The New York Times - Dionne Warwick se recusa a ficar parada. Aos 82 anos, a artista cinco vezes vencedora do Grammy está fazendo shows no Havaí e em Vancouver com sua turnê One Last Time - ela não diz se é realmente a última - twittando (ou “twoting”, como ela mesmo diz) para seus mais de meio milhão de seguidores, e fazendo aparições no programa Saturday Night Live e em trilhas sonoras de filmes como Não! Não Olhe!, de Jordan Peele.
Quando se aposentar, ela disse, vai se mudar para o Brasil. “Estarei na Bahia, onde quero passar o resto da minha vida, curtindo o sol, a música, as pessoas e a mim mesma”, disse Warwick.
Enquanto isso, o próximo empreendimento de Warwick está na tela. No documentário Dionne Warwick: Don’t Make Me Over (que deverá estrear na HBO Max em fevereiro), ela, ao lado de entrevistados conhecidos como Bill Clinton, Stevie Wonder e Alicia Keys, discute sua vida e sua carreira musical de mais de 60 anos.
Dirigido por Dave Wooley e David Heilbroner, o filme detalha momentos da infância de Warwick, incluindo cantar na igreja de seu avô em Newark, Nova Jersey, e narra sucessos como Walk On By e I’ll Never Fall in Love feita com a dupla de produtores/compositores Burt Bacharach e Hal David. Essas canções desafiaram a barreira racial entre o rhythm and blues e o pop - em 1968, Warwick se tornou a primeira mulher afro-americana a ganhar um prêmio Grammy na categoria de música pop.
Enquanto Warwick mastigava queijo e biscoitos nos escritórios da CNN (produtora do documentário) na cidade de Nova York, ela falou sobre ser porta-voz da Psychic Friends Network, seu esforço para apoiar a pesquisa da aids e como conheceu Snoop Dogg e Chance the Rapper. A seguir, trechos editados da conversa.
O documentário é intitulado Dionne Warwick: Don’t Make Me Over. O que inspirou o nome?
Don’t Make Me Over foi minha primeira gravação, e a gênese disso foi algo que eu disse para Burt e Hal. Prometeram-me uma certa música, Make it Easy on Yourself, e eles deram essa música para Jerry Butler. Eu estava descendo para fazer uma sessão com eles e quando entrei no estúdio, tive que deixar os dois saberem que não estava muito feliz por terem dado minha música, antes de mais nada. Isso era algo que eles nunca poderiam fazer. Nem tente me mudar ou me transformar. Então David colocou a caneta no papel.
O documentário é sobre sua educação. Como foi crescer em East Orange, NJ?
Era praticamente as Nações Unidas. Tínhamos todas as raças, cores, credos e religiões em nossa rua. Éramos amigos, íamos à escola juntos, eu jantávamos juntos. Jogamos juntos no campo. Éramos apenas crianças e estávamos entre amigos.
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Como você foi capaz de criar música que atraísse todo o público durante os anos 1950 e 1960, quando o rhythm and blues e a música pop eram classificados racialmente?
A sorte é que não pude ser categorizada. Isso foi uma alegria. Eu olho - ainda hoje faço isso - e continuo a pregar o fato de que música é música. Não me vejo como a pessoa que escancarou a porta. Apenas abri o caminho para que as pessoas soubessem: “Sim, Gladys Knight merecia um Grammy, sim, The Temptations merecia o Grammy, sim, Diana Ross merecia.” É claro! Estamos cantando músicas que todos vocês estão ouvindo, então por que vocês vão nos colocar em uma caixinha? Eu não vou.
Ao doar todos os lucros da música que liderou as paradas, That’s What Friends Are For, você ajudou a arrecadar milhões para pesquisas sobre a aids. O que te levou a se envolver com a causa e como é deixar um impacto tão duradouro?
R: Estávamos perdendo artistas, dançarinos, estávamos perdendo cabeleireiros, figurinistas, cinegrafistas, pessoas da iluminação. Perdi duas pessoas do meu grupo de amigos próximos: meu cabeleireiro e meu criado contraíram aids. Então, agora, isso estava muito próximo. Deixe-me descobrir do que se trata. E comecei a me envolver com a OMS, Organização Mundial da Saúde, e fomos a todos os departamentos de saúde em diferentes países para entender não apenas o que estavam fazendo, mas por que não estavam reconhecendo que isso também acontecia em seu país. Pude ajudá-los a tirar a cabeça da areia e enfrentar a realidade.
Você tinha uma forte opinião sobre o Gangsta Rap e logo marcou uma reunião com Snoop Dogg, Suge Knight e outros para incentivá-los a reconsiderar suas letras. Como foi essa conversa?
Marquei uma reunião com eles e dei-lhes um tempo para estarem em minha casa. Eu disse: quero que a campainha toque às 7h da manhã,nem um minuto antes e nem um minuto depois. E deu certo. Sentamos e conversamos por algumas horas. Eu disse a eles: “Vocês acham que sou parte do problema? Quero fazer parte da solução. Digam-me o que é. Não me importa como vão dizer. Há uma maneira de se dizer isso”.
Você entrou em contato com algum outro artista de rap recentemente?
Chance the Rapper, e também foi engraçado. Por que você colocaria “rapper” em seu nome quando todos nós sabemos que você faz rap? Dãã. Ele ficou mais surpreso por eu saber quem ele era e, como resultado, nos tornamos amigos. Ele tem meu número de telefone, tenho o dele e conversamos. Gravamos juntos uma música maravilhosa e nenhum palavrão - uma mensagem muito, muito positiva. Portanto, não é que eles não possam fazer isso, mas como ser guiados um pouco. Esse deve ser o meu trabalho.
Em meio à pandemia, você ascendeu à realeza do Twitter. Como é ser coroada a rainha do Twitter?
Eles me deram o título, não dei a mim mesma. Todos decidiram que eu era a rainha do Twitter. Então sim, ok, serei sua rainha. Na verdade, eu comecei uma nova maneira de dizer Twitter, eu chamo de twoting.
Twoting? Por que?
Eu não queria dizer “tweet”.
Quando podemos esperar o próximo tweet (ou twote) de você?
Faço quando sinto. Também acompanho muitos tweets que estão rolando, e quando eu encontrar um que não me agrade muito, vocês vão ouvir falar de mim.
O que você acha da cinebiografia de Whitney Houston, Whitney Houston: I Wanna Dance With Somebody?
Sou muito protetora com a imagem dela e geralmente não falo sobre Whitney. Ela está em repouso agora, vou deixá-la assim. Ela está em paz, graças a Deus. Ele (Clive Davis, o produtor musical) me garantiu que é sobre a música dela, o legado dela, quem ela realmente era. Não há necessidade de ser outra coisa senão isso.