Dionne Warwick fala da ‘irmã' Gal Costa, lembra encontro com Dilma e revela conselho de Sinatra


‘Enquanto eu puder caminhar até o palco, vou fazer isso!’, diz ao ‘Estadão’ a lendária cantora de 83 anos, que também relembrou a gravação dos hits ‘We Are The World’ e ‘Heartbreaker’; sua nova turnê brasileira terá show em São Paulo neste sábado, 26

Por Gabriel Zorzetto
Atualização:
Foto: Reprodução/Dionne Warwick via Facebook
Entrevista comDionne WarwickCantora

Dionne Warwick não está cansada de receber homenagens. No último sábado, 19, ela foi indicada ao Hall da Fama do Rock, em Cleveland (EUA), mesmo não sendo diretamente associada ao rock n’ roll, mas sim ao R&B e à soul music. De fato, o rótulo pouco importa diante da influência da cantora norte-americana na história da música.

No fim do ano passado, ela também foi laureada em uma cerimônia de gala, por sua contribuição à cultura popular, pelo presidente Joe Biden no tradicional prêmio Kennedy Center Honors. A edição também celebrou Barry Gibb, ex-Bee Gees, responsável por compor Heartbreaker, um dos maiores hits de Dionne.

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Na semana em que volta ao Brasil para uma nova turnê, cuja apresentação em São Paulo será no Vibra, dia 26 de outubro, a artista de 83 anos conversou com o Estadão, por telefone, e lembrou algumas histórias de sua longeva carreira, incluindo a amizade com Gal Costa, a relação complicada com Aretha Franklin, a importância do mentor Burt Bacharach e a gravação do famoso single beneficente We Are The World. Ela também revelou um conselho que recebeu de ninguém menos que Frank Sinatra, com quem protagonizou um dueto de You And Me (We Wanted It All), em 1986.

Warwick, além de eternizar a sua voz suave e emotiva em sucessos como I’ll Never Love This Way Again e Walk On By, quebrou barreiras raciais ao enfrentar a segregação nos anos 1960 e se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a ganhar popularidade internacional. No entanto, ela revela não sentir que a sociedade tenha feito o tipo de progresso necessário em relação ao racismo.

Dionne Warwick é homenageada na 39ª edição do Hall da Fama do Rock Foto: Chris Pizzello/Invision/AP
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Sra. Warwick, meus parabéns pelo prêmio de sábado. É claro que a senhora não é associada ao rock n’ roll, então qual foi a sensação de receber essa homenagem?

Foi muito interessante, de fato. Eu me perguntei, ‘por que vocês estão me dando esse prêmio?’ E, como se viu, era para celebrar minha música, não como uma roqueira, mas como alguém que deu a música com a qual eles podiam se identificar e que eles sentiam que merecia ser reconhecida. E foi maravilhoso.

A senhora é muito querida aqui no Brasil. A Gal Costa foi uma grande amizade que fez aqui?

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Sim, uma amizade muito grande. Ela era minha irmã. Nós fizemos turnês juntas, nos divertimos muito. Conheci o filho dela quando ele era bem pequeno e agora é um adolescente, o qual estou ansiosa para ver. A Gal foi muito, muito especial para mim. Sinto muitíssima falta dela. Fiquei muito surpresa ao ouvir sobre a passagem dela. Ela significou muito para mim.

As cantoras Dionne Warwick e Gal Costa posam para fotos durante entrevista em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro Foto: Marcos de Paula/Estadão

Em 2011, a senhora conheceu a ex-presidente Dilma Rousseff, como foi esse encontro?

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Ela foi muito, muito cordial. Ela ouviu tudo o que eu tinha para dizer e a razão pela qual eu queria conhecê-la, que estava relacionada a questões de saúde, e prometeu que trabalharia comigo a respeito dessas questões. Infelizmente, ela não é mais presidente, então eu ainda preciso restabelecer minhas relações com os oficiais do seu governo. Mas foi um encontro maravilhoso com ela.

A senhora esteve recentemente com Joe Biden na cerimônia do Kennedy Center. É amiga do presidente Biden?

Sim, conheço o Joe há anos, desde quando ele era membro do congresso. Sempre foi alguém a quem eu podia recorrer se precisasse de ajuda com qualquer coisa, em termos de saúde, como foi Ted Kennedy [ex-senador dos EUA], que também era meu grande compatriota. Joe foi e sempre será uma pessoa muito querida. Ele é tão inteligente quanto qualquer pessoa que já conheci. Na verdade, nos consideramos mais amigos do que qualquer outra coisa. Não tenho nada a ver com a política como ela é. Mas sinto que se eu precisar de algo que apenas certos políticos podem me ajudar a estabelecer, ele está no topo da lista.

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Como é para a senhora subir ao palco e se apresentar aos 83 anos? Como se sente a respeito disso?

Enquanto eu puder caminhar até lá, eu vou fazer isso!

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Ótimo... E lembrando ‘We Are The World’, o documentário sobre a gravação foi um grande sucesso na Netflix. Fiquei surpreso com a quantidade de tensão naquele estúdio. A senhora chegou a pensar que tudo daria errado em algum momento?

Não, foi uma alegria completa. Todos nós sabíamos por que estávamos lá. Havia um propósito para todos estarmos lá. E poder cantar com o tanto de talento que havia na sala, como você bem viu, foi incrível. Pude ver muitas pessoas que não via tão frequentemente. Nos cruzávamos rapidamente em aeroportos e coisas desse tipo, mas poder, de certa forma, sentar e conversar com algumas dessas pessoas e apenas estar entre amigos, foi um grande momento de amizade. E poder cantar uma música que significava algo, que iria fazer o bem para outras pessoas, foi uma alegria absoluta.

‘Heartbreaker’, um de seus maiores hits, foi composta pelos Bee Gees. Quando recebeu a música pela primeira vez, imaginou que seria um sucesso tão grande?

Bem, quando recebi a música pela primeira vez, eu não queria gravá-la porque eu apenas senti que não era eu. Continuei enviando-a de volta para o Barry [Gibb], e o Barry continuava me enviando de volta, e eu continuava enviando-a de volta para ele. Finalmente, eles disseram: ‘você tem que gravar isso, vai ser um grande sucesso para você. Por favor, grave esta música!’. Eu finalmente cedi, gravei e, como se revelou, foi um dos maiores sucessos que já tive.

No ano passado, perdemos o grande Burt Bacharach. Ele foi a pessoa mais importante na sua carreira?

Sim, junto com Hal David, que escreveu todas aquelas palavras maravilhosas para eu cantar. Se não fosse pelo Hal, estaríamos todos apenas murmurando ao invés de cantar. Mas perder o Burt não foi fácil. Éramos mais que amigos, éramos uma família. Ele significou muito para mim e sempre significará, enquanto eu cantar cada canção que eles escreveram para mim. Ele ainda está muito vivo para mim.

O dueto com Frank Sinatra é um dos maiores orgulhos de sua carreira? Como foi trabalhar com ele?

Incrível, em uma palavra. Frank me acolheu logo no início da minha carreira. Ele se tornou, como eu o apelidei, de ‘Poppy’. Ele estava sempre lá para mim, sempre tinha palavras de sabedoria para me dizer. Eu tive uma relação maravilhosa com ele.

Qual foi o melhor conselho que recebeu dele?

A mesma coisa que recebi de todos os mentores que já tive, incluindo meus pais. ‘Seja quem você é. Você não pode ser ninguém além de quem você é'. E eu levo isso muito a sério, porque eu meio que gosto de mim. Então, eu não quero ser mais ninguém. É algo que eu acho que todo mundo deveria ouvir em algum momento de suas vidas. Apenas seja quem você é.

Dionne Warwick, fotografada em São Paulo em 2016; a cantora retorna ao País para uma nova turnê Foto: Iara Morselli/Estadão

Queria falar também sobre Aretha Franklin, pois eu li recentemente a biografia escrita por David Ritz, e fica claro que ela queria eliminar e superar toda a concorrência. Ela era muito competitiva em relação a colegas como a senhora, Roberta Flack e Whitney Houston. Sua relação com Aretha era complicada?

Com Aretha, acho que qualquer relação teria sido complicada. Aretha era diferente. Ela era uma pessoa única, como deveria ser. Quando a conheci, ambas éramos adolescentes. Tudo o que ela fazia ou dizia era quem ela era. E se essa era a atitude dela, de querer eliminar todos que estivessem em seu caminho, era assim. Não tenho nada a dizer sobre isso. Ninguém poderia cantar uma música como Aretha. Eu sou quem eu sou, e ela era quem ela era.

A senhora enfrentou a segregação racial nos EUA. Poderia nos contar como esse período a afetou? E como a sociedade progrediu em relação ao racismo desde então?

Ah, menino. Eu acho o racismo estúpido. E eu basicamente o ignoro. Eu não sinto que tenhamos feito o tipo de progresso que precisamos fazer aqui nos EUA. Temos que entender que as pessoas são diferentes. Você não pode ter a mesma pessoa em cada uma que caminha por esta terra. Não podemos olhar as pessoas por causa da cor de sua pele, por causa do idioma que falam, ou o país de onde vieram. Eu sinto que o racismo não deve ter lugar na vida de ninguém.

Show da cantora norte americana Dionne Warwick, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, em 2016 Foto: Roberto Filho/Divulgação

Dionne Warwick - One Last Time

  • Quando: 26 de outubro de 2024 (sábado)
  • Onde: Vibra São Paulo (Av. das Nações Unidas, 17955)
  • Ingressos: ticket360.com.br
  • Preços: R$ 150,00 a R$ 1000,00

Dionne Warwick não está cansada de receber homenagens. No último sábado, 19, ela foi indicada ao Hall da Fama do Rock, em Cleveland (EUA), mesmo não sendo diretamente associada ao rock n’ roll, mas sim ao R&B e à soul music. De fato, o rótulo pouco importa diante da influência da cantora norte-americana na história da música.

No fim do ano passado, ela também foi laureada em uma cerimônia de gala, por sua contribuição à cultura popular, pelo presidente Joe Biden no tradicional prêmio Kennedy Center Honors. A edição também celebrou Barry Gibb, ex-Bee Gees, responsável por compor Heartbreaker, um dos maiores hits de Dionne.

Na semana em que volta ao Brasil para uma nova turnê, cuja apresentação em São Paulo será no Vibra, dia 26 de outubro, a artista de 83 anos conversou com o Estadão, por telefone, e lembrou algumas histórias de sua longeva carreira, incluindo a amizade com Gal Costa, a relação complicada com Aretha Franklin, a importância do mentor Burt Bacharach e a gravação do famoso single beneficente We Are The World. Ela também revelou um conselho que recebeu de ninguém menos que Frank Sinatra, com quem protagonizou um dueto de You And Me (We Wanted It All), em 1986.

Warwick, além de eternizar a sua voz suave e emotiva em sucessos como I’ll Never Love This Way Again e Walk On By, quebrou barreiras raciais ao enfrentar a segregação nos anos 1960 e se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a ganhar popularidade internacional. No entanto, ela revela não sentir que a sociedade tenha feito o tipo de progresso necessário em relação ao racismo.

Dionne Warwick é homenageada na 39ª edição do Hall da Fama do Rock Foto: Chris Pizzello/Invision/AP

Sra. Warwick, meus parabéns pelo prêmio de sábado. É claro que a senhora não é associada ao rock n’ roll, então qual foi a sensação de receber essa homenagem?

Foi muito interessante, de fato. Eu me perguntei, ‘por que vocês estão me dando esse prêmio?’ E, como se viu, era para celebrar minha música, não como uma roqueira, mas como alguém que deu a música com a qual eles podiam se identificar e que eles sentiam que merecia ser reconhecida. E foi maravilhoso.

A senhora é muito querida aqui no Brasil. A Gal Costa foi uma grande amizade que fez aqui?

Sim, uma amizade muito grande. Ela era minha irmã. Nós fizemos turnês juntas, nos divertimos muito. Conheci o filho dela quando ele era bem pequeno e agora é um adolescente, o qual estou ansiosa para ver. A Gal foi muito, muito especial para mim. Sinto muitíssima falta dela. Fiquei muito surpresa ao ouvir sobre a passagem dela. Ela significou muito para mim.

As cantoras Dionne Warwick e Gal Costa posam para fotos durante entrevista em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro Foto: Marcos de Paula/Estadão

Em 2011, a senhora conheceu a ex-presidente Dilma Rousseff, como foi esse encontro?

Ela foi muito, muito cordial. Ela ouviu tudo o que eu tinha para dizer e a razão pela qual eu queria conhecê-la, que estava relacionada a questões de saúde, e prometeu que trabalharia comigo a respeito dessas questões. Infelizmente, ela não é mais presidente, então eu ainda preciso restabelecer minhas relações com os oficiais do seu governo. Mas foi um encontro maravilhoso com ela.

A senhora esteve recentemente com Joe Biden na cerimônia do Kennedy Center. É amiga do presidente Biden?

Sim, conheço o Joe há anos, desde quando ele era membro do congresso. Sempre foi alguém a quem eu podia recorrer se precisasse de ajuda com qualquer coisa, em termos de saúde, como foi Ted Kennedy [ex-senador dos EUA], que também era meu grande compatriota. Joe foi e sempre será uma pessoa muito querida. Ele é tão inteligente quanto qualquer pessoa que já conheci. Na verdade, nos consideramos mais amigos do que qualquer outra coisa. Não tenho nada a ver com a política como ela é. Mas sinto que se eu precisar de algo que apenas certos políticos podem me ajudar a estabelecer, ele está no topo da lista.

Como é para a senhora subir ao palco e se apresentar aos 83 anos? Como se sente a respeito disso?

Enquanto eu puder caminhar até lá, eu vou fazer isso!

Ótimo... E lembrando ‘We Are The World’, o documentário sobre a gravação foi um grande sucesso na Netflix. Fiquei surpreso com a quantidade de tensão naquele estúdio. A senhora chegou a pensar que tudo daria errado em algum momento?

Não, foi uma alegria completa. Todos nós sabíamos por que estávamos lá. Havia um propósito para todos estarmos lá. E poder cantar com o tanto de talento que havia na sala, como você bem viu, foi incrível. Pude ver muitas pessoas que não via tão frequentemente. Nos cruzávamos rapidamente em aeroportos e coisas desse tipo, mas poder, de certa forma, sentar e conversar com algumas dessas pessoas e apenas estar entre amigos, foi um grande momento de amizade. E poder cantar uma música que significava algo, que iria fazer o bem para outras pessoas, foi uma alegria absoluta.

‘Heartbreaker’, um de seus maiores hits, foi composta pelos Bee Gees. Quando recebeu a música pela primeira vez, imaginou que seria um sucesso tão grande?

Bem, quando recebi a música pela primeira vez, eu não queria gravá-la porque eu apenas senti que não era eu. Continuei enviando-a de volta para o Barry [Gibb], e o Barry continuava me enviando de volta, e eu continuava enviando-a de volta para ele. Finalmente, eles disseram: ‘você tem que gravar isso, vai ser um grande sucesso para você. Por favor, grave esta música!’. Eu finalmente cedi, gravei e, como se revelou, foi um dos maiores sucessos que já tive.

No ano passado, perdemos o grande Burt Bacharach. Ele foi a pessoa mais importante na sua carreira?

Sim, junto com Hal David, que escreveu todas aquelas palavras maravilhosas para eu cantar. Se não fosse pelo Hal, estaríamos todos apenas murmurando ao invés de cantar. Mas perder o Burt não foi fácil. Éramos mais que amigos, éramos uma família. Ele significou muito para mim e sempre significará, enquanto eu cantar cada canção que eles escreveram para mim. Ele ainda está muito vivo para mim.

O dueto com Frank Sinatra é um dos maiores orgulhos de sua carreira? Como foi trabalhar com ele?

Incrível, em uma palavra. Frank me acolheu logo no início da minha carreira. Ele se tornou, como eu o apelidei, de ‘Poppy’. Ele estava sempre lá para mim, sempre tinha palavras de sabedoria para me dizer. Eu tive uma relação maravilhosa com ele.

Qual foi o melhor conselho que recebeu dele?

A mesma coisa que recebi de todos os mentores que já tive, incluindo meus pais. ‘Seja quem você é. Você não pode ser ninguém além de quem você é'. E eu levo isso muito a sério, porque eu meio que gosto de mim. Então, eu não quero ser mais ninguém. É algo que eu acho que todo mundo deveria ouvir em algum momento de suas vidas. Apenas seja quem você é.

Dionne Warwick, fotografada em São Paulo em 2016; a cantora retorna ao País para uma nova turnê Foto: Iara Morselli/Estadão

Queria falar também sobre Aretha Franklin, pois eu li recentemente a biografia escrita por David Ritz, e fica claro que ela queria eliminar e superar toda a concorrência. Ela era muito competitiva em relação a colegas como a senhora, Roberta Flack e Whitney Houston. Sua relação com Aretha era complicada?

Com Aretha, acho que qualquer relação teria sido complicada. Aretha era diferente. Ela era uma pessoa única, como deveria ser. Quando a conheci, ambas éramos adolescentes. Tudo o que ela fazia ou dizia era quem ela era. E se essa era a atitude dela, de querer eliminar todos que estivessem em seu caminho, era assim. Não tenho nada a dizer sobre isso. Ninguém poderia cantar uma música como Aretha. Eu sou quem eu sou, e ela era quem ela era.

A senhora enfrentou a segregação racial nos EUA. Poderia nos contar como esse período a afetou? E como a sociedade progrediu em relação ao racismo desde então?

Ah, menino. Eu acho o racismo estúpido. E eu basicamente o ignoro. Eu não sinto que tenhamos feito o tipo de progresso que precisamos fazer aqui nos EUA. Temos que entender que as pessoas são diferentes. Você não pode ter a mesma pessoa em cada uma que caminha por esta terra. Não podemos olhar as pessoas por causa da cor de sua pele, por causa do idioma que falam, ou o país de onde vieram. Eu sinto que o racismo não deve ter lugar na vida de ninguém.

Show da cantora norte americana Dionne Warwick, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, em 2016 Foto: Roberto Filho/Divulgação

Dionne Warwick - One Last Time

  • Quando: 26 de outubro de 2024 (sábado)
  • Onde: Vibra São Paulo (Av. das Nações Unidas, 17955)
  • Ingressos: ticket360.com.br
  • Preços: R$ 150,00 a R$ 1000,00

Dionne Warwick não está cansada de receber homenagens. No último sábado, 19, ela foi indicada ao Hall da Fama do Rock, em Cleveland (EUA), mesmo não sendo diretamente associada ao rock n’ roll, mas sim ao R&B e à soul music. De fato, o rótulo pouco importa diante da influência da cantora norte-americana na história da música.

No fim do ano passado, ela também foi laureada em uma cerimônia de gala, por sua contribuição à cultura popular, pelo presidente Joe Biden no tradicional prêmio Kennedy Center Honors. A edição também celebrou Barry Gibb, ex-Bee Gees, responsável por compor Heartbreaker, um dos maiores hits de Dionne.

Na semana em que volta ao Brasil para uma nova turnê, cuja apresentação em São Paulo será no Vibra, dia 26 de outubro, a artista de 83 anos conversou com o Estadão, por telefone, e lembrou algumas histórias de sua longeva carreira, incluindo a amizade com Gal Costa, a relação complicada com Aretha Franklin, a importância do mentor Burt Bacharach e a gravação do famoso single beneficente We Are The World. Ela também revelou um conselho que recebeu de ninguém menos que Frank Sinatra, com quem protagonizou um dueto de You And Me (We Wanted It All), em 1986.

Warwick, além de eternizar a sua voz suave e emotiva em sucessos como I’ll Never Love This Way Again e Walk On By, quebrou barreiras raciais ao enfrentar a segregação nos anos 1960 e se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a ganhar popularidade internacional. No entanto, ela revela não sentir que a sociedade tenha feito o tipo de progresso necessário em relação ao racismo.

Dionne Warwick é homenageada na 39ª edição do Hall da Fama do Rock Foto: Chris Pizzello/Invision/AP

Sra. Warwick, meus parabéns pelo prêmio de sábado. É claro que a senhora não é associada ao rock n’ roll, então qual foi a sensação de receber essa homenagem?

Foi muito interessante, de fato. Eu me perguntei, ‘por que vocês estão me dando esse prêmio?’ E, como se viu, era para celebrar minha música, não como uma roqueira, mas como alguém que deu a música com a qual eles podiam se identificar e que eles sentiam que merecia ser reconhecida. E foi maravilhoso.

A senhora é muito querida aqui no Brasil. A Gal Costa foi uma grande amizade que fez aqui?

Sim, uma amizade muito grande. Ela era minha irmã. Nós fizemos turnês juntas, nos divertimos muito. Conheci o filho dela quando ele era bem pequeno e agora é um adolescente, o qual estou ansiosa para ver. A Gal foi muito, muito especial para mim. Sinto muitíssima falta dela. Fiquei muito surpresa ao ouvir sobre a passagem dela. Ela significou muito para mim.

As cantoras Dionne Warwick e Gal Costa posam para fotos durante entrevista em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro Foto: Marcos de Paula/Estadão

Em 2011, a senhora conheceu a ex-presidente Dilma Rousseff, como foi esse encontro?

Ela foi muito, muito cordial. Ela ouviu tudo o que eu tinha para dizer e a razão pela qual eu queria conhecê-la, que estava relacionada a questões de saúde, e prometeu que trabalharia comigo a respeito dessas questões. Infelizmente, ela não é mais presidente, então eu ainda preciso restabelecer minhas relações com os oficiais do seu governo. Mas foi um encontro maravilhoso com ela.

A senhora esteve recentemente com Joe Biden na cerimônia do Kennedy Center. É amiga do presidente Biden?

Sim, conheço o Joe há anos, desde quando ele era membro do congresso. Sempre foi alguém a quem eu podia recorrer se precisasse de ajuda com qualquer coisa, em termos de saúde, como foi Ted Kennedy [ex-senador dos EUA], que também era meu grande compatriota. Joe foi e sempre será uma pessoa muito querida. Ele é tão inteligente quanto qualquer pessoa que já conheci. Na verdade, nos consideramos mais amigos do que qualquer outra coisa. Não tenho nada a ver com a política como ela é. Mas sinto que se eu precisar de algo que apenas certos políticos podem me ajudar a estabelecer, ele está no topo da lista.

Como é para a senhora subir ao palco e se apresentar aos 83 anos? Como se sente a respeito disso?

Enquanto eu puder caminhar até lá, eu vou fazer isso!

Ótimo... E lembrando ‘We Are The World’, o documentário sobre a gravação foi um grande sucesso na Netflix. Fiquei surpreso com a quantidade de tensão naquele estúdio. A senhora chegou a pensar que tudo daria errado em algum momento?

Não, foi uma alegria completa. Todos nós sabíamos por que estávamos lá. Havia um propósito para todos estarmos lá. E poder cantar com o tanto de talento que havia na sala, como você bem viu, foi incrível. Pude ver muitas pessoas que não via tão frequentemente. Nos cruzávamos rapidamente em aeroportos e coisas desse tipo, mas poder, de certa forma, sentar e conversar com algumas dessas pessoas e apenas estar entre amigos, foi um grande momento de amizade. E poder cantar uma música que significava algo, que iria fazer o bem para outras pessoas, foi uma alegria absoluta.

‘Heartbreaker’, um de seus maiores hits, foi composta pelos Bee Gees. Quando recebeu a música pela primeira vez, imaginou que seria um sucesso tão grande?

Bem, quando recebi a música pela primeira vez, eu não queria gravá-la porque eu apenas senti que não era eu. Continuei enviando-a de volta para o Barry [Gibb], e o Barry continuava me enviando de volta, e eu continuava enviando-a de volta para ele. Finalmente, eles disseram: ‘você tem que gravar isso, vai ser um grande sucesso para você. Por favor, grave esta música!’. Eu finalmente cedi, gravei e, como se revelou, foi um dos maiores sucessos que já tive.

No ano passado, perdemos o grande Burt Bacharach. Ele foi a pessoa mais importante na sua carreira?

Sim, junto com Hal David, que escreveu todas aquelas palavras maravilhosas para eu cantar. Se não fosse pelo Hal, estaríamos todos apenas murmurando ao invés de cantar. Mas perder o Burt não foi fácil. Éramos mais que amigos, éramos uma família. Ele significou muito para mim e sempre significará, enquanto eu cantar cada canção que eles escreveram para mim. Ele ainda está muito vivo para mim.

O dueto com Frank Sinatra é um dos maiores orgulhos de sua carreira? Como foi trabalhar com ele?

Incrível, em uma palavra. Frank me acolheu logo no início da minha carreira. Ele se tornou, como eu o apelidei, de ‘Poppy’. Ele estava sempre lá para mim, sempre tinha palavras de sabedoria para me dizer. Eu tive uma relação maravilhosa com ele.

Qual foi o melhor conselho que recebeu dele?

A mesma coisa que recebi de todos os mentores que já tive, incluindo meus pais. ‘Seja quem você é. Você não pode ser ninguém além de quem você é'. E eu levo isso muito a sério, porque eu meio que gosto de mim. Então, eu não quero ser mais ninguém. É algo que eu acho que todo mundo deveria ouvir em algum momento de suas vidas. Apenas seja quem você é.

Dionne Warwick, fotografada em São Paulo em 2016; a cantora retorna ao País para uma nova turnê Foto: Iara Morselli/Estadão

Queria falar também sobre Aretha Franklin, pois eu li recentemente a biografia escrita por David Ritz, e fica claro que ela queria eliminar e superar toda a concorrência. Ela era muito competitiva em relação a colegas como a senhora, Roberta Flack e Whitney Houston. Sua relação com Aretha era complicada?

Com Aretha, acho que qualquer relação teria sido complicada. Aretha era diferente. Ela era uma pessoa única, como deveria ser. Quando a conheci, ambas éramos adolescentes. Tudo o que ela fazia ou dizia era quem ela era. E se essa era a atitude dela, de querer eliminar todos que estivessem em seu caminho, era assim. Não tenho nada a dizer sobre isso. Ninguém poderia cantar uma música como Aretha. Eu sou quem eu sou, e ela era quem ela era.

A senhora enfrentou a segregação racial nos EUA. Poderia nos contar como esse período a afetou? E como a sociedade progrediu em relação ao racismo desde então?

Ah, menino. Eu acho o racismo estúpido. E eu basicamente o ignoro. Eu não sinto que tenhamos feito o tipo de progresso que precisamos fazer aqui nos EUA. Temos que entender que as pessoas são diferentes. Você não pode ter a mesma pessoa em cada uma que caminha por esta terra. Não podemos olhar as pessoas por causa da cor de sua pele, por causa do idioma que falam, ou o país de onde vieram. Eu sinto que o racismo não deve ter lugar na vida de ninguém.

Show da cantora norte americana Dionne Warwick, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, em 2016 Foto: Roberto Filho/Divulgação

Dionne Warwick - One Last Time

  • Quando: 26 de outubro de 2024 (sábado)
  • Onde: Vibra São Paulo (Av. das Nações Unidas, 17955)
  • Ingressos: ticket360.com.br
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Entrevista por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

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