Diogo Nogueira sobre a intolerância religiosa: ‘Só tenho que pedir perdão por essas pessoas’


Músico lança álbum em que exalta raízes do samba e fala ao ‘Estadão’ sobre preconceito contra o gênero em sua relação com religiões africanas. Ele também se prepara para dar vida ao pai, João Nogueira, em um musical

Por Danilo Casaletti
Atualização:

Nada mais genuíno no samba do que a marcação do ritmo na palma da mão. Era assim que pessoas escravizadas armavam suas rodas nos poucos momentos em que lhe permitiam a festa. Ou que os terreiros – de religiões de matrizes africanas ou onde o samba se dá – invocam o sagrado do gênero até os dias de hoje.

São elementos como os instrumentos, a comida, a bebida, a escola de samba do coração, o santo de devoção, o time de paixão, a natureza – sobretudo, uma árvore frondosa – e os amigos reunidos. Tudo isso está em Sagrado Volume 1, álbum que o cantor Diogo Nogueira acaba de lançar. São oito faixas com produção musical de Alessandro Cardozo e Rafael dos Anjos.

Diogo Nogueira foi buscar as raízes do samba em 'Sagrado' Foto: Leo Aversa
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A capa, construída por meio da inteligência artificial, traz Diogo como um menino que joga bolinha de gude embaixo de uma mangueira, enquanto o pai dele, João Nogueira (1941-2000), um dos mais notórios sambistas do País, criador do Clube do Samba, conversa com amigos.

As camisas do Flamengo e da Mangueira penduradas na corda, o violão encostado na árvore, ao lado de São Jorge – ou Ogum – a guardar tudo: um retrato da infância de Diogo em Rocha Miranda, na casa da avó materna, no subúrbio carioca.

Há dois anos Diogo trabalha para lançar um álbum assim, totalmente ligado à essência do samba. “Tudo tem uma memória afetiva. A alegria de uma criança no chão, na terra. As rodas de samba na minha casa. Eu sentia falta disso no samba”, diz.

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A capa do álbum 'Sagrado', de Diogo Nogueira Foto: Emilio Soares

Do que exatamente o samba, cada vez mais tocado em rodas de ruas, sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro, está carente? Diogo responde:

Essas rodas de sambas precisam ser vistas. Só a vemos quando vamos até ela. Eu tenho uma amplitude maior. Chego a lugares em que as rodas não chegam, e posso mostrar para as pessoas que ainda se faz samba em sua verdadeira essência. Tradicional, sim, mas moderno também

Diogo Nogueira

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O cantor aponta as mãos do mercado como um dos impedimentos para que esse movimento que nasce novamente do povo se amplie. “O samba é algo simples”, diz, abrindo o papo que cria conexão com uma música inédita do pai que Diogo gravou em Sagrado (leia mais adiante).

Tudo que Diogo reivindica aparece logo na primeira faixa, Herança Nacional (Quero Ver Geral), composta por Junior Dom. Há nela o provocativo verso: “Olha pra dentro de você que tem batuque”

A mesma faixa pede que o povo possa sambar sem medo de nada. O assunto é destrinchado em Ciência da Paz, faixa mais melodiosa que reflete sobre a intolerância religiosa, que tem base no racismo.

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“Seu fio de conta (colares usados pelos praticantes de religiões como umbanda e candomblé) não é da conta de ninguém”, diz o refrão.

Ouça o álbum:

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A própria abordagem do tema mostra o quanto a discussão é importante - e que ela já chegou aos compositores. Se nos anos 1970 e 1980 nomes como Clara Nunes, Alcione e João Nogueira apenas cantavam livremente as religiões africanas – Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Mariene de Castro ainda o fazem -, agora é preciso refletir.

Diogo mesmo foi vítima desse preconceito quando, recentemente, postou um vídeo em uma rede social se declarando candomblecista. “Nos comentários, muitas pessoas não respeitam minha religião”, diz. Diogo prefere não revidar.

Pra que, né? Quanto mais você responder, menos eles vão entender. É melhor deixar essas pessoas sozinhas. Só tenho que pedir perdão por elas

Diogo Nogueira

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Um reencontro com o pai no álbum e nos palcos

Além de composições contemporâneas, o EP Sagrado Volume 1 traz uma letra inédita de João Nogueira. Meu Samba Por Aí é uma parceria do pai de Diogo com Paulo Valdez, filho da cantora Elizeth Cardoso.

A fita chegou a Diogo, que não conhecia a canção, por meio de um amigo. Não é possível precisar quando a composição foi feita – Valdez também já morreu –, mas Diogo estima que ela seja dos anos 1970. “Foi algo espiritual”, aposta Diogo.

A faixa abre com a voz e o violão tocado por João, com a gravação que estava registrado em uma fita cassete. A letra é bastante curiosa. Fala de um samba que é feito e cantado do “fundinho do coração”, mas que não frequenta a televisão. Questões mercadológicas que sempre determinaram o que pode tocar ou não. Tolice é se guiar por elas – ou por algoritmos. Sensato é se orientar pelo ensinamento de João e seguir o sentimento.

Além de criar essa conexão ancestral também com o pai, Diogo se prepara para vivê-lo nos palcos. Ele aceitou o convite para protagonizar o musical João Nogueira Através do Espelho – nome de um dos principais sucessos do sambista – que deve estrear em 2024.

Diogo diz que os ensaios ainda não começaram. O que para ele poderia ser naturalmente fácil – ele tem o timbre de voz bastante parecido com o do pai – poder ser objetivamente difícil. Principalmente pelo fator emoção. “Meu pai está muito em mim. Mas o ator precisa se esvaziar para poder encaixar o personagem que ele vai viver. Será um trabalho árduo”, diz.

Não será a primeira experiência de Diogo nos palcos. Ele já participou do musical Sambra, que homenageava os 100 anos de samba, em 2016, e está no elenco da série Desejo S.A., da plataforma Star + com estreia prevista para janeiro de 2024.

Diogo Nogueira na quadra da Portela, escola do seu coração Foto: Leo Aversa

Apesar de estar cada vez com os pés dentro da dramaturgia, o cantor diz que nunca buscou se tornar ator.

Gosto de ver filmes, peças e novelas. Prestar atenção nos atores e atrizes. Se me permitirem fazer, se eu puder estudar para isso (ser ator), será um privilégio

Diogo Nogueira

Sobre se a atriz Paolla Oliveira, com quem assumiu o namoro em julho de 2021, ajudou a despertar o interesse pelas artes cênicas, Diogo é econômico na resposta. “Não. Isso sempre existiu antes mesmo dela”, diz.

Talvez ela seja a musa influenciadora do próximo volume de Sagrado – a ser lançado em fevereiro de 2024 -, dedicado a outra característica sempre presente no samba e na música popular brasileira de maneira geral: o romantismo.

Uma das canções desse primeiro volume, À Moda Antiga, composta por Arlindinho, Marcelinho Moreira e Márcio Alexandre, já revela o clima do que poderá ser a continuação de Sagrado. Com vocação radiofônica, a letra cita Djavan em Um Amor Puro. Mais uma prova de que a geração de artistas pós bossa nova volta cada vez mais à boca das novas gerações.

Nada mais genuíno no samba do que a marcação do ritmo na palma da mão. Era assim que pessoas escravizadas armavam suas rodas nos poucos momentos em que lhe permitiam a festa. Ou que os terreiros – de religiões de matrizes africanas ou onde o samba se dá – invocam o sagrado do gênero até os dias de hoje.

São elementos como os instrumentos, a comida, a bebida, a escola de samba do coração, o santo de devoção, o time de paixão, a natureza – sobretudo, uma árvore frondosa – e os amigos reunidos. Tudo isso está em Sagrado Volume 1, álbum que o cantor Diogo Nogueira acaba de lançar. São oito faixas com produção musical de Alessandro Cardozo e Rafael dos Anjos.

Diogo Nogueira foi buscar as raízes do samba em 'Sagrado' Foto: Leo Aversa

A capa, construída por meio da inteligência artificial, traz Diogo como um menino que joga bolinha de gude embaixo de uma mangueira, enquanto o pai dele, João Nogueira (1941-2000), um dos mais notórios sambistas do País, criador do Clube do Samba, conversa com amigos.

As camisas do Flamengo e da Mangueira penduradas na corda, o violão encostado na árvore, ao lado de São Jorge – ou Ogum – a guardar tudo: um retrato da infância de Diogo em Rocha Miranda, na casa da avó materna, no subúrbio carioca.

Há dois anos Diogo trabalha para lançar um álbum assim, totalmente ligado à essência do samba. “Tudo tem uma memória afetiva. A alegria de uma criança no chão, na terra. As rodas de samba na minha casa. Eu sentia falta disso no samba”, diz.

A capa do álbum 'Sagrado', de Diogo Nogueira Foto: Emilio Soares

Do que exatamente o samba, cada vez mais tocado em rodas de ruas, sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro, está carente? Diogo responde:

Essas rodas de sambas precisam ser vistas. Só a vemos quando vamos até ela. Eu tenho uma amplitude maior. Chego a lugares em que as rodas não chegam, e posso mostrar para as pessoas que ainda se faz samba em sua verdadeira essência. Tradicional, sim, mas moderno também

Diogo Nogueira

O cantor aponta as mãos do mercado como um dos impedimentos para que esse movimento que nasce novamente do povo se amplie. “O samba é algo simples”, diz, abrindo o papo que cria conexão com uma música inédita do pai que Diogo gravou em Sagrado (leia mais adiante).

Tudo que Diogo reivindica aparece logo na primeira faixa, Herança Nacional (Quero Ver Geral), composta por Junior Dom. Há nela o provocativo verso: “Olha pra dentro de você que tem batuque”

A mesma faixa pede que o povo possa sambar sem medo de nada. O assunto é destrinchado em Ciência da Paz, faixa mais melodiosa que reflete sobre a intolerância religiosa, que tem base no racismo.

“Seu fio de conta (colares usados pelos praticantes de religiões como umbanda e candomblé) não é da conta de ninguém”, diz o refrão.

Ouça o álbum:

A própria abordagem do tema mostra o quanto a discussão é importante - e que ela já chegou aos compositores. Se nos anos 1970 e 1980 nomes como Clara Nunes, Alcione e João Nogueira apenas cantavam livremente as religiões africanas – Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Mariene de Castro ainda o fazem -, agora é preciso refletir.

Diogo mesmo foi vítima desse preconceito quando, recentemente, postou um vídeo em uma rede social se declarando candomblecista. “Nos comentários, muitas pessoas não respeitam minha religião”, diz. Diogo prefere não revidar.

Pra que, né? Quanto mais você responder, menos eles vão entender. É melhor deixar essas pessoas sozinhas. Só tenho que pedir perdão por elas

Diogo Nogueira

Um reencontro com o pai no álbum e nos palcos

Além de composições contemporâneas, o EP Sagrado Volume 1 traz uma letra inédita de João Nogueira. Meu Samba Por Aí é uma parceria do pai de Diogo com Paulo Valdez, filho da cantora Elizeth Cardoso.

A fita chegou a Diogo, que não conhecia a canção, por meio de um amigo. Não é possível precisar quando a composição foi feita – Valdez também já morreu –, mas Diogo estima que ela seja dos anos 1970. “Foi algo espiritual”, aposta Diogo.

A faixa abre com a voz e o violão tocado por João, com a gravação que estava registrado em uma fita cassete. A letra é bastante curiosa. Fala de um samba que é feito e cantado do “fundinho do coração”, mas que não frequenta a televisão. Questões mercadológicas que sempre determinaram o que pode tocar ou não. Tolice é se guiar por elas – ou por algoritmos. Sensato é se orientar pelo ensinamento de João e seguir o sentimento.

Além de criar essa conexão ancestral também com o pai, Diogo se prepara para vivê-lo nos palcos. Ele aceitou o convite para protagonizar o musical João Nogueira Através do Espelho – nome de um dos principais sucessos do sambista – que deve estrear em 2024.

Diogo diz que os ensaios ainda não começaram. O que para ele poderia ser naturalmente fácil – ele tem o timbre de voz bastante parecido com o do pai – poder ser objetivamente difícil. Principalmente pelo fator emoção. “Meu pai está muito em mim. Mas o ator precisa se esvaziar para poder encaixar o personagem que ele vai viver. Será um trabalho árduo”, diz.

Não será a primeira experiência de Diogo nos palcos. Ele já participou do musical Sambra, que homenageava os 100 anos de samba, em 2016, e está no elenco da série Desejo S.A., da plataforma Star + com estreia prevista para janeiro de 2024.

Diogo Nogueira na quadra da Portela, escola do seu coração Foto: Leo Aversa

Apesar de estar cada vez com os pés dentro da dramaturgia, o cantor diz que nunca buscou se tornar ator.

Gosto de ver filmes, peças e novelas. Prestar atenção nos atores e atrizes. Se me permitirem fazer, se eu puder estudar para isso (ser ator), será um privilégio

Diogo Nogueira

Sobre se a atriz Paolla Oliveira, com quem assumiu o namoro em julho de 2021, ajudou a despertar o interesse pelas artes cênicas, Diogo é econômico na resposta. “Não. Isso sempre existiu antes mesmo dela”, diz.

Talvez ela seja a musa influenciadora do próximo volume de Sagrado – a ser lançado em fevereiro de 2024 -, dedicado a outra característica sempre presente no samba e na música popular brasileira de maneira geral: o romantismo.

Uma das canções desse primeiro volume, À Moda Antiga, composta por Arlindinho, Marcelinho Moreira e Márcio Alexandre, já revela o clima do que poderá ser a continuação de Sagrado. Com vocação radiofônica, a letra cita Djavan em Um Amor Puro. Mais uma prova de que a geração de artistas pós bossa nova volta cada vez mais à boca das novas gerações.

Nada mais genuíno no samba do que a marcação do ritmo na palma da mão. Era assim que pessoas escravizadas armavam suas rodas nos poucos momentos em que lhe permitiam a festa. Ou que os terreiros – de religiões de matrizes africanas ou onde o samba se dá – invocam o sagrado do gênero até os dias de hoje.

São elementos como os instrumentos, a comida, a bebida, a escola de samba do coração, o santo de devoção, o time de paixão, a natureza – sobretudo, uma árvore frondosa – e os amigos reunidos. Tudo isso está em Sagrado Volume 1, álbum que o cantor Diogo Nogueira acaba de lançar. São oito faixas com produção musical de Alessandro Cardozo e Rafael dos Anjos.

Diogo Nogueira foi buscar as raízes do samba em 'Sagrado' Foto: Leo Aversa

A capa, construída por meio da inteligência artificial, traz Diogo como um menino que joga bolinha de gude embaixo de uma mangueira, enquanto o pai dele, João Nogueira (1941-2000), um dos mais notórios sambistas do País, criador do Clube do Samba, conversa com amigos.

As camisas do Flamengo e da Mangueira penduradas na corda, o violão encostado na árvore, ao lado de São Jorge – ou Ogum – a guardar tudo: um retrato da infância de Diogo em Rocha Miranda, na casa da avó materna, no subúrbio carioca.

Há dois anos Diogo trabalha para lançar um álbum assim, totalmente ligado à essência do samba. “Tudo tem uma memória afetiva. A alegria de uma criança no chão, na terra. As rodas de samba na minha casa. Eu sentia falta disso no samba”, diz.

A capa do álbum 'Sagrado', de Diogo Nogueira Foto: Emilio Soares

Do que exatamente o samba, cada vez mais tocado em rodas de ruas, sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro, está carente? Diogo responde:

Essas rodas de sambas precisam ser vistas. Só a vemos quando vamos até ela. Eu tenho uma amplitude maior. Chego a lugares em que as rodas não chegam, e posso mostrar para as pessoas que ainda se faz samba em sua verdadeira essência. Tradicional, sim, mas moderno também

Diogo Nogueira

O cantor aponta as mãos do mercado como um dos impedimentos para que esse movimento que nasce novamente do povo se amplie. “O samba é algo simples”, diz, abrindo o papo que cria conexão com uma música inédita do pai que Diogo gravou em Sagrado (leia mais adiante).

Tudo que Diogo reivindica aparece logo na primeira faixa, Herança Nacional (Quero Ver Geral), composta por Junior Dom. Há nela o provocativo verso: “Olha pra dentro de você que tem batuque”

A mesma faixa pede que o povo possa sambar sem medo de nada. O assunto é destrinchado em Ciência da Paz, faixa mais melodiosa que reflete sobre a intolerância religiosa, que tem base no racismo.

“Seu fio de conta (colares usados pelos praticantes de religiões como umbanda e candomblé) não é da conta de ninguém”, diz o refrão.

Ouça o álbum:

A própria abordagem do tema mostra o quanto a discussão é importante - e que ela já chegou aos compositores. Se nos anos 1970 e 1980 nomes como Clara Nunes, Alcione e João Nogueira apenas cantavam livremente as religiões africanas – Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Mariene de Castro ainda o fazem -, agora é preciso refletir.

Diogo mesmo foi vítima desse preconceito quando, recentemente, postou um vídeo em uma rede social se declarando candomblecista. “Nos comentários, muitas pessoas não respeitam minha religião”, diz. Diogo prefere não revidar.

Pra que, né? Quanto mais você responder, menos eles vão entender. É melhor deixar essas pessoas sozinhas. Só tenho que pedir perdão por elas

Diogo Nogueira

Um reencontro com o pai no álbum e nos palcos

Além de composições contemporâneas, o EP Sagrado Volume 1 traz uma letra inédita de João Nogueira. Meu Samba Por Aí é uma parceria do pai de Diogo com Paulo Valdez, filho da cantora Elizeth Cardoso.

A fita chegou a Diogo, que não conhecia a canção, por meio de um amigo. Não é possível precisar quando a composição foi feita – Valdez também já morreu –, mas Diogo estima que ela seja dos anos 1970. “Foi algo espiritual”, aposta Diogo.

A faixa abre com a voz e o violão tocado por João, com a gravação que estava registrado em uma fita cassete. A letra é bastante curiosa. Fala de um samba que é feito e cantado do “fundinho do coração”, mas que não frequenta a televisão. Questões mercadológicas que sempre determinaram o que pode tocar ou não. Tolice é se guiar por elas – ou por algoritmos. Sensato é se orientar pelo ensinamento de João e seguir o sentimento.

Além de criar essa conexão ancestral também com o pai, Diogo se prepara para vivê-lo nos palcos. Ele aceitou o convite para protagonizar o musical João Nogueira Através do Espelho – nome de um dos principais sucessos do sambista – que deve estrear em 2024.

Diogo diz que os ensaios ainda não começaram. O que para ele poderia ser naturalmente fácil – ele tem o timbre de voz bastante parecido com o do pai – poder ser objetivamente difícil. Principalmente pelo fator emoção. “Meu pai está muito em mim. Mas o ator precisa se esvaziar para poder encaixar o personagem que ele vai viver. Será um trabalho árduo”, diz.

Não será a primeira experiência de Diogo nos palcos. Ele já participou do musical Sambra, que homenageava os 100 anos de samba, em 2016, e está no elenco da série Desejo S.A., da plataforma Star + com estreia prevista para janeiro de 2024.

Diogo Nogueira na quadra da Portela, escola do seu coração Foto: Leo Aversa

Apesar de estar cada vez com os pés dentro da dramaturgia, o cantor diz que nunca buscou se tornar ator.

Gosto de ver filmes, peças e novelas. Prestar atenção nos atores e atrizes. Se me permitirem fazer, se eu puder estudar para isso (ser ator), será um privilégio

Diogo Nogueira

Sobre se a atriz Paolla Oliveira, com quem assumiu o namoro em julho de 2021, ajudou a despertar o interesse pelas artes cênicas, Diogo é econômico na resposta. “Não. Isso sempre existiu antes mesmo dela”, diz.

Talvez ela seja a musa influenciadora do próximo volume de Sagrado – a ser lançado em fevereiro de 2024 -, dedicado a outra característica sempre presente no samba e na música popular brasileira de maneira geral: o romantismo.

Uma das canções desse primeiro volume, À Moda Antiga, composta por Arlindinho, Marcelinho Moreira e Márcio Alexandre, já revela o clima do que poderá ser a continuação de Sagrado. Com vocação radiofônica, a letra cita Djavan em Um Amor Puro. Mais uma prova de que a geração de artistas pós bossa nova volta cada vez mais à boca das novas gerações.

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