SIMPor Julio Maria
Os singles, a estratégia que remete às origens da indústria fonográfica, quando as gravadoras mediam a temperatura de seus artistas lançando compactos simples, ou singles, antes de apostarem na gravação do chamado long playing (LP) é ainda a melhor estratégia até que se crie algo novo. Mas nenhum artista consegue profundidade e relevância sem um álbum. Depois de ter sua morte decretada, há menos de dez anos, a força do disco conceitual é retomada mesmo por uma geração que aprendeu a ouvir música em doses homeopáticas.
A nomeação dos ‘discos do ano’, que adoramos fazer na imprensa, é prova do quanto valorizamos, além dos personagens (as faixas) um bom roteiro (o álbum). Elza Soares levou as listas em 2016 com A Mulher do Fim do Mundo, conceitual até a medula. Tim Bernardes foi agraciado um ano depois com Recomeço, interligado pelo belo lirismo de poesia e arranjos.
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A conceituação coloca o artista em uma dimensão acima dos hit makers de Spotify. Quando as músicas são capítulos de uma história, elas viram obra e ganham significados além de suas qualidades isoladas. Quando não são, terão, no máximo, a eternidade vazia.
NÃO Pedro Antunes
Estamos em 2018, afinal. Não é “essencial”, embora ainda seja importante. O que o novo mercado da música nos ensina – e Rashid, Anitta e IZA têm jogado nas nossas caras ao destroçar as velhas convicções – é a importância de manter a comunicação direta com os fãs e com os interessados em música.
É a música 2.0, cujo consumo se dá em qualquer lugar – desde que existe, pelo menos, uma conexão com internet, para acessar a nuvem de serviços como Spotify, Apple Music, Deezer – em qualquer momento. Tem-se, nas mãos, na bolsa ou no bolso da calça, no seu aparelho celular.
A revolução mobile afetou diretamente a forma como o mundo se relaciona com a música. Um disco ainda é artisticamente desejado, é claro. As melhores músicas dele, contudo, serão um tanto de vezes mais ouvidas do que as outras, quase como funcionavam as “músicas de trabalho”, como os singles eram chamados.
“O álbum é um recorte na produção criativa de um artista, mas não necessariamente é um formato que deve ser explorado por todos os artistas”, diz Roberta Pate, gerente de relacionamento com artistas e gravadoras do Spotify para América Latina e Estados Unidos hispânico. E é por aí. O álbum é lindo, conceitual e importantíssimo. Só não é essencial.