por enquanto, parece ser Diáspora. É um belo feito. Ela abre com gemidos de Marisa e Carlinhos sobre escalas árabes, enquanto Arnaldo declama sua poesia. Com uma delicadeza triste e sem revolta, falam da questão dos refugiados. Tem um tratamento cigano impresso possivelmente por Dadi, e pode permitir um improviso de Marisa quando vier um show ao vivo dos Tribalistas. Mas, talvez, essa informação seja passada aos jornalistas em primeira mão. Será preciso vender ingressos. 

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