Djavan: 'Não apoiei nem votei em Bolsonaro. É desagradável ser colocado em posição que não é a sua'


Cantor lança o álbum ‘D’, que considera ‘luminoso’, para ‘sair do obscurantismo da pandemia’

Por Danilo Casaletti
Atualização:

O 25.º álbum de carreira de Djavan, que chega às plataformas digitais nesta sexta, 12, foi batizado de D (Luanda Records/Sony Music). O músico, que recebeu a reportagem do Estadão em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, faz questão de afastar qualquer enigma em relação ao título (leia a crítica do disco aqui).

A ideia foi do diretor de arte Giovanni Bianco – que já trabalhou com nomes como Madonna, Anitta e Ivete Sangalo. Djavan logo acatou. “O que é diferente eu gosto sempre”, justifica o cantor. Em D, Djavan quer afastar os tempos sombrios trazidos por pandemia, guerras e brigas políticas. O primeiro single, Num Mundo de Paz, diz muito sobre isso. Iluminado, o folk que ele gravou com filhos e netos, fala sobre “sorrir para não cair em cilada”. Com Milton Nascimento, ele canta em defesa das matas, florestas, dos rios, animais e indígenas.

Com novo álbum, 'D', Djavan volta com uma ode ao mor e à esperanca Foto: Gabriela Schmidt
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Há muito sobre amores, feitos e desfeitos. Tudo ao estilo Djavan – com jazz, funk, pop e samba, entre ritmos que ele faz questão de misturar perseguindo uma diversidade musical que entendeu como possível ainda menino. “A minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha”, confessa Djavan, aos 73 anos, sobre o início da carreira. Em setembro, ele começa os ensaios para a turnê D, que estreia em março, em Maceió. Antes, porém, ele se apresenta no Rock in Rio e no Coala Festival, em São Paulo, com um show só de hits.

Você chamou músicos que tocaram em diferentes fases de sua carreira. Procurava uma sonoridade mais plural? Isso deu ao disco uma pegada musical distinta. Muitos eu não via havia algum tempo. Não é só o resultado sonoro. É a convivência no estúdio, são as risadas que a gente dá – eu rio muito nas gravações. 

Para esse álbum, você foi fazer parte das letras em sua casa de praia em Alagoas. Isso influiu no resultado? Esse disco é solar, luminoso. O mar deve ter ajudado. Ele contribuiu com minha intenção primordial, fazer um disco para cima. Uma ode à esperança. Uma aposta em um futuro de paz, de luz, para todos. Queria sair do obscurantismo da pandemia e dos novos tempos. 

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Iluminado, faixa folk que você canta com seus cinco filhos, fala bem disso, não? Fiz um pedaço dela na praia, com o ukulele de minha filha. Pela primeira vez reuni a família em uma gravação. É um momento de “xô negatividade!”. 

No passado, você disse que “o amor é azulzinho” (em Azul, de 1982). Neste álbum, você fala em “o anil do amor” (em Num Mundo de Paz). Que azul é esse? Desde a época do pastoril, lá no Nordeste, que consagra as cores azul e vermelha, eu descobri que minha cor era o azul. Anos depois, coloquei essa cor como sendo do amor, da harmonia, do abraço. E o vermelho é a da paixão, que é intensa, mas que se esvai. 

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Na canção Sevilhando, você fala em sândalo, camomila, lavanda e vanilla para enfrentar o viver. São sensações que o ajudam, assim como as cores? Esses aromas todos têm a ver com Sevilha e Alagoas. O amor pela música negra e andaluz. Eles vieram de maneira tão natural, com uma aura de imagem mesmo. Achei que o resultado ficou inusitado. 

Esses aromas estão ligados à espiritualidade também? Tudo está ligado à espiritualidade. Com a minha ancestralidade que passa pela coisa moura, por isso a Andaluzia, dos árabes. E à minha negritude, que passa pelo candomblé, na qual fui inserido pela minha família, mesmo vivendo o catolicismo. Depois que fui à África, entendi por que minha música é assim. 

Em Sevilhando há um verso em que você diz que “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”. Está aí o enigma do estilo Djavan, que mistura pop, jazz, música negra, funk? Me lembro que, aos 13 anos de idade, passei a frequentar a casa de um amigo cujo pai tinha uma discoteca que abrangia tudo o que se fazia no mundo. Ali ouvi música africana, brasileira, francesa, italiana, jazz, R&B. Adorava perceber o que distinguia um gênero do outro, eu queria ser o cara da diversidade, que vê tudo. Minha música passou a ser conduzida por esse olhar. Até hoje é assim.

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Essa canção também traz o verso “o negro nosso trigo”, que remete a Soweto (1987). Como você vê hoje a questão do racismo? A evolução é a gente ver esse assunto mais exposto na mídia, cobrar das autoridades o combate a essa questão. O racismo está enraizado na sociedade brasileira. Se o sujeito é negro, vai sofrer racismo a vida inteira. O racismo de hoje não é o mesmo de 40 anos atrás, mas é tão racismo quanto antes. O negro é um dos alimentos da nossa cultura. O que ele faz nas artes, na sua maneira de se vestir e de ver o mundo.

Outro verso dessa música é “Deus é quem dá o caminho/Mas as pernas são as suas”. Quais foram as grandes batalhas da sua vida? Na profissão, a minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha. Falavam que eu tinha talento, mas complicava demais. Eu não sabia o que isso queria dizer. Não sabia como simplificar algo que, para mim, era simples. Era difícil ter de conviver com esse tipo de crítica. 

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No fim, todo mundo canta suas músicas... Pois é, não eram tão estranhas assim (risos).

Como você pensou em Milton Nascimento para a canção Beleza Destruída? Somos tímidos e nunca nos aproximamos muito. Minha ideia inicial era fazer uma música juntos. Ele faria a música e eu, a letra. Mas isso não aconteceu. Eu fiz, então, a música, pensando nesse tema que sempre defendemos – a valorização da natureza, da água, da floresta, dos índios. Ele adorou.

Há um depoimento recente de Caetano Veloso em que ele fala da sua canção Açaí (1982), de como você colocou a palavra no feminino, sobre a grande defesa que você, com isso, fez do meio ambiente. Ele está certo. Quando escrevi “açaí, guardiã” fui criticado por isso. Coloquei no feminino não só por ser uma fruta, mas para mostrar que o açaí é a mãe daquela Região Norte. Ele possibilita a subsistência de pessoas que não têm dinheiro para comprar comida. 

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No ano passado, você postou vídeo nas redes sociais para desmentir um suposto apoio ao presidente Jair Bolsonaro. O que ficou disso para você? Eu não tinha outra opção a não ser dizer o que de fato ocorreu. Eu não apoiei o governo Bolsonaro, não votei nele. É desagradável ser colocado em uma posição que não é a sua.  

Você fez para a Gal o samba Dentro da Lei.  Fiz, ela gravou, mas estou devendo uma música para a Gal na qual ela possa se sentir melhor. O samba ficou meio escondido no disco dela. Gal é talvez uma das cantoras que mais gravaram músicas minhas e tenho uma gratidão imensa por isso.

Os intérpretes ainda pedem música como antes? Pedem. A turma jovem também tem pedido. Mas muitas vezes não consigo atender, por conta do meu trabalho.

Você parece muito feliz no palco...  O palco sempre me deu grande alegria. A desenvoltura no palco foi ocorrendo aos poucos. Primeiramente, larguei o pedestal, botei um banquinho. Depois, fiquei em pé, microfone na mão e comecei a me mexer. A música me impulsionava, o público ajudou a fazer da dança uma cena para o show. Não garanto que isso vá existir sempre.

Nas canções não há qualquer timidez. Aí é a alma que fala e eu não tenho nada com isso (risos). 

O 25.º álbum de carreira de Djavan, que chega às plataformas digitais nesta sexta, 12, foi batizado de D (Luanda Records/Sony Music). O músico, que recebeu a reportagem do Estadão em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, faz questão de afastar qualquer enigma em relação ao título (leia a crítica do disco aqui).

A ideia foi do diretor de arte Giovanni Bianco – que já trabalhou com nomes como Madonna, Anitta e Ivete Sangalo. Djavan logo acatou. “O que é diferente eu gosto sempre”, justifica o cantor. Em D, Djavan quer afastar os tempos sombrios trazidos por pandemia, guerras e brigas políticas. O primeiro single, Num Mundo de Paz, diz muito sobre isso. Iluminado, o folk que ele gravou com filhos e netos, fala sobre “sorrir para não cair em cilada”. Com Milton Nascimento, ele canta em defesa das matas, florestas, dos rios, animais e indígenas.

Com novo álbum, 'D', Djavan volta com uma ode ao mor e à esperanca Foto: Gabriela Schmidt

Há muito sobre amores, feitos e desfeitos. Tudo ao estilo Djavan – com jazz, funk, pop e samba, entre ritmos que ele faz questão de misturar perseguindo uma diversidade musical que entendeu como possível ainda menino. “A minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha”, confessa Djavan, aos 73 anos, sobre o início da carreira. Em setembro, ele começa os ensaios para a turnê D, que estreia em março, em Maceió. Antes, porém, ele se apresenta no Rock in Rio e no Coala Festival, em São Paulo, com um show só de hits.

Você chamou músicos que tocaram em diferentes fases de sua carreira. Procurava uma sonoridade mais plural? Isso deu ao disco uma pegada musical distinta. Muitos eu não via havia algum tempo. Não é só o resultado sonoro. É a convivência no estúdio, são as risadas que a gente dá – eu rio muito nas gravações. 

Para esse álbum, você foi fazer parte das letras em sua casa de praia em Alagoas. Isso influiu no resultado? Esse disco é solar, luminoso. O mar deve ter ajudado. Ele contribuiu com minha intenção primordial, fazer um disco para cima. Uma ode à esperança. Uma aposta em um futuro de paz, de luz, para todos. Queria sair do obscurantismo da pandemia e dos novos tempos. 

Iluminado, faixa folk que você canta com seus cinco filhos, fala bem disso, não? Fiz um pedaço dela na praia, com o ukulele de minha filha. Pela primeira vez reuni a família em uma gravação. É um momento de “xô negatividade!”. 

No passado, você disse que “o amor é azulzinho” (em Azul, de 1982). Neste álbum, você fala em “o anil do amor” (em Num Mundo de Paz). Que azul é esse? Desde a época do pastoril, lá no Nordeste, que consagra as cores azul e vermelha, eu descobri que minha cor era o azul. Anos depois, coloquei essa cor como sendo do amor, da harmonia, do abraço. E o vermelho é a da paixão, que é intensa, mas que se esvai. 

Na canção Sevilhando, você fala em sândalo, camomila, lavanda e vanilla para enfrentar o viver. São sensações que o ajudam, assim como as cores? Esses aromas todos têm a ver com Sevilha e Alagoas. O amor pela música negra e andaluz. Eles vieram de maneira tão natural, com uma aura de imagem mesmo. Achei que o resultado ficou inusitado. 

Esses aromas estão ligados à espiritualidade também? Tudo está ligado à espiritualidade. Com a minha ancestralidade que passa pela coisa moura, por isso a Andaluzia, dos árabes. E à minha negritude, que passa pelo candomblé, na qual fui inserido pela minha família, mesmo vivendo o catolicismo. Depois que fui à África, entendi por que minha música é assim. 

Em Sevilhando há um verso em que você diz que “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”. Está aí o enigma do estilo Djavan, que mistura pop, jazz, música negra, funk? Me lembro que, aos 13 anos de idade, passei a frequentar a casa de um amigo cujo pai tinha uma discoteca que abrangia tudo o que se fazia no mundo. Ali ouvi música africana, brasileira, francesa, italiana, jazz, R&B. Adorava perceber o que distinguia um gênero do outro, eu queria ser o cara da diversidade, que vê tudo. Minha música passou a ser conduzida por esse olhar. Até hoje é assim.

Essa canção também traz o verso “o negro nosso trigo”, que remete a Soweto (1987). Como você vê hoje a questão do racismo? A evolução é a gente ver esse assunto mais exposto na mídia, cobrar das autoridades o combate a essa questão. O racismo está enraizado na sociedade brasileira. Se o sujeito é negro, vai sofrer racismo a vida inteira. O racismo de hoje não é o mesmo de 40 anos atrás, mas é tão racismo quanto antes. O negro é um dos alimentos da nossa cultura. O que ele faz nas artes, na sua maneira de se vestir e de ver o mundo.

Outro verso dessa música é “Deus é quem dá o caminho/Mas as pernas são as suas”. Quais foram as grandes batalhas da sua vida? Na profissão, a minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha. Falavam que eu tinha talento, mas complicava demais. Eu não sabia o que isso queria dizer. Não sabia como simplificar algo que, para mim, era simples. Era difícil ter de conviver com esse tipo de crítica. 

No fim, todo mundo canta suas músicas... Pois é, não eram tão estranhas assim (risos).

Como você pensou em Milton Nascimento para a canção Beleza Destruída? Somos tímidos e nunca nos aproximamos muito. Minha ideia inicial era fazer uma música juntos. Ele faria a música e eu, a letra. Mas isso não aconteceu. Eu fiz, então, a música, pensando nesse tema que sempre defendemos – a valorização da natureza, da água, da floresta, dos índios. Ele adorou.

Há um depoimento recente de Caetano Veloso em que ele fala da sua canção Açaí (1982), de como você colocou a palavra no feminino, sobre a grande defesa que você, com isso, fez do meio ambiente. Ele está certo. Quando escrevi “açaí, guardiã” fui criticado por isso. Coloquei no feminino não só por ser uma fruta, mas para mostrar que o açaí é a mãe daquela Região Norte. Ele possibilita a subsistência de pessoas que não têm dinheiro para comprar comida. 

No ano passado, você postou vídeo nas redes sociais para desmentir um suposto apoio ao presidente Jair Bolsonaro. O que ficou disso para você? Eu não tinha outra opção a não ser dizer o que de fato ocorreu. Eu não apoiei o governo Bolsonaro, não votei nele. É desagradável ser colocado em uma posição que não é a sua.  

Você fez para a Gal o samba Dentro da Lei.  Fiz, ela gravou, mas estou devendo uma música para a Gal na qual ela possa se sentir melhor. O samba ficou meio escondido no disco dela. Gal é talvez uma das cantoras que mais gravaram músicas minhas e tenho uma gratidão imensa por isso.

Os intérpretes ainda pedem música como antes? Pedem. A turma jovem também tem pedido. Mas muitas vezes não consigo atender, por conta do meu trabalho.

Você parece muito feliz no palco...  O palco sempre me deu grande alegria. A desenvoltura no palco foi ocorrendo aos poucos. Primeiramente, larguei o pedestal, botei um banquinho. Depois, fiquei em pé, microfone na mão e comecei a me mexer. A música me impulsionava, o público ajudou a fazer da dança uma cena para o show. Não garanto que isso vá existir sempre.

Nas canções não há qualquer timidez. Aí é a alma que fala e eu não tenho nada com isso (risos). 

O 25.º álbum de carreira de Djavan, que chega às plataformas digitais nesta sexta, 12, foi batizado de D (Luanda Records/Sony Music). O músico, que recebeu a reportagem do Estadão em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, faz questão de afastar qualquer enigma em relação ao título (leia a crítica do disco aqui).

A ideia foi do diretor de arte Giovanni Bianco – que já trabalhou com nomes como Madonna, Anitta e Ivete Sangalo. Djavan logo acatou. “O que é diferente eu gosto sempre”, justifica o cantor. Em D, Djavan quer afastar os tempos sombrios trazidos por pandemia, guerras e brigas políticas. O primeiro single, Num Mundo de Paz, diz muito sobre isso. Iluminado, o folk que ele gravou com filhos e netos, fala sobre “sorrir para não cair em cilada”. Com Milton Nascimento, ele canta em defesa das matas, florestas, dos rios, animais e indígenas.

Com novo álbum, 'D', Djavan volta com uma ode ao mor e à esperanca Foto: Gabriela Schmidt

Há muito sobre amores, feitos e desfeitos. Tudo ao estilo Djavan – com jazz, funk, pop e samba, entre ritmos que ele faz questão de misturar perseguindo uma diversidade musical que entendeu como possível ainda menino. “A minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha”, confessa Djavan, aos 73 anos, sobre o início da carreira. Em setembro, ele começa os ensaios para a turnê D, que estreia em março, em Maceió. Antes, porém, ele se apresenta no Rock in Rio e no Coala Festival, em São Paulo, com um show só de hits.

Você chamou músicos que tocaram em diferentes fases de sua carreira. Procurava uma sonoridade mais plural? Isso deu ao disco uma pegada musical distinta. Muitos eu não via havia algum tempo. Não é só o resultado sonoro. É a convivência no estúdio, são as risadas que a gente dá – eu rio muito nas gravações. 

Para esse álbum, você foi fazer parte das letras em sua casa de praia em Alagoas. Isso influiu no resultado? Esse disco é solar, luminoso. O mar deve ter ajudado. Ele contribuiu com minha intenção primordial, fazer um disco para cima. Uma ode à esperança. Uma aposta em um futuro de paz, de luz, para todos. Queria sair do obscurantismo da pandemia e dos novos tempos. 

Iluminado, faixa folk que você canta com seus cinco filhos, fala bem disso, não? Fiz um pedaço dela na praia, com o ukulele de minha filha. Pela primeira vez reuni a família em uma gravação. É um momento de “xô negatividade!”. 

No passado, você disse que “o amor é azulzinho” (em Azul, de 1982). Neste álbum, você fala em “o anil do amor” (em Num Mundo de Paz). Que azul é esse? Desde a época do pastoril, lá no Nordeste, que consagra as cores azul e vermelha, eu descobri que minha cor era o azul. Anos depois, coloquei essa cor como sendo do amor, da harmonia, do abraço. E o vermelho é a da paixão, que é intensa, mas que se esvai. 

Na canção Sevilhando, você fala em sândalo, camomila, lavanda e vanilla para enfrentar o viver. São sensações que o ajudam, assim como as cores? Esses aromas todos têm a ver com Sevilha e Alagoas. O amor pela música negra e andaluz. Eles vieram de maneira tão natural, com uma aura de imagem mesmo. Achei que o resultado ficou inusitado. 

Esses aromas estão ligados à espiritualidade também? Tudo está ligado à espiritualidade. Com a minha ancestralidade que passa pela coisa moura, por isso a Andaluzia, dos árabes. E à minha negritude, que passa pelo candomblé, na qual fui inserido pela minha família, mesmo vivendo o catolicismo. Depois que fui à África, entendi por que minha música é assim. 

Em Sevilhando há um verso em que você diz que “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”. Está aí o enigma do estilo Djavan, que mistura pop, jazz, música negra, funk? Me lembro que, aos 13 anos de idade, passei a frequentar a casa de um amigo cujo pai tinha uma discoteca que abrangia tudo o que se fazia no mundo. Ali ouvi música africana, brasileira, francesa, italiana, jazz, R&B. Adorava perceber o que distinguia um gênero do outro, eu queria ser o cara da diversidade, que vê tudo. Minha música passou a ser conduzida por esse olhar. Até hoje é assim.

Essa canção também traz o verso “o negro nosso trigo”, que remete a Soweto (1987). Como você vê hoje a questão do racismo? A evolução é a gente ver esse assunto mais exposto na mídia, cobrar das autoridades o combate a essa questão. O racismo está enraizado na sociedade brasileira. Se o sujeito é negro, vai sofrer racismo a vida inteira. O racismo de hoje não é o mesmo de 40 anos atrás, mas é tão racismo quanto antes. O negro é um dos alimentos da nossa cultura. O que ele faz nas artes, na sua maneira de se vestir e de ver o mundo.

Outro verso dessa música é “Deus é quem dá o caminho/Mas as pernas são as suas”. Quais foram as grandes batalhas da sua vida? Na profissão, a minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha. Falavam que eu tinha talento, mas complicava demais. Eu não sabia o que isso queria dizer. Não sabia como simplificar algo que, para mim, era simples. Era difícil ter de conviver com esse tipo de crítica. 

No fim, todo mundo canta suas músicas... Pois é, não eram tão estranhas assim (risos).

Como você pensou em Milton Nascimento para a canção Beleza Destruída? Somos tímidos e nunca nos aproximamos muito. Minha ideia inicial era fazer uma música juntos. Ele faria a música e eu, a letra. Mas isso não aconteceu. Eu fiz, então, a música, pensando nesse tema que sempre defendemos – a valorização da natureza, da água, da floresta, dos índios. Ele adorou.

Há um depoimento recente de Caetano Veloso em que ele fala da sua canção Açaí (1982), de como você colocou a palavra no feminino, sobre a grande defesa que você, com isso, fez do meio ambiente. Ele está certo. Quando escrevi “açaí, guardiã” fui criticado por isso. Coloquei no feminino não só por ser uma fruta, mas para mostrar que o açaí é a mãe daquela Região Norte. Ele possibilita a subsistência de pessoas que não têm dinheiro para comprar comida. 

No ano passado, você postou vídeo nas redes sociais para desmentir um suposto apoio ao presidente Jair Bolsonaro. O que ficou disso para você? Eu não tinha outra opção a não ser dizer o que de fato ocorreu. Eu não apoiei o governo Bolsonaro, não votei nele. É desagradável ser colocado em uma posição que não é a sua.  

Você fez para a Gal o samba Dentro da Lei.  Fiz, ela gravou, mas estou devendo uma música para a Gal na qual ela possa se sentir melhor. O samba ficou meio escondido no disco dela. Gal é talvez uma das cantoras que mais gravaram músicas minhas e tenho uma gratidão imensa por isso.

Os intérpretes ainda pedem música como antes? Pedem. A turma jovem também tem pedido. Mas muitas vezes não consigo atender, por conta do meu trabalho.

Você parece muito feliz no palco...  O palco sempre me deu grande alegria. A desenvoltura no palco foi ocorrendo aos poucos. Primeiramente, larguei o pedestal, botei um banquinho. Depois, fiquei em pé, microfone na mão e comecei a me mexer. A música me impulsionava, o público ajudou a fazer da dança uma cena para o show. Não garanto que isso vá existir sempre.

Nas canções não há qualquer timidez. Aí é a alma que fala e eu não tenho nada com isso (risos). 

O 25.º álbum de carreira de Djavan, que chega às plataformas digitais nesta sexta, 12, foi batizado de D (Luanda Records/Sony Music). O músico, que recebeu a reportagem do Estadão em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, faz questão de afastar qualquer enigma em relação ao título (leia a crítica do disco aqui).

A ideia foi do diretor de arte Giovanni Bianco – que já trabalhou com nomes como Madonna, Anitta e Ivete Sangalo. Djavan logo acatou. “O que é diferente eu gosto sempre”, justifica o cantor. Em D, Djavan quer afastar os tempos sombrios trazidos por pandemia, guerras e brigas políticas. O primeiro single, Num Mundo de Paz, diz muito sobre isso. Iluminado, o folk que ele gravou com filhos e netos, fala sobre “sorrir para não cair em cilada”. Com Milton Nascimento, ele canta em defesa das matas, florestas, dos rios, animais e indígenas.

Com novo álbum, 'D', Djavan volta com uma ode ao mor e à esperanca Foto: Gabriela Schmidt

Há muito sobre amores, feitos e desfeitos. Tudo ao estilo Djavan – com jazz, funk, pop e samba, entre ritmos que ele faz questão de misturar perseguindo uma diversidade musical que entendeu como possível ainda menino. “A minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha”, confessa Djavan, aos 73 anos, sobre o início da carreira. Em setembro, ele começa os ensaios para a turnê D, que estreia em março, em Maceió. Antes, porém, ele se apresenta no Rock in Rio e no Coala Festival, em São Paulo, com um show só de hits.

Você chamou músicos que tocaram em diferentes fases de sua carreira. Procurava uma sonoridade mais plural? Isso deu ao disco uma pegada musical distinta. Muitos eu não via havia algum tempo. Não é só o resultado sonoro. É a convivência no estúdio, são as risadas que a gente dá – eu rio muito nas gravações. 

Para esse álbum, você foi fazer parte das letras em sua casa de praia em Alagoas. Isso influiu no resultado? Esse disco é solar, luminoso. O mar deve ter ajudado. Ele contribuiu com minha intenção primordial, fazer um disco para cima. Uma ode à esperança. Uma aposta em um futuro de paz, de luz, para todos. Queria sair do obscurantismo da pandemia e dos novos tempos. 

Iluminado, faixa folk que você canta com seus cinco filhos, fala bem disso, não? Fiz um pedaço dela na praia, com o ukulele de minha filha. Pela primeira vez reuni a família em uma gravação. É um momento de “xô negatividade!”. 

No passado, você disse que “o amor é azulzinho” (em Azul, de 1982). Neste álbum, você fala em “o anil do amor” (em Num Mundo de Paz). Que azul é esse? Desde a época do pastoril, lá no Nordeste, que consagra as cores azul e vermelha, eu descobri que minha cor era o azul. Anos depois, coloquei essa cor como sendo do amor, da harmonia, do abraço. E o vermelho é a da paixão, que é intensa, mas que se esvai. 

Na canção Sevilhando, você fala em sândalo, camomila, lavanda e vanilla para enfrentar o viver. São sensações que o ajudam, assim como as cores? Esses aromas todos têm a ver com Sevilha e Alagoas. O amor pela música negra e andaluz. Eles vieram de maneira tão natural, com uma aura de imagem mesmo. Achei que o resultado ficou inusitado. 

Esses aromas estão ligados à espiritualidade também? Tudo está ligado à espiritualidade. Com a minha ancestralidade que passa pela coisa moura, por isso a Andaluzia, dos árabes. E à minha negritude, que passa pelo candomblé, na qual fui inserido pela minha família, mesmo vivendo o catolicismo. Depois que fui à África, entendi por que minha música é assim. 

Em Sevilhando há um verso em que você diz que “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”. Está aí o enigma do estilo Djavan, que mistura pop, jazz, música negra, funk? Me lembro que, aos 13 anos de idade, passei a frequentar a casa de um amigo cujo pai tinha uma discoteca que abrangia tudo o que se fazia no mundo. Ali ouvi música africana, brasileira, francesa, italiana, jazz, R&B. Adorava perceber o que distinguia um gênero do outro, eu queria ser o cara da diversidade, que vê tudo. Minha música passou a ser conduzida por esse olhar. Até hoje é assim.

Essa canção também traz o verso “o negro nosso trigo”, que remete a Soweto (1987). Como você vê hoje a questão do racismo? A evolução é a gente ver esse assunto mais exposto na mídia, cobrar das autoridades o combate a essa questão. O racismo está enraizado na sociedade brasileira. Se o sujeito é negro, vai sofrer racismo a vida inteira. O racismo de hoje não é o mesmo de 40 anos atrás, mas é tão racismo quanto antes. O negro é um dos alimentos da nossa cultura. O que ele faz nas artes, na sua maneira de se vestir e de ver o mundo.

Outro verso dessa música é “Deus é quem dá o caminho/Mas as pernas são as suas”. Quais foram as grandes batalhas da sua vida? Na profissão, a minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha. Falavam que eu tinha talento, mas complicava demais. Eu não sabia o que isso queria dizer. Não sabia como simplificar algo que, para mim, era simples. Era difícil ter de conviver com esse tipo de crítica. 

No fim, todo mundo canta suas músicas... Pois é, não eram tão estranhas assim (risos).

Como você pensou em Milton Nascimento para a canção Beleza Destruída? Somos tímidos e nunca nos aproximamos muito. Minha ideia inicial era fazer uma música juntos. Ele faria a música e eu, a letra. Mas isso não aconteceu. Eu fiz, então, a música, pensando nesse tema que sempre defendemos – a valorização da natureza, da água, da floresta, dos índios. Ele adorou.

Há um depoimento recente de Caetano Veloso em que ele fala da sua canção Açaí (1982), de como você colocou a palavra no feminino, sobre a grande defesa que você, com isso, fez do meio ambiente. Ele está certo. Quando escrevi “açaí, guardiã” fui criticado por isso. Coloquei no feminino não só por ser uma fruta, mas para mostrar que o açaí é a mãe daquela Região Norte. Ele possibilita a subsistência de pessoas que não têm dinheiro para comprar comida. 

No ano passado, você postou vídeo nas redes sociais para desmentir um suposto apoio ao presidente Jair Bolsonaro. O que ficou disso para você? Eu não tinha outra opção a não ser dizer o que de fato ocorreu. Eu não apoiei o governo Bolsonaro, não votei nele. É desagradável ser colocado em uma posição que não é a sua.  

Você fez para a Gal o samba Dentro da Lei.  Fiz, ela gravou, mas estou devendo uma música para a Gal na qual ela possa se sentir melhor. O samba ficou meio escondido no disco dela. Gal é talvez uma das cantoras que mais gravaram músicas minhas e tenho uma gratidão imensa por isso.

Os intérpretes ainda pedem música como antes? Pedem. A turma jovem também tem pedido. Mas muitas vezes não consigo atender, por conta do meu trabalho.

Você parece muito feliz no palco...  O palco sempre me deu grande alegria. A desenvoltura no palco foi ocorrendo aos poucos. Primeiramente, larguei o pedestal, botei um banquinho. Depois, fiquei em pé, microfone na mão e comecei a me mexer. A música me impulsionava, o público ajudou a fazer da dança uma cena para o show. Não garanto que isso vá existir sempre.

Nas canções não há qualquer timidez. Aí é a alma que fala e eu não tenho nada com isso (risos). 

O 25.º álbum de carreira de Djavan, que chega às plataformas digitais nesta sexta, 12, foi batizado de D (Luanda Records/Sony Music). O músico, que recebeu a reportagem do Estadão em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, faz questão de afastar qualquer enigma em relação ao título (leia a crítica do disco aqui).

A ideia foi do diretor de arte Giovanni Bianco – que já trabalhou com nomes como Madonna, Anitta e Ivete Sangalo. Djavan logo acatou. “O que é diferente eu gosto sempre”, justifica o cantor. Em D, Djavan quer afastar os tempos sombrios trazidos por pandemia, guerras e brigas políticas. O primeiro single, Num Mundo de Paz, diz muito sobre isso. Iluminado, o folk que ele gravou com filhos e netos, fala sobre “sorrir para não cair em cilada”. Com Milton Nascimento, ele canta em defesa das matas, florestas, dos rios, animais e indígenas.

Com novo álbum, 'D', Djavan volta com uma ode ao mor e à esperanca Foto: Gabriela Schmidt

Há muito sobre amores, feitos e desfeitos. Tudo ao estilo Djavan – com jazz, funk, pop e samba, entre ritmos que ele faz questão de misturar perseguindo uma diversidade musical que entendeu como possível ainda menino. “A minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha”, confessa Djavan, aos 73 anos, sobre o início da carreira. Em setembro, ele começa os ensaios para a turnê D, que estreia em março, em Maceió. Antes, porém, ele se apresenta no Rock in Rio e no Coala Festival, em São Paulo, com um show só de hits.

Você chamou músicos que tocaram em diferentes fases de sua carreira. Procurava uma sonoridade mais plural? Isso deu ao disco uma pegada musical distinta. Muitos eu não via havia algum tempo. Não é só o resultado sonoro. É a convivência no estúdio, são as risadas que a gente dá – eu rio muito nas gravações. 

Para esse álbum, você foi fazer parte das letras em sua casa de praia em Alagoas. Isso influiu no resultado? Esse disco é solar, luminoso. O mar deve ter ajudado. Ele contribuiu com minha intenção primordial, fazer um disco para cima. Uma ode à esperança. Uma aposta em um futuro de paz, de luz, para todos. Queria sair do obscurantismo da pandemia e dos novos tempos. 

Iluminado, faixa folk que você canta com seus cinco filhos, fala bem disso, não? Fiz um pedaço dela na praia, com o ukulele de minha filha. Pela primeira vez reuni a família em uma gravação. É um momento de “xô negatividade!”. 

No passado, você disse que “o amor é azulzinho” (em Azul, de 1982). Neste álbum, você fala em “o anil do amor” (em Num Mundo de Paz). Que azul é esse? Desde a época do pastoril, lá no Nordeste, que consagra as cores azul e vermelha, eu descobri que minha cor era o azul. Anos depois, coloquei essa cor como sendo do amor, da harmonia, do abraço. E o vermelho é a da paixão, que é intensa, mas que se esvai. 

Na canção Sevilhando, você fala em sândalo, camomila, lavanda e vanilla para enfrentar o viver. São sensações que o ajudam, assim como as cores? Esses aromas todos têm a ver com Sevilha e Alagoas. O amor pela música negra e andaluz. Eles vieram de maneira tão natural, com uma aura de imagem mesmo. Achei que o resultado ficou inusitado. 

Esses aromas estão ligados à espiritualidade também? Tudo está ligado à espiritualidade. Com a minha ancestralidade que passa pela coisa moura, por isso a Andaluzia, dos árabes. E à minha negritude, que passa pelo candomblé, na qual fui inserido pela minha família, mesmo vivendo o catolicismo. Depois que fui à África, entendi por que minha música é assim. 

Em Sevilhando há um verso em que você diz que “Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”. Está aí o enigma do estilo Djavan, que mistura pop, jazz, música negra, funk? Me lembro que, aos 13 anos de idade, passei a frequentar a casa de um amigo cujo pai tinha uma discoteca que abrangia tudo o que se fazia no mundo. Ali ouvi música africana, brasileira, francesa, italiana, jazz, R&B. Adorava perceber o que distinguia um gênero do outro, eu queria ser o cara da diversidade, que vê tudo. Minha música passou a ser conduzida por esse olhar. Até hoje é assim.

Essa canção também traz o verso “o negro nosso trigo”, que remete a Soweto (1987). Como você vê hoje a questão do racismo? A evolução é a gente ver esse assunto mais exposto na mídia, cobrar das autoridades o combate a essa questão. O racismo está enraizado na sociedade brasileira. Se o sujeito é negro, vai sofrer racismo a vida inteira. O racismo de hoje não é o mesmo de 40 anos atrás, mas é tão racismo quanto antes. O negro é um dos alimentos da nossa cultura. O que ele faz nas artes, na sua maneira de se vestir e de ver o mundo.

Outro verso dessa música é “Deus é quem dá o caminho/Mas as pernas são as suas”. Quais foram as grandes batalhas da sua vida? Na profissão, a minha grande batalha foi impor o meu jeito de ser. Uma música que todo mundo dizia ser estranha. Falavam que eu tinha talento, mas complicava demais. Eu não sabia o que isso queria dizer. Não sabia como simplificar algo que, para mim, era simples. Era difícil ter de conviver com esse tipo de crítica. 

No fim, todo mundo canta suas músicas... Pois é, não eram tão estranhas assim (risos).

Como você pensou em Milton Nascimento para a canção Beleza Destruída? Somos tímidos e nunca nos aproximamos muito. Minha ideia inicial era fazer uma música juntos. Ele faria a música e eu, a letra. Mas isso não aconteceu. Eu fiz, então, a música, pensando nesse tema que sempre defendemos – a valorização da natureza, da água, da floresta, dos índios. Ele adorou.

Há um depoimento recente de Caetano Veloso em que ele fala da sua canção Açaí (1982), de como você colocou a palavra no feminino, sobre a grande defesa que você, com isso, fez do meio ambiente. Ele está certo. Quando escrevi “açaí, guardiã” fui criticado por isso. Coloquei no feminino não só por ser uma fruta, mas para mostrar que o açaí é a mãe daquela Região Norte. Ele possibilita a subsistência de pessoas que não têm dinheiro para comprar comida. 

No ano passado, você postou vídeo nas redes sociais para desmentir um suposto apoio ao presidente Jair Bolsonaro. O que ficou disso para você? Eu não tinha outra opção a não ser dizer o que de fato ocorreu. Eu não apoiei o governo Bolsonaro, não votei nele. É desagradável ser colocado em uma posição que não é a sua.  

Você fez para a Gal o samba Dentro da Lei.  Fiz, ela gravou, mas estou devendo uma música para a Gal na qual ela possa se sentir melhor. O samba ficou meio escondido no disco dela. Gal é talvez uma das cantoras que mais gravaram músicas minhas e tenho uma gratidão imensa por isso.

Os intérpretes ainda pedem música como antes? Pedem. A turma jovem também tem pedido. Mas muitas vezes não consigo atender, por conta do meu trabalho.

Você parece muito feliz no palco...  O palco sempre me deu grande alegria. A desenvoltura no palco foi ocorrendo aos poucos. Primeiramente, larguei o pedestal, botei um banquinho. Depois, fiquei em pé, microfone na mão e comecei a me mexer. A música me impulsionava, o público ajudou a fazer da dança uma cena para o show. Não garanto que isso vá existir sempre.

Nas canções não há qualquer timidez. Aí é a alma que fala e eu não tenho nada com isso (risos). 

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